- Qual o seu problema, Hiroto? – Shou o alcançara na saída. Hiroto havia arrumado as coisas rápido e saído com pressa quando o último sinal tocou, e Shou pretendia o deixar ir, mas não queria deixar isso passar sem ao menos conversar com o outro.

 - O meu problema? Você que não me conta mais nada. – Hiroto parou no meio do corredor, se voltando para Shou e ainda parecendo ofendido.

 - Mas você tem que me dar um tempo! Será que é tão difícil entender que não é fácil pra mim falar sobre isso com você? – sentiu o rosto corar ao sentir o olhar de Hiroto ainda sobre o seu mesmo depois de desviar o olhar.

 - Porque, Shou? Eu já falei que não tem problema pra mim se você estiver com outro cara...

 - Hiroto! – Shou voltara a o olhar, a face mais corada do que antes ao perceber os pequenos grupinhos de estudantes que se juntavam discretamente à sua volta para escutarem melhor a discussão. Por mais que Shou odiasse isso não podia os culpar: Hiroto adquirira um tom de voz alto o suficiente para classificar a conversa dos dois como discussão, e isso seria motivo suficiente, tendo em vista que os dois nunca brigaram antes, não na frente do resto do colégio. Mas o motivo principal da curiosidade de todos ainda era o motivo da discussão: Shou com outro homem.

 - ... mesmo ele sendo um idiota que nunca tenha te dado atenção antes! – Hiroto não parecia ter percebido agora o grande grupo que se amontoava à volta dos dois. Parecia nem ter percebido Shou cada vez mais acuado a cada palavra – Eu só queria que você confiasse em mim, cara, só queria que você não desse tanta importância pra alguém que pode muito bem te trocar a qualquer momento. Mas se o que você tem pra me falar é íntimo demais tudo bem, não precisa contar suas aventuras na cama se não quiser! – Hiroto falara a última frase com ironia, arrancando risadas e comentários murmurados dos que estavam em volta – Só você não sabe que ele já passou por todo mundo aqui, você é só mais um, Shou, e é melhor sair de perto dele antes que...

 - CALA A BOCA HIROTO, CALA A BOCA! – todos os comentários e risadas cessaram, e por um momento a única coisa que se ouviu foi a respiração pesada de Shou.

 Hiroto o fitou, imóvel. Agora sim percebia o que havia feito. E se sentia extremamente mal por isso. Olhou brevemente o número grande demais de espectadores ao redor dos dois e voltou a olhar o outro. Shou parecia ter levado um tapa: o rosto muito corado, a respiração acelerada e os olhos inchados. Encarava Hiroto de um jeito que nunca tinha feito antes. Hiroto abriu a boca para tentar melhorar a situação, mas Shou não estava disposto a ouvi-lo mais. Empurrou com força o outro e abriu caminho por entre os curiosos estudantes, que voltaram com as risadinhas e murmúrios quando Shou se afastou o bastante para não ouvi-los. Hiroto tentou o seguir, mas o grupo que antes só assistia o encheu de perguntas, e mesmo não respondendo nenhuma, Hiroto não conseguiu se livrar deles a tempo de conseguir alcançar Shou.

 Shou parara em um parque, no centro da cidade, o mesmo que fora alguns dias antes para caminhar com Saga, mas dessa fora lá apenas para ter um lugar onde pudesse ficar sossegado no seu canto por um tempo. Achou uma árvore um pouco afastada da movimentação normal de crianças jogando e casais caminhando, jogou a mochila para um lado, sentou-se, abraçando os joelhos e chorou. Sua cabeça doía, mas esse era o menor de seus problemas: tudo que tinha parecia estar desmoronando. Todos que amava e confiava pareciam estar contra ele agora. E tudo pelo simples fato de Shou ser diferente. Sentia tanto isso porque no fundo sabia que não estava fazendo nada de errado, não estava de fato prejudicando ninguém. Se estivesse roubando ou matando tudo bem, mas não era justo perder tudo que tinha apenas por gostar de alguém. E não tinha nem pra onde ir. Não queria voltar pra casa de Saga nesse estado e ter que explicar o que aconteceu, e não podia voltar pra sua própria casa. Levantou a cabeça, secando as lágrimas do rosto e olhando em volta. Olhando todas aquelas pessoas rindo e andando sem ter um peso maior do que seu próprio sobre os ombros. Invejou cada uma delas.