A Despedida escrita por hakeshy


Capítulo 1
Está acontecendo!


Notas iniciais do capítulo

Por que aconteceu isso agora?
E por que nesse dia? Eu precisava dele.



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  Gostaria de dizer, que ele ainda é meu amigo, meu melhor amigo. Michael é tão fiel a mim quanto um cachorro. Lembro-me de tudo que ele já havia feito por mim agora. Estava bem claro, me passa toda nossa vida travessa juntos como se fosse um filme.
  Sempre foi assim, desde que nos conhecemos numa escola de um bairro nobre, aqui na cidade do Rio de Janeiro. Ele tinha onze anos e era um garoto muito irritante, eu admito. Mas se misturou com as garotas e lá estava a prova de que aquele era meu amigo, sempre foi, mas eu não percebi!
  Ele fazia piadas de mim. Chamava-me de quatro olhos, e eu odiava isso com todas as minhas forças, mesmo sabendo que era brincadeira. Arrependo-me de ter odiado isso, mas acho que ele gostava de me ver irritada ele sempre gostou... E ainda gosta.
Mas apesar de tudo, ao longo desses duros sete anos de amizade ele me apoiou em tudo. Eu queria ser “bar - woman” e ele me trouxe no dia seguinte um livro chamado “como se tornar um bar - tender em vinte minutos”. Nós rimos muito juntos, eu já quis ser até modelo, tendo desistido dessa loucura quando ele me trouxe uma revista com o título “Emagreça já!”. Aquilo me irritou... Mas e agora? Eu estava andando com ele do meu lado faz dois minutos. Tudo isso que passa na minha cabeça, são tantas coisas, mas em tão pouco tempo, minha cabeça está latejando, as lágrimas não param de cair. Ele estava do meu lado, Michael estava do meu lado antes de se jogar na minha frente me livrando de uma bala perdida e quase se sacrificando... Por mim! Estou agora olhando para ele, o segurando em meus braços e estou agoniada, estou olhando incrédula diante toda a situação que estou presenciando. Como uma coisa tão pequena poderia causar tanto estrago a algo que parece tão forte?
  Meu Deus, estou muito preocupada, não posso perder o meu amigo, não o Mike! Não isso não está acontecendo deve ser um sonho. Fecho os olhos lentamente com a esperança de que ao abri-lo eu esteja já em segurança na minha casa, mas não é isso que eu vejo ao abri-lo, mas sim, uma multidão curiosa em volta e esta tudo tão rápido, não consigo falar nada, as palavras não saem, minha mente, meu coração não deixam... Espere... Ele está dizendo algo:
- Jenny... - Ele disse meu nome com muita dificuldade. Eu peço para ele ficar em silêncio, digo que ele já vai sair dessa, eu sei que vai, bons médicos irão cuidar dele.
- Talvez eu não me levante dessa vez – Agora ele está usando um tom diferente, algo que nunca vi nele. Ele está com seus olhos cheios de lágrimas, os olhos dele parece que imitam os meus. Isso não pode ser uma despedida, não é... Não pode ser!!!
- Michael, shh..a ajuda já está chegando. Aguenta um pouquinho só. – Estou tentando deixar ele calmo, mas ele vê o desespero em meus olhos.
- Presta atenção... E.. eu quero..eu quero que você saiba..que sempre seremos amigos.
- Eu sei Mike... Eu sei!
- Por..favor,  não chore.  – Ele pede, mas é inevitável, eu não sei o que responder. Eu grito por socorro, já chamaram a ambulância não podem fazer mais nada. Para o meu martírio ele está tentando falar de novo.
- Eu... não quero que..que eu tenha dado minha vida em vão... 
Como ele ainda pode falar? Ele está coberto de seu sangue agora, não dá nem pra ver qual é o ponto mais crítico. Ele vai sair dessa eu sei que vai, minha pobre mente custa a repetir isso vai eu sei que vai eu acredito nisso.
- Jenny, presta atenção... Você é o melhor amor que um admirador secreto pode ter. – Ele abriu bem os olhos para me dizer isso, ele respira com dificuldade posso ouvir os batimentos do coração dele diminuírem.
- Michael... – Eu não consigo falar, não consigo! Alguém por favor, tira essa dor de mim, não aconteceu, mas está machucando. Tenho a impressão de que a bala foi em mim e não nele.
- Jenny, você irá se lembrar de mim?
- Por todos os dias da minha vida e até depois da minha morte, mas nada vai acontecer você vai sair dessa...
- Se eu sair..se eu sair dessa Jenny, você janta comigo?
- Claro que sim!
- Se eu não sair, faça um jantar chique e deixe um lugar na mesa pra mim...
- Eu prometo. Por favor fica calmo  Mike...
- Com velas, sempre – ele parou e continuou devagar- eu sempre quis um assim...
- Sim, eu prometo agora fica quietinho a ajuda já vai chegar...
- E...Eu amo você...
- Por favor, fica acordado... – Ele fechou os olhos, ele só está cansado de esperar... Mas o trânsito está terrível graças ao tiroteio, mas eu ainda acredito que ele vai sair dessa.
Acabei de me curvar e dar um beijo nos lábios deles, agora tão frios... A ambulância chegou. Colocaram um emaranhado de fios nele e o levaram na ambulância, acabei de entrar no veiculo e estou com ele. O meu Michael o meu melhor amigo, aquele que fingia ser um cachorro quando via um gato, mas que fingia ser um gato quando via um cachorro. Engraçado, esperto, brincalhão, sempre me deixou chorar no ombro dele quando algum palhaço me fazia de tonta e eu, mesmo com os milhares de avisos do Michael, repetia várias vezes o mesmo erro. O Michael que está diante de mim agora está tão vulnerável e se declarou a mim Eu quero muito jantar com ele! Ele vai viver eu sei que vai...
De repente uma máquina que fazia barulhos irritantes e alternados fez um barulho agudo e contínuo. Eu preferiria ouvir os barulhos irritantes por décadas a enfrentar isso agora. Estavam tentando reviver ele.
Tentam uma vez, em vão.
- Eu confio em você Michael... Eu confio!
Tentam outra, sem sucesso novamente.
-Mike...
Tentam outra e agora param de tentar e cobrem o rosto dele. Quase todos olham para mim com cara de pena e tristeza, todos estão com cara de que perderam uma grande luta. Eles olharam pra mim como num coral dizendo:
- Sinto muito. – Estou muito revoltada.
- SENTEM? Vocês realmente sentem? Pelo que? Pelo fato de eu ter perdido o melhor amigo que eu tive em minha vida e nem sequer ter dito isso a ele? Pelo fato de ele ter morrido pra me salvar? Pelo fato de que vocês falharam e agora ele está morto? Ou pelo fato de ele ter ido e eu nem ter me despedido dele?
Eles estão achando que eu estou louca. Tenho certeza disso, mas não vou deixar que pensem assim. Tiro o lençol do rosto do Michael.
- Prestem atenção. Aqui se foi a pessoa mais amável do mundo, pra mim. Aqui se foi uma pessoa que acreditava nas pessoas. Aqui se foi alguém bom. Já perceberam que estamos me desvantagens? Já tem mais maus do que bons.
Estou chorando muito, não sei por que estou descontando meus sentimentos confusos, tristes e vazios com essas pessoas que eu não conheço. Percebo isso num minuto, lamento:
- Me desculpem.
Agora eu estou apenas olhando para o rosto dele, o rosto que eu sei que vou me lembrar por toda a vida. Eu vou contar dele pros meus filhos quando eles me perguntarem se eu tive algum amigo. Eu vou espalhar para todos que eu também o amei, e que se eu pudesse, eu o teria impedido de ter se jogado na minha frente.  Eu preferia ter morrido do que estar olhando pra ele assim, agora.
Cheguei ao destino eu não agüento mais ficar perto do Michael. Vou pegar um táxi e ir pra casa, deixo ele com a família dele, em pânico, mas não tanto quanto eu, disso eu tenho certeza.
Chego em casa, tomo um banho, pego uma foto dele abraço e fico chorando, sozinha, sem dar explicações a ninguém e, felizmente, sem interrupções d aminha tristeza e angústia. Raiva. Estou com raiva. Estou com ódio, estou triste, estou cansada. Estou puta e ainda estou com a idéia fixa de que é só um pesadelo.
_
Hoje, dia 24 de julho de dois mil e oito, é pior dia da minha vida. Estou diante a um caixão, com mais de cem pessoas chorando e eu sei que a maioria está apenas encenando. Eu sei que a maioria prefere o Michael morto, eu sei que a falsidade é demais. Tenho vontade de matar todo mundo daqui. Me aproximo do caixão, e sussurro como se estivesse conversando com ele palavras já ensaiadas:
- A gente se despede aqui então não é mesmo meu “brutamontes”? Você é aquele que riu, chorou, brincou e viveu comigo. Espero que tenha sido suficientemente bom pra você, porque se fosse eu agora estaria feliz em ir sabendo que te conheci – minha lágrimas são insistentes, mas não vão conseguir  impedir a minha fala, tenho que dizer a ele muitas coisas ainda.
- Michael, fui eu quem escondi a chave do seu carro, pra você não sair naquela noite fria pra ir comprar biscoitos. Quero dizer que sem você eu não teria vivido, tenho certeza que a nossa amizade continuará, por favor, leve com si uma parte de meu coração, pois você estará em toda a parte que sobrar. Você nunca será apenas uma lembrança pra mim, você sempre vai ser alguém, sempre estará vivo pra mim, dentro de mim. Não vou esquecer você, prometo. – Agora estão me tirando de cima do caixão para fechar.
- Eu suplico, três palavras.  – Um dos homens compreendeu meu sofrimento.
- Cumprirei minha promessa.
Fecham o caixão e eu abraço minha mãe e choro no ombro dela, como eu jamais havia feito em toda a minha vida.
_
Hoje à noite eu vou dar um jantar especial para o Michael, mas só vai ter lugar para dois aqui. Pra mim e pra ele. Parece loucura, eu sei, mas eu prometi, e sei que ele está aqui.
- Michael, onde quer que você esteja, não era pra você ter me deixado sozinha.
Eu estou perdida, não sei o que fazer sem ele e sei que nunca vou saber. Vou deixar a vida me levar por algum lugar, pedir ajuda divina não sei. Agora, e somente agora, percebi que pra todas as decisões que eu sempre tomei tinha um Mike me aconselhando. E agora? Como vai ser? Tiraram a vida dele e a minha ao mesmo tempo. Nunca vou superar isso, mas talvez um dia eu consiga tocar no nome dele sem chorar.
Por favor, se alguém souber como... Traz ele de volta pra mim. Por favor!!! Eu imploro que o tragam de volta! Ele precisa saber que eu o amava também! Ele podia já saber, mas queria que ele ouvisse! Eu só queria que ele ouvisse. Portanto, se alguém souber como, traga-o de volta pra mim...
- Michael me desculpa por te decepcionar. Você sempre dizia que quando se fosse não iria querer choros. Mas é impossível pra mim agora, eu sou fraca sempre fui.
Uma lágrima cai no meu copo com vinho, não consigo comer nem beber nem me mexer muito menos falar. Vou ficar em silêncio um pouco.
Depois de alguns goles daquele vinho, percebi que já tinha passado das três da madrugada e a única coisa que eu pensava era na expressão dele ao dizer que me amava... Eu desabafei antes de me levantar ferozmente e ir pra cama, deixando a mesa e tudo mais intocável, como estava no começo:
- Michael, eu vou ser forte e viver por você, a vida que eu tenho é sua. Minhas sinceras saudades, espero que venha me visitar nos meus sonhos às vezes, e que neles você esteja sorrindo. Não posso viver com o seu fantasma, tenho que me despedir, agora. Adeus Mike, eu amo você.


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