Você Vai Lembrar de Mim? escrita por Fanfics Gabi


Capítulo 3
Capítulo 3




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06 de Agosto de 1918

            Eu estava sentado no chão do corredor onde ficava o quarto de Emily. Minhas mãos suavam e eu batia o pé ritmadamente no chão, em puro nervosismo.

            Dentro do quarto, a minha frente, um médico examinava a minha amiga, que vinha tendo muita febre ultimamente.

            Naquela manhã ela havia piorado. Seu corpo atingiu a temperatura de quarenta e dois graus, o que provocou convulsões.

            Mrs. Davis havia insistido que eu fosse para casa, pois já passava das nove da noite. Eu me recusei a partir enquanto não soubesse qual era a doença que atingira Emily.

            Ouvi o barulho da porta do quarto abrindo. Rapidamente me levantei. Mrs. Davi se levantou de sua cadeira, posta estrategicamente ao lado da porta dos aposentos da filha.

            – Então doutor? – Perguntei impaciente. – O que tem Emily?

            O médico olhou pesaroso para mim e Mrs. Davis, que tinha os olhos apreensivos.

            – Eu temo que seja essa maldita peste. – Falou o homem.

            – Peste? – Perguntei incrédulo. – A gripe que está atacando a população de Chicago? – Não podia ser. Não a minha Emily.

            – Eu sinto muito. – Disse ele e deu as costas.

            – Não! – Mrs. Davis arfou. – Minha menina. – Entrou no quarto, desesperada.

            Eu estava estático. Meus pés estavam grudados no chão. Eu sabia que a doença era mortal. Já havia devastado metade da população. E agora atingira a minha amiga.

            Não podia ser. Eu não queria acreditar. O que eu faria agora? Emily não podia me deixar. Não podia.

            Ouvi um choro descontrolado e só depois percebi que era eu que estava produzindo o barulho.

29 de Julho de 1918

            – Você deveria cuidar desse resfriado Emily. – Falei assim que seu acesso de tosse passou.

            – Não é nada, Edward. – Como essa menina é teimosa. – Logo, logo isso passa.

            – Vamos entrar pelo menos. – Estávamos na varanda de sua casa e começava a ventar. – Não é bom você ficar nesse ar gelado.

            Ela revirou os olhos.

            – Sempre super-protetor. – Reclamou, mas fez o que pedi.

            – Só quero o seu bem, pequena. – Falei.

            Ela bufou e a tosse voltou.

11 de Agosto de 1918

            – Não é melhor para ela ficar em casa, doutor? – Perguntei desesperado enquanto os enfermeiros se preparavam para levar Emily para o hospital.

            – Desculpe Mr. Masen, mas é perigoso para as outras pessoas da casa ficarem na companhia de Miss Davis. – Falou o médico. – A doença está em um estágio avançado. Os outros podem se contaminar.

            – Ed... Edw... Edward... – Emily me chamou com esforço. Rapidamente fui até o seu lado e segurei sua mão. Eu usava uma máscara protetora e luvas descartáveis.

            – Shhhhhh... – Tentei acalmá-la. – Eu estou aqui minha pequena. Tente não fazer muito esforço. – Falei.

            La deu uma risada fraca.

            – Super-protetor. – Resmungou. Eu ri, mas o som estava mais para um gemido de dor. – Acho que você não vai mais querer casar comigo nesse estado, não é? – Perguntou com um sorriso fraco. Ela estava completamente frágil. Sua pele, antes bronzeada, estava extremamente pálida e praticamente colada nos ossos, o que mostrava o quanto estava magra. Os cabelos, antes macios e sedosos, estavam sem brilho e ralos. Os olhos estavam contornados por grossas olheiras e a íris praticamente se misturava com a pupila, de tão negras que estavam.

            – Eu me casaria com você de qualquer jeito, pequena. – Falei. Lagrimas ameaçavam cair de meus olhos.

            – Bom... – Foi interrompida por uma forte tosse. – Acho que eu nunca pude competir com a guerra, não é mesmo?

            – Competir com a guerra? – Perguntei sem entender.

            Ela riu sem humor. Seus lábios, antes rosados, estavam sem cor alguma agora.

            – Por mais que eu tentasse fazer você me amar, se tornar um soldado sempre foi mais importante para você. – Falou com dificuldade.

            – Emily... – Comecei.

            – Não, Edward. – Me interrompeu. – Não tem importância agora. – Não havia ódio ou remorso em sua voz. Apenas pesar. – Mesmo que eu tivesse conseguido, não valeria de nada. Eu vou morrer mesmo.

            – Não Emily! – A repreendi. – Não fale assim, por favor.

            Eu não estava acreditando. Emily estava se declarando para mim. Eu me xinguei mentalmente por não ter percebido seus sentimentos antes. Eu a amava como uma irmã e só. Mas eu via que ela sofria. Sofria por eu não corresponder seus sentimentos.

            – Você sabe que é verdade, Edward. – Ela falou. – Eles dizem que estão me levando para o hospital para cuidar melhor de mim. Mas eu sei que não é isso que vai acontecer. – Tossiu mais uma vez. – Eles estão me mandando para lá para morrer. Junto de todos os outros.

            – Não, Emily! – Eu negava mais para mim mesmo do que para ela. – Você vai ficar bem. – As lágrimas caiam sem controle agora.

            – Shhhh... – Sussurrou. – Não chore. – Sua mão fez carinho em meu rosto, puxando minha cabeça para seu peito. Eu me abracei a ela e chorei desesperadamente.

            – Está na hora, Mr. Masen. – O médico atrás de mim falou. Olhei para ele e assenti. Voltei a olhar para Emily.

            – Eu te amo, Emily. – Falei em um sussurro.

            – Meu coração é seu. – Falou em resposta.

            E então os enfermeiros a levaram.

17 de Fevereiro de 1917

            – Você vai lembrar de mim? – Perguntou de repente. Almoçávamos os dois sozinhos na varanda. Emily e eu. – Quando você for para a guerra, quero dizer.

            A Grande Guerra estourava na Europa e os Estados Unidos finalmente resolveu tomar partido, se aliando com a Inglaterra.

            – É claro que sim. – Falei como se fosse óbvio. – Eu nunca vou esquecer você, Emily.

            Ela sorriu largamente e voltou a comer.

12 de Dezembro de 1918

            Era isso. Era o fim, eu podia sentir.

            Eu olhava para os lados e só via dor e morte. O cheiro dos doentes do hospital já nem me incomodava mais. Eu já havia me acostumado.

            A Gripe Espanhola já havia levado minha melhor amiga, meu pai e eu não tinha mais notícias de minha mãe, que estava aqui, nesse mesmo hospital.

            Eu estava fraco, muito fraco. Eu já não sabia a diferença entre médicos e pacientes, de tanta gente que havia ali.

            Só reconhecia uma pessoa naquele lugar. Um médico bondoso, que parecia ser o mais empenhado em salvas as pessoas dali. Seu nome era Carlisle. Em meus melhores dias, ele costumava conversar comigo. Agora eu já não tinha forças nem para beber água.

            Ali, deitado naquele leito de hospital, comecei a pensar na minha vida. No meu sonho de ser soldado. Eu queria lutar na guerra, mas ela acabou antes que isso acontecesse. Pensei na minha adorável mãe, em como ela era carinhosa e amorosa. Em meu pai, que, apesar de rígido e conservador, me amava mais que a própria vida. E em minha amiga. Emily. Faleceu duas semanas antes de completar seus tão aguardados dezesseis anos. Minhas memórias vagaram pelos nossos passeios pelo jardim, nossas tardes de leitura, os piqueniques que fazíamos...

            De repente Carlisle apareceu do meu lado. Segurou minha mão e se aproximou do meu rosto.

            – Vou tirar você daqui. – Falou baixinho.

            Senti que ele me colocava em uma maca e andando comigo pelo hospital. Chegamos na rua. Espere ai... Na rua? O que estávamos fazendo na rua?

            Carlisle me pegou no colo e começou a correr. A velocidade em que corria era tão grande que tudo ao meu redor estava borrado. Ou era apenas a doença me deixando tonto.

            Quando paramos em uma espécie de porão, ele me depositou no chão. Meu corpo tremia violentamente em febre.

            – Vai ficar tudo bem. – Ele disse. – Você vai ficar bem. – Parecia que ele falava mais para ele mesmo do que pra mim.

            Então ele me mordeu. No começo eu não entendi muito bem o que estava acontecendo e o porquê de ele estar fazendo isso.

            Mas então eu senti.

            Meu pescoço começou a arder no local em que ele mordeu. Mas depois foi como se um fogo percorresse todo o meu corpo. Ele queimava e rasgava minhas veias. Eu comecei a berrar. Pedir por socorro. Pedir para que Carlisle tivesse piedade de mim e me matasse logo. Aquilo era o inferno. Será que era assim que era morrer? Era isso que a doença fazia com o seu corpo?

            Na hora meus pensamentos foram para Emily. Eu esperava que ela não tivesse passado por isso. Não tivesse sentido essa dor. Era sofrimento demais e ela não merecia isso.

            E então uma súbita alegria se apoderou da minha mente. Se eu estava mesmo morrendo, então eu logo veria Emily novamente. Eu quase podia vê-la através de meus olhos. Eu lembrava perfeitamente de sua pele morena, de seus lindos cachos negros e seus grandes olhos que pareciam abrigar o mundo.

15 de Abril de 1916

            – Sorria Mr. Masen. – O fotógrafo falou.

            – É. – Emily concordou. – Sorria Edward. Não quero ter que olhar para você emburrado para o resto da minha vida.

            Estávamos tirando uma foto na sala de minha casa. Emily estava sentada em uma poltrona e eu estava em pé ao seu lado.

            Eu sorri como os dois haviam pedido.

            – Tudo bem. Vou contar até três. – Falou o fotógrafo, se posicionando para tirar a foto. – Um... Dois... Três!

            Vimos o forte flash.

– Aposto que ficamos lindos. – Disse Emily se levantando. Eu ri.

            – Bom... – Falou o fotógrafo. – Se é só isso, eu já vou.

            – Espere! – Emily falou. – Você pode tirar outra foto? – Eu franzi o cenho, não entendendo para que ela quisesse outra foto. – Uma menos formal, sabe... – Completou.

            – Tudo bem. – O fotógrafo deu de ombros.

            Emily sorriu largamente e me puxou para mais perto dela, me abraçando pela cintura. Fiquei sem reação.

            – Me abrace Edward. – Falou. – E sorria.

            Fiz o que ela pediu, passando meu braço ao redor dos seus ombros.

            – Prontos? – Perguntou o homem.

            – Sim. – Falamos juntos e rimos com isso.

            – Um... Dois... Três! – O flash quase cegou meus olhos.

            – Perfeito. – Emily disse me olhando. – Agora estamos eternizados. – Sorri para a menina ao meu lado.


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Notas finais do capítulo

Este é o último capítulo. Espero que tenham gostado da história!
Beijinhos.



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