Era uma típica manhã de inverno, tão calma e fria quanto qualquer outra e os finos raios de Sol que passavam pelas nuvens deixavam aquela típica manhã ainda mais aconchegante. No subúrbio de uma pequena cidade, havia um pequeno parque, apesar da localização, o bairro era até tranquilo e bem bonito. Naquela mesma manhã, naquele mesmo parque, duas crianças se encontraram pela primeira vez.

- Ei, você aí. Quer que eu te balance?

- Ahn? Ah... – fez uma breve pausa constrangida – Não precisa não, obrigada.

- Você é quem sabe.

A menina deu de ombros e se sentou no balanço ao lado da outra, balançando cada vez mais alto até quase poder ver a Lua que se escondia do Sol atrás do horizonte.

- Qual o seu nome? – Perguntou a menina algum tempo depois, já cansada de balançar.

-Eu? Ah, bem, meu nome... Meu nome é Alice. – A outra garotinha continuava a olhar para o chão, encabulada.

- Pois muito bem, Alice, o meu nome é Beatriz, mas todo mundo me chama de Bia, então você pode me chamar assim também, ok!?

Bia abriu um largo sorriso para Alice, que apenas levantou seus pequenos olhinhos verdes escuros para olhar a outra e assentiu timidamente com a cabeça.

- Você vem sempre aqui com seus pais, não é? – Perguntou Bia olhando para longe.

Alice fez que sim com silenciosamente, mesmo sabendo que a outra não vira seu gesto. De qualquer forma, era uma pergunta retórica.

- Eu também, Por que você sempre fica aqui sentada sozinha, só olhando para os seus sapatos? Balançar é tão mais divertido!

Mais uma vez a outra se conteve em olhar a expressão entusiasmada da menina ao seu lado. Ambas tinham mais ou menos a mesma idade, por volta de cinco ou seis anos, mas eram totalmente diferentes.

Bia era mais alta e possivelmente a mais velha, tinha cabelos lisos, pretos e curtos, olhos prateados vívidos e alegres e mantinha sempre seu sorriso maroto* de moleque estampado no rosto. Já Alice era mais baixa, possuía longos cabelos ondulados de um tom de castanho avermelhado, como as folhas no outono, e sua pele muito branca, marcada com pequenas sardas embaixo dos olhos, acentuava o rosado de suas bochechas. Ela sempre ostentava um olhar perdido, não triste, mas solitário, tímido.

- Certa vez meu pai me disse que se a gente balançar alto o bastante, a gente pode até chegar na lua, ou até pegar uma estrela.

- É verdade mesmo? – Perguntou enfim Alice, com os olhos brilhando admirados. – Podemos pegar uma estrela de verdade?

- Claro que sim, sua boba, foi papai que me contou. Ele nunca mente pra mim. Além do mais, estrelas são bonitas demais para ficarem tão sozinhas lá em cima, não é? – Seu sorriso seguro alegrou Alice ainda mais.

- Uma vez minha mãe me disse que cada pessoa tem sua própria estrela lá no céu, e que o brilho dela é que guia a gente, mas que por ela estar tão longe, fica difícil de ver onde o brilho dela em meio às outras.

- Talvez esse seja mais um motivo para  a gente tentar pegar elas, não? – Animou-se Bia.

- Talvez. – Alice voltou seu olhar para o céu, onde não se via nenhuma estrela, pois o Sol ofuscava seu brilho. – Queria poder saber o que minha estrela tem para me contar.

- Tente pegar ela então.

- Tenho medo de cair. – Alice voltou seus olhos para o chão novamente.

Do outro lado do parque os pais de Bia a chamavam para ir embora, e  assim que os viu a garota se levantou.

-Tenho que ir. – Disse Bia. - Foi muito legal te conhecer, Alice. E não se preocupe... Eu prometo que vou buscar sua estrela para você.

Alice olhou para cima novamente e viu Beatriz sorrindo na sua frente. Algo naquelas palavras tinha feito com que ela ficasse extremamente feliz, a ponto de lagrimas lhe saltarem os olhos.

- Mas como você vai saber qual é a minha estrela?

- Vou procurar pela estrela mais bonita que brilhar no céu. – Sorriu Bia.

- Muito obrigada, mas – entre um soluço e outro lhe ocorreu que estava sendo muito egoísta, afinal, o que aquela menina tão gentil iria ganhar em troca? – e a sua estrela?

A menina soltou uma breve risada e olhou a outra nos olhos, com as mãos em seu rosto lhe enxugou uma lágrima rebelde que insistia em cair.

- A minha eu já encontrei. Minha estrela é você. – Beatriz deu um ultimo sorriso e seus lábios tocaram levemente os de Alice em um breve  e inocente beijo de criança e ela se afastou, indo em direção aos seus pais que a aguardavam, sem olhar para trás.