– Lil!

- Ela está bem...

– Lil, acorde... Eu estou aqui, com você...

- Lil! Irmãzinha...

Abri os olhos lentamente.

- Graças a Deus, ela acordou! – ouvi a voz de Christina distante – Graças a Deus...

A minha visão ainda estava turva, mas percebi que eu estava deitada em um dos bancos.

- O que aconteceu, Chris? – balbucie, tentando me levantar.

- Fique deitada, Lil – ela disse, segurando minha mão – Você desmaiou quando estava saindo daqui.

- Desmaiei?... – eu perguntei, me sentando.

Então tudo foi clareando para mim... O corredor, as vozes, a moça... Tudo girou... Agora me lembro...

- Você quase me matou do coração, Lil... – Chris segurou minha mão novamente, e esboçou um sorriso de alívio – Céus, eu morreria se algo acontecesse com você.

Olhei para ela, surpresa com a declaração.

- Beba isso – Scotty me entregou um copo de água, e se sentou ao meu lado – Você está bem?

Assenti.

Eu estaria melhor ainda se você soubesse tudo o que eu sinto por você, ou se você pelo menos soubesse quem eu sou, e tudo o que já fez por mim...

- Estou.

Chris esfregou o rosto, num gesto cansado.

- Olha, Lil, acho melhor você ir para a casa... Você não está muito bem... Notei isso há uns dois dias atrás, depois da festa... E... É melhor você ir para a casa. Eu só preciso terminar o meu depoimento...

Novamente essa festa.

- Chris...

- Ela já acordou? – perguntou Kat, que vinha na nossa direção, junto com Nick. Scotty assentiu – Você está bem, Lilly?

Mais uma vez, assenti.

- Não fique preocupada com isso – Nick começou – Essa é uma reação normal das pessoas que vem aqui. As notícias são muito fortes, elas se abalam... É super normal.

Kat balançou a cabeça.

- Não é normal não.

Nick lançou-lhe um olhar crítico.

- É normal sim! – ele mordeu os lábios e voltou a olhar para mim – Não ligue pra essa daí... Ela não sabe o que fala... Mas como eu estava dizendo, é normal... Ainda mais que o seu sobrinho foi raptado pelo Lobo, e não sabemos se ele conseguirá viver e...

Inesperadamente, Chris caiu num choro compulsivo.

- Meu filhinho... Eu quero o meu filho...

- Oh, sinto muito... – Nick começou, bastante arrependido do que havia dito para minha irmã – Eu não quis dizer isso... Seu filho vai ficar bem... Nós vamos fazer o possível, mesmo que as chances sejam min...

Chris soluçou mais uma vez.

- Vera, pare! – Scotty pediu.

- Nada do que você fala presta, Nick... – foi Kat dessa vez – Fique de boca fechada.

Ele lançou-lhe um olhar enviesado.

- Nada do que eu falo presta agora. Mas depois, lá em casa... A situação muda, não é?

- Cale a boca, Nick.

Nick emburrou, e sem dizer mais nada saiu dali.

- O que ele quis dizer com “lá em casa”? – eu perguntei, curiosa.

Kat revirou os olhos e mostrou uma aliança dourada na mão esquerda.

- O maior erro da minha vida: Casar com aquele gordo sem graça, chato, irritante... Mas que sabe ser romântico – ela sorriu – Doce, carinhoso, amoroso... Um marido dos sonhos! E também...

Acho que depois da palavra “casar”, eu não ouvi mais nada.

Como assim? O Nick e a Kat CASADOS?

Caramba, eu só posso estar em um sonho mesmo. Só em outra vida que esses dois acabariam casados! Vivem brigando o tempo todo, de birra um com o outro...

- Lil? Você está me ouvindo? – Chris me sacudiu.

- Ah? – eu ainda estava absorvendo a informação do Nick e da Kat estarem casados.

- É melhor você ir para casa... Eu só preciso terminar o meu depoimento sobre o Lobo, daí a gente vê o que vai fazer...

- Certo.

- Tá...

- Eu só preciso pegar as minhas chaves e...

- Eu levo você – Scotty me interrompeu, e eu olhei para ele, surpresa. – Você não parece estar bem... Daí... Acho melhor eu te levar e...

- Acho que não, Scotty – uma moça de cabelos ruivos parou na nossa frente, com cara de poucos amigos – Combinamos de sair agora para cuidar dos últimos preparativos do casamento.

- Alex, estou trabalhando...

- Garanto que um dos seus amigos pode levá-la para casa – Alex olhou para mim, segurando Scotty pelo braço, e abrindo um sorriso falso: – Você não se importa, não é, Libby? Eu e o Scotty estamos tão atarefados com o casamento, que precisamos sair dos nossos trabalhos por umas horas para acertar tudo... O casamento está tão perto que...

- Eu dou uma carona pra você, Lilly – Kat me segurou pelo braço, e me arrastou pelo corredor – Pode ir, Scotty. Eu levo ela para casa.

Quando nos viramos e fomos para a saída, Kat e eu conseguimos ouvir a voz de Alex.

- Obrigada, Anete! Você é um doce!

- É Kat, sua víbora – Kat sussurrou irritada.

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Entramos no carro em silêncio.

O que o Scotty viu na promotora? Por que ela? Tantas mulheres... Por que ela? A Alex não presta... Não é a mulher certa para o Scotty. Só vai fazê-lo sofrer ainda mais! Ele não merece isso...

Me afundei no banco, pensativa. Por que o Scotty sempre escolhe as mulheres erradas? Será que ele não percebe que eu estou...

– Não ligue para a víbora, Lilly.

- Hum?

- Não dê atenção ao que a promotora “cabelo-cor-de-água-de-salsicha” falar. Ela é assim mesmo.

Cabelo cor de água de salsicha?

È, faz jus a pessoa.

- Não se preocupe.

- Essa Alex é assim mesmo. Uma víbora possessiva, ciumenta, que adora fazer intrigas! Credo, eu não sei o que o Scotty enxergou naquela mulher! Ainda não consigo acreditar que aqueles dois vão se casar... O maior erro da vida do Scotty...

Encolhi os ombros.

Eu não queria falar sobre a Alex, ou sobre o Scotty, ou sobre o casamento.

- O casamento é uma decisão tão importante, tão séria! O Scotty está cometendo um erro terrível... – Kat suspirou, mantendo o olhar na estrada – Você só deve se casar com a pessoa certa que cruzar o seu caminho.

- Como aconteceu com você e com o Vera?

Kat sorriu, assentindo.

- Aham. Eu e o Nick... Foi algo tão estranho, mas tão intenso! A gente vivia brigando, ainda brigamos, mas no fundo, sabíamos que nos amávamos, e não podíamos viver sem o outro... Foi tão perfeito!

Um sorriso escapou dos meus lábios.

Até que não era tão difícil imaginá-los juntos.

- E o trabalho? – não resisti, e precisei perguntar Vocês trabalham juntos... Isso não atrapalha?

Kat balançou a cabeça.

- Nem um pouco. Nós achávamos que ia atrapalhar também, que o chefe seria contra... Mas nada disso aconteceu. Trabalharmos juntos só fortalece o nosso relacionamento, e quanto ao nosso chefe... – Kat mordeu o lábio, contendo um riso – Bom, ele ficou super feliz quando o convidamos para ser nosso padrinho.

- Que legal...

- É, muito! Por que você quer saber?

- Ah, nada não... Curiosidade...

- Certo.

Parece tão simples... O jeito que a Kat falou... Não há problemas... Será que é tão simples assim?

- Kat, você...

Antes que eu pudesse completar minha frase, um carro chocou-se contra o nosso, tentando nos tirar da estrada.

- Droga! – Kat bufou, tentando não perder o controle do carro. Com sorte, ela conseguiu parar. Irritada como nunca, Kat abriu a porta do carro e saiu: – Certo! Quem foi o engraçadinho que fez isso?! – eu a ouvi gritar para os veículos que passavam – Vocês agrediram uma oficial! Isso é um crime!

Meu celular começou a tocar.

- Alô? – eu atendi, ainda em choque.

- Lilly?

- Sim.

Era uma voz masculina do outro lado da linha.

- Isso não vai ficar assim. – havia uma ameaça vedada naquele tom de voz rancoroso – O que você fez para mim não tem perdão.

- Quem é você?

- Você sabe. – eu ouvi um riso de desdém – Esse foi o meu primeiro aviso. Isso não ficará assim.

- O que...

Sem que eu tivesse uma chance de perguntar, a ligação caiu.