- O quê que você tanto olha lá atrás? – Hiroto pegara novamente o outro olhando para o fundo da sala, distraído.

 - O que? Nada... Eu só... nada. – Shou decidira se policiar dali em diante para não olhar mais pra trás. Hiroto ainda o olhava.

 - Qual é a sua com o Saga?

 Shou o olhou longamente, não podia continuar escondendo isso de Hiroto. Respirou fundo:

 - Depois eu te explico tudo.

 - Depois quando? Qual o problema de falar agora? Você sabe que eu não conto pra ninguém, cara, você me conhece! É só me falar, não é difícil... – Hiroto falava demasiadamente rápido, atropelando as palavras e fazendo Shou sorrir.

 - Depois, Hiroto, depois. Nem aqui nem agora.

 Após mais alguns resmungos de Hiroto e risadas abafadas de Shou – achava Hiroto irritado realmente engraçado – o sinal para o intervalo finalmente soou. Hiroto deixou os resmungos de lado e pulou da cadeira, com uma folha de papel na mão.

 - Vou procurar o diretor pra entregar o atestado. Vou à cantina depois, me procura lá! – e com isso saiu correndo sem dar chance para Shou protestar. Mas não se importava. Ficou algum tempo procurando o dever de geografia entre os cadernos – tempo o bastante para fazer todos os barulhentos colegas fugirem da sala de aula como da morte –, o encontrou, pegou uma caneta e rumou apressado até a porta.

 - Shou! – este se virou com certa surpresa, achava que todos já tinham saído.

 - Saga... Mas o que... o que você quer? – Shou parara perto da porta, o olhando com certa relutância o outro escorado em sua classe no fundo, os braços cruzados.

 - Porque você fugiu de mim ontem, quando a gente chegou? – Saga andou até Shou o encarando, o semblante muito sério.

 Shou quis dizer que ele é que o havia evitado, mas bem no fundo sabia que não era verdade. Estava fugindo dele, sim, mas não porque quisesse.

 - Eu não fugi de você...

 - Então porque foi embora daquele jeito? E porque nem se virou quando eu te chamei? – Saga chegara perto o bastante de Shou para bloquear sua saída, fechando a porta em seguida.

 - E-eu... eu só queria voltar pra casa, desculpe. – resolveu encarar Saga de volta, mesmo com os olhos ardendo. Saga pareceu menos irritado.

 - Tá, tudo bem. – deu de ombros, desviando o olhar do de Shou para um ponto móvel qualquer no chão. Sabia que o outro o estava evitando, mas preferiu não pressioná-lo. Saga tinha esperanças de que Shou sentisse o mesmo por ele, por isso o evitasse, mas achava que ele estava arrependido. E não suportaria isso, sentia que amava Shou de verdade, só queria ficar todo o tempo do seu lado e protegê-lo. Mas ele sempre o afastava.

 Saga quebrou o silêncio constrangedor de alguns instantes:

 - Então... porque chegou correndo hoje? – tentou sorrir, parecendo descontraído, mas não adiantou muito. Começava a se sentir triste de verdade.

 - Ah! – Shou sorriu de volta, feliz por Saga ter acabado com o silêncio antes dele – Eu dormi na casa do Hiroto ontem e a gente foi dormir muito tarde.

 - Você dormiu na casa dele? – Saga sabia que os dois eram muito amigos, mas não podia evitar em sentir uma pontada de ciúmes.

 - Foi... – Shou o olhava com curiosidade, percebendo o sentimento do outro. Corou.

 - Vocês são... só amigos... certo? – Saga também corara levemente ao perguntar isso. Nunca havia se sentido tão vulnerável por causa de ninguém antes.

 - Eu e Hiroto? Claro que sim. Mas, porque a pergunta? – Shou preferia não ter perguntado, não queria ouvir o que Saga tinha a dizer. Mas não podia negar que ficava insanamente feliz por dentro ao imaginar que Saga se importasse realmente com ele.

 - Por que... eu gosto de você. Muito. – e com isso voltou a encarar Shou. Não podia ainda dizer que o amava, mas era isso que sentia. Esperou até ter certeza que o outro não o rejeitaria e o beijou. Os dois ficaram na sala até o sinal soar de novo.