Você Vai Lembrar de Mim? escrita por Fanfics Gabi


Capítulo 1
Capítulo 1




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12 de Abril de 1917

            – Vamos logo Edward! – A menina de cabelos negros e encaracolados à minha frente me chamava impacientemente para o passeio matinal.

            – Espere Emily. – Falei rindo. – O jardim não vai fugir.

            – Mas o sol vai. – Ela colocou as mãos na cintura com uma expressão severa. – Não quero passear com o dia cinzento e você sabe muito bem que não é bom uma garota da minha idade andar por ai sozinha.

            – Eu sei, eu sei. – Embora já estivéssemos em pleno século vinte, nossas famílias eram muito conservadores. Emily Davis tinha apenas quinze anos e eu dezesseis. Coloquei-me ao seu lado e ofereci meu braço. – Vamos.

            Ela enganchou seu braço no meu, pegou sua sombrinha que estava na soleira da porta e saímos para o dia ensolarado.

            – Oh! Está um lindo dia não é mesmo Edward? – Ela me olhou sorrindo, abrindo a sombrinha. – Eu adoro a primavera. As flores ficam tão lindas nessa época do ano. – Eu não conseguia deixar de sorrir ao assisti-la admirando o jardim. – Olha Ed! – Eu adorava quando ela me chamava pelo apelido. – Você já viu um pássaro como aquele? – Olhei para onde ela apontava, mas nada vi.

            Ela levantou um pouco a saia de seu lindo vestido rosa e pôs-se a correr pelo jardim.

            – Emily, espere. – Corri atrás dela. Ela olhou para trás e riu.

            – Você não me pega Edward Anthony Masen! – Largou a sombrinha no chão e correu mais. Eu sorri e tentei pegá-la. Emily se recusava a usar espartilhos, o que era um acessório indispensável para as mulheres da época, por mais que sua mãe insistisse. Reclamava que não conseguia respirar dentro daquele pedaço de pano. Em minha opinião, espartilhos não eram necessários para ela. A menina era dona de uma silhueta invejada.

            Quando a alcancei, acabamos caindo na grama fofa às gargalhadas. Olhei para o céu que estava azul, sem nenhuma nuvem. Ouvi Emily suspirar e me virei para ela. Ela estava com a cabeça apoiada em um dos braços e me observava.

            – Seus olhos são tão bonitos. – Falou. – Gostaria de ter olhos verdes como os seus.

            – Mas seus olhos são lindos. – Não era mentira. Apesar de castanhos, cor comum de olhos americanos, eram profundos. Talvez por haver tanta sede de conhecimento ali. O que era incomum para uma menina de sua idade.

            Ela riu. – Sua mãe não lhe ensinou que é feio mentir, Edward? – Eu ri. – Ainda mais para uma Lady como eu.

            – Lady? – Perguntei rindo.

            – Sim, Lady. – Falou ficando brava de repente e se levantou. – É assim que Dom Willians me chamou ontem durante o chá.

            – Dom Willians? – Falei me levantando também. – Mas aquele homem é um...

            – Olhe o respeito Masen. – Emily me interrompeu antes que eu declarasse uma ofensa a um de seus muitos pretendentes.

            – Desculpe. – Pedi. – Mas o que você tem Emily? Nunca a vi defendendo seus pretendentes.

            Ela suspirou.

            – Desculpe. – Falou envergonhada. – Papai tem me colocado muita pressão para casar ultimamente. Convenceu mamãe de que eu devo começar a frequentar as festas da corte e que devo me aproximar mais de Dom Willians, já que ele viria a ser um ótimo marido para mim.

            Ficamos um bom tempo em silêncio. Na verdade, eu não sabia o que falar.

            – Vamos entrar. – Emily finalmente se pronunciou. – Logo minha mãe irá nos chamar para o chá da tarde. – Assenti.

            Ofereci-lhe meu braço, ela aceitou prontamente e voltamos para dentro.

30 de Novembro de 1915

            – Você acredita que Anne veio me convidar para tomar chá em sua casa? – Estávamos na biblioteca do pai de Emily, em uma das típicas tardes de leitura.

            – E o que você disse? – Perguntei sem desgrudar os olhos do meu livro

– Que tinha alergia de gente interesseira. – Fui obrigado a rir.

            Emily não tinha nenhuma amiga mulher. Não porque as meninas da cidade não gostavam dela. Ela é que as achava muito fúteis. Ao contrário das meninas de sua idade que queriam casar com um homem rico e viver à sua sombra, Emily com apenas treze anos tinha certeza de que queria estudar e conseguir admiração por mérito, o que não era bem visto na sociedade da nossa época. É claro que ela tinha muitos pretendentes, devido às riquezas de seu pai, mas ela desprezava a todos.

            Eu também não tinha interesse nenhum em casar. Com quatorze anos só queria completar dezoito anos logo para poder ir para a guerra. Meu sonho era tornar-me um grande soldado. Emily não aprovava, é claro. Dizia que eu era um rapaz muito bonito para morrer em batalha. Eu me divertia com suas desculpas para me convencer a mudar de ideia.

            O pai de Emily não gostava muito de nossa amizade. Dizia que sua filha acabaria mal falada por andar aos cantos com um rapaz que não era seu noivo. Ela dizia que não se importava com o que as pessoas pensavam dela. Nossas mães sempre diziam que acabaríamos casando, de tanto que éramos grudados. Emily parecia fazer pouco caso disso.

            – Você não deveria se privar da companhia de meninas da sua idade, Emily. – Falei quando consegui controlar o riso.

            – Eu não preciso da companhia delas, Edward. – Falou arrancando o livro da minha mão. – Eu tenho a sua.

            – Sim, você tem. – Confirmei. – Mas seu pai já está começando a reclamar Emily. – Ela revirou os olhos.

            – Como se eu me importasse. – Foi até a estante procurar um livro. Voltou com um nas mãos. – O que você acha desse, Ed? – Me mostrou o livro.

            – É um ótimo livro. – Falei olhando o exemplar de “Pollyanna” de Eleanor H. Porter, que havia sido publicado há dois anos. – A menina do livro me lembra você.

            Ela me olhou incrédula e depois para o livro.

            – Sério? – Perguntou sem acreditar. Confirmei com um aceno de cabeça. – Bom, se é assim vou lê-lo.

03 de Dezembro de 1915

            – Edward? Edward Masen! – Emily irrompeu em minha sala de estudos em seu vestido branco cheio de camadas. Em suas mãos o exemplar do livro Pollyanna.

            – O que foi Emily? – Perguntei preocupado. – O que aconteceu de tão importante para você entrar assim sem bater?

            – Isso. – Ela levantou o livro. Franzi o cenho sem entender. – Ora, Edward. – Falou impaciente. – Você disse que me achava parecida com a menina dessa história. Eu não acredito que você me ache tão... tão... – Ela tentava escolher a palavra certa. – Tão melosa!

            Fiquei um tempo ali, absorvendo o que ela havia acabado de dizer e então cai na gargalhada.

            – O que foi? – Perguntou brava. – Isso não tem graça.

            Eu não conseguia parar de rir.

            – Eu não acredito que você interrompeu meus estudos apenas para dizer que não gostou de ser comparada com Pollyanna! – Perguntei ainda rindo.

            Ela bufou.

            – Não é só isso. – Falou. – Esse livro é juvenil demais. – Revirou os olhos. – Quero que você me leve até a biblioteca do seu pai para procurarmos um livro melhor para eu ler.

            – O quê? – Perguntei parando de rir na hora. – Emily, eu não tenho permissão para ir até a biblioteca de papai.

            Ela revirou os olhos e cruzou os braços.

            – Pensasse nisso antes de me comparar com uma menininha sem sal. – Declarou.

            Suspirei. Eu sabia que ela não iria parar de me incomodar enquanto não fossemos a tal biblioteca.

            – Tudo bem. – Me dei por vencido. – Vamos. – Sai em direção à biblioteca e ela me seguiu. No caminho resolvi perguntar algo que me intrigava. – Por que você não gostou de ser comparada com a Pollyanna?

            – Ela é muito positiva. – Deu de ombros.

            – Mas isso é uma coisa boa, não é? – Perguntei confuso.

            – Mas ela é positiva demais. – Deu ênfase no “demais”.

            Na verdade eu a comparei com Pollyanna porque a achava meiga e carinhosa, como a menina do livro. Mas acho que ela entendeu que eu a achava muito inocente.

            Quando chegamos à biblioteca, fiquei vigiando na porta enquanto Emily procurava um livro de seu interesse.

            Logo ela voltou com um livro nas mãos.

            – Vamos Ed. – Falou. – Achei o livro perfeito. – Nos apressamos para sair dali, com todo o cuidado para não sermos pegos.

            Ao voltarmos para minha sala de estudos resolvi perguntar qual livro ela havia escolhido. Quando me mostrou meu queixo caiu.

            – Mas... Mas Emily. – Eu estava em choque. – Se sua mãe ou o padre Harris descobre que você está lendo livro você terá que pagar penitências para o resto da vida. – Falei olhando para a cópia de “O Andarilho das Estrelas”. – Nossas famílias eram muito religiosas. Nossas mães sempre contribuíam para a igreja. Se Emily fosse vista lendo um livro que fala sobre espiritismo, não me surpreenderia se ela fosse repreendida em frente a toda a população de Chicago.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. :D


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