Changing Lifes escrita por Maty


Capítulo 21
Katharine




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     Faltava uma hora. A simples ação de ficar deitado naquela cama esperando os minutos passarem parecia me corroer por dentro. Era como se meu mundo voltasse a girar em torno dela. Apesar de ter tanta certeza que Katharine já estava no meu passado e que eu havia deixado de viver por ela, toda aquela situação só parecia me provar o contrário. Esperando pela hora que ela marcara com tanta excitação e ansiedade. Era patético. Eu me sentia patético.

Não tinha certeza se queria revê-la, mas parecia não conseguir parar de olhar no relógio e esperar pelo reencontro. Depois de tanto tempo... Por que ela tinha que voltar? Por que tinha que voltar e me tornar um miserável novamente?

    Estava inquieto, não ia agüentar esperar. Agarrei a chave do quarto e desci até o bar meia hora antes do horário marcado. Bill e os outros meninos estavam fora aproveitando a última noite livre antes de voltarmos para Hamburg ás 20:00 do dia seguinte. Eu devia estar com eles. O pensamento não saia da minha cabeça, mas aparentemente eu era incapaz de levantar daquela cadeira e fugir daquele encontro.

-Começou a festa sem mim? – sua voz tão familiar surtiu um efeito quase entorpecente por todo meu corpo. Mesmo assim não podia deixar de admitir que era bom ouvi-la novamente.

-Olá, Kat. – lentamente virei meu rosto e sorri, apesar de toda a inquietação que eu sentia.

    Estava belíssima. Ainda mais bela do que me lembrava. Seus cabelos ruivos agora chegavam quase até a altura do seu umbigo, levemente ondulados no lugar do liso de antes, ela havia emagrecido e seu corpo estava ainda mais magnificamente moldado dessa vez, algo que ficava óbvio naquele vestido preto colado e extremamente decotado que ela usava. Seus olhos castanhos me encaravam daquela maneira profunda e hipnotizante de sempre, como se fosse um convite para que eu me aproximasse. Como um idiota eu fiquei a observando, analisando cada curva, cada pequena característica que por tanto tempo eu ansiei tocar novamente. Eu conhecia aquele corpo com a palma da minha mão. Vê-la novamente me levou a um estado de nostalgia, e o sentimento de ser uma possessão dela mais uma vez tomou conta de mim. De repente eu conseguia me lembrar de cada suspiro que soltei ao encontrá-la, cada carícia, cada sorriso. Podia facilmente recordar todas as manhãs que acordei ao seu lado me sentindo o cara mais sortudo do mundo, todas as vezes que ela ligava e eu sorria sem perceber e todos os “ eu te amo” que pronunciei.

-É bom te ver, Tom... – sentou ao meu lado sorrindo. Respirei fundo, ela ainda usava o mesmo perfume.

-Vai me falar o porquê do encontro? – ela riu com a pergunta.

-Só queria ter certeza que você ainda era meu.

-E... ? – levantei uma de minhas sobrancelhas, intrigado com a resposta. – Já chegou a uma conclusão?

-Parece que você se esqueceu de como te conheço... – virou-se no pequeno banco do bar, ficando de frente para mim. Tinha aquele esboço de sorriso com o canto da boca que eu tanto admirava. - Sua respiração está descompassada e você não consegue tirar os olhos do meu decote. Está mexendo suas pernas para cima e para baixo do jeito que só faz quando está nervoso e não para de passar a língua no seu piercing, algo que só faz quando está excitado... Então eu posso assumir que resposta é sim. Você ainda é meu. – tinha um sorriso tão mesquinho e superior que eu senti raiva.

-É isso? Você voou de Londres até Paris para isso?! – seu sorriso foi aos poucos se desmanchando até que sua expressão não passasse de monótona. Como se minha indignação não significasse absolutamente nada para ela. – Você consegue ser ridícula a esse ponto, Katharine?

-Você sabe como eu sou. – deu um gole em sua bebida. – Seu noivado já dura quase um ano e eu estava começando a ficar incomodada. Afinal de contas você é meu, Snoop...

-Por que você continua se referindo a mim como se fosse uma mercadoria? – levantei-me, encarando-a de perto. – E por que o meu noivado te incomodaria? Até onde eu sei foi você quem me deixou.

-Seu noivado me incomoda por que sou eu quem você tem que amar... Eu, e não aquela loirinha sem sal. – o modo como se referiu a Beatrice, daquela maneira superior e carregada de desprezo, me incomodava de uma maneira quase que insuportável por alguma razão.

-A loirinha sem sal é a minha noiva... – sussurrei entre os dentes. – E coincidentemente a mãe da minha filha.

-E você quer que eu acredite que esse noivado é de verdade? – ela riu. - Qual é, Tom. Você noivou com a menina apenas alguns meses depois que eu parti, acha mesmo que eu comprei toda aquela baboseira que vocês se amavam? Seu psicológico teimoso e revoltado nunca lhe permitiria isso.

-Pare de falar como se eu fosse previsível! – segurei com força em seu braço. Katharine me deixava completamente descontrolado. Ela tinha um poder sobre mim, um jeito de mexer com meus sentimentos que ninguém mais tinha.

-Mas acontece que você é, Tom! Ninguém o vê da maneira que eu vejo. Enquanto o mundo inteiro compra uma revista, olha as fotos e vê o que você está fazendo eu vejo o que você está pensando e sentindo! – gritou. – Agora me solte que está me machucando! – empurrou meu braço para longe de seu corpo. Respirei fundo.

-Você se surpreenderia como uma filha e um pouco de tempo é o bastante para mudar uma pessoa. Você pode achar que me conhece e sabe tudo o que se passa na minha cabeça, mas eu sou uma outra pessoa agora! Penso, ajo e faço tudo de um jeito diferente! – peguei em seu pulso e observei todas as pequenas e quase imperceptíveis cicatrizes que o incidente com a mesa de vidro lhe deixara. - Todas essas cicatrizes estão aqui para provar que você é incapaz de mudar, Katharine. – sussurrei. Eu estava irritado e machucado ao mesmo tempo. Eu a amava tanto, e apesar de me negar a admitir, não era assim que queria que fosse nosso reencontro. – Seu corpo foi cortado e marcado para sempre e você continua a mesma. Você pode mudar seu cabelo, pode emagrecer, pode mudar de país ou de namorado, mas sempre vai continuar com esse mesmo pensamento ridículo de que é superior a todo mundo!

-Como você tem coragem de falar assim comigo? – sussurrou. Eu tentei, mas não consegui identificar se o que ela sentia era indignação, raiva ou dor.

-Eu estava tão cego esse tempo inteiro que não vi nada disso... Mesmo aqui ainda sou incapaz de decifrá-la com perfeição. Você é e sempre será um mistério para mim. – as palavras doeram ao sair da minha boca. – Mas eu conheço muitas pessoas que se acham superiores, elas me irritam e eu não preciso de mais uma... Mesmo você. – cuspi as palavras em seu rosto deixando-a completamente perplexa. Esta devia ser a primeira vez que conseguia tal feito.

     Não era para ser assim... Katharine sempre teve esse jeito superior, eu sabia disso e isso nunca me incomodou. Ao contrário, eu gostava. Achava sexy o jeito como se dirigia á mim, como parecia estar sempre no comando e ter controle sobre tudo quando eu nunca tinha controle sobre nada. Mas eu tinha nojo agora, não conseguia mais suportar sua atitude. Encaramo-nos em silêncio por alguns segundos e então eu dei-lhe as costas fazendo meu caminho de volta para o quarto.

-Você vai mesmo embora desse jeito? – ela gritou, do outro lado do saguão. Parei de andar, mas recusei-me a dar meia volta e olhá-la novamente.

-Por que se importa? Sou só uma mercadoria! Você pode abrir mão de uma mercadoria... É só comprar outra. Eu não significo nada para você, não é? – esperei alguns segundos por uma resposta, mas o silêncio parecia ser a única coisa ressoando pelo lugar. Doeu pensar que depois de tanto tempo juntos eu continuava sendo insignificante para ela. Suspirei e avancei mais alguns passos em direção ao elevador.

                         

-Você sempre vai significar algo para mim, Tom... – ouvi-a sussurrar. Parei onde estava, surpreso com a confissão. – Eu não passaria 2 anos da minha vida com você se você não tivesse algo que me prendesse ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:

" -Você tem idéia do que fez?! – de repente eu estava nervoso. Muito nervoso. Aproximei-me dela em passos largos e segurei forte em seus ombros. "

" Observei aquele corpo e fui tomado por uma súbita sensação de deja-vú, lembrando-me de todas nossas noites de sexo, dos dias que passamos na cama nos amando como se fosse a última vez. E então tudo se misturou na minha cabeça, o corpo de Katharine, a voz de Beatrice, o jeito que Katharine beijava meu pescoço e Beatrice me arranhava de leve nas costas. Eu estava divido entre as duas mulheres da minha vida, e não tinha idéia do que fazer quanto a isso. Como fazer uma escolha nessa situação? "