Hoje acordei com uma batida diferente dentro de mim.

Uma batida que eu definitivamente nunca senti antes, e, se eu senti, não me recordo, no lado esquerdo de meu peito. Onde fica o coração. Uma pena que eu não tenho um... Mas, então, o que é isso?

Também pude sentir uma energia diferente no ar, que desconhecia.

Demorei para criar coragem e abrir os olhos, mas, quando o fiz, pude finalmente ter a certeza de que eu estava em outro mundo.

As paredes do local em que me encontrava não eram as paredes brancas de meu quarto no castelo de The World That Never Was, tampouco meu quarto em Twillight Town. Jamais estivera ali, até então. Sentei-me na cama em que estive deitado e olhei ao redor.

Paredes alaranjadas, ocultas por posters de bandas. Ao meu lado havia um criado mudo de madeira, com um abajur e um relógio despertador sobre ele. Encostada no encontro de duas paredes,havia uma escrivaninha, com um violão ao lado.

Onde diabos eu estava? Por que eu estava ali? Eu tinha absoluta certeza de que eu havia retornado ao castelo com Axel após nossa missão em Port Royal.

-Soul, você ainda tá dormindo?!

Ouvi alguém dizer, do lado de fora. Levantei imediatamente. Tentei sacar minhas Keyblades, a Oblivion e a Oathkeeper, mas nada aconteceu.  Se fosse algum inimigo, estava perdido. Tentei abrir um dark realm na parede, mas também houve fracasso nisso. E agora? Com desespero, apesar de não poder ter sentimentos por causa da minha falta de coração, olhei ao redor e achei uma janela. Mas, antes que eu pudesse pulá-la, a porta se abriu e uma menina loira de olhos verdes entrou.

-Seu idiota, o que faz de pijamas?! - perguntou ela, com um olhar carregado - Estamos atrasados!

Não pude entender o motivo de tanta raiva dessa menina, que agia como se me conhecesse. A única coisa que fiz foi continuar a encará-la, na esperança de que ela me explicasse.

-Pare de me olhar desse jeito, Soul! - Disse ela, abrindo o armário do quarto e jogando uma muda de roupas em cima de mim, logo depois vindo em minha direção e me segurando pelo braço.

Soul? Não sei de onde esta guria tirou este nome. Eu me chamo Roxas. Este é meu nome.  Mas, antes que eu pudesse retrucar, ela me empurrou com força para dentro de um banheiro. Acabei caindo no chão, desprevenido.  Coloquei as mãos no chão e me ergui.

Acredito que deveria ser melhor eu ter me mantido no chão. Me assustei ao ver o rosto de outra pessoa no espelho.

Cabelos brancos, olhos vermelhos e dentes pontudos.

Tentei gritar, mas o único som que saiu de minha garganta foi um barulho abafado. Abri a porta do banheiro, corri para fora dali e saí do que parecia ser um apartamento, recebendo olhares estranhos de um gato roxo de chapéu de bruxa.

Nada mais fazia sentido.

Fechei a porta do apartamento em desespero e corri para fora do prédio. Achei que tudo aquilo era um pesadelo. Queria que tudo aquilo fosse um pesadelo. Fechei meus olhos e me belisquei. Abri os olhos e continuava ali.

Por que aquilo não podia ser um pesadelo? Meu maior desejo naquele momento foi que aquilo fosse um pesadelo, assim, chegaria uma hora em que eu acordaria, voltaria para minha vida na Organization XIII e poderia, ao menos, ter alguém confiável com quem poderia contar meus problemas.

Mas aquilo era real.

Tudo bem. Eu estava em outro mundo. Eu estava em outro corpo. Pude me conformar um pouco com essa situação.

Mas uma coisa que eu não conseguia me conformar, e tinha medo, era o que poderia ter acontecido ao meu corpo.