Ao anoitecer a moça que cuidava de Yuka foi buscá-la no hospital, ela ainda dormia.

Nos dias que se seguiram até a partida Natsumi não havia me visitado, na verdade as únicas visitas que tinha recebido eram de Fubuki, minha irmã e Endou.

Eu queria saber o que estava acontecendo entre mim e ela, ou pelo menos o que ela queria que acontecesse.

Quando eu não queria mais saber do futebol foi Natsumi que me lembrou meu principal motivo de sorrir com ele, sorri pelo sorriso da minha irmã. Ela me lembrou o motivo de sempre me esforçar ao máximo e fazer com que meus movimentos fossem tanto bonitos quanto eficientes.

Minha irmã era a minha principal motivação para eu ser o melhor, mostrar o melhor. E quando ela tinha ficado naquele estado... Eu me esqueci completamente do seu sorriso toda vez que eu pegava na bola, eu tinha me esquecido como ela me apoiava e gostava de me ver treinando. Natsumi lembrou-me do seu sorriso, da sua animação, ela me fez relembrar de todos os momentos que eu e minha irmã ficamos juntos graças ao futebol.

Se quando eu tivesse passado naquela ponte ela não tivesse me parado para perguntar quem mais gostava de me ver jogar futebol eu talvez nunca mais voltasse a pisar em um campo. Eu sabia que eu amava aquele esporte, só que eu não me lembrava de onde vinha aquele amor...  Eu não sabia qual era minha verdade.

Depois daquele encontro lá na ponte eu pensei bastante e resolvi que tinha que voltar com tudo, com força, com toda a minha vontade de fazer o melhor. Jogar o meu futebol.

Bom eu tinha tanto voltado, como consegui que meus companheiros de equipe estivessem na final.

Já era dia do jogo, eu estava com Yuka na arquibancada e minha perna imobilizada.

Às vezes eu olhava para o banco do nosso time pra ver se via Natsumi, eu não a via.

Parecia que ela não tinha ido ao jogo.

Fiquei um pouco decepcionado, esperava pelo menos vê-la.

Nossa equipe ganhava com um gol de diferença e já era quase o final do segundo tempo, eu olhei para minha irmã que ainda esperava mais um gol do Fubuki.

-Seria bom se você estivesse lá. –Ela disse arregalando os olhos quando a equipe avançava em direção ao Gol. –O Fubuki-san joga muito bem, ele não ganha de você irmão, mas ele joga muito.

-Sim ele joga.

Não demorou muito para vermos de novo o motivo de o Lobo Lendário ser tão temido pelos adversários. Eu acho que a pressão que tinha colocado em Fubuki nos últimos dias tinha funcionado.

A vitória que nós esperávamos veio de maneira simples. Eu não entendi bem o que aconteceu, nosso time estava visivelmente superior ao outro.

-Surpreendente não é mesmo? – Escutei a voz familiar feminina que tanto queria.

-Natsumi-san! – Yuka largou minha mão e correu para abraçar Natsumi.

-Oi linda! – Ela duas se abraçaram. Quando se soltaram Natsumi se aproximou de mim segurando a mão de Yuka. –O que achou Goenji?

-Impressionante! O que eles fizeram?

-Dizem que culpa e pressão são os melhores medicamentos para o esforço. –Ela olhava para o campo. –Eles treinaram, treinaram e treinaram mais um pouco. Fubuki só parava de chutar a bola para Endou pegar quando ia visitá-lo, tomar banho ou para comer alguma coisa. Ele só estava dormindo seis horas por dia, o resto era só treino.

-Ele estava assim por minha causa?

-Não só ele, todo o time! Todos estavam treinando a mil por hora para fazer valer apena a chance de estarem na final.

Engoli a seco, não sei se deveria ficar feliz, surpreso ou culpado. E o pior é que eu não se ficava assim por essa informação da equipe ou por Natsumi estar se comportando como se nada tivesse acontecido. Eu achei melhor não pensar nisso por aquele momento.

Vi Fubuki aparecer um pouco ofegante na frente da escada olhando para todos os lados.

-Hey! –Gritei acenando com a mão. Ele veio em nossa direção.

-Oi! – Ele chegou ofegante.

-Oi. – Disse com um sorriso simbólico no rosto.

-Goenji, nós ganhamos!

-Eu vi, fizeram uma ótima partida, parabéns!

-Fubuki-San? – Yuka olhava admirada para ele.

-Oi! – Ele se abaixou até a altura dela. –Você era menina que estava com Natsumi no hospital?

-Ela é a minha irmã Fubuki. –Ele olhou para mim e para ela, para mim e para ela, para mim e para ela.

-Sua irmã?

-Sim, e sua mais nova fã.

-É mesmo? – Fubuki perguntou e Yuka balançou a cabeça de forma positiva.

-Fubuki por que não leva a Yuka para conhecer o time? – Natsumi propôs.

-Eu posso irmão? – Yuka perguntou animada.

-Ela pode Goenji? – E a mesma animação tinha contaminado Fubuki.

-Está certo.

-Ela pode ir para a comemoração do time? Eu acho que já estamos indo para lá.

-Sim pode, eu vou buscá-la lá. – Respondi olhando para o sorriso da minha irmã.

-Vocês não vêm? –Olhei para Natsumi e ela olhou de volta para mim, virei meu rosto de lado e voltei a olhar para ela.

-Não Fubuki, obrigada mais eu acho que o Goenji tem que descansar um pouco sem falar que ele vai ter que andar para ir buscar a Yuka e com certeza ele precisa descansar a perna.

-Está certo. – Fubuki disse saindo com minha irmã de mãos dadas.

-Eles vão gostar dela. – Natsumi falou olhando para mim, mas fugindo de encarar meus olhos.

-Vão. – Eu exalei com força, me sentia desconfortável quando não sabia o que fazer. –Natsumi eu acho que precisamos conversar. – Ela olhou para mim, não parecia surpresa nem preocupada.

-Aqui não, vamos para outro canto. – Ela segurou minha mão me ajudando a levantar, depois que estava devidamente seguro nas muletas foi mancando ao lado dela para algum lugar que ela não queria me dizer.

Depois de entrar em vários becos chegamos a uma praça no centro da cidade.

-Será que conseguimos despistá-lo? – Do que ela estava falando? Não fiz questão de esconder no meu rosto o desconhecimento.

-Quem estava nos seguindo?

-James.

-Seu motorista?

-Sim.

Quando nos sentamos um vento soprou forte e nós dois só conseguíamos engolir a seco.

-E então, o que você quer conversar? – Ela soltou olhando para o chão.

-Sobre o que aconteceu. – Ela sorriu de forma forçada.

-Sobre aquilo...  – Ela exalou com força. –Me desculpa, desculpa, desculpa. – Ela balançou a cabeça de forma negativa e olhou para mim. –Mas, olha para você! O sonho de toda e qualquer garota! E quando eu vi você naquele estado... Desculpa! Eu perdi a cabeça!

Ela falava enquanto seus olhos brilhavam, eles brilhavam, pois estavam cheios d’água e seu rosto estava rosado com alguns cachos ruivos à sua frente.

Eu acho que tinha ficado um pouco hipnotizado com a beleza dela, a mesma beleza que eu via todos os dias no treino... Estava me sentindo um completo idiota por não ter prestado atenção em tamanha beleza antes.

-Eu sei, eu sei, não devia ter feito aquilo, sei que me aproveitei da situação e peço desculpa por isso. – Ela tinha começado a falar muito e bem rápido, parecia que tinha ficado nervosa. –Olha eu sei que foi errado, eu não conto nada e entendo perfeitamente se você nunca mais quiser falar comigo. Eu só quero que saiba que sinto muito e não quero que fique pensando mal de mim. Eu só acho que...

Eu fiz a única coisa que estava à mão e o que meu coração pedia.

Encostei meu dedo indicador em seus lábios os fazendo parar, deixei a mesma mão descer e se firmar em sua nuca aproximando nossos rostos e juntando nossas bocas. Voltei a sentir os lábios macios e quentes da Natsumi e dessa vez consegui desfrutar do toque suave e doce de sua língua. Nosso beijo durou até o momento em que nos faltou ar e vagarosamente afastamos nossos rostos, ela estava extremamente vermelha.

-Você vai sair daqui correndo? – Ela curvou a boca em um sorriso envergonhado e balançou a cabeça de forma negativa. –Estamos empatados?

Ela arqueou as sobrancelhas quando olhou para mim.

-Quem diria que você sabe manter um conversa, sempre tão calado na sua. – Eu não esperava o beijo dos sonhos seria acompanhado de uma pilha de sarcasmo. – Eu não quis dizer isso, é que...  Eu não sei o que dizer.

Só me vi, novamente na obrigação de fazer o que estava à mão, segurei seu pulso e lhe puxei para perto de mim, ela veio parar em meu peitoral e se deixou fundem meu ombro, eu a envolvi pela cintura e vendo-a ficar cada vez mais corada e mais sem vontade de sair dos meus braços.

-Se não sabe o que falar fique calada. – Retruquei também sem vontade de soltá-la.

Não tinha o que ser dito, só o que ser sentindo e mesmo assim ainda não se sabia o que era.

Foi indo através da decepção que pude reconhecer meus esforços, que pude me sentir feliz com as minhas conquistas mesmo sem poder participar delas e foi nesse meio tempo que pude sentir o sentimento mais extasiante de toda a minha vida.

Eu e Natsumi permanecemos lá sentados até dar a hora de ir buscar minha irmã.

E enquanto íamos andando, correção, ela ia andando e eu mancando, Natsumi fez a pergunta chave.

-Goenji, e agora? Vai ficar como está? O que nós somos afinal?

Eu arqueei minhas sobrancelhas e peguei uma resposta pronta, simples, rápida e fácil.

-Namorados.

Eu passei meu braço pelo seu ombro e ela pela minha cintura, mesmo sendo ruim de andar em razão das muletas eu me sentia bem daquela forma e gostada daquilo.

-Estamos chegando perto do restaurante em que eles estão. – Ela soltou de cabeça baixa.

-Tudo bem, eu digo que minha perna estava doendo e você me ajudou.

Passamos o resto da festa com o pessoal.

Depois de alguns meses anunciamos nosso namoro a todos.

E bom...

Com Natsumi consegui ver que quando nosso mundo caí, se destrói tanto o esconderijo dos problemas como das soluções e tudo se revela de forma simples, basta saber esperar e ver além dos problemas, das decepções e estar ao lado de pessoas especiais.