E foi ai que Julieta se hipnotizou, seu coração gelou. A beleza dele era incrivelmente maravilhosa. Seu cabelo liso e curto, aquela pele bronzeada. Aqueles olhos azuis iguais a de seu pai, Guilherme. Como ele ainda estava procurando sua camisa, ele não estava usando nenhuma.

 - Essa é Julieta. Julieta esse é meu irmão Bernardo. – disse Cauê impaciente. Bernardo significa forte como um urso, consegue sucesso em profissões que exigem dedicação, mas não requerem muita criatividade.

 “Minha nossa!” pensou Julieta olhando cada músculo do corpo de Bernardo. “Essa imagem eu vou guardar como lembrança.”

 - Prazer Julieta. – sorriu Bernardo. – Oh, desculpe-me, a mãe não disse que tínhamos visita. – disse ao perceber que Julieta estava olhando para seu abdome.

 - Não se preocupe com isso. – sorriu envergonhada. – E é um prazer conhecê-lo também. – “Pode ter certeza que não vou me preocupar com o fato de você estar exibindo seus músculos perfeitos” pensou Julieta “Para com isso Julieta, se controle. Você não é assim! Ou pelo menos não era né.” ela deu uma gargalhada ao pensar isso. – Desculpe.

 - Não tem nada. Rir faz bem para alma. – comentou Bernardo rindo também. – Bom, vou lá pegar a camiseta. – caminhou até uma porta que tinha na cozinha e entrou para a área de serviço.

 - Droga! – resmungou Cauê.

 - Que foi? – perguntou Julieta.

 “Eu não posso falar: Ah, não foi nada. É só que eu te perdi pelo encantamento do meu irmão, o charme do meu irmão, o corpo musculoso e exagerado do meu irmão. Eu te perdi para o MEU irmão!” pensou.

 - Não é nada, é só que eu lembrei que não comprei uma coisa que minha mãe me pediu, mas depois eu compro. – mentiu.

 - Ah.

 - Bom pessoal. Vou indo, já estão me esperando. – disse Bernardo.

 - Tchau! – disse Cauê.

 - Calma maninho. – Bernardo deu um abraço em seu irmão. – Até amanhã.

 - Até.

 - Até logo Julieta. – deu um beijo em sua bochecha.

 - Até logo Bê. – disse Julieta. – Opa. Posso te chamar de Bê, né?

 - Claro que sim. – “Pode me chamar do que você quiser linda” pensou e sorriu. Um sorriso que misturava interesse com carisma.

 - Você já está se atrasando Bernardo. – comentou Cauê nada satisfeito.

 - É verdade. – olhou para seu relógio. – Vou indo pessoal. – e saiu pela porta da sala.

 - Bom, – Cauê olhou para Julieta. – onde nós estávamos? – e foi puxando ela para mais perto dele.

 - Ér... É melhor a gente fazer o trabalho, já está ficando tarde e nem começamos. Não acha? – disse Julieta se afastando.

 - Claro. – respondeu. “Eu mato o Bernardo por isso.”

 Eles se sentaram de volta a mesa e começaram o trabalho de História sobre a I Guerra Mundial.

 - Eu faço o Índice e a introdução. – informou Julieta. – Odeio fazer conclusão.

 - Tudo bem, pode deixar que eu faço a conclusão.

 Demoraram umas três horas até terminarem todo o trabalho. Estavam exaustos e terminando de imprimir todas as páginas quando Bernardo disse:

 - Que tal se a gente for à sorveteria?

 - Hm... Não sei. To meio cansada.

 - Ah, vamos. Vai ser legal.

 - Ta bom. Mas a gente toma o sorvete e você me leva pra casa. Combinado?

 - Combinado. – sorriu aquele sorriso contagiante dele.

 Arrumaram todos os papeis e foram para o carro. O caminho foi silencioso. Houve momentos em que seus olhos se cruzavam e momentos em que cantavam junto com a música que tocava no rádio. Cauê encontrou uma vaga bem na frente da sorveteria e estacionou. Desceram do carro e Cauê perguntou:

 - De que sabor você vai querer?

 - Deixa que eu pego o meu sorvete. – disse retirando a carteira de dentro da mochila.

 - Nada disso. – disse ele abaixando as mãos de Julieta. – Eu convidei, eu pago. – sorriu

 - Mas...

 - Não tem “mas”, na próxima vez você paga o seu.

 - Ok. – respondeu colocando a carteira de volta na mochila. – Vou querer de chocolate.

 - Chocolate. – virou-se para a caixa e fez seu pedido. – Dois sorvetes de chocolate.

 - Aguarde ao lado, por favor. – pediu a moça.

 - Obrigada.

 Eles pegaram os sorvetes e foram se sentar no banco da praia que ficava perto da sorveteria.

 - Então, você é filha única?

 - É, sou. Quer dizer, há uns quatro anos atrás minha mãe ficou grávida, o bebê nasceu prematuro, morreu com uma semana.

 - Nossa, sinto muito.

 - Eu também.

 - Qual foi à maior loucura da sua vida?

 - Maior loucura? Eu não sou de fazer muitas loucuras. Mas acho que foi uma, que resolvi bolar aula, ai pulei do primeiro andar da escola, quebrei meu braço e levei suspensão. – riu ao falar disso.

 - Uau, mas isso é coisa de menino.

 - Fique sabendo que eu fui influenciada, eu não queria, mas ia ter aula dupla de filosofia, ai meus amigos me chamaram e eu fui. – Julieta olhou para Cauê e viu que ele estava com cara de quem não acreditava. – Que foi? Estava um sol de 40ºC e era as ultimas aulas, a minha escola ficava perto da praia.

 - Eu não acredito nisso.

 - Tudo bem. – disse Julieta dando gargalhadas. – É mentira, eu nunca bolei aula. Já inventei dores de barriga para sair mais cedo, mas nunca bolei aula.

 - Eu percebi. Você é uma péssima mentirosa. – riram.

 - Mas, essa coisa de bolar aula, pular do primeiro andar e quebrar o braço já aconteceu, não comigo é claro, mas foi com a Marina. Sabe? A que entrou na nossa sala esse ano, ela estudou comigo em outra escola, na 8ª série.

 - É, da para imaginar ela fazendo isso, ela tem cara de quem faz essas coisas.

 - Mas falando sério. A minha maior loucura foi tocar a capainha de uma casa e sair correndo, passar trote, essas coisas, loucurinhas saudáveis.

 - Agora eu acredito. – riram.

 - E a sua, qual foi?

 - A minha? Eu já fiz essas coisas de tocar capainha e sair correndo, passar trote, escrever carta de mentira para uma menina como se ela tivesse um admirador secreto.

 - Ai que horror, coitadinha.

 - Coitadinha nada, ela adorou ser paquerada por um admirador secreto, ficava suspirando lendo a carta, isso fez um bem danado pra ela.

 - Como você é do mal, tsc tsc.

 - Enfim, a minha maior loucura, não sei, eu não era uma criança muito travessa. Mas sem ser loucura, foi uma brincadeira de mau gosto que me levou ao castigo por duas semanas. – lembrou. – Meu pai havia levado uns amigos para passar um final de semana na nossa casa de praia na Carolina do Sul.

 - Carolina do Sul? Uau.

 - É, eu adoro lá. – continuou. – Então, eu tinha uns 9 anos, ai um dos amigos do meu pai me chamou de pirralho e ficou me atormentando pela minha idade e qualquer brincadeira que eu fazia ele fazia piadinha. Ai, na hora do almoço, eu e o Bernardo fomos até a cozinha pegar os pratos para colocar na mesa. Eu tive a idéia de colocar um monte de sal na comida dele, e o Bernardo me mandou colocar um pouco de pimenta também. Eu coloquei. Levamos os pratos para a mesa e eu sentei ao lado dele e disse bem baixinho que a minha mãe gostava de comida bem salgada e apimentada, que era pra ele dizer que adorou a comida, se não ela iria ficar chateada. Ele olhou para a minha cara com cara de quem odiava comida mexicana. – ele riu ao se lembrar. – Ai ele comeu e começou a ficar vermelho, acabou com a jarra de suco que estava na mesa. Eu e o Bernardo nos acabamos de rir.

 - Nossa! – Julieta riu. – Mas como seus pais descobriram?

 - Ah, quando o almoço estava chegando ao fim. Ele comentou que a comida estava boa, mas que estava um pouco picante e salgada de mais, perguntou se ela gostava de comida mexicana, ai ela respondeu que não e pediu para experimentar a comida dele. Ai ela descobriu, mas como o Bernardo era esperto eu fiquei de castigo sozinho.

 - Oh, coitadinho. – sorriu. – Mas o cara mereceu, então o castigo valeu a pena.

 - Valeu mesmo.

 - Meu sorvete já está derretendo.

 - O meu também. – tomaram todo o sorvete e Cauê começou a rir.

 - O que foi?

 - Está sujo aqui. – sorriu e começou a limpar a boca dela olhando-a nos olhos. Foram se aproximando, mas novamente foram interrompidos.

 - Julieta e Cauê. – gritou Débora. – Conseguiram terminar o trabalho?

 “Definitivamente não é para nós ficarmos juntos” pensou Julieta.