Estava frio, muito frio. A neve caía sem dó nem piedade, deixando as movimentadas ruas de NY vazias, e cobertas de um branco puro. A neve caindo e as ruas enfeitadas avisavam que o Natal se aproximava, e eu estava indo comprar um presente para minha mãe. Como não havia carro nenhum, atravessei a rua de gelo sem me preocupar. A próxima coisa que ouvi foram os freios e os pneus de um carro derrapando em minha direção.

- TÁ MALUCA GAROTA? QUER MORRER? – O garoto abriu a porta do carro, ele estava vindo pra cima de mim, que estava no chão. Uma mulher saiu atrás dele.

- Justin, não. Calma, ela não tem culpa. – A mulher, provavelmente sua mãe, disse para o garoto de expressão rude.

- Mais cuidado da próxima vez. – Suas feições se amenizaram e ele deu sua mão para me ajudar a levantar. – Não gosta de luvas não? Suas mãos parecem pedras de gelo.

- Meu cachorro as rasgou. – Ele riu.

- O meu faz isso todos os invernos, resolvemos fazer um estoque lá em casa. – Ele olhava para minha outra mão. – O que é isso? – Disse segurando minha mão direita e levando-a para perto de seu rosto. – Você se machucou. Está sangrando.

- Não é nada. – Puxei meu braço para perto de mim. – Só devo ter cortado no  gelo do chão, não se preocupe.

- Tem carona? – Ok, estávamos na 5ª Avenida, perto do Rockfeller Center e eu moro perto do Madison Square Park, é, eu vou querer carona.

- Sim, claro. – A mãe dele voltou para o carro.

- Onde você mora? – Fui em direção a aquela enorme Range Rover preta. E repeti tudo o que estava tagarelando em minha mente naquela hora. Ele arregalou os olhos. – Como veio parar aqui?

- De metro né, lindo.  Durd. – Ele riu. Que lindo. – Ah, a propósito, sou Summer. E você é Justin, certo?

- Certo. – Ele deu uma risada e eu cerrei os olhos para ele. – Que foi? Summer não é um nome que combine com você Sun, e muito menos Sun. – Não deixei de rir junto, ele estava certo. – Acho que está mais pra Winter, se é que me entende.

- Sim eu entendo. – Eu ri e ajeitei meus cabelos longos e mais negros que a noite.

Passamos em frente ao Rockfeller, onde eu pude ver a grande árvore de Natal, eu costumava vir aqui todos os anos junto com meu pai quando era pequena para ver essa árvore acessa, sentia falta dele... O silêncio dentro do carro estava... Tenso. Olhei para o retrovisor e meus olhos se encontraram com o do garoto.

Chocolate e baunilha. Ri desse pensamento inútil, e voltei meus olhos para a rua. Eu encarava as pessoas, onde elas não me viam por causa do vidro fumê do carro. O vidro fazia um reflexo perfeito de mim, e conseguia até captar a frieza da cor de meus olhos azuis. Voltei meus olhos novamente para o retrovisor, o garoto loiro de olhos ocres continuava a me encarar, envergonhada virei meu rosto...

Aquele garoto me intimidava, e muito. Pensamentos ruins passaram em minha cabeça, assustada virei meu rosto novamente para o espelho. Assim, vi a verdade em seus olhos, ele era uma boa pessoa. Eu sorri tímida, ele me devolveu o mesmo sorriso, porém mais aberto. Talvez pudesse ser o começo de uma nova amizade.