Terra, Água, Ar. escrita por Dreamy__Girl


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Hm, espero que gostem, é.



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POV Lilian

   Lilian Looney: holandesa, mora nos Estados Unidos, possui dislexia e TDAH.

   Em nove anos já esteve em onze escolas. Conhecida por ter matado duas galinhas da vizinhança e xingado seis diretoras. Roubou chocolate do vizinho, dançou macarena durante o hino nacional (eu sou HOLANDESA, não AMERICANA).

   Já deu para perceber que as mães me acham uma ótima companhia para as filhas, mas nem sempre a culpa é minha. Nas duas escolas em que não xinguei a diretora, fui expulsa por dar choque em uma garota extremamente chata, e em outra porque eu estava no telhado ao lado de pára-raios destruída.

   Eu falei que não fui eu, mas alguém acredita?

   É óbvio. Que não.

— Noah?! Noah! Venha, ela está aqui, ela vai nos pegar! Precisamos fugir, chame Agatha e venha! — então um vulto grande entrou no meu campo de visão, e eu acordei.

   Estava suando frio e ofegante. Olhei o relógio, e vi que eram 5h07min. Qual não foi minha raiva ao constatar que acordei a essa hora em um sábado?! O pior é que eu não conseguia dormir, o sonho em minha cabeça. Aliás, o sonho me deixou com umas dúvidas.

   Primeiro; quem estava atrás de mim?

   Segundo; por que eu estava em uma floresta?

   Terceiro; quem diabos eram Agatha e Noah?

   Decidi levantar e terminar meu desenho – que também era estranho, e mostrava três garotas. Eu ainda não havia pintado, mas tinha tudo na cabeça. A da direita tinha cabelos cacheados dourados e olhos azuis; a do meio tinha cabelos negros e olhos verdes e a da esquerda tinha cabelos e olhos castanho-escuros.

   O mais estranho era que as garotas pareciam olhar para mim. Elas eram absurdamente reais.

   É, eu sei, você está me achando estranha. Mas pode crer, eu sei o que é estranho. A minha vida tem um índice alto de esquisitices.

   Aposto que você nunca eletrocutou alguém. Nunca foi achado no telhado ao lado de um pára-raios chamuscado (e vagabundo também. O nome do troço não é pára-raios?). Aposto também que você nunca foi perseguido por homens com chifres – literalmente. Tenho certeza de que você nunca desenhou você mesmo, mais dois desconhecidos, para depois descobrir que o desenho é real. Sabe, tudo isso já aconteceu comigo. Por isso, eu te dou os parabéns por não ser eu. É uma merda.

— Lilian — minha mãe chamou enquanto entrava no meu quarto.

   Minha mãe é a empresária de sucesso Vitória Looney, bastante conhecida na Holanda, e agora nos Estados Unidos também. Acho que é por isso que eu ainda não fui presa. Ela parece gostar do trabalho, mas eu realmente fiquei com muita raiva quando nós saímos da Holanda e fomos para os EUA.

   Na verdade, eu não sou uma chauvinista, muito pelo contrário; acha mesmo que tenho cara de quem vai morrer pelo país? Eu só gostava da Holanda, de nossa casa, e de tudo mais. Meu nome não é de origem holandesa, nem minha família, portanto eu só nasci lá porque mamãe quis.

   E foi porque ela quis também que tivemos que vir para os EUA quando eu tinha seis anos. Já fazia bastante tempo para guardar mágoa, mas eu não ligava para aquilo. Só queria voltar para minha terra natal, e verdade seja dita, ignorar completamente que minha mãe mudara de país pelo trabalho, não para me magoar.

— Lilian, que milagre! Você acordou cedo num sábado?!

— É, acho que sim. Não consigo dormir de novo.

— Que estranho — olha a palavra aí de novo! — você tem um telefonema.

— Agora? Todos sabem que eu não acordo cedo! — exclamei confusa. — Se eu já não estivesse acordada e fosse essa criatura a fazê-lo, eu metia a porrada — completei baixinho.

— O nome dele é James.

   James? Eu não conhecia nenhum James.

— James? Tem certeza?

— Absoluta. James.

— Bem, devo estudado com ele — falei, ainda não muito certa daquilo.

— Vá logo. Não é educado deixar as pessoas esperando.

   Bem, pensei comigo mesma, se for um trote, ele vai preferir que eu o deixe esperando.

— Alô.

— Lilian?

—Sou eu. Quem é?

— O meu nome é James.

— Desculpe, eu te conheço? — perguntei.

   Para minha surpresa, ele pareceu embaraçado.

— Na verdade não.

—Então o que você quer comigo? Olha, se você for falar que sequestrou alguém da minha família se ferrou, porque a minha única família é minha mãe e ela está, aqui, seu mentiroso de araque, e...

— Calma! Eu não sou nada disso. Só quero te falar pra me encontrar no parque que fica perto da sua casa daqui a duas horas. Não tenha medo, não vou te machucar, e vou com a minha irmã, que tem a sua idade.

—Eu...

—Não falte — ele sussurrou, e desligou.

   Não sei por que, mas acreditei nele. Eu estaria no parque dali a 2horas, e não sabia, mas minha vida ia mudar. Totalmente.

POV Agatha

— Agatha Madison! O que pensa estar fazendo? — um histérico gritou. Poxa, eu só estava segurando uma torneira quebrada, com água esguichando para todos os lados. Nada demais.

— Não fui eu. A torneira simplesmente... Pulou para fora da pia. E quase acertou a minha cabeça! — fiz cara de chocada. E eu quase estava chocada. Quase.

   Coisas estranhas acontecem perto de mim, inexplicáveis. Eu já fui encontrada numa ilha, a poucos quilômetros da praia, quando estávamos nadando no mar e eu segurei a barbatana de um tubarão, com apenas quatro anos. Estava no pátio da escola, quando, num acesso de raiva, um terremoto de baixíssima escala aconteceu. Mas todos caíram, e os brinquedos tombaram. E lá estava eu, rindo pacas das caras de espanto, no meio do pátio, de pé. E um antigo porteiro que eu detestei porque não tinha olhos. Tinha um só.

   Voltando ao episódio da torneira, o inspetor Jack Brewer olhava chocado para mim. Para piorar minha já ruim situação, eu gritei:

— Socorro! Um tarado no banheiro feminino!

   O rosto dele mudou lentamente. Passou para lilás, depois rosa, e por último um tom vermelho berrante. Ele estava realmente furioso.

— O que houve? — perguntaram afoitas duas professoras que eu não conhecia, entrando correndo no banheiro.

—Ela. —Jack apontou para mim — Eu escutei algo estranho e vim verificar. Achei esta aluna com a torneira na mão, o banheiro inundado, e ela começa a gritar!

   As duas professoras olharam para mim.

— Venha conosco, menina — então elas saíram sem olhar para trás.

— Jack, chame uma faxineira, isso está muito molhado — disse uma delas. Era verdade, a calça deles estava ficando encharcada.

   Saí atrás delas, e observei que os sapatos molhados deixavam marcas no chão, e a borda das jeans pingavam. Mas não a minha. A minha estava completamente seca, assim como meu tênis.

— O que você fez dessa vez, Agatha? — James perguntou, saído de não se sabe aonde (talvez do inferno, às vezes tenho certas dúvidas).

   James é meu irmão, um ano mais velho que eu. Ele é irritante como todo irmão – é quase uma regra, mas me ajuda a sair das enrascadas (que não são poucas).

— Uma torneira quebrada, um pequeno escândalo, um tarado, e é claro...

— Água — dissemos juntos.

   Nós amávamos água, e éramos campeões de natação. A água estava sempre presente. Até quando nos ferrávamos.

— Vou ver o que posso fazer por você — disse presunçoso, e foi até as professoras.

— O que ela fez? — perguntou como quem não quer nada.

— Quebrou uma torneira e gritou sem necessidade. Além de inundar o banheiro.

   Ele me olhou com cara feia, mas pude ver pelos seus olhos que estava achando a maior graça.

— Eu sou o irmão dela. Se ela receber uma suspensão, terei que levá-la pra casa — ele suspirou pesadamente. — Acho que ela não fez por querer. Como conseguiria quebrar uma torneira? E não devia ter um homem no banheiro feminino, concordam?

   Ele falou lenta e pausadamente, com a “voz de gênio”. Era a voz que ele usava para mostrar – ou melhor, fingir – que era inteligente.

—Talvez tenha razão — elas suspiraram e olharam para mim. — Nós avisaremos a sua professora que você foi dispensada. Não quero mais problemas por hoje.

— Sem problemas — falei, dando meu sorriso mais angelical.

—Vamos Agatha. Obrigada, professoras.

   Assim que estávamos a uma distância segura, agradeci.

— Como você conseguiria viver sem mim?

— Muito bem — ele olhou pra mim com as sobrancelhas arqueadas. — Eu acho — completei, cedendo.

— Achar não é ter certeza — James murmurou.

   Dei um soco de brincadeira no seu ombro, e fomos pra casa.

   Mamãe não estava lá. Ela era médica e hoje teria plantão, portanto eu estaria dormindo quando ela chegasse.

—Você sempre dá um jeito de chegar cedo a casa — James comentou.

— É um talento natural.

— Assim como o talento de irritar os outros?

— Não enche garoto — mostrei a língua para ele como uma criancinha.

   O resto do dia passou devagar, não tínhamos nada pra fazer.

   Quando fomos dormir, comentei:

— Espero que amanhã o dia seja menos monótono.

   Como eu estava errada em desejar aquilo!

  

   Acordei com James me sacudindo violentamente.

— Ei!

—Shh! Você quer acordar a mamãe?

— James, por que você me acordou às... — chequei o relógio — 9h30min? Hoje é sábado criatura, podemos dormir o quanto quisermos!

— Pára de escândalo, Agatha! Faz o seguinte: separa rápido umas roupas que nós vamos para o parque!

— Mas...

— Não discute, apenas faz o que estou mandando! — exclamou ansioso, e ao mesmo tempo irritado.

   Juro que ele me deu medo, parecia que tinha pirado. Como dizem que é melhor não discutir com gente doida, eu coloquei algumas roupas numa mochila.

—James... — comecei hesitante.

—O quê? — perguntou mais receptivo.

— Posso perguntar por quê?

   Ele olhou o relógio.

— Ainda temos vinte minutos. Você foi rápida.

— Responda — exigi.

   Ele olhou para mim, extremamente sério.

— Sabe os sonhos que eu tenho?

   Fiz que sim com a cabeça. De vez em quando ele tinha uns sonhos estranhos, com coisas sobrenaturais.

— Eu tive um. Não lembro direito como foi, mas lembro perfeitamente da mensagem. Temos que sair daqui.

— Sair? —acho que não entendi direito.

—Nós temos que ir para o parque. Lá uma garota vai nos encontrar também.

— Que garota?

—Ela se chama Lilian. Soube que precisava chamá-la.

— Como você soube? — eu sabia que o estava bombardeando, mas não conseguia evitar.

— Eu simplesmente sei. Também queria saber como — admitiu frustrado.

—Calma — pus a mão em seu ombro. —James, eu acho isso loucura.

   Ele me olhou, tristonho.

— Mas... — continuei.

— Mas? — ele parecia mais esperançoso, os olhos brilhando um pouquinho.

— Mas eu acredito em você. Estaremos no parque.

   Dez minutos depois estávamos prontos.

— E mamãe? — questionei.

   Ele rasgou uma folha do bloco de recados. Entendendo o que ele queria dizer, peguei uma caneta.

   Depois de muitas palavras riscadas graças à dislexia, o bilhete ficou mais ou menos assim:

Mamãe,

Não se preocupe, entraremos em contato.

Agatha e James.

POV Ellen

— Aonde nós vamos parar Ellen? Expulsa novamente — Jullie, minha madrastAnta perguntou, tentando se fingir de boazinha na frente do meu pai.

—Você provavelmente vai parar no inferno. E se eu tiver algum livre-arbítrio quando morrer vou parar no lugar mais distante possível dele — murmurei.

   Eu não entendia porque meu pai tinha se casado com Jullie. Ela só fazia gastar o salário já não tão alto de jornalista dele e o único assunto em que não era ignorante era moda. Além do mais, ela fazia uma mistura de perfumes de cheiro tão forte que eu quase morria intoxicada.

— O que você disse benzinho?

— Nada. Absolutamente nada.

— Ellen — meu pai entrou na conversa. — Você é constantemente expulsa.

— Desculpe pai. Vou melhorar. Ou tentar — prometi.

— Não estou bravo, Ellen — ele sorriu. — Só que está cada vez mais difícil arranjar uma escola pra você. Acho que vamos ter que comprar uma peruca loira e lentes de contato coloridas para que não te reconheçam. —ele deu uma gargalhada, e Jullie riu – falsamente – também, com aquela risada estridente de hiena.

— Oh, Robert. Tão engraçado e espirituoso.

   Fingi que ia vomitar, rendendo um olhar de reprovação do meu pai.

— Pai — mudei de assunto. — Você prometeu que iríamos acampar esse fim de semana.

— Porque você insiste nisso, Robert? Sabe que é muito perigoso acampar, imagine ser atacado por um leão! — exclamou horrorizada.

— Que eu saiba, não existe leões correndo por São Francisco, senhorinha ignorante — simplesmente não aguentei. Todos aqueles anos de frustrações foram à tona.

  Agarrei a mão dela quando Jullie tentou me bater.

—Nunca. Mais. Tente. Me. Bater — falei pausadamente, apertando sua mão.

   De repente eu não segurava mais a mão dela, e outra mão envolvia a minha.

— Jullie querida, você está bem? — meu pai perguntou, preocupado. Preocupado com ela.

—Não. Essa criatura apertou minha mão com força. Acho que quebrei uma unha — choramingou. Nojenta. — Ela é doida. Vamos mandá-la para um internato!

   Ele olhou com raiva pra mim e me arrastou até o quarto, me jogando na minha cama.

— Ellen, você não deveria ter feito isso! Que pass...

— Mas...

— Não me interrompa! — ele estava berrando agora. — Quer saber? Jullie está certa! Vou pesquisar alguns colégios!

— Não... — implorei sussurrando.

— Sim. E você vai ficar no seu quarto por um bom tempo.

—Pai! — chamei sua atenção.

— O quê?

— Por quê? Por que se casou com ela? Ela é horrível, e tentou me bater!

   Por um momento ele pareceu triste, mas logo estava berrando, o que me fez pensar que a “tristeza” nunca existiu.

— Jullie é ótima e você vai ter que se acostumar com ela! E lembre-se, você só passa por esta porta daqui a duas semanas! —e saiu batendo a porta em questão.

   Eu queria chorar, mas não o fiz. Também cogitei gritar que aquilo era praticamente cárcere privado, mas achei melhor ficar quieta.

   Aproveitando que estava tarde, coloquei um pijama e dormi.

   Acordei decidida. Eu NÃO iria agüentar a madrastanta. Meu pai NÃO me colocaria em um colégio interno.

   Como? Simples. Eu ia fugir.

   Peguei uma mochila e coloquei algumas roupas dentro, além de balinhas que eu escondia no armário. Graças a Deus (ou graças a Robert, mesmo), o meu pai tinha entrado no meu quarto e colocado o café-da-manhã pra mim, que consistia numa mísera maçã e um copo de suco de laranja. Esqueça o graças a Robert. Ele queria me matar de fome!

   Com uma fugitiva não tem muitas condições de ficar invisível e abrir a geladeira, me contentei com aquilo, mesmo.

   Silenciosamente, pulei pela janela – que era no 1º andar. Posso ser doida, mal educada e tudo mais, mas suicida eu não sou – e caí silenciosamente no jardim.

   Fui rapidamente até o portão, me sentindo como uma personagem de um filme bem antigo... As tigresas? As leoas? Oh sim, as panteras!

   Eu sei o que você está pensando: Ela vai fugir de casa sem dinheiro nem nada, como pretende viver? Vai pedir esmolas?

   Não é nada disso. Eu vou ficar fora por um dia, e depois voltar. O meu pai fez com que eu me sentisse mal, então eu ia fazer o mesmo com ele. Ele ia ficar desesperado, e sentir-se-ia culpado. Isso, meu caro amigo (a), se chama Vingança.

   Pulei o portão e fui até o parque.


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Notas finais do capítulo

Reviews? :D
~~sorrizo colgáthi~~



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