Além do Destino escrita por AnaBonagamba


Capítulo 1
Oportunidades.


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, o primeiro capítulo em sua mais nova versão.
Uma agradável leitura, com carinho,
Ana (ou Sissi, tanto faz)

"Não deixarei de agradecer, ainda, aqueles que compartilharam desta história desde que ela teve seu princípio. Sarah Christina Leonince, adorável Shari, seu irmão Alexander Benazzi, Alexei apenas para íntimos, e, por fim, não menos importante, minha grande amiga e arquiteta Natália Monteiro Milick, que com grande esforço conseguiu atormentar-me a ponto de retomar este antigo trabalho. Dessa forma, eu a declaro culpada."



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Os dias passavam arrastados, quase silenciosos. A raridade de tais momentos era infame, um último inspirar antes do mergulho. O último olhar antes de seguir em frente. Não que o silêncio fosse incômodo, jamais, sentia que por hora era tão eficaz que, erguendo novamente o livro à altura dos olhos, deu um sorriso parcialmente debochado. As paredes do salão comunal, majestosamente erguidas sob a confortável lareira, crepitando suavemente, contrastavam frias ao vapor que surgia, em meio de tanta quietude, era possível prever seus ruídos. Estes não lhe passavam despercebidos.

Hermione terminou sua leitura, entediada, sem nenhuma esperança de rever seus colegas tão rapidamente. Ergueu-se, sentindo uma pontada de culpa em ter recusado o convite de Harry a participar da festa comemorando merecida taça de Quadribol, junto de Ron e Ginny, mas não tinha condições de ir. Não tinha coragem. Sentir-se-ia rejeitada e humilhada a cada toque de Lavender em Ron, cada olhar apaixonado dela, seus sorrisos estúpidos, sua voz impertinente.

– Você não precisa disso. - sussurrou para si. - É melhor arranjar algo o que fazer.

Caminhou sem rumo por entre os corredores, o que não seria estranho nem questionável. Monitora, tinha como privilégio o acesso irrestrito e atemporal em todo o castelo, mesmo que solitária, adorava passear por entre as gárgulas livre para que seus pensamentos pudessem fluir. Geralmente vagueava pelo sexto e sétimo andar, ou ainda pelos salões de pintura, onde vários retratos comportavam-se cordialmente ao vê-la chegar, se não estivessem dormindo. Inverteu os passos, descendo apressada as escadas móveis, até que finalmente chegou no segundo andar.

– Aposto que ela não tem com quem conversar... - queixou-se a menina, adentrando o banheiro feminino. - Não seria assim uma má ideia.

Antes que pudesse avançar, o corpo esvoaçante da fantasma já aparecia em seu campo de visão, com os braços cruzados em sinal de protesto, provavelmente não estava feliz com a presença da outra. Entretanto, ao ver que se tratava de Hermione, esta começou a rir freneticamente.

– Pode usar a última cabine se quiser. - riu Murta. - Tem mais espaço para montar todo o aparato. Achei que vocês não fizessem mais isso.

– Fizéssemos o que, exatamente? - perguntou confusa Hermione. - Ah! - sua mente estalou. - É claro. Você acha que vim para cá afim de produzir alguma poção proibida. Sinto desapontá-la, mas hoje não. - sorriu.

– Mas então? Deve estar muito desesperada para procurar abrigo num lugar como esse. Escondendo-se como uma gata!

– Perdão? O que quis dizer?

– Ah, eu nunca me esqueci. - Murta aproximou-se até a altura da outra, seus pés sobrepondo o chão. - A poção polissuco, pelo de gato, aquela sua cauda! - riu-se novamente. - Não posso deixar de comentar que foi demasiadamente engraçado. A propósito, o que faz aqui?

– Atualmente consigo achar graça nessa situação. - Hermione sentou-se no chão do banheiro, arrumando as vestes. - Na verdade não sei o que faço aqui, estou entediada. Fiquei sozinha por um momento enquanto a maioria parece estar se divertindo, sabe, Grifinória ganhou a taça de Quadribol. - informou. Murta pareceu se compadecer da menina indicando para que continuasse a conversa. - Pensei que aprovaria ter alguma companhia, já que ninguém nunca vem aqui.

– Você tem razão, a propósito. - a outra concordou, choramingando alto. - Depois do incidente da Câmara Secreta nem mesmo os fantasmas ousam passar por aquela porta, não sei do que têm tanto medo... Já faz quatro anos!

– Parece tanto tempo, visto de longe, para mim diria que foi há pouco. São memórias eternas.

– O tempo é muito relativo, diria quase particular. Tal qual as memórias, cada um interpreta seu destino de um jeito. - divagou a outra. - Veja eu, por exemplo! Que tipo de história tive?

– Você foi assassinada pelo maior bruxo das trevas já existente em nosso mundo. - explicou Hermione, como se a outra fosse lenta demais para entendê-la. - Apesar de jovem, Voldemort não hesitou em acabar com a sua vida. Esse não era o seu verdadeiro destino. - balançou a cabeça em sinal de desaprovação.

– Talvez sim, talvez não. - contrapôs. - Aí é que está! Agora eu reconheço quem foi Tom Riddle e todo o mal que me causou, mas até então tudo o que eu sabia era sobre um ataque horrendo de um animal descontrolado o qual eu tinha sido a única vítima. Nunca relacionei nada com ele, ao contrário, podia negar veemente qualquer acusação contra Tom, era um absurdo. Sabe, ele foi o único, depois do incidente, que voltou a me ver. Nem meus pais vieram, tão chocados como deveriam estar, me dar um último adeus, traçar uma despedida adequada. - Murta chorou. Incomum aos seus ataques histéricos, uma lágrima solitária escapou de seus olhos transparentes, desaparecendo em seguida.

– Tom Riddle visitava você? - Hermione estava perplexa. Qual podia ser a intenção dele em manter contato com sua vítima morta? Com certeza agiria gentilmente para não despertar suspeitas, mas ainda sim, seria algo totalmente oposto do que manda sua natureza. Ou não?

– Acho que ele se sentia culpado. - falou com sinceridade. - No fim, entendi que ele não quis necessariamente me matar, aconteceu. Ele vinha saber de meu estado, ás vezes contava alguma novidade de Hogwarts e eu adorava o jeito sarcástico de tratar as pessoas que antes me consideravam uma escória. Não que isso tenha mudado muito... - riu, fechando a expressão em seguida. - Até que nunca mais o vi. Tom era um rapaz impecavelmente inquestionável, não por nada conquistava as pessoas certas, com as palavras certas, sua estratégia fazia com que todos o adorassem instantaneamente.

– Como ele era? - perguntou Hermione, abruptamente, como se reprimisse sua própria curiosidade. Levantou-se do chão, encarando Murta . - Harry jamais disse nada a respeito da forma física que Voldemort adquiriu na Câmara, apenas o fato de estar intacto em seu eu jovem. A figura que conheço é tão grotesca e ofídica que nunca consegui ao menos imaginar como seria sem toda a aparência distorcida e maléfica, mesmo que ser cruel tenha nascido com ele, acredito que não era plenamente visível...

– Ah, não, não era! - Murta berrou. Afastou-se da grifinória lentamente, olhando-a de frente, flutuando como de costume, sua voz um pouco mais fina e sonhadora que o habitual. - Ele era fabuloso. - suspirou. - Alto e elegante, sempre comportado em seu uniforme verde e prata, naturalmente de segunda mão, não tinha qualquer condição... - parou por um momento, observando a reação da outra. - Não me lembro de ter visto seus cabelos fora do penteado, os fios negros alinhados de um único lado, pareciam ser tão macios... e, é claro, os olhos. Não posso deixar de dizer algo dos olhos!

– Se pudesse vê-lo agora compreenderia minha dificuldade em acreditar em você. - a garota olhou-se no espelho da pia, tentando imaginar Lord Voldemort em seus 15, 16 anos. A descrição de Murta, com exceção dos cabelos rebeldes sempre despenteados, figurativamente fazia referência a Harry. - Ele tinha olhos bonitos?

– Um par de olhos azuis cinzentos como uma tarde chuvosa de outono. - a frase não poderia soar mais romântica. - Estou sendo hipócrita, afinal ele ainda é responsável pela minha desgraçada morte, mas não o culpo em ter sido tão bonito, não o julgaria assim depressa. - disse, vendo Hermione franzir a testa. - Não sei o que houve com ele, que mau pairou sobre sua cabeça ou se o poder o enlouqueceu, era o melhor aluno entre todas as turmas, não tinha quem não apostasse em seu brilhante futuro como Auror, e até cogitaram sobre o Ministério uma vez... - Murta olhou para cima como se puxasse mais informações de sua memória. - Não sei mais o que dizer. É uma pena que tenha sido assim.

– Eu acredito que pessoas como ele nasçam com uma necessidade ínfima de causar dor aos outros. - Hermione disse gentilmente, virando-se para sair. - Eu volto a falar com você em breve, nossa conversa foi muito interativa. É uma ótima amiga, Murta. - sorriu maternalmente.

– Amiga? - a outra preparou-se para chorar. - É muito amável da sua parte! - desapareceu no vaso sanitário, como se fugisse de um fulgor vergonhoso que nunca aparentaria sua figura fantasmagórica.

"Pelo menos causei algo de bom essa noite", pensou Hermione, retornando ao salão comunal de sua casa. Ainda que achasse Murta descompassada e extremamente aludida, suas declarações a respeito do jovem Voldemort eram simplesmente fascinantes. Mesmo com muito esforço, ainda não conseguia imaginar quaisquer que fossem as feições do rapaz, sem que se mesclassem com as de Harry Potter. Sua admiração pelo amigo fazia com que a honra e a honestidade fossem as qualidades que mais admirassem numa pessoa, acima da beleza física e misteriosa que causava tanto alarde entre as estudantes do sexo feminino. Para ela, o fato de ser um herói era irrelevante: a nobreza estava em suas pequenas ações.

– Hermione! - ouviu-o chamar. Seus passos encontraram os dela antes que cruzasse o quadro da Mulher Gorda. - Procurei você por todos os lados, até cheguei a acordar a monitora da Lufa-Lufa pensando que pudesse ter para seu quarto especial hoje... - Harry parecia preocupado, porém deixava escapar um leve sorriso de satisfação. - Eu sinto muito por não ter vindo mais cedo...

– Não continue! - disse ela. - Não me venha com desculpas, você sabe que sou a primeira a incentivá-lo a se divertir e agir como um garoto normal. - ambos riram, adentrando o salão, agora repleto de alunos despedindo-se para dormir. - Como foi com a Ginny?

O sorriso dele se ampliou alguns centímetros. Se pudesse, escaparia das orelhas.

– Foi ótimo, quero dizer... - corou, enquanto a menina erguia as sobrancelhas. - Nós nos beijamos. É oficial. Até o Ron viu, ou não, na verdade, ele não expressou qualquer coisa afim, estava um pouco entretido com, bem, você sabe... - gaguejou. - Depois viemos para cá, fugir um pouco da agitação, conversar, achei que fosse encontrá-la logo, Ginny se despediu e foi deitar. - comentou um pouco desapontado. - Não sei exatamente como me portar daqui em diante.

– Harry, você não precisa planejar nada, é só deixar acontecer. - colocou a mão sobre o ombro do rapaz carinhosamente. - Você é tudo o que ela sempre quis, eu sei, talvez agora que você retribua seus sentimentos ela esteja confusa e apaixonada. Vai dar tudo certo, você verá! Não podiam ser mais que perfeitos um para o outro.

Harry ouviu a declaração de Hermione convicto de que poderia pensar o mesmo a respeito dela e de Ron, se ele não estivesse tão cegamente empolgado com Lilá. Desvencilhou-se dela, com um beijo gentil de boa noite em sua bochecha e a observou partir para o quarto.

Conseguir um espaço vago na vasta mesa de café da manhã era sempre um desafio. Mesmo que os amigos se reunissem basicamente da mesma maneira desde que os grupos foram formados, havia ainda um imenso alvoroço até que todos estivessem confortavelmente sentados e bem servidos. Naturalmente, a Grifinória compunha o ranking de maior barulho e travessuras matinais, alunos despojando energia para um longo dia de aulas e tarefas.

– Ficou sabendo da novidade? - Simas estava a sua frente, mastigando rosquinhas enquanto falava. - Parece que tem uma nova grade de matérias optativas para o sexto e sétimo ano.

Hermione franziu o cenho.

– Quem lhe deu essa informação? - questionou de praxe. O rapaz deu de ombros como se algo óbvio estivesse por vir.

– Harry, oras. - sorriu de lado, roubando um pedaço estilhaçado de bolo do prato de Longbottom. - Acredito que a prof. McGonagall dará algum posicionamento durante as aulas, ou não!

Neste instante, Harry cruzou o Grande Salão, com uma expressão insatisfeita e rabugenta, enquanto segurava uma leva de pergaminhos com as duas mãos. Fez sinal para os colegas voltarem ao salão comunal antes do início das aulas, com passos largos, seguiu-o com firmeza.

– Espero que pelo menos parte dos alunos que integram o sexto ano estejam aqui neste momento... - começou a declarar, apesar de toda a movimentação produzir um barulho infernal que cobria parcialmente seu tom de voz. - Hmmm, eu espero que...pessoal, por favor, tenho um recado importante do professor Dumbledore e...

– Silêncio! - gritou Ginny, surgindo encima da poltrona.

Todos os alunos olharam assustados a ferocidade da ruiva, que desceu rapidamente prostrando-se ao lado do novo namorado.

– Obrigado, er, bem, gostaria de informar, em nome do professor Dumbledore, uma nova lista de atividades extra que os alunos do sexto ano podem se inscrever, se quiserem... - explicou. - Não acrescenta qualquer tipo de crédito nas áreas comuns, mas devo ressalvar que se estão sendo oferecidas há algum propósito nisso... Ãhn, serão quatro opções, as quais podem apenas escolher uma. - a sala voltou a tornar-se ruidosa. - As listas com as assinaturas dos interessados vão circular até amanhã no almoço, para quem quiser, hm, dar uma olhada, tem uma cartilha com informações ali na lareira. - indicou. - É isso. Obrigado pela atenção...

– Harry! - Hermione gritou, meio à conversas paralelas. - Isso é sério? - o outro assentiu com a cabeça. - Mas como eu não estou sabendo de absolutamente nada disso?! - exasperou-se. - Eu sou monitora! Achei que fosse minha responsabilidade informar aos alunos qualquer tipo de transgressão referente às aulas ou afins e...

– Acalme-se. - pediu Harry, impaciente. - Foi preciso. Dumbledore tem conversado comigo a dias sobre novos treinamentos úteis em combate, ainda que para proteção de um ataque. Não sei como ele pretende trabalhar com esse tipo de curso a parte, mas tenho certeza que tem motivos interessantes por trás de suas decisões. Apenas não questione, não acho que seja a hora ideal pra isso.

– Tudo bem. - concordou, a contra gosto. - Vá para aula de Transfiguração agora.

– Você não vem?

– Sim, mas primeiro pretendo dar uma olhada nessas aulas extras da cartilha. Ao que parece, não há muitos interessados.

– Ah, eu não esperava que houvesse. - respondeu com sinceridade. - Bem, eu guardo o seu lugar. Não se atrase.

– Jamais! - deu-lhe as costas, indo até a lareira e retirando prontamente a cartilha de informações da mão de uma garota do terceiro ano, que ria extasiada. Gostaria de saber o motivo de tanta graça.

Opções viáveis prontamente fundamentais a um ensino substancial extra à formação de novos bruxos - para sextanistas.

Curso de expansão de cérebro: justifica-se pelo uso inadequado das áreas cerebrais bem como a necessidade de praticar e experimentar novas atividades diversificadas. Máximo de vagas preenchidas: 10

Preparação de exímias poções malígnas: auxílio integral à fundamentação das poções e caldos mais complicados do mundo mágico, além do enfoque teórico. Máximo de vagas preenchidas: 10

Refinamento de aptidão para adivinhação: oportunidade única para os menos favorecidos na área abrirem seus horizontes. Máximo de vagas preenchidas: 15

Construção de ponte temporal através de feitiçaria: aplicação da magia reviravolta e voltarevira, desfazendo barreiras estreitas na relação tempo-espaço. Máximo de vagas preenchidas: 5

"Ótimo", pensou aborrecida. A única proposta viável possuía metade das vagas destinadas às outras, e com certeza não seria a única a ser atraída. Pegou uma pena, rabiscando o próprio nome na lista, antes que sumisse, em circulação por dentre os alunos.

Provavelmente Sibila Trelawney ministraria Refinamento de aptidão para adivinhação, porém, seria mais adequado que fosse responsável pelas pontes temporais. Através de feitiçaria. Apenas Dumbledore seria capaz de realizá-lo. Hermione parou de andar, praticamente na porta da sala de aula, absorvendo e relacionando como desfazer barreiras de tempo e espaço auxiliariam num combate.

E, tão claro como a luz que penetrava as imensas janelas, pôde por fim compreender onde poderia chegar.


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Notas finais do capítulo

A reestruturação não deixa de conter passagens principais já escritas anteriormente. Eu apenas as tratei com mais dignidade, e assim será com todas as outras ao decorrer da história. Sem delongas, até breve.