Os Pássaros não Voam escrita por Eica


Capítulo 6
Capítulo 6




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             Hoje era aniversário de Marta. Ela ia dar um jantar somente para familiares e amigos mais chegados. Pela manhã, foi convidar Nathan e Jodi para o jantar. No entanto, não encontrou pai e filho em sua casa.

- Terei que cuidar de algumas coisas. – disse Marta, a Tomas. – Pode ficar de olho se Nathan e Jodi voltam para mim?

- Posso.

            Marta saiu com seu carro.

            Tomas foi cuidar dos cavalos, como sempre fazia, e em intervalos regulares, batia na porta de Nathan para ver se estavam lá. Fez isso por cinco vezes seguidas naquele começo de dia ensolarado. Depois de seu almoço, voltou à varanda da casa de Jodi e lá permaneceu para esperar pelo rapazinho que tanto lhe fazia bater o coração.

            Antes das uma hora da tarde, o carro de Nathan virou a esquina da rua. Tomas viu-o chegar. Nathan estacionou o carro na garagem (que não tinha portão).

- Olá, Tomas. – disse Nathan ao rapaz, sempre sorridente.

            Tomas respondeu com um aceno de mão. Levantou-se do degrau da escada da varanda. Aproximou-se uns passos do carro. Viu Nathan abrir a porta de trás do carro e dele tirar uma cadeira de rodas. Tomas ficou confuso. Viu Nathan “montar” a cadeira de rodas no chão da garagem. Depois o viu ajudar Jodi a sentar-se nela.

            A surpresa fez Tomas abrir um pouco os lábios.

            Jodi olhou para Tomas. Seu rosto estava sério. Cansado. Um pouco abatido. O rapazinho continuava lindo, mas não estava feliz. Isto era certo.

- Jodi... – murmurou Tomas.

            Depois de fechar a porta do carro, Nathan puxou a cadeira de rodas até Tomas.

- Senhor... O que... – disse Tomas a Nathan.

- Vamos entrar, Tomas?

            Tomas seguiu Nathan para dentro de sua casa. Nathan levou Jodi para seu quarto e lá o rapazinho foi deitado na cama. Nathan foi conversar com Tomas na sala.

- O que aconteceu a Jodi? – perguntou Tomas, sinceramente abalado.

- A doença dele progrediu mais rápido do que pensei. – disse Nathan, com rosto sisudo. – Ontem ele não conseguiu ficar de pé. Hoje de manhã foi a mesma coisa. As pernas não estavam mais agüentando o peso do corpo. Levei-o ao médico e ele disse que não havia muito que fazer. Sugeriu a cadeira de rodas que era a única coisa que ia ajudá-lo agora.

            A notícia apertou o coração de Tomas da forma mais cruel.

- Então o Jodi não vai mais...

- Pensei que ele teria mais tempo, mas... Não. Ele não vai mais andar.

            Depois da sua conversa com Nathan, Tomas foi dar uma olhadinha rápida em Jodi. Ao abrir a porta do seu quarto, viu-o encolhidinho na cama. Estava dormindo. Antes de voltar para casa, Tomas deu o recado a Nathan sobre o aniversário de sua mãe.

            Tomas não conseguiu se concentrar em seu serviço, porque tinha o pobre Jodi em sua mente.

            Oh! Que destino cruel para o adorado Jodi! E que grande frustração por não poder fazer nada. Se Tomas pudesse, com toda certeza trocaria de lugar com ele. Tudo para ver Jodi caminhar como antes. Caminhar com ele pelos campos...

            Horas antes do jantar na casa de sua mãe, Tomas foi ver Jodi em sua casa. Entrou em seu quarto depois que Nathan o atendeu. Trancou-se com ele no quarto. Deitou com ele em sua cama. Apertou-o num abraço.

- Jodi... – disse ele, com a testa colada na do outro. –... Sinto muito.

            Jodi se aproximou mais do seu corpo e sentiu-se protegido nos braços de Tomas. Pediu beijos do mais velho e ficou feliz ao recebê-los.

            O menor não quis aparecer no aniversário de Marta. Tomas ficou com ele em sua casa e só voltou para sua casa de noite. Explicou a sua mãe o que estava acontecendo com Jodi.

- Que coisa triste! – disse Ivete, que estava próxima de Tomas e Marta durante a conversa.

            Nas primeiras semanas, Nathan ocupou-se em equipar a casa com rampas e apoios para o filho, que estava começando a se acostumar à cadeira de rodas. Havia dias que, sem o conhecimento do pai, Jodi tentava inutilmente ficar de pé. Mas era como tentar ficar de pé com pernas de maria-mole. Não dava. Era impossível. Suas pernas não tinham força suficiente. A frustração, a dor, a raiva, com certeza levariam Jodi ao desespero e depressão, mas havia algo que dava a ele a alegria e força suficiente para superar este obstáculo: Tomas.

            Tomas continuou a tratá-lo como sempre tratava. E não deixou de levá-lo a todos os lugares que gostavam de ir. Levava-o sobre suas costas. Ele não se importava de levá-lo. Era lindo ver Tomas se esforçando para fazer Jodi feliz e o menor sempre se fazia de grato por ter um namorado tão bom e carinhoso como Tomas.

            Oh, sim! Namorado. Eles estavam namorando. Era oficial. No entanto, somente os dois sabiam sobre o relacionamento.

- Posso mergulhar? – perguntou Tomas, feliz.

- Pode. – respondeu Jodi, feliz em igual quantidade.

            Hoje à tarde, estavam no lago. Somente eles. Tomas submergiu com Jodi com ele, segurando em seus ombros. Como Jodi não podia nadar sozinho, tinha que se segurar em Tomas, que fazia todas as suas vontades enquanto no lago.

            Depois de muitos mergulhos, Tomas sentou Jodi na margem e sentou ao lado dele. Deitaram, cansados por causa da atividade que lhes rendia tantos sorrisos. Jodi procurou a mão do outro e a segurou.

            O céu estava lindamente azul. Nenhuma nuvem. No peito, Jodi carregava o peso do amor. O amor sincero, forte, inocente, vivo, e que arde e o consome profundamente. Somente Tomas para proporcionar-lhe tamanha carga de emoções que seu coração de rapaz é quase incapaz de carregar.

            De repente, Jodi apertou a mão de Tomas quando se deu conta de que não saberia viver se, por algum motivo, se separasse dele.

- Você não vai... – disse Jodi, de modo desajeitado.

            Tomas olhou pra ele.

- Não vai me deixar, vai?

            Tomas sorriu.

- Por que eu faria isso?

            Jodi virou o rosto para ele.

- Pode me fazer essa promessa?

- Posso, mas é desnecessária.

- Não, não é. Quero sua palavra. Aperte aqui.

            Jodi levantou o dedo mindinho da mão direita e Tomas teve que levantar o seu para que seus dedos se cruzassem num gesto de comprometimento.

- Agora vem!

- Que...?

            Tomas carregou Jodi de repente e caiu com ele na água do lago. Quando Jodi submergia cada vez mais, Tomas levantou-o segurando-o pela cintura.

            Na outra semana, Nathan, Tomas e Jodi foram pescar (era certo que Nathan e Tomas estavam fazendo de tudo para tirar um sorriso do rosto de Jodi e fazê-lo esquecer seus problemas.) E nesta mesma semana da pescaria, Tomas começou a ensinar Jodi a tocar violão: o mais velho se trancava no quarto do menor e lhe ensinava o básico. Já na outra semana, ousado como sempre, Tomas batia na janela de Jodi durante a noite, e ficava deitado em sua cama, fazendo-lhe companhia.

            Oh, sim! Jodi se derretia todo com seus beijos! Tão doces e carinhosos! Suaves como o vento que não tinha hora para acabar. Durante os beijos, o coração de Jodi se enchia de uma felicidade atordoante. Um júbilo esplendoroso. Não havia nada melhor neste mundo do que render-se aos beijos de Tomas, às mãos de Tomas que sabiam perfeitamente aonde ir, aonde acariciar, aonde provocar desejo...

            Quinta-feira. Depois de terminar suas tarefas e depois de muitos passeios com seu namorado, Tomas refugiou-se com o menor num boxe de um cavalo – os boxes estavam vazios porque os cavalos estavam soltos no prado. Ali, convencidos de que estavam escondidos, Tomas tomou Jodi em seus braços e iniciou os carinhos no rapaz.

            Tomas riu.

- Seu cabelo está cheio de cascas de arroz. – disse a Jodi.

            Tomas estava deitado sobre Jodi, que descansava o corpo na cama de cascas de arroz do boxe.

- Sabe o que gosto em você?

- O que? – perguntou Tomas.

- Faz tudo parecer melhor do que realmente é.

            Tomas adorou o sorriso de Jodi e presenteou-o com um beijo nos lábios.


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