A noite estava muito quente e silenciosa, meu sono havia se evaporado, o quarto escuro parecia ser assustador e grande e terrível!

     "Não dá para dormir"- bufei e me sentei na imensa cama, meus pensamentos rodavam, estava feliz com todas as mudanças, mas era tudo tão assustador, tão diferente do que estava acostumada, será que um dia iria me acostumar. 

     Levantei-me vasculhando minha bolsa atrás do meu relógio, queria ver que horas eram, queria saber quanto tempo ainda essa tortura continuaria, queria um novo dia em m inha frente, queria que amanhecesse logo, não aguentava mais essa solidão e depressão.

     "Duas horas! Ah, não! Quanto mais disso eu posso suportar!"

     Acendi uma fraca luz de um abajour, abri minha porta e me sentei lá, entre a porta e o corredor, abracei meu joelho e não mais consegui me conter, lágrimas teimosas insistiam em rolar dos meu olhos, nunca gostei de chorar, mas devo admitir ultimamente eu estava uma bebe chorona, mas não conseguia evitar, ficaria ali até amanhecer.

     Sentia meu corpo todo contrair, a dor em meu peito, a saudade, a solidão, o medo, a tristeza me abraçava sufocando, meus pulmões se comprimiam contra minhas costelas, meu coração parecia que ia explodir, de repente um sussurro invade o silêncio atormentador:

     "O que faz aí pirralha?"

     Alex esperou uma resposta, mas não estava em condições de dar explicações algumas. Ele se aproximou, sentou-se do meu lado, laçou os braços em minha volta e disse:

     "Calma! Calma! Tudo vai se acertar, você vai ver, amanhã será um novo dia."

     Ainda não conseguia dizer nada, só balancei minha cabeça concordando.

     "Vem vamos até a cozinha, procurar alguma coisa para um lanche noturno, oque acha?"

     Falando pela primeira vez disse:

     "Acho...que pode ser uma boa idéia."

     "Então vamos!"

     Alex pegou minha mão e me conduziu pela casa escura, que era familiar a ele, nos levando diretamente para a cozinha, grande espaçosa e linda, era estranho, não conseguia entender como aquele garoto conseguia me acalmar, só sua presença bastava, eu tinha muita sorte por ele querer ser meu irmão.

     "Você quer um copo de leite?"

     "Sim quero, bem gelado!"

     "Você já se sente melhor?"

     "Sim, muito melhor, eu estava... eh...com medo." - reconheci envergonhada.

     "Você não precisa ficar com vergonha, é normal sentir medo."

     "Quero um biscoito também!"- fugi de uma pergunta que estava por vir, na certa ele iria me perguntar do que estava com medo, mas não queria ter que falar das coisas que se passavam pela minha mente, não queria magoá-lo.

     "Então como era a sua vida antes de vir para cá?"- eu não sabia se queria conversar sobre isso, mas algumas coisa eu poderia falar.

     "Minha vida era muito boa, eu adoro São Paulo, apesar do caos, tem tanta gente legal lá, tanta gente que eu amo!"

     "Está com saudades não é?"

    "Sim! chega doer no meu peito!"

     "Sinto muito por isso!"

     "Acho que uma hora passa!"

     "Então, o que quer fazer amanhã? Temos uma semana para ficar de bobeira até as aulas começarem."

     "Não sei bem, oque você sugere?"

     "Sugiro, que primeiro voltemos para a cama, depois de descansar um pouco, nós podemos acordar e fazer um  passeio de bike logo cedo, o que acha?"

     "Não quero voltar a dormir!"- minha voz era tão tremula que não consegui esconder meu medo.

     "Por que não?"

     "Por que.....Por.....que....., não consigo dormir, tenho medo de ficar lá sozinha!"- admiti envergonhada.

     "Ok, lindinha! Eu fico lá com você, tudo bem?"

     Me senti muit envergonhada e constrangida, mas eu não iria voltar para aquele quarto grande e assustador sozinha.

     "Você não precisa fazer isso, mas não vou falar que quero dormir lá sozinha, porque não seria verdade"- Alex abriu um sorriso imenso em seu rosto e fomos para meu quarto.

     Quando chegamos em frente ao meu quarto Alex entrou, esticou a cama afofou o travesseiro do lado esquerdo da cama, pegou um lençol para ele e se deitou num canto, eu nem pensei em nada, era reconfortante saber que não estaria lá naquele quarto só, apaguei a luz do abajour mas a escuridão me assustava, Alex percebeu levantou-se abriu a porta e acendeu uma luz no corredor, então o quarto não ficou nem iluminado, nem escuro.

     "Perfeito! Alex?"

     "Sim?"

     "Você é o mais legal, perfeito irmão de todo o mundo!"

     "Obrigado, pirralha! Agora durma!"   

     A noite passou num sopro, acordamos com minha mãe na porta, confusa não conseguia ler suas emoções para palpitar o que se passava por sua cabeça.

     "O que aconteceu aqui esta noite?"

     "Parece que Hanna tem medo de dormir sozinha! E eu dei uma mãozinha para ela, também estava achando ruim dormir no outro quarto. Pelo que parece acho que todos estamos nos adaptando! Aliás Hanna ronca, e fica falando coisas que não dá para entender!!!!!- Alex explodiu em uma alta gargalhada.

     "Isso não é verdade!"- disse envergonhada.

     Alex se jogou na cama e pegou seu travesseiro e me deu uma travesseirada que me fez rodar, me deu tanta raiva que nem pensei corri para pegar o meu e quando menos ele esperava levou uma super travesseirada que chegou a cair, mamãe não ficou de fora, nós dois fomos com nossos travesseiros e a atacamos sem dó, ela ficou toda descabelada, ficou brava conosco, minha mãe nunca se descontraia, ela havia se acostumado a ser sempre responsavel demais, por causa de todas as responsabilidades que ela carregava em suas costas.

     Depois de arrumarmos o quarto fomos tomar café e depois saimos para andar de bike.