A manhã pareceu me avisar de que o dia não seria bom. Eu também não poderia esperar que fosse, afinal já estava á uma semana longe de casa, fugida.

Me levantei e olhei pela janela, ainda estava nublado, o dia estava raiando, isso era desanimador. Saí do quarto e fui para o banheiro, fiz minha higiene tomei um banho gelado e apesar do frio que estava aquela água me ajudou a relaxar. Nessas horas de frio eu sentia falta da minha cidade que era mais quente e eu costumava usar roupas mais leves. Me vesti com uma calça jeans Skinner, uma blusa de frio roxa e uma jaqueta para me esconder do frio que estava aumentando com o passar das horas.

Eu havia esquecido de um detalhe: todas as minhas sacolas das compras secretas que eu havia feito quando ainda estava escondendo minha identidade, seria difícil levar todas no carro. Deixa-as na sala junto das minhas malas e fui para cozinha preparar o café, fiz uns croissants que ficaram maravilhosos, então já estava tudo preparado para a nossa partida só faltava o Tom para irmos. Era engraçado como as palavras “nossa partida” e “irmos” me abalavam. Cinco minutos após esse pensamento ficar remoendo minhas idéias vejo o Tom adentrar a porta da cozinha com aquele sorriso maravilhoso nos lábios.

- Bom dia - ele dizia ainda sorrindo

- Bom dia! Pelo que vejo você teve uma boa noite de sono não é mesmo?- sorri olhando para ele por sobre a xícara de café enquanto sorvia um gole.

- Sim, minha noite foi tranquila, pronta para voltar para a sua casa?- ele estava curioso pela minha resposta.

- Na verdade, não estou não! Eu não queria voltar, eu não queria estar passando por tudo isso e simplesmente ter que começar tudo de novo. – meus olhos começaram a marejar

- É eu também não queria isso e ainda não consigo entender porque nossos pais inventaram essa loucura de casamento e porque de me escolherem.

- Tá aí uma coisa que gostaria de saber também- murmurei desanimada

- Eles terão de nos contar a real razão para isso tudo e rápido!- disse ele com os olhos fixos para o nada, como se estivesse com o pensamento longe.

- Eu espero que acabe logo esse pesadelo- levantei para lavar a minha xícara

- Eu também! Mas mudando de assunto, como você conseguiu comprar aquilo tudo lá na sala em apenas uma semana?- o Tom fez aquela pergunta como se fosse o fim do mundo que estivesse naquela sala ou até uma bomba nuclear.

Gargalhei alto ao ver a reação dele e revirei os olhos.

- Ai Tom, são coisas de mulheres e se eu te contasse teria que te matar depois. – continuei rindo da cara que ele fez.

- Nossa! Então não quero saber mais. Aliás você fica linda quando sorri dessa forma, deveria sorrir assim mais vezes. – os olhos dele tinham luxúria e era seguro mudar de assunto rápido antes que eu me perdesse naquele mar de olhos perfeitos.

Eu precisava me concentrar no nosso plano e não deixaria que uns pensamentos bobos que tinha com ele de vez em quando me tirassem do sério.

- Não começa Tom, eu só consigo sorrir mediante a situações idiotas assim como essa sua agora.

- HAHA! Que graça é você mocinha.

- Oxa Tom não vou falar mais sobre esse apelido ridículo, já disse que já tenho um nome e não preciso de mais. Suas coisas já estão arrumadas?

- Sim, já estão na sala ao lado das suas, já podemos ir?

- Claro! – afirmei desanimada com a ideia de voltar para aquele lugar.

 Não deu para levar todas as sacolas como eu já havia previsto. Deixei algumas por lá e depois mandaria alguém buscá-las para mim.

O silêncio estava acabando comigo, ás vezes eu surpreendia o Tom me olhando pelo retrovisor e sentia meu rosto queimar um pouco constrangida com aquela situação. Na hora, resolvi quebrar aquele silêncio fúnebre.

- Tom, posso te fazer uma pergunta?

- Claro, faça. – ele respondeu sem desviar os olhos da estrada.

- Porque você é tão galinha assim? Nunca amou alguém de verdade?

- Não é bem assim Lili. Eu não sou galinha, eu nunca prometi um dia seguinte as mulheres que já estiveram comigo. Elas sabem que eu não me envolvo com sentimentos.

- Nossa Tom você é frio! – por um segundo aquelas palavras me magoaram pensando no dia em que quase fizemos amor e depois disso eu será descartada. Sou grata por ele ter parado antes que eu pudesse sofrer depois.

- Sabe porque sou assim Lilith? – ele perguntou para mim com um pouco de raiva. – Porque eu acreditei uma vez nesse papo ridículo de amor, nessa loucura de que ele existe mesmo. Eu me apaixonei uma vez e o que eu ganhei com isso? N-A-D-A.

Ele estava magoado, estava me contando uma coisa que o fez sofrer e eu podia sentir que ele havia sofrido, eu podia entendê-lo porque eu já tinha sofrido por amor também. Tive vontade de abraçá-lo e tirar toda a raiva que ele levava dentro de si, mas apenas coloquei minha mãe sobre a dele como um sinal de conforto. Sorri tentando livrar os pensamentos ruins e o clima pesado que havia se instalado dentro daquele carro. Queria poder dizer que o futuro seria melhor, mas eu mesma não sabia o que o futuro nos reservava.

- Bom, chegamos!

Era a hora de enfrentar as feras, era hora do teatro. FORÇA Lilith.

- Pronta para se tornar atriz?- Tom perguntou com um meio sorriso em seus lábios.

- Eu já nasci pronta Tom!