- Calma Vi, onde você está.

- Na rua do Bar Brasil, logo na esquina.                        

- Já estou indo.

Virei para o bonitão. 

- Denis, preciso sair para socorrer uma amiga, volto logo, tome um banho e descanse um pouco.

- Como sabe meu nome?

- Quem não sabe? – Sorri. – Até já.

Depois de duas horas de bate boca o cidadão resolveu concordar que ele tinha sido o culpado e iria pagar o conserto pelo seguro. Não sei porque mas estava ansiosa para voltar para meu apartamento. Quando cheguei na porta meu coração estava acelerado, parei e respirei fundo e coloquei a chave, mas a porta estava aberta.

Percorri todos os ambientes, mas ele não estava lá, fui até a cozinha e em cima da mesa havia um bilhete.

Obrigada por tudo.

Denis

Ele tinha ido embora mesmo. Fiquei triste por ele não estar lá, queria ter podido ajudar mais, de alguma forma.

Era quinta feira, e não vi mais ele, pensei comigo que talvez tivesse seguido meu conselho e ido para outra cidade procurar emprego, estava feliz por ele, mas por dentro estava triste, não conseguia explicar para mim mesmo por que.

Acordei atrasada, sexta feira sempre foi um dia de muita correria no escritório, ainda mais hoje que era final de mês e além de várias contas para pagar, tinha que fazer o pagamento de todos os funcionários.

Dirigia rápido, e quando passei pelo bar tive a impressão de ver Denis lá, apesar da pressa, minha curiosidade foi maior, e dei a volta no quarteirão e passei em frente bem devagar, eu não estava enganada, ele estava lá com o copo na mão, fiquei com tanta raiva que pisei fundo no acelerador fazendo os pneus cantar.

Meu dia foi péssimo, não conseguia me concentrar no trabalho, ainda bem que estava quase no fim.

-Bella. Bella. – Ouvi uma voz ao longe me trazendo para o presente.

- Sr. Antonio me desculpe, estava distraída.

- Parece que hoje passou o dia inteiro distraída.

- Desculpe.

- Tudo bem, vá para casa e descanse foi um dia cheio hoje.

- Obrigado. Sr. Antonio?

- Sim

- Conhecia aquele rapaz Denis, não conhecia?

- Sim, gostava dele, e me fez ganhar muita grana, senti muito que ele tenha sido despedido, o rapaz que cuida de meu dinheiro não e lá essas coisas.

- O Sr. acredita mesmo que ele tenha feito tudo isso que estão falando.

- Não, não acredito, ele era um bom rapaz, de bom caráter, direto, nunca tive nenhum motivo para suspeitar nada contra ele. Mas porque essa curiosidade repentina?

- Nada, é que cruzei com ele logo cedo e estava no bar bebendo.

- Isso é ruim.

- É, muito ruim. Acho que já vou indo, até segunda.

No final de semana fui com minhas amigas no Bar Brasil, como sempre. O restante dos dias da semana passou lenta e triste principalmente porque Denis estava todos os dias no bar. Tinha muita pena dele.

Estava voltando para casa, ainda bem que a sexta feira chegara, foi uma semana interminável e eu não podia continuar desse jeito, precisava parar de me preocupar com esse cara, afinal de contas ele não queria ser ajudado. Eu fiz aquilo que achei o que era certo, tinha feito minha boa ação, então agora chega.

- Está ouvindo Bella, chega vamos tocar a vida pra frente entendeu?  É isso aí, vamos ligar para as garotas e sair para curtir a noite, quem sabe não arrumo um namorado.

Eu devia estar louca, falando sozinha, era um mal sinal.

Senti o cheiro de eucalipto, abri a janela e respirei fundo, era tão bom aquele cheiro, parei o carro e desci, andei por ali algum tempo, lágrimas começaram a correr de meus olhos, sentia um aperto no peito, mas não tinha explicação para aquilo.

Resolvi voltar para casa afinal tinha uma noitada pela frente, vi um carro estacionando torto, meu coração bateu mais forte, Denis desceu cambaleando e botando os bofes pra fora. Disse pra mim mesma.

- Que se dane a vida é dele. – Liguei o carro e saí depois de alguns metros parei.

- Droga eu era uma sem noção mesmo, mas como podia deixá-lo lá, naquele estado. - Desci é fui até ele.

- Denis você está bem. – Meu Deus está todo machucado! Se meteu em alguma briga? Nossa tá de novo cheirando mal. – O que é que está fazendo com sua vida cara?

- Vai embora, não preciso de ninguém, muito menos de você garota.

- Claro que precisa, olha só pra você, não consegue nem ficar em pé, e ainda está sagrando, segure-se em mim vamos.

- Caí fora.

- Droga, eu devia cair fora mesmo, seu retardado, mas não vou, e você vai comigo por bem ou por mal.

A princípio ele resistiu, mas eu o segurei forte e então desistiu, e o levei novamente para meu apto. Desta vez ele não estava tão embriagado como antes e pode tomar banho sozinho. Por sorte ainda tinha algumas de suas roupas lá.

- Tome, coloque estas roupas limpas, e depois vamos tratar destes machucados. – Ele saiu do banho ainda cambaleando.

- Sente-se na cama, Denis, eu já vou.

- Fico aqui mesmo no sofá, não quero atrapalhar você.

- Não discuta comigo, vá para a cama. – Ele resolveu não discutir e fez o que mandei. Já tinha preparado todos os medicamentos necessários. Ri comigo mesma de meus pensamentos. Bells, você é malvada mesmo, vai fazer o rapaz sofrer.

Cheguei perto dele e fiz uma análise prévia. Havia alguns arranhões em seu rosto, seu olho estava um pouco roxo, mas não estava muito ruim, seu braço tinha um corte mais fundo e sua mão direita estavam piores toda raspada. O que estava ruim era meu coração que resolveu disparar com tamanha proximidade.

- Preparado? – Perguntei. Ele apenas balançou a cabeça afirmativamente e fechou os olhos com força. – Ri de sua expressão.

- Aaaaaaaaaaaiiiiiiiii, isso está ardendo muito. – gritou. - Está querendo me matar?

- Fique quieto, é um ardidinho de nada.

- Isso porque não é você que está sentindo.

- É realmente não estou sentindo nada. E se não tivesse entrado em briga também não precisaria estar sentindo. – falei em tom de deboche.

- O cara me ofendeu e eu não podia deixar barato.

- AAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIII, P.Q.P., tá ardendo mais ainda, Cara ... AAAAAAIIIIIIIIIIII, dá pra ser mais delicada?

- Impossível estou sendo o mais delicada possível! Não se já covarde, seja homem, deve ter doido mais levar os socos na cara do que um simples remedinho.  Boquinha suja heim!!! Mais e aí vai me contar ou não como entrou na briga.

- Um cara que nem conheço me chamou de trapaceiro, que provavelmente eu estava querendo levar a ruína meu cliente a mando de alguém e me chamou de ladrãozinho barato, e que mereci perder o emprego.

- Haha! Foi por isso então? Eu provavelmente voaria pra cima desse cara também, se falasse assim comigo. Mas pelo visto você não levou a melhor.

- Não sei bem, mas ele também não saiu inteiro, dei um bons murros na cara daquele cretino, mas tinha muita gente no bar e apartaram a briga, e botaram nós dois pra fora. Ele estava com alguns amigos e o levaram embora.           

- E você foi para os pinheiros.

- Não sei bem com fui parar lá, só me dei conta quando já estava na estrada. Ele parou de falar por um instante, e depois me encarou.

- Bells você acredita que não fiz aquilo, não acredita? – A expressão dele era de sofrimento, tive a impressão de que precisava de ouvir que  eu acreditava.

- Claro que acredito Denis, se não acreditasse não estaríamos aqui agora.

- Obrigado, por acreditar em mim. – Uma lágrima escorreu de seus olhos.

- Tudo bem, agora vá dormir. – E como uma mãe que cuida de seu filho, esperei que se deitasse, arrumei sua coberta, dei-lhe um beijo na testa.

- Boa noite Denis, tenha bons sonhos. - Acho que dormiu antes mesmo que eu apagasse a luz.

Novamente dormiu a noite toda, e meu programa com as garotas foi por água abaixo, inventei uma desculpa de que não estava me sentindo bem, mas não contei nada a elas sobre Denis.

Deixei a porta do quarto aberta e fiquei um longo tempo olhando para ele dormindo.

Como um garoto podia ser tão bonito assim? Parecia um artista de novela, aquele cabelo castanho claro meio puxado para o loiro, um rosto perfeito, olhos verdes, corpo de quem frequentava sempre a academia e aquele sorriso que me deixava tonta.

Minhas amigas tinham razão, eu nunca havia prestado muita atenção nele, mesmo porque que chance eu tinha? Não era para o meu bico, então pra que ficar suspirando a toa.  – Ai meu Deus falando sozinha de novo.

Tive um pesadelo horrível aquela noite, e nada como uma noite mal dormida para se acordar irritada e com olheiras.

Senti cheiro de café, dei uma espiada na cozinha, Denis estava junto ao fogão.

- Oi – Disse

- Oi – Respondeu

- O cheiro está bom.

- Fica pronto num minuto, se quiser tomar um banho enquanto isso?

Ele parecia tão normal. Tão, tão sexi. Estava só de bermuda, sem camisa. - Pare com isso Bella, ele não é pra você - Pensei comigo, Você só está com pena só isso. - Saí de lá o mais rápido que pude e fui para o chuveiro, precisava mesmo esfriar as idéias.

Quando voltei a mesa estava posta. Ele não disse nada apenas puxou a cadeira e fez sinal para que eu me sentasse. Tomamos o café em silencio, não sabia exatamente o que dizer. Ele resolveu falar primeiro.

Denis - Não entendo porque ainda está me ajudando.

Bella – Tá parecendo um disco quebrado, sempre repetindo a mesma coisa, mas vou responder mesmo assim, pelos mesmos motivos de antes eu acho. – Percebi que enrugou a testa e fechou a cara.

Denis – Você não imagina que pode estar errada?

Bella – Não.

Denis – Porque?

Bella – Andei conversando com meu chefe sobre você e ele tem a mesma opinião que eu.

Denis – Posso saber quem é ele.

Bella – Dr. Antonio um dos sócios da CAE Advogados.

Denis – Eu o conheço, é um bom cara.

Bella – Ele me disse que você lhe proporcionou bons lucros.

Denis – É verdade. Quer dizer então que trabalha para Dr. Antonio, é por isso que passa todo dia em frente ao bar?

Bella - É. E sempre está lá não é?

Denis – Meu café da manhã nestes últimos tempos. – Sorriu meio constrangido.

Bella – Não precisa ser assim, precisa reagir procurar outro lugar, outra cidade, outro país, uma nova vida, outro emprego.

Denis – Você não entendeu o que lhe falei da ultima vez, minha vida está acabada, fundo do poço, ninguém vai me dar emprego.

- Bella – Tente outra coisa então, qualquer coisa, vá vender cachorro quente ou pipoca, em vez de ser um idiota covarde e se atirar na bebida, isso nunca resolveu problema de ninguém e não vai resolver o seu também.

- Denis – Só porque me ajudou não quer dizer que tenha que se meter na minha vida. Eu não vou admitir que qualquer idiota venha me dar conselhos. Nem você nem ninguém, eu já sou bem grandinho e sei muito bem me cuidar. – Fiquei olhando pra ele espantada, sem saber o que dizer, então continuou.

Denis - Acho melhor ir embora, e da próxima vez não seja a boa samaritana e me deixe lá. – Disse já indo em direção à porta, Havia tanta raiva em suas palavras que o sangue subiu a minha cabeça, e como eu não era sangue de barata, fui logo respondendo.

Bella - É pode ir mesmo, seja covarde, imbecil e idiota, acabe com sua vida e já vai tarde, e não se preocupe que não vou mesmo mais te socorrer, e não caia no meio da rua, porque passo por cima de você com as quatro rodas.

Vi ele saindo e batendo a porta.

O que é que havia acontecido ali? Nós estávamos brigando. E porque eu estava chorando, eu não tinha mesmo nada com a vida dele, que se matasse se quisesse, nunca mais ia ajudar aquele idiota egoísta e mal agradecido.

- Aiiiiiiiiii, MERDA, MERDA, MERDA. – Prendi minha perna na cadeira ao tentar me levantar. Chutei ela longe.

- MORRA, MORRA, MORRA, Denis Nascimento Prado e Alcântara, você não merece minhas lágrimas.

Imediatamente me arrependi do que disse e fiquei encarando a porta, será que devia ir atrás dele?