Yellow Pages And Photographs escrita por Hanna Poop


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Olá! Bem, eu já expliquei praticamente a todo mundo que comentava nessa fic o porquê do meu sumiço. Só tenho a dizer que sinto muito por isso e obrigada por quem vier ler novamente, e acompanhar. Se é alguém vá vir. E queria agradecer a Lana por ter me incentivado tanto no twitter a aparecer por aqui mesmo depois de tanto tempo e tentar postar o fim. Boa leitura, e até mais!



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Três batidas na porta de madeira do quarto de sua irmã foi o suficiente para que ela abrisse e o olhasse com uma expressão quase assustada. Chovia e o menino estava com uma roupa que nunca tinha visto, molhado e descalço. Não era novidade para ninguém que Hiroto era o típico garoto mimado que só conhecia o shopping da cidade, a escola e a própria casa. Não muito diferente da irmã, que chegava a lhe invejar por estar tendo uma vida.

- O que está fazendo aqui? – Perguntou dando passagem a ele, notando que o mesmo tinha pulado pela árvore que ficava próximo demais a sua varanda. Deveria ter percebido isso quando não pôde ir as festas com as pessoas do colégio. – Papai quer te comer vivo. Foi tão legal...Eles aqui, não parece filme?

- Estou morrendo de frio, Kemi. – Disse quase tremendo ao que a menina encostou a porta e lhe entregou uma toalha, por azar o quarto da irmã não era suíte como o seu e ficava do outro lado do corredor. Para chegar ao seu teria que passar pelo dos seus pais, porém imaginava que ambos estariam dormindo. Quem está na chuva se molha, é simples e fácil. Abraçou a toalha e sorriu quase largo ao que sussurrou. – Ele beijou minha boca. – A animação dela foi quase tão grande quanto a sua própria. Porém ambos fizeram silêncio, Akemi em seu quarto, e Hiroto indo até o próprio para um banho e o que achava ser um resto de noite de sono. Independente das desculpas. Se sentia confiante. Do tipo que uma criança não saberia descrever o quanto.






O cheiro do café preto era mais forte do que do chá. Mas ainda assim a camomila parecia acalmar o menino que descia as escadas de sua casa em silêncio para a surpresa da mãe e do pai que estavam sentado a mesa enquanto Akemi ajudava a lavar a louça do café da manhã. Os olhos do senhor Ogata subiram para a criança quando foi a voz da mãe a soar indagando quando ele havia chego.

- Pela manhã, eu queria conversar com o papai. – Disse corajoso, até demais para ambas as mulheres que entenderam bem o recado e deixaram tudo o que faziam para trás e se retiravam do cômodo. – Eu sinto muito.

- Não, não sente. Quer ser uma aberração.

- Não sou uma, pai. – Disse calmo, por mais que em seu peito aquelas palavras doessem mais do que deveria. Em todo o caso, ficou quieto esperando que o homem finalmente abaixasse o jornal e olhasse em seus olhos, visivelmente decepcionado em passar os olhos por seus fios de cabelo. Era como se visse algo por trás da capa do filho, que Hiroto sequer conhecia. – É só uma cor. Ela não muda quem eu sou. Acha que se meu cabelo estivesse preto eu ia gostar de garotas?
- Você não sabe o que está falando... – “é só uma criança”, disseram juntos. O que fez a atenção do homem ali se dar ainda mais ao menino. Os olhos castanhos mais claros do que os de Hiroto fitaram o filho por um longo tempo. – Eu sempre quis um garoto, alguém que vá carregar o nome da família. Só existe você, Hiroto. Como um boiola vai carregar o nome do meu pai?

- As coisas mudam com o tempo, não estou dizendo que vou ser assim pra sempre. E mesmo que eu seja, isso não significa que eu não possa ter filhos, pai. É o que eu sou, quer o senhor queira ou não. E não é por causa de ninguém. É porque eu sou desta forma, eu vou entender que não me queira aqui. Mas eu ainda sou uma criança certo? Como uma criança o senhor tem como obrigação cuidar de mim e me instruir, ou vai dar as costas para seu filho no momento que ele mais precisa de você?  Vai dizer que nunca imaginou, que nunca estranhou meu jeito de ser, falar, me comportar, as coisas que eu gostava... Nunca passou pela sua cabeça?

- Você pode ser o que você quiser ser, Hiroto. Eu não posso te impedir de ser viado se você quer ser viado. Mas isso não quer dizer que eu aceite. Quer pintar o cabelo e andar rasgado como um marginal fique à vontade. Mas não venha me pedir para aceitar que meu filho faz sabe-se lá o que da porta pra fora. Quer que eu respeite sua situação? Respeite a minha. Não mencione o que você é. E se comporte como o que nasceu. Você nasceu homem. E assim que tem que ser, ao menos quando eu estiver por perto. –  levantou-se da cadeira e virou a xícara de café, bebendo o que restava nela para ir ao trabalho, senhor Ogata era o típico homem asiático bem sucedido, tinha sim seus momentos com a família, mas vivia do trabalho e para o trabalho. Tanto que nem mesmo o feriado ou a situação de seu filho o fariam ficar em casa. Não teve direito de resposta, e nem mesmo precisou ouvi-la para saber que Hiroto faria exatamente o que o pai queria. Ao menos era uma bandeira branca, e era melhor tê-la com base no respeito, do que lutar por uma aceitação que talvez não viesse.

O restante do dia não foi muito surpreendente, o tempo resolveu fechar um pouco mais após a garoa noturna, era dia e por mais que o sol estivesse dando o ar de sua graça, ainda assim o tempo estava um tanto quanto embaçado e os trovoes deixavam claro que boa coisa não seria. Hiroto estava sentado a mesa ajudando a sua mãe a escolher arroz enquanto a irmã lavava a porcelana, aquela noite amigos de seu pai viriam para uma reunião agradável.

Provavelmente uma desculpa para reunir pessoas chatas que falam sobre assunto chatos e tem um filho na idade de Akemi para um possível relacionamento modelo. Não que Hiroto ou até mesmo Akemi estivessem preocupados, não era a primeira vez e com toda a certeza não seria a ultima, de qualquer forma foi quando a menina subiu para se arrumar e a mãe para ajudar com o penteado que no mínimo deveria ser dos mais frescos que ele ouviu o som baixo de um motor potente. A essa hora a chuva estava muito mais do que forte, a claridade já havia sido substituída pelo nublado da tempestade que lavava o chão e impedia a estação de rádio pegar mais do que quinze ou vinte minutos, fazendo o senhor Ogata desistir de ouvir as matérias para passar a assistir na TV. 

A campainha tocou no mesmo intervalo de tempo que Hiroto levava para pegar o controle para o pai e lhe entregar no sofá, ouviu que deveria se dirigir ao portão e foi o que fez, calçou os sapatos no hall e abriu a porta, ali estava uma pequena parte coberta de madeira e nela estava um Sakamoto tentando limpar a roupa da chuva que havia pego do carro até aquela cobertura.  E em no banco de trás do carro mais a frente dois dos já conhecidos amigos do ruivo.  

- Achei que eu devia te dizer tchau. – Disse com tamanha sinceridade, vendo Hiroto encostar a porta e o olhar por alguns segundos. – Eu preciso voltar pra minha mãe e logo as aulas vão começar também. – Hiroto ficou quieto e abaixou a cabeça, como qualquer pessoa da sua idade faria, apenas deu um passo para quebrar a distância que tinha do mais velho. O rosto tocando o  peitoral coberto pelo couro de mais uma de suas jaquetas, esta na cor vinho. Em todo o caso, foi quando envolveu a cintura dele em um abraço forte, escondendo o rosto  no tórax dele. Sentia o coração doer de tal forma que por mais que o apertasse era como se não pudesse senti-lo. Saga sabia disso, sabia como o menor se sentia.

Talvez por isso fechou os olhos e demorou um tempo até que abraçasse o pequeno também, a mão direita nos fios loiros, acariciando com cuidado até que por fim sentiu os soluços dele se iniciar e junto deles a voz chorosa. – Quer levar suas coisas?

- Não, claro que não. Você precisa delas, não é? – Não sabia exatamente o porque de estar fazendo aquilo. Era suas coisas afinal, mas em todo o caso a mão tocou a lateral da face do mais novo, levantando seu rosto para si ao quê o olhou nos olhos por algum tempo. – Ogata Hiroto. Eu não vou me esquecer! – E aproximou o rosto do dele para que seus lábios pudessem tocar os alheios em um selar longo. Só acabando por se afastar quando ouviu o destravamento da porta e um pai com uma expressão nada agradável aparecer. Diferente do que ambos imaginavam, senhor Ogata apenas pigarreou até que ambos se afastassem. Saga não sendo um moleque embora também não fosse dos mais velhos reverenciou em respeito. Recebeu um movimento curto de cabeça ao que a voz grossa soou potente:

- Termine logo o que está fazendo. Se troca, os Shiroyama estarão aqui em questão de minutos.  – E mais uma vez aquela breve reverência e o homem entrou em sua casa, fechando a porta e deixando os dois em silêncio por um tempo.

- Eu realmente preciso ir. Shou pediu pra avisar que quando quiser, sabe onde ele mora. Ele está em todas as férias e feriados... Tora também. – Sorriu meio de canto, desviando o olhar para o casal que parecia saber a hora de acenar e então olhou para o mais novo. – Bem... Gostei do cabelo. – Enfiou as mãos nos bolsos para dar as costas para o mais novo, mas foi obrigado a parar no degrau que a chuva já alcançava e se virar para entender o porque o menor o havia chamado, porém Hiroto já havia sumido pela porta deixado aberta para que o rapaz tivesse certeza de sua volta. A cabeça baixa de Sakamoto era prova de que estava realmente difícil ficar ali por mais tempo. Desde o começo não podia negar ter tido afeição pelo garoto, mas não é como se qualquer pessoa poderia lhe dar com aquela situação tão bem. Ele era um menino, doze anos. Saga já estava para fazer vinte na próxima semana. A diferença de idade não era a única coisa que pesava, como também o fato de que o garoto era realmente um garoto, suas atitudes e inexperiência era tanta, que o via como um irmão mais novo e apenas isso.
- Saga? – Sua linha de raciocínio foi cortada quando o mais novo o chamou, nas mãos estavam a blusa de frio da noite anterior e a primeira jaqueta emprestada, porém sobre ela estava o que mais surpreendeu. Diários, diários recentes mas grossos por anotações e pedaços de algumas lembranças.

- O que é isso? – Indagou dando um passo a frente e pegando um dos três que tinha ali. Abriu para constatar a caligrafia quase infantil mas ainda assim bonita, desenhos pintados com lápis de cor, um ou outro recorte de revista assim como trechos de música. Os olhos passaram rapidamente por algumas folhas e então sorriu mais largo, olhando no fundo daqueles olhos negros. – Por quê?

- Queria aceitar essa loucura... Agora que aceitou, só precisa me conhecer também... Se estiver apaixonado por mim, não vai ser difícil aceitar. – Lá estava a parte infantil disfarça de maturidade, tornando um gesto simples muito mais bonito do que realmente era. Takashi apenas acariciou os fios loiros e pegou uma das blusas, apontando a jaqueta preta que estava na mão do pequeno. – Sua preferida. – Ele disse sem que Saga precisasse dizer nada e o mesmo riu divertido, concordando. Até que essa história dele saber tudo sobre si não era tão ruim assim.

- Vai te dar sorte, pequeno. – E não era preciso mais palavra alguma. Saga apenas abriu sua jaqueta e colocou os diários por baixo dela, enquanto corria até o carro. O banco vazio ao seu lado serviu e assento para os cadernos enquanto ele colocava o cinto e acelerava o carro que ficou ligado desde o principio. Hiroto ficou ali na porta, até que o carro sumisse e um pouco mais. Talvez ignorasse o frio e ficasse a noite toda, se seu pai não estivesse dito mais uma vez para que fosse se arrumar. Entrou, mas por algum motivo, ainda tinha esperanças.





“- Como pode, Hiroto, depois de tudo o que aconteceu. Ele foi embora, por que acha que ainda tem chance?

- Porque ele me beijou, quando eu achei que nunca o veria. “



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Notas finais do capítulo

Eu nunca tive beta pra essa fic, e por isso vários erros sempre. Peço desculpas. Espero que tenham gostado do banho de realidade. E que realmente comentem, por favor! Faz bem pre ego e incentiva um bocado. Então é isso, serve criticas e pedidos. O final dela está pronto, mas não custa nada mudar, só tem mais o próximo então... Enfim, beijos. ♥



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