Rio, Josei e Saori

Alguns dias se passaram desde que Fuuka Yamagishi decidiu vir morar no dormitório conosco. Até que ela convenceu facilmente seus pais, coisa que eu duvidara acontecer.

A semana de provas passou tão rápido que quase não senti. Mas, apesar dos meus esforços, minhas notas não foram muito boas. Em compensação eu estava vibrando por ter conseguido uma vaga nos treinos para as seccionais de ginástica. A minha equipe iria treinar no ginásio municipal de Tókio. Era demais!

Eu andava bem cansada esses últimos dias, mas estava me esforçando bastante. Minhas obrigações no conselho estudantil estavam em ordem, sempre que sobrava um tempinho ajudava minha amiga Saori com o clube de literatura. Ela é uma menina meiga, mas sempre está sozinha. Acho que os pais dela são meio desligados, ela está sempre tão triste.

As segundas e quartas eu treinava ginástica após as aulas com a Rio. Ela é uma garota forte e determinada, que sofre de uma paixão não correspondida por Kenji Tomochika. Eu vivo dizendo a ela para contar para ele seus sentimentos. Mas acho que isso não vai acontecer...

Quase não vejo Mitsuru sempai no colégio, nem no conselho estudantil, apesar dela ser a presidente. Como ela é ocupada! Quem eu sempre vejo é a Yukari brigando com Jumpei. No fundo, acho que esses dois se adoram.

Vejo também Akihiko sempai, mas ele anda me evitando ultimamente. Não estou procurando por ele também. Não me vejo fazendo par com as outras garotas que o cercam diariamente.

Hoje, enquanto caminhava pelo Naganaki Shrine vi um cachorro deitado, parecia bem novo. Ele balançou o rabo para mim.

- Oh, você é muito lindo! Qual o seu nome?

Dei-me conta que estava conversando com o cachorro. Achei graça disso, afaguei a cabeça do cãozinho e continuei a caminhar. Ainda ouvi seu latido.

- Desculpe, amigo, mas não pode vir comigo...

O cachorro parecia mesmo estar me entendendo, pois fez uma carinha triste.

Notei que havia uma garotinha no balanço, olhando para mim. Eu sorri e acenei para ela. Ela sorriu e me chamou, gesticulando.

- Oi, moça. Pode me empurrar no balanço?

Eu fui até onde ela estava e, sorrindo, balancei a garotinha. Ela parecia estar se divertindo.

- Eu sou Maiko. Como se chama?

- Sou Josei. Você está sozinha aqui, Maiko?

A menina pareceu um pouco triste.

- Meu pai me trouxe aqui, mas teve que ir conversar no telefone. Ele já volta.

Fiquei com Maiko por mais algum tempo, mas lembrei-me que tinha que chegar mais cedo no dormitório hoje. O chairman queria falar conosco. Despedi-me dela.

- Você promete que vem me ver amanhã? Estarei aqui. - Disse a garotinha, com um grande sorriso.

Como poderia dizer não?

Antes de voltar ao dormitório, decidi caminhar próximo ao porto. Gostava de ver o mar. Depois que Akihiko sempai havia me levado ao terraço do colégio, sempre que eu podia subia lá para ver o mar. No porto, além de ver eu podia sentir o cheiro da água. Quase dava para sentir o gosto salgado na boca. Como eu amo o mar...

Já no dormitório, todos estavam na sala de reuniões. Sempre me sentia envergonhada por ser a última a entrar em uma sala.

- Estávamos te esperando. - Mitsuru, com um olhar inquisidor. - Sente-se, por favor.

- Já que estão todos aqui, preciso comentar sobre as últimas descobertas em relação aos shadows. - Disse Shiji Ikutsuki. - Depois de observar suas últimas batalhas com os grandes shadows cheguei à conclusão de que esses são os shadows que escaparam dos laboratórios que pesquisavam esse assunto há dez anos.

 - Parece que esses shadows só aparecem em luas cheias e são sempre grandes desafios. - Mitsuru que parecia preocupada. - E o aparecimento desses shadows tem relação direta com a hora negra e Tartarus.

- O que aconteceu há dez anos? - Perguntei, pois não sei de nada sobre esse laboratório.

Mitsuru pareceu um pouco desconfortável com a pergunta. Parecia que ela não queria falar sobre isso.

- Existe um vídeo que foi encontrado nos escombros do laboratório. - Ikutsuki, pegando um CD e colocando no aparelho de DVD da sala. - Consegui restaurar apenas partes do vídeo. Vamos assistir.

Começou a exibição. A principio vimos apenas estática e alguns ruídos ao fundo. Gritos, depois o áudio de uma voz masculina.

"- A experiência fugiu ao controle... Não temos como deter a fuga desses monstros..."

Conseguimos ver algumas imagens de pessoas correndo ao fundo, uma sala com móveis pegando fogo e, no centro da imagem, um homem magro, aparentemente em pânico. Ele que narrava à gravação.

 Vejo a expressão de espanto na face de Yukari.

- É... O meu pai!

Todos olharam para ela. Seus olhos transbordaram em lágrimas. Ela já havia me dito anteriormente que seu pai havia morrido em um acidente, porém ela nunca entrou em detalhes, e eu não perguntei mais a respeito.

 O vídeo continuava.

"- Essa loucura não terá fim...Todos os doze monstros devem... Destruídos... Se alguém estiver vendo esse vídeo... Destruam as criaturas que escaparam..."

Ouve-se uma grande explosão ao fundo. A imagem desaparece, apesar de ainda podermos ouvir os ruídos da destruição e os gritos de terror das pessoas que estavam  naquele lugar.

 Ficamos em silêncio por um tempo. Yukari ainda chorava, eu não me sentia à vontade para falar algo para ela naquele momento.

- Pelos relatos no vídeo e pela documentação que tenho estudado desde o inicio das investigações, acreditamos que foi esse incidente que deu inicio a hora negra, as aparições dos shadows e a Síndrome de Apatia que está assolando essa parte do Japão. - Ikutsuki novamente.

- Me desculpe, Takeba. - Mitsuru, com expressão abatida. - Preciso te contar. Meu avô patrocinava esse experimento. Ele acidentalmente descobriu um shadow durante uma de suas experiências. Ele ficou abismado com o poder que aquela criatura possuía e acabou ficando obcecado pelo poder. Graças a ele... O seu pai e tantos outros...

- Não quero mais ouvir!

Yukari levantou-se e saiu da sala. Silencio novamente. Eu ainda estava tentando assimilar que tinha ouvido naquela sala. O avo da Mitsuru bancou experiências com shadows que não deram certo. Com isso houve um acidente, funcionários do laboratório de pesquisa morreram. Inclusive o pai da Yukari. Grandes shadows fugiram e essa gravação diz que devemos derrotá-los.

- A gravação diz "doze monstros". - Fuuka, curiosa. - Será que devemos derrotar doze desses shadows gigantes?

- Pelas minhas contas, já derrotamos três. - Akihiko, desta vez. - Foi o do terraço do dormitório, do metro e o do resgate da Fuuka-san.

- Então faltam nove? - Jumpei, exaltando-se. - E uma lua cheia está bem próxima.

 - Com esses dados podemos concluir que se derrotarmos os nove shadows restantes, a hora negra, Tartarus e talvez até a Síndrome de Apatia desapareceram. - Disse o Chairman, bastante confiante.

 - Certo, então vamos treinar bastante e derrotarmos logo esse shadows! - Jumpei, bastante animado.

- Mas será mesmo que tudo isso da hora negra desaparecerá? - Fuuka, com receio.

- Não temos certeza de nada ainda. - Mitsuru, cautelosa. - Mas vamos tentar, pois não podemos apenas esperar que isso desapareça.

Subi para o meu quarto com a cabeça cheia de pensamentos confusos. Queria saber como Yukari está. Até parei em frente à porta de seu quarto. Mas não tive coragem para bater. Ela precisa de tempo. Acho que eu também preciso de tempo.