Uma manhã maravilhosa era anunciada pelo nascer do Sol. Os primeiros raios luminosos invadiam o quarto do garoto de cabelos multicoloridos, que, embolado em seus lençóis de cetim branco, ainda mantinha-se acordado.

Acordado, e também perturbado. Não sabia realmente o porquê, mas sabia que algo estava estranho. Há vários dias ele não conseguia dormir, e tudo que pensava findava em uma única coisa. Ele levantou, passando a mão por sua nuca e levantando-se. Intrigado, logicamente. Resolvera se limitar a encontrar o motivo de tudo aquilo estar acontecendo.

Não lhe importava, se estava vestindo apenas suas boxers. Ele seguiu diretamente até seu guarda roupa, abrindo o fundo falso que escondia uma caixa de tamanho médio. De coloração preta brilhante, e guardada à quase um ano, Strify resolvera que não havia momento mais propício para que esta fosse reaberta.

Ele levou-a consigo para sua cama, sentando-se nesta. A encarou por vários segundos, pensando se deveria ou não reabri-la. Há tanto tempo ele limitara-se a esquecer, e nunca mais sentir falta de tudo aquilo que estava guardado naquela caixa. Mas ele não conseguira.

Aos poucos, ele foi puxando a tampa da caixa, revelando seu conteúdo. Por cima, vários papéis e cartas que ele sabia a quem se referiam. Retirou-os vagarosamente, decidindo deixá-los para depois. 

Strify encontrou um bolo de fotos. Finalmente, ele sabia que era aquilo que estava a causar-lhe tanta confusão mental. Não as fotos, exatamente. Mas uma pessoa, especificamente. Ele sentia falta de alguém específico, um pequeno e sorridente loiro.

Ele procurou uma avidamente uma foto específica, até finalmente encontrá-la. Nela, ele se encontrava com outro loiro, menor, e de nariz muito empinado. Ele riu. Adorava aquele nariz de garoto mimado e marrento. Strify estava abraçando-o, e seus lábios estavam colados com os dele.

 Ele fechou os olhos e suspirou profundamente, apenas de lembrar-se de como era a sensação de ter aqueles lábios envolvendo os seus, com um toque incrivelmente doce e gentil.

Ele sabia que não devia ter aquele sentimento. O garoto agora morava em Londres, enquanto ele ficara em Berlim, sozinho, sem uma parte de si mesmo.

Inesperadamente, Strify ouviu sua campainha tocar, interrompendo seus pensamentos. Ora, quem o visitaria a essa hora da manhã? Ele nem se preocupou em vestir ao menos uma camisa, já que estava disposto a não atender à porta. Mas, quando olhou pelo visor, viu alguém que ele esperava que fosse aparecer ali.

O garoto loiro do outro lado da porta já estava impaciente. Fez menção de virar-se e ir embora do local, quando ouviu a tranca da porta ser aberta. Ele virou-se novamente, e deu de cara com um Strify seminu, olhando com um leve espanto para si.

Strify não queria acreditar. O nariz empinado, os lábios rosados. Sim, era ele. 

- TIFY! – o menor o abraçou fortemente, descarregando nele toda a energia de uma criança, elétrica e animadora, que só ele sabia conservar, mesmo tendo se tornado um belo homem.

- Kir. Que saudades de você. – Strify suspirou, sentindo o perfume adocicado, e o cheiro de baunilha que Kiro exalava. O cheiro que ele nunca esquecera. – O que faz por aqui?

- Ora, vim te ver, seu bobo! – Kiro se afastou e olhou Strify de cima a baixo. – Sabe, sai de Londres. E resolvi voltar. E desta vez, voltei para ficar.

- E onde pretende ficar? – perguntou Strify, curioso.

- Não sei ainda. Ficarei em um hotel, até achar um lugar decente. – Kiro sorria. Ele sentira muita falta de toda a bagunça de Berlim, e principalmente, do belo dono dos olhos azuis.

Strify sorria. Até o momento em que lembrou que não vestia nada além de sua boxer. Imediatamente, ele sentiu o sangue subir e se concentrar em suas bochechas, que se tornaram avermelhadas.

- Porque não entra? Digo, temos muito a conversar, não? - Strify sorriu, enquanto saia do caminho para dar passagem para Kiro. 

- Não irei incomodar? Digo, pelo modo como veio me atender, não parece muito disposto a se levantar agora. - O menor sorriu de lado, como ele sempre fazia, e analisou todo o corpo de Strify, parando naqueles hipnotizantes olhos azuis.

- Ah, não se preucupe. Você nunca incomoda, pequeno. Vem, entra, enquanto coloco algo decente.

Strify ajudou Kiro a colocar as duas malas na sala, e depois trancou a porta. O menor seguiu o dono dos cabelos mestiços até o quarto, onde viu a caixa preta aberta, em cima da cama.

- Ora ora, você ainda a tem? - Disse Kiro, se referindo a caixa.

- Impossível jogá-las fora - Strify respondeu, dando de ombros e encostando-se no guarda roupa.

O baixista se sentou na cama, pegando o mesmo bolo de fotos que antes estava nas mãos do vocalista. Observou com carinho cada uma delas, sob os olhares atenciosos de Strify.

Mais tarde, estavam os dois deitados na cama, já mais descontraídos, rindo e lembrando de tudo que já acontecera a eles. Strify se encontrava com a camisa de Kiro, que, por sua vez, estava com o tronco totalmente nu. A cama do vocalista estava realmente lotada de papéis, fotos e cartas, e eles estavam simplesmente radiantes.

- Kir, ainda gosta de brigadeiro? - Strify indagou, olhando diretamente para o menor.

- YAY! É claro! - disse Kiro, batendo palmas como uma criança quando vê um doce .

Diante da atitude do menor, Strify sorriu. Como ele amava aquele garoto, e o modo como ele conseguia ser um belo homem, com o eterno espírito de um garotinho inocente. 

- Então vem. - O vocalista puxou Kiro pelas mãos, guiando-o até sua cozinha. Após alguns minutos, com todos os ingredientes para o que o baixista costumava chamar de 'cura-mágoa',e o fogo já ligado, Strify se encontrava encostado no balcão, vendo o baixista mexer o brigadeiro de um lado para o outro.

- Kir, eu quero experimentar... - Strify disse com uma carinha de criança, fazendo biquinho, algo que realmente acabava com todas as estruturas que Kiro poderia ter. O baixista se afastou do fogão, e deixou que o dono dos cabelos mestiços pegasse um pouco com o dedo, e leva-se à boca.

- Delicioso, como sempre. - Strify sorria, como alguém que experimentara o melhor doce do mundo. Mas não era o doce que o fazia estar assim. Era Kiro.

- Hey, princesa, ficou sujo. - disse o menor com um sorriso maroto.

- Onde? 

- Aqui - O baixista desligou o fogo, e aproximou-se de Strify, lambendo suavemente os lábios deste. 

Ao perceber que não houve rejeição ao gesto, apoiou suas mãos na cintura do mais novo, que, por sua vez, levou suas mãos ao ombro do mais velho. Os rostos estavam colados, e as respiraçõe se misturavam. E ambos adoravam estar assim.

- Senti sua falta, querido. - disse Kiro, embrigando Strify com seu doce hálito, que o maior nunca esquecera, e sempre desejara sentir de novo, e sempre repetir a dose. '' Ainda é o mesmo, como eu me lembrava '', pensou o mais novo.

- Não tanto quanto eu, pode apostar. - o maior rebateu, passando seus dedos pela bochecha de Kiro, enquanto ambos mantinham o contato visual firme.

Lentamente, o beijo foi retomado, necessitado e apaixonado. Aos poucos, sentiam cada vez mais necessidade do toque, e logo, Strify estava sentado em cima do balcão, com as pernas enlaçadas na cintura de Kiro, que pressionava seu corpo contra o do mais novo. As mãos caminhavam pelos corpos avidamente, e eles estavam ofegantes.

- Acho melhor .. irmos ... para o quarto ... - Strify disse pausadamente, enquanto lutava para não soltar um gemido que teimava em sair, quando sentiu os beijos e mordidas suaves de Kiro em seu pescoço e garganta. E como ele adorava estar assim, nos braços do menor.

Este, por sua vez, nem respondeu, afinal, suas ações falavam por si. Ele fez com que Strify se apoiasse em sua cintura, capturando novamente um breve beijo do garoto antes de leva-lo, em seu colo, para o quarto.

Ao chegarem, Kiro deitou cuidadosamente o mais novo nos lençóis de cetim, e parou para observá-lo, deliciando-se com a  visão que tinha. Nem todos ficariam belos com os cabelos bagunçados, boca vermelha, assim como as bochechas, trajando apenas um par de boxers e uma camisa. Mas não era o caso de Strify. Ele ficava belo de qualquer jeito.

Kiro desviou seu caminho da boca do vocalista, fazendo com que este fizesse um biquinho de desaprovação, que foi longo substituído por um suspiro longo e profundo, quando sentiu a boca suave e macia do menor em seu pescoço e garganta novamente.

Strify simplesmente amava a sensação de ter o corpo de Kiro pressionando o seu, e a sensação de ter as mãos do menor encostando doce, porém rudemente em sua pele, e aqueles lábios a lhe tocar a pele como fogo, faziam-no perder todos os sentidos.

De repente, Kiro apoiou-se em seus braços, suspendendo seu corpo, e olhando firmemente para Strify, como se pudesse ver além dos olhos azuis do garoto, e sussurrou, como quem sussurra um segredo ao vento :

- Princesa, eu amo muito você.

Assim que disse isso, voltou a distribuir beijos suaves por todo o pescoço de Strify. Logo mais, a camisa de Kiro que estava no vocalista foi retirada, e jogada em um canto qualquer, e ambos estavam já vermelhos, apenas em suas boxers.

Um olhar forte e confiante foi trocado entre eles, até que Strify puxasse Kiro pela cintura, fazendo com que o toque dos corpos fosse completo, e soltando um gemido ao sentir a boca de seu baixinho na curva de seu pescoço.

Bem perto do ouvido de Kiro, o vocalista sussurrou um segredo que guardara o tempo todo: '' Eu também amo muito você, mein Kir. ''

......

Os primeiros raios de sol surgiam, e invadiam o quarto do garoto de belos cabelos mestiços, anunciando o início da manhã. Mas dessa vez, o garoto dormia, angelicalmente, abraçado a outro garoto de cabelos loiros, que, já acordado, velava serenamente pelo sono de seu amado.