Capítulo 43

Beije-me devagar

Stay with me, baby, stay with me,

Fique comigo, amor, fique comigo

Tonight don't leave me alone.

Essa noite não me deixe sozinho

Walk with me, come and walk with me,

Caminhe comigo, venha e caminhe comigo

To the edge of all we've ever known.

Para o limite de tudo o que já conhecemos

Kiss me slowly - Parachute

Royce receberia alta no fim da semana que vem, na quinta-feira, caso seu quadro clínico continuasse estável. Jasper e Alice estavam preparando um jantar para anunciarem o noivado, e eu não podia estar mais animada para o nascimento do meu primeiro sobrinho. Desejava que os meses passassem logo para eu poder pegá-lo no colo e mimá-lo como nunca antes.

Emmett e eu estávamos namorando agora. Eu estava radiante e, apesar do problema dele, eu o garanti que sempre estaria ao seu lado, nos momentos bons e ruins, e faria de todo o possível para não tirá-lo do sério em hipótese alguma, já que eram nessas situações que ele perdia o controle.

Travis agora era o filho que eu sempre quis que fosse. Era atencioso comigo e quase nunca mal-educado – quase, porque ele era apenas uma criança de dez anos. Tinha melhorado 99% desde a conversa com o pai, coisa que eu tinha certeza que acontecera.

Royce agora estava, digamos, “conhecendo melhor” a doutora Victoria, após o término com Stacy. Os dois viviam conversando no hospital, e eu podia garantir que não era sobre o tratamento clínico que ele estava recebendo.

Eu esperava que aquilo desse certo. Apesar dos anos que eu tivera o inferno por sua causa, Royce tinha me dado as duas razões da minha vida e eu esperava que ele fosse feliz.

Suspirei. Parecia a conclusão de tudo, um término para os meus infindáveis problemas; mas eu sabia que ainda não era a hora. Eu ainda tinha uma pendência.

Emmett apareceu atrás de mim e, me envolvendo em seus braços fortes, me deu um beijo demorado na bochecha.

-Vamos pra casa? – ele perguntou. Eu estava no escritório, e ele tinha acabado de chegar do hospital. Era sua noite de folga depois de dois plantões.

 Eu não queria desapontá-lo, na verdade queria mesmo sair dali e ir descansar; o problema todo era que não podia. Não tinham condições.

-Vou ter que ficar aqui hoje. – anunciei com uma careta e então me virei pra ele. Emmett me encarava preocupado.

-Você já ficou aqui o dia inteiro, Rosie.

Rosie?

-Rosie? – eu ri, ecoando meus pensamentos confusos. Tive a sensação de ver Emmett corar um pouco, mas ele manteve a compostura; um sorriso maravilhoso de covinhas apareceu em seus lábios.

-Gostou? – ele perguntou com a cara de menino levado que só ele conseguia fazer.

-É... Diferente. – eu sorri sem mostrar os dentes. – Não me lembro de ninguém me chamar assim.

-Essa é a ideia. Só eu vou poder te chamar assim. – ele se abaixou, já que eu ainda estava sentada, e beijou o meu pescoço. – Ah... Qualquer semelhança com o apelido que Jasper deu à Alice é mera coincidência.

Ele abriu mais um sorriso para mim e riu. Eu o acompanhei.

-Mas, então – ele continuou a conversa inacabada. – Você já trabalhou demais por hoje. Vamos descansar.

-Eu não posso Emm. – fiz cara de desânimo. Eu estava tão cansada que, se parasse de tomar café por um segundo que fosse, dormiria sentada. – Tenho uma audiência que começa amanhã de manhã e ainda não sei o que fazer.

-Audiência...? – ele perguntou na esperança de ganhar mais informações.

-É... O caso do meu, ahn, cliente... James. – vacilei, já que não sabia se ainda era sua advogada ou não. Emmett bufou ao ouvir aquele nome – em um dos dias que tinham se passado, eu tinha contado a história de Alice a ele e como James podia ser perigoso.

Mas o que eu podia fazer? Eu não faltaria em um compromisso com a lei. Se eu o fizesse, tudo o que eu já tinha aprendido iria para o ralo – seria falta de ética profissional abandonar um julgamento, ainda mais em sua véspera.

-Você sabe o que tem que fazer. – Emmett me despertou de meus pensamentos. – Só não quer admitir a você mesma.

-Não, Emm, eu não sei. – apoiei meus cotovelos em minha mesa de vidro e logo afundei minha cabeça em minhas mãos. – Estou perdida.

Eu estava sentindo um cansaço tão grande que não conseguia encontrar forças nem para chorar.

-Não está. – pude notar um sorriso em sua voz; um sorriso melancólico, mas ainda sim um sorriso. – Vai ficar tudo bem.

Emmett acariciou as minhas costas, me fazendo relaxar um pouco. Ele pegou uma cadeira e sentou-se ao meu lado; então me puxou e, a minha cabeça, outrora em minhas mãos, agora se encontrava em seu peito.

Ele me dava um conforto inimaginável apenas por aquele simples gesto. Parecia que tudo estava mais simples, ou pelo menos um pouco menos complicado; mas eu sabia que era uma ilusão. Assim que Emmett fosse embora, a sensação ruim estaria ali para me assombrar novamente.

-Fica comigo hoje? – perguntei com a voz abafada; não tinha levantado a cabeça para me comunicar.

-Não sei por que ainda pergunta. – senti o sorriso em sua voz novamente. Eu sabia que não precisava pedir para que ele ficasse, ele já o faria de qualquer jeito; mas ouvir as palavras de sua boca era tão... Bom!

O silêncio se instalou, mas ainda sentia necessidade de ouvi-lo falando. Ajeitei-me em seus braços e levantei o meu rosto, ficando na altura do dele.

Emmett sorriu para mim sem mostrar os dentes, mas as covinhas estavam lá para me agraciar.

-Vai ficar mesmo tudo bem? – pedi confirmação. Eu devia estar parecendo uma criança, já que ele riu de minha pergunta.

-Vai. – ele me abraçou mais forte, me dando ainda mais conforto; como se aquilo fosse possível. – Eu prometo que vai, Rosie.

Um riso de criança escapou de meus lábios, o que o fez rir também. Emmett deu um beijo no topo de minha cabeça.

-Minha Rose. – ele sussurrou em meu ouvido, me fazendo arrepiar um pouco.

Eu me afastei dele somente o suficiente para que eu pudesse encará-lo nos olhos.

-Meu Emmett. – eu disse com um sorriso. Ele me beijou.

Se eu o tivesse comigo, tudo se resolveria. Eu tinha certeza.