Changing Lifes escrita por Maty


Capítulo 9
Se conhecendo




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    Não tinha idéia do tempo que estávamos os dois deitados naquela grama fria e úmida, observando o céu ficar cada vez mais azul e o sol queimar cada vez mais quente em nossas peles. Tinha os olhos fechados devido ao sono que o silêncio e a noite mal dormida trouxeram, mas os forcei a se abrirem quando ouvi o som da grama ao meu lado.

-Aonde você vai? – perguntei com a voz rouca devido ao longo tempo de silencio. Beatrice estendeu os braços se espreguiçando e mexeu em seu cabelo.

-Já estamos aqui há um bom tempo, daqui a pouco a Tessie vai acordar... Vou levá-la de volta para o apartamento. – disse, me deu as costas e foi embora com o carrinho.

    Fechei os olhos novamente refletindo sobre o que tinha acabado de acontecer. Tudo o que ela falou ecoava em minha cabeça, sua expressão se destacava no meio da escuridão que encontrava ao fechar os olhos. O que tudo aquilo significou afinal de contas?! Como deveria agir ao chegar ao apartamento? O que pensar quando olhar para ela e lembrar daquele abraço, da risada que dividimos e ao mesmo tempo de tudo que a fiz passar? Passado alguns longos minutos deitado naquela mesma posição ainda sentia meu cérebro processar todas aquelas perguntas e procurar respostas para elas. Respirei fundo e mesmo sem saber direito o que me esperava no apartamento eu refiz meu caminho de volta.

   A casa estava silenciosa, o carrinho descansava vazio próximo á mesa de jantar. Tirei os chinelos que havia colocado ás pressas e os deixei jogados ao lado do sofá. Encontrei a Beatrice dormindo no quarto, fechei a porta com cuidado e me joguei no sofá disposto a dormir também.

-Merda. – disse abrindo os olhos ao ouvir os resmungos de Tessie. Levantei e andei até o quarto dela. – Já está acordada? – a tirei do berço, para meu grande alívio ela não chorava. – O que eu faço com você agora?

    Andei novamente até a sala, sentei no sofá, liguei a televisão e a coloquei deitada o meu lado. Passados 10 minutos eu ainda não tinha idéia do que estava passando naquela enorme tela de plasma á minha frente, simplesmente não conseguia desviar meus olhos ou minha atenção do bebê com o olhar perdido ao meu lado, mexia as perninhas e os bracinhos tentando entender o que se passava ao seu redor. Tudo estava ótimo, até ela abrir a boca para chorar.

-Ah não, não, não, não. – peguei-a e a segurei em meu colo. – O que eu faço? – sussurrei para mim mesmo, talvez ela só quisesse leite. Eu obviamente não tinha leite. Também não sabia a medida para fazer o leite... Talvez só precisasse trocar a fralda. Eu não sabia trocar fralda.

-Precisa de ajuda, aí? – Beatrice estava parada na porta do quarto rindo da minha cara. Seu rosto estava inchado de sono, mas ela continuava bonita.

-Ela é toda sua. – estendi o bebê escandaloso em sua direção, aquilo pareceu lhe arrancar mais um sorriso. Andou até mim e a pegou no colo.

-Que culpa você tem do seu pai não saber nem ao menos trocar sua fralda, hum? Parece que eu tenho que fazer tudo por aqui. – disse, estava tão calma que nem parecia que segurava um bebê escandaloso em seus braços. Ela virou-se seguindo em direção ao quarto da Tessie.

-Hey. – chamei, ela parou e olhou para trás. – Aerosmith.

-O que? – fez uma careta confusa.

-O primeiro CD que eu comprei... Foi do Aerosmith.

-E você está me dizendo isso agora por que...?

-Você disse que não me conhecia.

-Então isso é um sim? – perguntou, olhei para ela e estreitei os olhos, confuso com a pergunta. – Quando eu perguntei se as coisas seriam diferentes daqui pra frente... Isso é um sim?

-Isso é um “eu vou tentar”. – ela sorriu.

-O primeiro CD que eu comprei foi da Alanis Morisette, consigo cantar Ironic de trás para frente. – rimos os dois novamente, aquilo tudo era engraçado de certa forma. Estávamos nos conhecendo, depois de tanto tempo.

     Beatrice entrou no quarto e eu voltei minha atenção para a TV. Suspirei, ela estava de bom humor, sorriu mais nesses últimos 5 minutos do que eu a vi sorrir nos últimos 3 meses em que convivemos juntos nesse apartamento. As coisas pareciam um pouco melhores e eu podia suspirar aliviado com isso. Um turbilhão de dúvidas tomou conta da minha cabeça, perguntas sobre ela que de repente eu tinha extremo interesse em saber.

-Hey, Tom? – chamou, tinha apenas sua cabeça posta para fora da porta do quarto de Tessie.

-O que? – me levantei curioso e com um estranho bom humor também.

-Não quer me ajudar? – levantei as sobrancelhas. Beatrice rolou os olhos. – Mais cedo ou mais tarde você vai ter que aprender a trocar uma fralda.

    Vacilei por alguns instantes, mas ela estava certa. Entrei no quarto da Tessie, ela estava deitada no trocador.

- Primeiro você tem que segurar as pernas dela pra cima, desse jeito. – Beatrice começou explicando. Ela falava e fazia as coisas ao mesmo tempo, tinha seu próprio jeito meio atrapalhado de lidar com aquilo. Às vezes parecia ter nojo, ás vezes parecia estar completamente perdida e precisava de alguns segundos para pensar no que fazer a seguir. Eu não conseguia fazer nada senão sorrir diante da cena. – Deus, eu realmente não tenho jeito para isso, não é? – ela perguntou notando o quão hilário eu estava achando tudo aquilo.

-Nem um pouquinho. Aposto que até o Georg consegue fazer melhor que isso. – ela riu, jogou a fralda suja no lixo e pegou a Tessie, já trocada, em seus braços. – Agora eu vou dar leite para ela... A menos que você tenha peitos eu acho que te ensinar isso é meio inútil.

    Ela se sentou na poltrona e ajeitou a Tessie em seus braços enquanto eu encostei na porta e cruzei os braços observando a cena. Por coincidência a TV que eu esquecera ligada começou a exibir uma matéria sobre o Tokio Hotel, com pequenos vídeos mostrando nossos concertos, as fãs histéricas, entrevistas. Senti falta de tudo aquilo, senti falta da adrenalina de subir no palco, senti falta de distribuir autógrafos e tocar minha guitarra, mas naquele momento eu estava bem... Parado exatamente aqui.


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Notas finais do capítulo

próximo capítulo:

" Senti vontade de consolá-la, talvez com um abraço, talvez com palavras. Mas no fundo sabia que não teria coragem de fazer isso, o meu orgulho ainda não me permitia. "