Escolhas escrita por sophiehale


Capítulo 5
5 - Save me


Notas iniciais do capítulo

demorei, mas aí está. espero que vocês gostem!



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Capítulo 5

Won't you save me?

Saving is what I need.

Save Me - Hanson

-Eu estava congelando lá fora. – Jasper se queixou. – Ainda não consigo tirar meu carro da garagem porque a prefeitura não faz nada quando o assunto não são as ruas principais. E se, Deus o livre, acontecesse alguma coisa para que um vizinho meu, por exemplo, precisasse de socorro? O governo não liga pra nada disso. Eu vou processar...

Jasper, depois de dar uma olhada em Ella, fazia seu discurso habitual de advogado-contra-o-governo. Levantei meu olhar para ver o que o fizera interromper – talvez para agradecer por aquilo -, mas percebi Alice voltando da cafeteria e lembrei-me de que não avisara que ela estaria ali para Jasper. Que ótimo.

-Por que você não me avisou? – ele deixou no ar a conclusão de sua frase inacabada, olhando-me com os olhos questionadores. Alice, do outro lado do corredor, andava em direção a onde nós estávamos – na sala de espera -, e ainda não tinha notado pela presença de meu irmão.

-Eu acho que tinha coisas mais importantes para pensar...? –aquilo era tão óbvio que soou como uma pergunta. Jasper bufou ao meu lado e, finalmente, minha melhor amiga o percebeu ali. Ela fez menção de dar meia volta, mas algo em meu olhar a fez esquecer essa hipótese. Eles já eram adultos há um bom tempo e se conheciam há quatro anos. Uma conversa não faria mal a ninguém.

-Não acredito que fez isso de propósito Rose! – Jasper reclamou, levantando as mãos como quem pedisse ajuda. Ele já ia começar seu showzinho particular quando Alice finalmente chegou. – Hmmm, oi Alice.

Tudo bem, eu tive que rir. O modo como ele se arrumou – com direito a pentear o cabelo com os dedos e arrumar o casaco, além, é claro, da própria postura -, só porque ela estava perto me fez gargalhar. Os dois me encararam, perplexos, e Jasper ainda tentava me torturar com seus olhos castanho-claros.

-Oi Jasper. Como vai? – ela cumprimentou com o seu melhor tom profissional. Eu sabia que ela queria que ele pensasse que ela já estava bem, seguindo em frente. De preferência, do jeito que Alice era, ela iria arrumar um novo-falso namorado em cerca de três semanas. Tão previsível.

-Muito bem. – ele fez questão de frisar. Aqueles dois me deixavam louca! Por que não dizer que tudo estava “pior impossível”, “eu sinto a sua falta, volta pra mim” e “eu fui um louco (a) de te deixar ir”? Questões amorosas definitivamente não eram comigo. Já bastavam as minhas mal-resolvidas, quanto mais a do meu irmão e de minha cunhada... Ou ex-cunhada, até que se provasse o contrário.

A conversa indiferente se seguia e eu já estava impaciente sem nem 3 segundos terem se passado direito. Achei melhor sair dali e deixar as duas crianças conversarem a sós. Talvez ajudasse em alguma coisa.

-Vou dar uma olhada na Ella. – eu avisei. Os dois me lançaram, ao mesmo tempo, olhares de súplica para que eu não saísse dali. – Até mais.

Eu não faria o que eles queriam. Eles tinham que se resolver e, além do mais, eu queria ver como estava minha filha no final das contas.

Caminhei com passos lentos em direção ao quarto onde Ella estava e olhei para trás umas duas vezes para não perder qualquer novidade.  Como qualquer coisa naquela manhã, até agora eu estava completamente sem sucesso.\t\t     \t\t\t

-Olá. – eu anunciei quando cheguei à porta do quarto. Ella lançou-me um sorriso e eu reparei quando Travis sorriu também, mais timidamente. – Como você está princesinha?

-Estou bem mamãe. – ela respondeu. – Eu só queria ir pra casa...

Hmmm, até que demorou mais do que eu imaginei. Qualquer criança de seis anos estaria ficando louca para sair dali, pelo menos as mais convencionais. Principalmente a minha filha, que não conseguia parar quieta por um minuto sequer. O estetoscópio que Emmett lhe dera nem mais estava com ela.

-Ella, onde está o brinquedo do doutor McCarty? – eu perguntei, olhando por todos os lados. – Ele vai precisar dele...

-Ah, eu dei para o Travis. – ela apontou para onde estava o irmão. Realmente, o estetoscópio estava em suas mãos, que estavam de costas quando cheguei e por isso não consegui notar.  – Ele parecia meio interessado.

-Ah, é verdade Trav? – eu perguntei com certo brilho no olhar. Nunca suspeitara que Travis gostasse da medicina.

-Tanto faz. – ele deu de ombros, indiferente, e jogou o objeto no chão.

-Qual é, Travis? O que interessa a você, também me interessa. – eu deixei claro, pegando o utilitário do chão e deixando-o em uma mesinha do quarto.

-Hmmm, é verdade. – disse, e eu o conhecia o suficiente para saber que não era aquilo que ele gostaria de dizer.

-O que foi? – eu arquei uma sobrancelha.

-Travis quer ser um médico, mamãe! – Ella anunciou com um sorriso enorme, mas logo colocou a mão em sua boca, como se tivesse falado demais.

-Cale a boca, pirralha. – Travis deixou claro que minha hipótese estava certa. – Eu não quero porcaria nenhuma. Afinal, se eu quisesse, isso me interessaria. E o que me interessa, interessa a você, não é mãe? Você deveria saber.

Aquelas palavras me doeram de tal forma que algumas lágrimas brotaram em meus olhos. A quem eu tentava enganar? Eu era uma péssima mãe. Passava o tempo todo correndo contra o relógio e, realmente, não tinha tanto tempo para eles quanto eu pensava que fosse ter. Mas eu não tinha escolha. Eu tinha que trabalhar para sustentar aquela “família”. Eu era uma mãe solteira e tinha todas as responsabilidades.

Ella me tratava com respeito e afeto porque ainda era pequena, e eu sabia disso. Travis, apesar de ter apenas os seus dez anos, já sabia o significado de mãe ausente e, claro, me culpava por pequenas coisas, como, por exemplo, não ajudá-lo com o dever de casa. Mas o que eu podia fazer?

-Você fez a mamãe chorar! –Ella constatou, quando eu comecei a enxugar as lágrimas que se formavam com a manga de minha blusa.

-Eu não falei nada que não fosse verdade. – Travis deu de ombros.

-Você é um idiota! – Ella fez um biquinho e, apesar da aparência de rocha que Travis insistia em manter, eu percebi o quanto aquelas palavras tocaram nele.

-E você é uma pirralha! – ele gritou, fazendo Ella começar a chorar. O que estava acontecendo ali? O que eu fiz para aquilo? Parecia que todo lugar que eu pisava acontecia alguma coisa ruim. Antes de eu chegar, Ella e Travis riam, e meu primogênito ainda brincava com um objeto que eu nunca desconfiara que lhe interessasse.

-Ei, ei, ei. O que está acontecendo aqui? – uma voz de homem interrompeu o circo que se formava aos poucos. Eu só percebi que estava chorando quando aquele homem – o médico que eu conversara horas atrás, Emmett – me olhou com compaixão e me deu um abraço. Um abraço profissional, mas reconfortante da mesma forma.

-Desculpa doutor Emm. A culpa é do Trav.

-É mesmo. – me surpreendi quando ouvi a voz do meu filho. – A culpa é sempre do Travis!

Claro. Cabeça a minha, até parece que ele tomaria jeito tão cedo. Esse menino precisava de um pai. Um pai que aparecesse mais do que em meros sábado e domingo ou dias de neve.

Meu filho saiu do quarto batendo o pé e seguiu para a sala de espera, onde Jasper e Alice ainda estariam conversando provavelmente. Emmett colocou suas mãos em meus ombros e me encarou, parecendo preocupado.

-Você está bem? – ele perguntou.

-Vou ficar. – eu lhe lancei um sorriso discreto, limpando mais algumas lágrimas com a manga de minha blusa.

-E você? – ele perguntou para Ella.

-Eu estou triste com o meu irmão. –ela anunciou, cruzando os braços e fazendo biquinho. Aquilo me fez rir um pouco.

-Ah. Então deixa pra lá então. – Emmett deu de ombros. Eu sabia, pela sua expressão, que ele estava brincando com ela. – Eu vim até aqui para te dar alta, mas como você está muito triste, é melhor ficar aqui até amanhã...

-Não! –ela quase gritou, fazendo Emmett e eu a encararem perplexos para ela se controlar. Estávamos em um hospital, ela não podia esquecer. –Quer dizer, ah não, doutor Emm. Eu não estou mais triste, vê?

Ela fez o melhor e maior sorriso que conseguiu para parecer autêntica.

-É... Acho que não. – ele concordou. – Mas e a sua mãe? Ela parece estar um pouco triste.

-Não está não. – ela disse. – Não é mamãe?

Eu apenas soltei um “uhum” sem abrir a boca. Eu não estava bem e Emmett lançou-me um olhar compreensivo. E, para o alívio de Ella, ele começou a assinar os papeis de alta.


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Notas finais do capítulo

reviews? *-*o próximo capítulo não vai demorar, a internet aqui resolveu voltar ;)beijos!