13 de novembro de 1999

Fazia frio naquela época do ano. Acordei cedo para me arrumar. Junto com uns amigos eu havia decidido andar pela região onde morávamos e procurar por pessoas necessitadas que precisassem de doações.

Sabia que eu poderia morrer à qualquer hora. As operações já não estavam funcionando. A doença se espalhava pelo corpo.

Era chegada a hora. Meus amigos tocaram a campanhia, atendi-a.
Pedi que entrassem, pegamos as comidas que havíamos preparado com antecedência e caminhamos pelas ruas do bairro.

Não foi preciso andar muito para encontrar-mos pobreza e desespero.

Não tínhamos comida pra distribuir para todos os necessitados, mas encontramos uma favela.

Demoramos um pouco para subir àquele morro, pois, não estávamos acostumados a fazer aquilo, mas as chegar naquele lugar todas as dores nas pernas abriram espaço para o aperto que eu senti no coração. Olhei para mim vestida com roupas compradas por papai e mamãe, marcas boas e tudo que eu quisesse. E aquelas crianças, brincando na lama, correndo.
E era possível ver a felicidade em seus olhares, felicidade que muitas vezes não estava presente nos olhares de metade das pessoas com uma boa condição financeira.

Caminhamos mas um pouco por aquela comunidade e vimos um hospital comunitário, tentei ver se tinha alguém por ali e encontrei o responsável.
Pedi que nos deixasse entrar, e recebemos permissão.

A situação ali dentro era precária, crianças deitadas e acomodadas da pior forma possível. Com aparelhos ultrapassados, eu sabia que aquilo não era bom para eles, senti uma lágrima quente descer pelo meu rosto, seguida de várias outras.
assamos o dia por ali, fizemos um belo almoço, brincamos com aquelas crianças e tiramos muitas fotos.

E agora estou aqui, em frente a esta pagina de diário, emocionando-me a cada palavra. Porque, cada palavra desta, faz com que eu me lembre do olhar sofrido daquelas mães. Da forma de carinha com que fomos recebidos naquela região. Isso faz com que me sinta culpada, por usar aparelhos tão caros para sobreviver em minhas recaídas.


Ass.: Julien


Naquela noite, Julien passou mal. Sozinha em casa e sem forças para telefonar para seu médico ela faleceu. Ao seu lado foram encontradas fotos e apenas esta página de diário, na qual, se você virasse veria escrito atrás:

O impossível não existe, me orgulho de morrer desta forma. Tenho a sensação de dever cumprido.

Ao final desta frase encontrasse apenas a marca de uma lagrima, não indicando o final de sua jornada de bem.