- Ah não! – Julieta enfiou o travesseiro na cara enquanto seu celular despertava ao som de Animals de Nickelback. Ela se levantou e desligou o despertador. – Ai, hoje eu não vou, to com preguiça, não vai ter nada importante. – disse sozinha meio sonâmbula e voltou a se deitar.

 No dia seguinte, ao chegar à escola avistou sua amiga Débora. Ela tinha cabelo liso – daqueles que basta passar a mão que já penteia – que era de um preto brilhantemente incrível. Seus olhos eram da cor de mel. Ela era magra, mesmo comendo como uma louca. Ela era bem alta e tinha um corpo de dar inveja às outras garotas.

- Como você pôde? – disse ela enfurecida.

- O que eu fiz dessa vez Déb? – perguntou Julieta demonstrando impaciência.

 - Você me A-BAN-DO-NOU ontem! Como você faz isso? Eu sou sua melhor amiga, deveria ter me ligado no mínimo, não acha? – perguntou berrando. Chamar atenção era típico dela, não só em termos de gritos, mas em termos de beleza também, os meninos costumavam quebrar o pescoço quando ela passava.

- Ah, não começa não. Eu to morrendo de sono e não to para ouvir os seus gritos histéricos sem necessidade. – Julieta encostou suas mãos ao ombro de Débora. – Sério Déb, eu te amo de verdade, mas não to com paciência hoje.

- Como é que é? Sem necessidade? Se fosse ao contrario você me mataria por isso. – respirou fundo e passou as mãos em seu cabelo. Ela fazia isso de cinco em cinco minutos. – Mas enfim, eu já ia esquecendo. Ontem teve um trabalho em dupla, e a professora não me deixou fazer com você, disse que você faria com o Cauê que faltou ontem também.

- Que ótimo. – fez uma cara de quem não gostou muito da idéia.

- O que há de errado?

- É só que eu vou ter que ir para a casa dele, to sem internet esqueceu?

- É verdade. Mas pelo menos ele parece ser legal.

- É, parece. Olha ele ali. Vamos dar a novidade para ele.

As duas foram caminhando até a escada, onde ele estava sentado com alguns amigos. Ele era um menino agradável. Não era magro e nem gordo. Era atlético. Mas não daqueles que trocaria uma pessoa especial para ir jogar um futebol com os amigos. Ele não gostava disso. Era do tipo que só gostava de malhar. Os únicos esportes que ele praticava eram Surfe e Skate. Ele tinha cabelo preto e liso, mas não era do tipo arrumadinho, era meio desgrenhado. Não era muito alto, era do tamanho ideal tanto para uma menina baixa como Julieta, quanto para meninas altas como no caso de Débora. Uma coisa nele chamava atenção de todos. Os Olhos!  Eles eram lindos de um verde indefinido. Alguns dias estavam verde claro e outros dias estavam verde escuro. Era um menino muito tímido, mas de um jeito encantador.

- Olá meninos. – cumprimentou Débora. Todos eles olharam para ela com aquela cara de cachorrinho que caiu da mudança. – Precisamos falar com você Cauê. – disse com tom de autoridade, mas ele não se moveu. – AGORA! – ordenou ela. Talvez seja por isso que todos os garotos se derretem por ela, por ter esse tom de autoridade. Esse é um segredo que Julieta está querendo descobrir faz tempo. Ele se levantou e caminhou até onde elas estavam em pé.

- O que é? – quis saber Cauê.

- Não liga para a grosseria da senhorita histérica aqui. – disse Julieta olhando para Débora e voltou a olhar Cauê. – Eu só queria avisar que como ontem faltamos, teremos que fazer o trabalho juntos. Mas na minha casa não dá, algum problema se fizermos na sua?

Por conta da demora para responder, Julieta ficou perguntando para si mesma qual era o problema daquele garoto. Ele estava vermelho e ela só havia feito uma pergunta.

- Hm... pode ser. – disse ele estralando os dedos. Ele sempre estrala os dedos quando ta apresentando algum trabalho. Por isso Julieta deduziu que ele estava nervoso. Ela só não sabia o motivo. Ainda. – Pode ser hoje?

- Claro que sim. É que eu to sem internet, ai não tem como fazer lá em casa. – Julieta deu um sorriso como quem quisesse se desculpar.

- Ta, sem problemas. Mas vai ter que ser depois da 18h, porque eu tenho curso hoje. E, hm, eu acho que não vai ter ninguém em casa, algum problema? – nesse momento suas bochechas ficaram rosadas.

- Ninguém? – Julieta pensou um pouco e deu uma olhada para Débora. Ela estava com uma cara de quem dizia “se você não for, pode deixar que irei por você”. Julieta deu de ombros. – Ah, sem problemas. Mas você acha que vamos acabar muito tarde? Sabe como é né, não gosto de andar por ai sozinha tarde da noite.

- Mas ai não teria problema não é Cauê. – Débora se apressou em dizer. – Você poderia leva-lá em casa. Certo? – ela cruzava seus dedos atrás das costas.

- Certo. – disse Cauê olhando para Débora. Voltou a olhar Julieta nos olhos. – Bom, eu levo você em casa mesmo se acabarmos cedo. Não deixaria você sozinha. Se algo acontecesse com você, não iria me perdoar nunca.

- Obrigada. – Julieta olhou naqueles olhos que a fascinava de um jeito que nem ela sabia explicar o porquê e deu um sorriso tímido. Ela estava com as bochechas rosadas de tão envergonhada. Neste momento o sinal tocou. Era hora de ir para a sala de aula.

- Oh não. A tortura vai começar. – disse Débora com uma cara de quem preferia estar em qualquer lugar, menos na escola.

Subiram para a sala de aula e assistiram à aula de Filosofia. Cauê não parava de olhar para Julieta e pensando o quanto ela era surpreendentemente linda com aqueles olhos meio castanho claro, aquele cabelo também castanho e com tantas ondulações que o deixava louco e aquele corpo magro – que não chegava a ser tão magro quanto o de Débora, mas Julieta tinha o corpo do jeito que ele gostava, não tinha nada de mais e nem de menos –, era tudo tão perfeito – os dois, sozinhos, na casa dele, hoje a noite – que ele virou para um amigo e disse:

- Me belisca, eu acho que estou sonhando.

- É pra já!

- Ai. – gritou Cauê. – Eu não estava falando mesmo sério, sabia?

- Claro que eu não sabia! Você se esqueceu de me contar isso. – respondeu Julio. – Cara, me diz ai. O que aquelas gostosas queriam com você? - perguntou curioso.

- Ah, não era nada demais. – Julio o olhou com olhar de acusação. – Hei, eu não to escondendo nada ta? Foi só pra me avisarem que eu vou fazer o trabalho com a July, hoje a noite, lá em casa.

- Mas cara, a gente ficou de andar de skate, esqueceu?

- Claro que não! Mas sabe como é né, o skate pode esperar amigão. – respondeu ele com um sorriso radiante no rosto.

- Ah, claro. Meu melhor amigo me trocou por uma menina.

- Que isso cara, eu não te troquei, troquei o skate.

- Então quer dizer que eu posso aparecer lá hoje à noite? – perguntou Julio levantando as sobrancelhas.

- Hm... – Cauê pensou com um dedo no queixo. - Mas é claro. Que não. Seu idiota, ta louco?

- Ah, vai falar que você gosta dela. – nesse momento Julio se tocou. – Ah cara, mandou bem. Então é por ela que você ficava suspirando quando ela e a Débora passavam. Caraca, juro que pensei que fosse pela Déb.

- Ta brincando? A Déb é linda, mas não faz meu tipo.

- Agora eu entendi cara. Vai mandar vê com a July hoje a noite né. – disse Julio com olhar de safado.

- Ei, não é assim. Só pra deixar claro eu não vou sair agarrando a menina e nem nada disso ta bom?

- Ah, claro que não. – Julio estava pensando o quanto seu amigo Cauê é idiota.

- Você sabe que não sou desses caras. Eu gosto dela e se ela quiser, pretendo levar a sério.

- Tudo bem né cara, quem sou eu para lhe dizer alguma coisa? – perguntou Julio e voltou a prestar atenção na aula.

Cauê ficou viajando o resto da aula. Trocou de professores e ele nem havia percebido. O sinal tocou, estava na hora de ir embora. Julieta e Débora saíram na frente, Cauê e Julio estavam logo atrás.

- July, quer que eu te pegue hoje? – perguntou Cauê.

- Mas ai você vai ter que ir andando, não precisa, eu vou sozinha. – respondeu Julieta.

- Ah, não seja por isso. Eu posso pegar o carro da minha mãe, ela vai sair com o meu pai, com o carro dele. Então o carro dela vai ficar livre pra mim.

- Tudo bem então. Pode me pegar, 17h45min está bom para você?

- É, pode ser. – respondeu com um sorriso contagiante.