Coração de Gelo escrita por Tali-chan


Capítulo 1
Luar




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   Eu observava, entretida, as imagens borradas passando rapidamente pela janela do carro. Era estranho essa mudança para mim, porém eu sabia que ela devia ser feita. Mamãe não parava um momento de reclamar como o dia estava claro e também de que eu não precisava fazer isso. Mas eu sabia, e também tinha certeza que ela também. Senti o carro parar e rapidamente abri a porta nem ao menos esperando mamãe terminar seu discurso. Vi ela olhando pelo pára-brisa, o olhar triste, mas isso não durou muito e ela já se encaminhava comigo e com meus pertences para o portão de embarque. Ao ouvir a audível voz informando que meu vôo já estava para decolar eu olhei para ela, um olhar cálido, um olhar amoroso.

   -Você sabe que te amo, mamãe. -eu diz numa voz pausada e infantil, às vezes mamãe precisava disso.

   -Você tem certeza que quer fazer isso? Quero dizer, você pode ficar aqui! -ela disse nervosa, eu acenei negativamente.

   -A faculdade que eu quero está lá mamãe. Não se preocupe, nada me acontecerá! -eu afirmei com um grande sorriso e dessa vez ela se forçou a sorrir comigo. Ela se aproximou e me abraçou fortemente.

   -Eu..eu só não quero me separar do meu bebê. -eu ouvi ela choramingar e ri baixinho.

   -Mamãe estou crescida. Não se preocupe, apenas aproveite as férias em Miami. -eu disse me virando e pegando minha bolsa. Caminhei um pouco até ouvir sua voz me chamando, mais uma vez.

   -Espere! -ela correu até mim e eu a vi vasculhando os bolsos, até que ela achou algo e foi tirando. Eu vi aquela gargantilha com um lindo pingente de brilhantes em forma de coração, eu olhei duvidosa para ela e ela envolveu meu pescoço e colocou a corrente.

   -Era da minha mãe, ela me deu quando eu fiz 18. Eu...talvez eu não tenha a chance de te ver no seu aniversário, por isso eu te dei antes. -ela tocou minha bochecha e beijou minha testa. A voz dizendo que era a última chamada para o vôo me acordou do transe.

   -Tenho que ir mesmo mamãe. Obrigada pelo presente. -eu disse a ela com lágrimas nos olhos, beijei sua bochecha e me virei, pegando minhas duas bolsas de rodinha e me dirigindo pelo portão de embarque. Eu não olhei para trás. Eu sabia que ela estaria me olhando com olhos tristes, e não queria ter essa memória dela. Sentei-me no meu acento, do lado da janela, e coloquei os fones de ouvido, me desligando do mundo. Senti o avião levantando vôo, iria ser uma longa viagem até a Transilvânia. Suspirei fundo, tirei os fones do avião, coloquei os fones de meu mp4 e peguei meu livro Drácula de Bram Stoker, nada como lê-lo enquanto você, uma pobre mortal com muita má sorte, se dirige para, como os vampiros chamam, a "Meca dos vampiros". Dei um sorrisinho e me encostei no banco, ligando a luz acima de mim e me encostando no vidro da janela.

   Estava tudo tão escuro....podia sentir que estava sendo observada, neguei com minha cabeça tentando convencer à mim mesma que eu estava ficando louca. Uma luz me deixou enxergar um pouco, eu olhei para cima de onde a luz vinha, e me dei conta de que aquela era a lua, enorme, arredondada, e branca com pequenos círculos cinzas. Sorri com o pensamento de que era um queijo, porém ouvi algo se movimentando e quando olhei ao redor me dei conta de que eu estava numa estranha clareira numa floresta. Meu coração palpitou ao ouvir alguém atrás de mim, dessa vez eu tinha certeza absoluta de que realmente tinha alguém ali. O medo foi tomando forma dentro de mim, me controlei respirando fundo. Me virei vagarosamente para o estranho e pude ver alguém de terno, muito bem vestido, ele se curvou para mim sorrindo e ofereceu sua mão para mim.

   -Me daria o prazer dessa dança, senhorita? -ele disse com uma voz aveludada, hipnotizante. Eu não compreendi por um momento até que quando olhei ao meu redor estávamos em um baile, nós estávamos no centro e todos nos observavam. Engoli em seco e sem dizer nada aceitei a mão dele, não tinha nada a perder.A valsa começou e eu apenas acompanhava seus passos, sem ter coragem suficiente para encarar seus olhos. Senti a música desaparecendo e quando me dei conta novamente eu estava novamente na clareira nos braços dele e ele estava inclinado sobre mim com sua boca próxima a meu pescoço.

   -Te esperei muito, Mina. -eu não entendi o porquê dele ter me chamado de tal nome, porém a dor latente em meu pescoço me fez soltar um gemido de dor, ele se voltou para mim, sua boca com meu sangue e suas presas a mostra.

   -Não se preocupe -ele disse num sussurro- não vai doer muito mais, Cornélia. -e ele novamente se inclinou pressionando sua presa contra minha pele e a perfurando, eu olhava para cima e só podia ver o luar, minhas pálpebras pesaram e eu poucos minutos não via mais nada a não ser a escuridão novamente.

   Acordei assustada, me vi no avião e suspirei, "Não devia ter lido Drácula" repreendi a mim mesma, porém o agradável calor que me aquecia fez eu pensar se alguém havia posto um cobertor sobre mim. Meio insegura eu olhei para cima e percebi que estava no peito de meu vizinho de poltrona. Rapidamente me afastei e me desculpei encabulada.

   -Per...Perdoe-me, não era minha intenção. Me desculpe mesmo! -fechei meus olhos sentindo minha face queimar, o que eu ouvia era o ronco das pessoas e me perguntei se ele não estava dormindo, até que ele começou a gargalhar, meus olhos se abriram no mesmo instante, olhando para os densos olhos dele.

   -Não se preocupe! Não foi nada. -ele sorriu me acalmando e eu sorri em retorno, ainda um pouco encabulada.


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