Opera Paris escrita por Lauren Reynolds, Jéh Paixão


Capítulo 26
Capítulo 24 - O Duque de Biers




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Capítulo 24O Duque de Biers

“Extra! Extra! O Fantasma da Ópera finalmente dá as caras! O Opera Populaire está fadado a cumprir seus caprichos! No próximo fim de semana estréia a grande obra do gênio musical: Don Juan Triunfante! Garantam seus lugares!” Um jovem que trajava roupas de algodão anunciava pela cidade, vendendo os jornais, que naquele dia, vendiam como água. “A dama do teatro está condenada a contracenar com ele!”

Os rumores sobre o Fantasma da Opera corriam soltos pela cidade, deixando o Conde Cullen extremamente satisfeito. Seu plano estava para ter fim... Mas talvez, estes fossem somente o começo dos problemas do Conde.

- Srta Swan, aqui está o recibo dos recebimentos do Louvre e dos pagamentos que eu fiz para a senhorita. E dos meus honorários. – Monsieur Fontaine dissera.

- Espero poder contar com o senhor depois desta semana, vou precisar de alguém de confiança. – Isabella falou, sentada numa postura ereta, com o pequeno chapéu em seu colo.

- Absolutamente, mademoiselle. Terá todo meu apoio, e silêncio, é claro. – Fontaine sorriu, depois de servir-lhe uma xícara de chá fumegante. – Aqui está a chave para o que pediu. Diga ao Conde que mandei meus cumprimentos e que pode contar comigo para o que precisar.

- Direi a ele, monsieur Fontaine. Mais uma vez, obrigada por tudo. – Isabella agradeceu, logo depois de tomar o chá.

- Nos vemos no fim da semana, senhorita.

- Até mais ver.

Isabella saiu às pressas e entrou na carruagem que já estava a sua espera. O cocheiro se dirigiu até a casa amarela de Alice, um pouco afastada do centro da cidade, onde ela e Rosalie estavam. Apressadamente, Isabella entrou na residência, tirou suas luvas brancas e o pequeno chapéu.

- Boa tarde, senhorita Swan. – A criada cumprimentou-a.

- Bom dia, Amélia, por favor, peça para servirem um lanche em meus aposentos.

- Farei o que me pediu, com licença. – A criada disse em resposta. – Lady Alice e Rosalie estão no salão de música.

- Obrigada.

Bella dirigiu-se ao salão de música, onde Alice dedilhava alguma coisa no piano e Rosalie dedicava seu tempo escrevendo em algumas folhas de papel. Sem paciência para ficar tocando ou, sequer, pensando em algo para escrever, Bella sentou-se na poltrona e ficou observando o horizonte. Logo anoiteceria e deveria ir a mansão Cullen, onde seria apresentada formalmente ao legítimo conde Cullen.

- Deu tudo certo? – Alice perguntou. – Estás silenciosa.

- Estou nervosa. Deveria estar também. – Bella respondeu.

- É, talvez eu devesse mesmo. Mas acho que passei desse estágio. Eu estou tentando me distrair para não pensar no Conde e na Condessa. – Alice sibilou, fechando os olhos e respirando profundamente. – Jasper disse-me que eles não são tão conservadores como ouvimos falar.

- Más línguas. – Rosalie finalmente dissera. – Porém, ouvi Emmett contar que as coisas com ele são um pouco rígidas, principalmente porque o barão tem a fama de deitar-se com cortesãs. – Ela entristeceu-se. – E eu sou uma.

- Não, não és uma cortesã. É uma das principais bailarinas do segundo melhor balé do mundo, minha cara. Não tem porque temer. – Bella confortou-a. – Tenho certeza que, apesar do pouco tempo, os três, incondicionalmente, nos amam. Não sei bem o que viram em pessoas como nós, mas sei muito bem, eu sinto isso.

(...)

- O jantar deverá ser servido às nove horas, como de costume. – Gerárd dizia aos cozinheiros. - Foi-me ordenado que dissessem aos senhores que não preparassem nada com escargots¹ e lasgostas.

- Mas o jantar será para o Conde Cullen e sua esposa. – Um dos cozinheiros disse.

- Oui, chef, mas prepare algo refinado e sem complicações. Seus senhores irão apresentar, formalmente as três senhoritas.

- Oh, por deus, porque não nos disse antes? – Um dos chefs dissera. – Vamos trabalhar! – ele exclamou.

Gerárd saiu da cozinha e dirigiu-se ao salão principal, onde a mesa já estava sendo posta e decorada. Toda a casa estava em processo de arrumação, enquanto no segundo andar, Carlisle Cullen e Esme instalavam-se num dos quartos que fora preparado para sua chegada. Cada um dos dois irmãos, juntamente com Emmett, estavam a espera dos visitantes na galeria, cada qual com sua preocupação.

Quando o sol caiu no horizonte e a lua já aparecia como uma pérola no alto céu negro, alguns convidados já chegavam. O salão principal estava sendo arrumado, os talheres colocados, cada qual, em sua respectiva posição e as taças para as bebidas em seus lugares. Gerárd recepcionava cada um dos que entravam.

A carruagem das três bailarinas saiu as seis e meia. Em menos de meia hora estariam estacionando em frente à porta principal do chatêau.

- Pare de olhar no relógio, meu irmão! – Jasper antecipou-se.

- Oras, estou tão nervoso quanto você. – Edward disse meio ríspido.

- Será que posso ter medo agora? – Emmett murmurou. – Vou fugir desta casa se as coisas não derem certo.

- Emmett Mccarty, seja homem! – Jasper tentava controlá-lo, colocando uma mão em seu ombro. - E não olhe mais para esse relógio, Edward!

Edward respirou fundo e procurou se acalmar. Ele sabia que Carlisle e Esme não eram as cobras que a sociedade parisiense dizia ser, mas ele tinha plena certeza que os dois não iriam aprovar aquela relação se não gostassem de Isabella. A mesma coisa ocorria com Emmett e Jasper.

Faltavam dez minutos para as sete horas. Ficara combinado que Esme e Carlisle desceriam de seus aposentos as sete e meia.

Chegamos. Bella pensou.

A primeira a descer foi Bella. O cocheiro, de nome Alfred, estendeu a mão e ela pegou-a prontamente, exibindo uma luva de veludo preta. Quando desceu, apalpou a saia do vestido, que era de um vermelho vivo, com detalhes de renda preta no busto, na cintura e na barra. O vermelho contrastava com sua pele alva. Seu cabelo estava meio preso e havia pontos perolados, que o prendiam no alto da cabeça.

Edward sorriu ao vê-la.

- Mon’amour! – ele sibilou, quando ela segurou em seu braço. Os dois subiram a escada.

A segunda foi Alice, que diferente do costume, trajava um vestido menos volumoso. Os tecidos eram leves e numa cor rósea. A manga era fofa, com um pequeno laço; Alice usava luvas longas, na cor branca. Havia uma fita azul celeste em seu cabelo.

- Bon soir, signoritta. – Jasper beijou-lhe a mão e acompanhou-a para dentro da casa.

Emmett já esperava por Rosalie ao pé da escada. Os convidados estavam por ali para ver a chegada das três damas, e continuaram por lá quando Rosalie descia da carruagem. Rosalie usava um vestido dourado, com um pequeno laço na cintura e num tom avermelhado. Rendas caiam das mangas até o cotovelo; e seu cabelo estava preso em um coque arrumado e com flores avermelhadas. Ela também usava luvas longas e brancas.

- Mademoiselle. – Emmett sorriu largamente quando ela enlaçou seu braço.

- Boa noite, monsieur. – Rosalie fez um curto aceno de cabeça.

Logo que entraram, os demais convidados trataram de cumprimentar as futuras integrantes da família Cullen. Bella estava absorta e nervosa demais naquela noite para prestar atenção a qualquer comentário desdenhoso por parte das outras damas da corte francesa, sua cabeça girava apenas no casal que desceria pelas escadas principais em menos de dez minutos. Ela tomou um gole de vinho para sentir-se mais relaxada.

Dez minutos depois, sem atraso algum, um jovem casal descia as escadas principais. O homem era loiro, alto, vestindo um fraque bem alinhado, num tom claro, sua pele era clara; ao lado dele estava uma mulher, bem jovem, assim como ele, com os cabelos ondulados e cor de caramelo, ela trajava um vestido negro, com detalhes em dourado. Os dois tinham olhos dourados.

O jovem casal cumprimentou cordialmente os convidados que acenavam para eles, mas foi próximo ao piano, que encontraram aqueles que realmente interessavam-lhes.

- Boa noite. – O homem disse-lhes.

- Boa noite, meu pai. – Edward respondeu.

- Boa noite. – Jasper e Emmett responderam-lhe.

- Sem rodeios, meus queridos... Nos apresentem as damas. – A mulher disse-lhes.

- Mãe, esta é a baronesa Isabella Swan, uma das bailarinas principais do balé do Opera Paris. – Edward falou num tom muito formal. – Milady, esta é minha mãe, a Condessa Esme Cullen, e este é meu pai, Conde, Visconde e Barão Carlisle Cullen.

- Bon soir madame et monsieur. Fico honrada em conhecê-los, Edward tem falado muito sobre vossas senhorias. – Bella exibiu um sorriso sincero, enquanto estendia a mão para que Carlisle a cumprimentasse.

- Sem mais delongas. – Jasper sibilou. – Esta é a baronesa Alice Pavlova Brandon.

- Muito prazer em conhecê-la, mademoiselle. Jasper tem nos dito boas coisas sobre a senhorita em nossas cartas. – Esme sorriu, abraçando-a.

- Sinto-me lisonjeada, Madame. – Alice falou.

- E esta é a baronesa Rosalie Hale, também bailarina do Opera. – Emmett apresentou-a.

Da mesma forma que Bella, as outras duas foram bem recebidas pelo casal. Alice respirou fundo e soltou o ar levemente, ficando aliviada pelos pais de seu noivo serem pessoas gentis, ao contrário do que diziam as más línguas da cidade Luz.

- Então, querida, o que achou da pretendente de seu filho? – Uma das damas nobres da cidade perguntou.

- Adorável, não vejo problemas com qualquer uma das três. – Esme respondeu, enquanto segurava uma taça de vinho tinto.

- Fico feliz em saber. Porque hoje em dia não podemos confiar nas mulheres que têm por aí, ainda mais as que são dançarinas. – A dama alfinetou.

- Oh, então ficaria surpresa em saber que muitas mulheres na Arábia dançam para seus maridos, e isso é o que os mantém na linha. – Esme respondeu. – Em Londres as mulheres mais cobiçadas são as bailarinas. O que é algo muito diferente de cortesãs, se é o que estava querendo insinuar. Se me permite, vou conversar com as minhas noras.

Esme fez um curto aceno de cabeça e saiu arrastando seu vestido negro pelo espaço existente entre a porta da sala e a varanda, que estava aberta. Bella, Alice e Rosalie estavam fazendo companhia uma para a outra, enquanto seus pretendentes tinham alguma conversa sobre negócios com o pai.

- Espero que não tenha ouvido demais sobre alguma de nós. – Rosalie sibilou.

- Somente a inveja das outras damas, minha querida, não se preocupe. – Esme respondeu. – E não pense que somos como elas dizem.

- Oh, isso é mais cristalino que água. – Alice riu. – Tenho a impressão que vamos nos dar bem, ou estou errada?

- Certíssima, pressuponho. – Esme riu. – Já as considero minhas noras. Cada um deles, Edward, Jasper ou Emmett, tem vivido uma vida solitária... Pelo menos até chegarem em Paris. Eu posso ver o brilho nos olhos de cada um deles. Conheço meus filhos como a palma da minha mão, eles estão perdidamente apaixonados pelas senhoritas.

- É bom ouvir isso da senhora, madame. – Bella sorriu gentilmente. – Eu estava a ponto de ter um ataque de nervos.

- Não fique nervosa. Isso é apenas uma formalidade. Sabe como as pessoas falam se as regras não são seguidas, isso é apenas para efeito na sociedade. O Conde não se importa com este tipo de coisa, na verdade, ele estava ansioso para conhecê-las. E agora que conheceu, está muito satisfeito em ver que os filhos estão em boa companhia... Meu medo era esse. Se me permitem a sinceridade.

- Oh, me sinto mais tranqüila também. – Rosalie desabafou. – As pessoas têm um certo receio quando se tratam de bailarinas.

- Tem mesmo. Mas sejam bem vindas a nossa família. – Esme abraçou cada uma delas.

(...)

Assim que Esme juntara-se as três damas, Carlisle mantinha-se entretido numa agradável conversa com seus filhos – e sobrinho - sobre a cidade Luz, os efeitos das revoltas e os vinhedos Cullen.

- As safras aqui têm estado em boa forma. – Carlisle dizia.

- De fato, meu pai. Os negócios andam muito bem, principalmente porque a França tem entrado numa espécie de soberania no mercado de vinhos. Nem os espanhóis têm feito vinhos tão bons. – Edward lhe disse.

- Sem contar com as nossas safras especiais, que tem dado lucros para nossa família. – Jasper exibiu um sorriso de canto de boca.

- Este é um dos motivos a se comemorar esta noite. Não acreditei quando Emmett disse-me, pelas cartas, que vocês estavam administrando com excelência, os negócios da família nesta região. – Carlisle colocou uma mão sobre o ombro de Edward e encarou Jasper nos olhos. – Surpreenderam-me. Aliás, não só pelos negócios, mas também pela boa escolha que fizeram para nossa família.

- Mesmo que não aprovasse...

- Eu sei, acredite, sei que fugiria. – Carlisle riu. – Agora venham, devem me apresentar a este Visconde de que tanto falam...

Carlisle saiu na companhia de seus dois filhos – e sobrinho – para a antessala, onde alguns dos convidados, entre eles o Visconde e sua noiva Victoria, estavam. Edward fora totalmente contra a presença do visconde em sua recepção, porém Jasper alegou que é sempre bom ter a presença de um ou dois de seus inimigos, porque assim, eles terão a quantidade certa de inveja e o que comentar durante o resto da semana.

O Visconde não saiu do lado de Victoria durante boa parte do tempo e, os dois pareciam se divertir, embora James, em algum canto escuro de sua mente, desejasse que Isabella estivesse ao seu lado, e não a baronesa de Barbarac.

- Caro Visconde. – Edward disse-lhes. – Baronesa.

- Onde está a senhorita Swan, Conde? - Victoria perguntou-lhe.

- Na sala de música, acompanhada de minha mãe e Alice e Rosalie. – Edward instruiu.

- Então me permitam. Vou ter com elas e deixá-los tratar de negócios. – Ela fez um curto aceno de cabeça e saiu da presença dos cavalheiros.

- Este é meu pai, Conde Carlisle. – Edward apresentou-lhes.

- Muito prazer, milord. – James disse com formalidade. – Este é meu primo, de quem lhes falei. Grão-Duque Riley Biers.

O Grão-Duque Biers, era nada mais, nada menos, do que um dos proprietários de um dos maiores lotes de terras no Novo Mundo, a América. Riley, que havia chegado na noite anterior a Paris, ficou contentíssimo ao saber que poderia tratar de negócios com o tão famoso conde Cullen em Paris. As terras de Riley eram produtivas e ele estava interessado em levar o bom vinho Cullen para a América, uma vez lá, os vinhos fariam sucesso. O Grão-Duque era alto, tinha feições jovens e cabelos louros, lisos e curtos. Seus olhos eram castanho-esverdeados e sua pele como uma porcelana.

Todas as damas daquele recinto, e as da mais alta classe social parisiense, se me permitem dizer, estavam de olho no bom partido que desembarcara na cidade luz. Porém Riley, ao chegar na festa, deparou-se com poucas damas que lhe despertavam o interesse, o problema era que uma delas já estava compromissada.

- Muito prazer em conhecê-lo, Conde Cullen. A propósito, estou deveras contente pela união de seus filhos, e sobrinho, com as três bailarinas. Ouvi falar muitíssimo bem delas na minha chegada a esta cidade. – Riley sibilou.

- Eu também estou contente, não poderia esperar algo melhor. Mas vamos ao que interessa... – Carlisle sorriu e acompanhou o Duque para uma área mais reservada.

O Duque, enquanto trocava algumas idéias com o Conde, não conseguia desviar sua atenção de uma bela dama de cabelos ruivos e ondulados. Ela trajava um vestido verde escuro; e estava virada de costas para ele.

- A Baronesa é uma linda mulher. – Carlisle disse baixo.

- Oh, perdão, Conde. – Riley sorriu. – Mas não consigo deixar de pensar nela.

- Ela é noiva de seu primo, não deveria olhá-la da forma como a vê.

- Sei muito bem. Então, continuemos nosso assunto... minhas terras ficam na Califórnia, um lugar bem ensolarado, com clima excelente para o plantio das uvas.

- Creio que o sabor dos vinhos ganhará um novo elemento. As uvas produzidas na França são as melhores que as inglesas, mas cada um ganha um novo elemento, uma nova característica, de acordo com o lugar em que é produzido. – Carlisle explicou-lhe.

- Garanto a você tenho os melhores trabalhadores. Imigrantes italianos. Eles entendem muito bem do plantio.

- Não sou a favor da escravidão e retaliação dos trabalhadores. – Carlisle disse, com um tom mais humano em sua voz. – Fecharemos acordo ainda essa semana. Ficarei rato em recebê-lo na companhia Cullen de vinhos.

Eles apertaram as mãos após mais algumas discussões sobre os vinhedos Cullen e o quão próspero seria o negócio na América. Carlisle deixou o Duque sozinho e voltou para o lado de sua esposa, alguns momentos antes do jantar começar. O Duque, embora tivesse um caráter honesto e uma boa personalidade, não tinha certeza se conseguiria conter-se por muito tempo.

Victoria aproximou-se.

- O jantar começará em breve. – Ela falou.

- Sei. Estou admirando a festa. – Ele disse em resposta.

- Encontrou alguma dama a qual deves admirar?

- Oh, sim. Estou em sua presença agora. – Ele exibiu um sorriso. Victoria ficou desconcertada.

- Isto é errado, grão-Duque. Seu primo é meu noivo e estou compromissada a ele. Não deves fazer isso.

Riley sorriu.

- Tenho plena certeza que seu afeto pelo meu primo não passa de conflito de interesses. Posso lhe proporcionar muito mais do que ele. – Ele dizia baixo, com os lábios próximos a orelha de Victoria. – Não sou desonesto, baronesa, por isso admito, interessei-me por você a primeira vista e quero-lhe como minha. Minha grã-duquesa. Meu primo lhe proporcionará uma vida boa, porém medíocre, em que ele lhe possuirá toda vez que estiver bêbado e você aceitará. Ele terá amantes nas horas de sobriedade e você ficará em casa, trancada esperando que ele volte para poder ter um momento de afeto. Se ainda estiver sã, encontre-me no pomar, ao lado da casa, logo após os bancos. Encontre-me depois do jantar.

Ele saiu e deixou Victoria respirar e digerir tudo o que ele havia lhe falado. No fundo, a baronesa sabia que ele tinha razão, ela sabia que acabaria sendo uma mera dama cujo marido não lhe dava atenção. Mas ainda existia algo maior. Não posso decepcionar meus pais, ela pensou.

O jantar sucedeu-se de forma promissora, e durante as próximas duas horas e meia, os convidados divertiram-se entre conversas e apreciando a boa comida servida naquela noite. O cardápio fora simples e ao mesmo tempo, elegante. Os vinhos eram todos da safra da família e cada casal daquela noite, ganhara uma garrafa, como gratidão pela presença naquele jantar.

(...)

- A senhorita Brandon daria a honra de dar uma volta pelo pomar comigo? - Jasper perguntou a Alice.

Assim que obteve uma resposta positiva da moça, estendeu o braço para que ela o tomasse e então caminhassem juntos pelo jardim, assim, na tentativa de ter alguns momentos com sua futura esposa.

Logo  após o jantar, Victoria vislumbrou o Duque de Biers descer as escadas da frente e ir em direção ao jardim. Os convidados já desfrutavam de uma taça de vinho tinto, mais leve, acompanhados de uma conversa agradável em vários pontos da parte térrea da casa. Alguns casais procuraram lugares mais pacíficos para passarem alguns momentos, outros, alegando que não era  bem visto, preferiram ficar entre as jogatinas e fofocas.

- ... Lady Barbarac que tem sorte, ter um bom marido. - Marie Antoinette disse para suas amigas.

- Não se preocupe, querida Marie. Todas sabem o quanto sua mãe aprecia uma boa escolha de marido. - Lady Charlotte falou. - Talvez o Duque de Biers seja uma boa escolha, não acha, milady?  

- Deveras. - Victoria saiu de seu transe. - Preciso tomar um pouco de ar acho que tomei champagne em excesso esta noite, me dão licença?  

- Vá, se precisar de algo, não hesite. - Charlotte Chanel disse-lhe.

A baronesa saiu, quase que apressada, pensando que deixaria o Duque esperando-lhe há mais de dez minutos. Ela passou pelo salão oposto onde o Visconde estava, não querendo chamar sua atenção. Uma vez que os outros convidados não perceberam e nem as faladeiras de plantão notaram sua ausência, ela desviou para o pomar, erguendo seu vestido levemente, para que não fizesse barulho ao arrastar-se pelas folhas secas.

O  pomar era comprido, com uma alameda larga, acompanhada de vários bancos dispersos ao longo do percurso. Quando chegou ao meio da  alameda, viu a figura altiva do duque de Biers recostado sobre o tronco de uma das árvores. Ela olhou ao seu redor e foi ao encontro do dele. Ele nada disse. O silêncio era constrangedor, porém Victoria não sabia o que deveria dizer num momento daquele. A única coisa que se passava em sua mente, era que estava sentindo-se uma traidora.

- Ninguém nos verá aqui. - Ele assegurou-lhe.  

- Tudo bem. O que quer de minha pessoa? - Ela perguntou.  

- Eu disse-lhe que se viesse ao meu encontro escolheria não viver uma vida medíocre ao lado do Visconde. - Ele sibilou, levando-a até a namoradeira (um banco com dois lugares). - Ora baronesa, sabe bem que o Visconde está obcecado com a bailarina. Meu primo sempre foi obcecado por ela. Desde quando éramos crianças.  

- Ele aparenta tê-la esquecido.  

- Não seja ingênua, milady. O visconde está apenas lhe enganando. Acredite quando lhe digo. Ele não esqueceu lady Swan e nem o mascarado. - O duque deslizou seus dedos sobre a mão de Victoria.  

- O que quer de mim, Duque? Que eu seja sua amante? Que eu seja uma traidora? Já me sinto assim...   

- Sim. Quero que seja minha, porque encantei-me pela senhorita a primeira vista e não consigo lhe tirar da cabeça.

Perto dali, Alice caminhava com Jasper próxima ao beiral, onde um barranco infinito descia rumo as outras propriedades. Jasper parou e ficou encarando-a, logo após, quebrou o contato visual e deu-lhe um beijo cálido, que Alice não esperava.

- Quando acabar a temporada, na segunda semana, casará comigo, Alice Brandon? - Jasper perguntou-lhe.  

- Oh, não sabe o quão contente fico em ouvir de sua boca o pedido. - Alice sorriu e lhe beijou, aninhando-se a ele. - Mal posso esperar para que este dia finalmente possa nos alcançar.

- Será uma cerimônia perfeita. A três, como Paris jamais viu.

Deu-se um longo silêncio entre os dois, porém não havia incomodo algum. Mas Alice interrompeu-o, quando ouviu algo. Ela puxou o conde pela mão até uma das pequenas e estreitas alamedas na lateral do pomar.

Bem ao fundo, numa namoradeira entre as árvores, ela vislumbrou um casal.  

- Não enxergo. - Ela teimou.  

- O Duque de Biers e a Baronesa de Barbarac. - Jasper sussurrou ao pé de seu ouvido.  

- Oh deus! Victoria está tendo um caso, mas já?  

- Receio que tudo o que o Visconde toque, desmorone. - O conde disse-lhe.  

- Devemos contar a ele? - Alice perguntou.  

- Acho que não. Além do mais, o Duque é uma companhia demasiadamente melhor para a Baronesa. - Seu futuro companheiro sibilou.

- Como consegue enxergá-los? - Alice encarou-o. - Eu mal enxergo a pele translúcida de Victoria! - A esguia bailarina não tinha se dado conta que estava escuro demais e ela não conseguia ver nada muito a frente. 

- Tenho uma boa visão, só isso. E um bom ouvido também. - O Conde deu de ombros. 

- Que seja, tenho a ligeira impressão de que lady Barbarac mudará de lado agora... - Alice sibilou com o olhar perdido. - Não sei o que acontece, mas algo me diz que algo ruim vai acontecer. Logo. 

- Não se preocupe, vai dar tudo certo, eu espero. - O Conde puxou-a pela mão e os dois voltaram pelo caminho que antes fizeram.

N/A: Para quem não sabe, isto é um escargot:


http://www.finestchef.com/Escargot.jpg


É um prato clássico da culinária francesa (que eu odeio), feito de lesmas. Não qualquer uma, mas uma espécie especial, criada especificamente para isso. Para se comer o escargot, usa-se uma pinça propria para a mão esquerda, e com a direita, usa-se o garfo para comer o conteudo. Ele é servido num prato que tem pequenas cavidades, para que o caramujo não "role" por ai. ;P


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