Dangerous Feelings escrita por Razi


Capítulo 2
Vida real




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A manhã estava lindíssima para começo de outono com as folhas secas e o ar agradável.

Saio da janela de meu quarto pequeno mais aconchegante.

Procuro alguma roupa em meio à pilha que estava em meu guarda-roupa. Acabo por escolher uma blusa branca de manga longa e de abotoar com pequenos enfeites da mesma cor. Uma calça negra justa e um tênis qualquer me fosse confortável.

Olho de relance para as sandálias de saltos monstruosos que minha irmã retardada me dera tempos atrás, na verdade ainda me dava.

Não sou vaidosa certamente, mas ter certos cuidados ainda me salvam.

Como por exemplo, ficar longe de saltos.

Vou para o banheiro onde tiro minha roupa de dormir deixando ver no espelho do armário a brancura da minha pele deixando os olhos acinzentados mais evidentes, não posso dizer que meu cabelo negro não seja bonito.

Apenas era comum.

Ondulado e meio longo.

O problema que mais me assolava não era minha magreza, mas a cicatriz que tinha nas minhas costas proveniente de algum tombo quando criança que por mais que force minha mente atrás dele, não consigo encontrá-lo em lugar algum.

-Selena – grita minha irmã de algum lugar da casa.

-Cincos minutos – retribuo no mesmo tom enquanto entrava na banheira.

Submerso deixando que cada parte de meu corpo seja encharcada pela água fria que faz meus pelos eriçarem.

Deixo meus olhos fechados por mais alguns instantes antes de abri-los novamente enquanto emerso. Procuro oxigênio por cada canto do banheiro sentindo que o cheiro de eucalipto estava ficando enjoativo. Pego a toalha creme que deixei repousada em cima da pia, me enrolo nela saindo do banheiro indo me vestir.

Terminado essa fase, sigo direto para a de maquilagem onde fico presa apenas á acentuar minha palidez com um pouco de cor nas bochechas e nos lábios.

Faço um rabo de cavalo e depois pego minha mochila que não estava pesada hoje. Já que muitas eram as vezes que não levava livros para o colégio.

Levar para que afinal de contas?

Se tudo que preciso é prestar atenção no que o professor diz?

Quando entro na cozinha, Mikelly já acabava de por torradas na mesa que já continha leite, suco de manga e cereais que não tocava nem que ela me obrigasse.

-Bom-dia, coração – me cumprimenta ela deslizando para a cadeira.

Deixo a mochila no pé da minha cadeira enquanto me sento fazendo uma careta pelo apelido.

Mikelly ri rapidamente antes de levar sua xícara a boca.

Ela talvez fosse exemplo de irmã e secretaria perfeita.

Possuía um cabelo negro que adotara o ultimo corte da moda, olhos azuis que pegara da nossa mãe, o corpo escultural sem nenhuma imperfeição.

A considerava mais minha mãe do que a que me colocou no mundo que morrera no acidente de avião junto com meu pai oito anos atrás. Não sentia falta da presença dela na casa, mas do meu pai era uma situação completamente diferente.

Pego uma torrada passando a geléia de abacaxi antes de levá-la a boca com Mikelly falando sobre nosso passeio do fim de semana.

-Que talvez irmos para a casa de praia? – indaga ela me olhando pensativa.

-Carlisle vai ficar muito satisfeito de não ter sua secretaria por perto – a lembro com ironia.

Ela deixa a censura ficar em seu rosto enquanto apenas dou de ombros.

-Não está animada? – indaga ela mais parecendo uma afirmação.

-Claro que estou – digo rapidamente antes que comece a pensar besteira, ela tendia a fazer muito isso – Apenas estou pensando em como terei um dia longo pela frente.

-Algum problema no colégio? – indaga ela com certa preocupação na voz.

-Até onde sei nenhum – digo pegando outra torrada – Mais não é nada disso que estou me preocupando.

-E então o que? – indaga ela com uma curiosidade evidente.

-Um certo garoto com quem preciso prestar contas – digo despreocupada.

-Vai dar um fora no coitado? – indaga ela com um sorriso no canto dos lábios.

-Chego a pensar dessa maneira – suspiro deixando o resto do suco no copo enquanto me levanto – Tenho que ir agora, nos vemos quando chegar.

-Chegarei tarde – avisa ela meio hesitante, depois relaxa ao ver minha expressão de compressão – Vá para cama cedo.

-Se esqueceu que tenho apenas 17 anos? – indago com sarcasmo bem claro.

Ela faz uma expressão sugestiva enquanto me limito a rir rapidamente antes de sair de casa.

Meu Camaro SS prata estava como deixei no cair da tarde de ontem na garagem me esperando ao lado do Dodge de minha pródiga irmã. Abro a porta jogando minha mochila para o banco do carona nem reparando no monte de trecos que havia no banco traseiro.

Quando retornasse do colégio cuidaria de limpá-lo com certeza.

Giro a chave na ignição enquanto a musica de Rihanna já entoava no som acoplado no painel.

Fiquei tentada a cantarolar alguns trechos de Only girl in the world, mas era viável que eu mantivesse minha voz de ganso longe de cantoria.

Assim até chegar ao colégio apenas fiquei escutando o CD da cantora dado o momento de sair do meu carro e inalar o cheiro da escola secundaria Kisilan com alguns dos alunos no gramado da frente do colégio que ainda mantinha a mesma fachada por mais de dez anos.

Uma mudança não seria uma má idéia.

Caminho em direção a um lugar debaixo de uma das arvores perto da entrada onde algumas garotas conversam em seus grupos e os times aclamados do colégio concentram-se.

Vou para uma arvore onde me encosto sentindo o vento bater de contra meu rosto agradavelmente. Fecho meus olhos por um segundo antes de abri-los novamente me deparando com meu ex aos amassos com a líder de torcida que se fosse qualquer outra não estaria tendo tanto rancor assim.

Acho que não devia me lembrar que ele faz parte do time de basquete, era aclamado e na época que foi há cerca de três meses atrás, o par perfeito para integrante do grupo de torcida.

Só que agora não passa de mais um idiota que Loren fizera seu sem fazer grande esforço.

Essa foi a principal causa de ter saído do grupo e cair no que chamo de desleixo social. Pois, estamos no colégio onde se há aquela necessidade de fazer parte de um grupo e desde que sai do que antes estava não encontrei nenhum onde pudesse me encaixar.

Isso não me importava tão profundamente como se pensa, na verdade nada me importa desde sei lá...

O sinal toca me tirando de meus devaneios.                      

Levanto-me pegando minha bolsa e tirando as folhas que estavam em minha calça e logo depois caminho rumo a entrada do colégio.

Ah é claro que não possuo amigos, até posso parecer à garota deslocada, anti-social e tudo que vem no pacote, mas não é assim que a coisa anda.

Converso com metade do colégio, só que não para sair, fofocar de algumas coisas, contar segredos, essas coisas de amizade...

Entro na sala retribuindo os cerca de vinte “Bom-dia Selena” que recebo. Ajeito-me em uma carteira na fila colada a parede que dava visão para rua enquanto as demais pessoas entravam na sala conversando animadamente.

Deixo um suspiro escapar quando me ajeito na carteira com a intenção de dormir, mas antes que fosse capaz de fazer uma coisa dessas a professora entra na sala com uma pilha de trecos debaixo do braço mostrando seu sorriso jovial e os olhos cintilantes negros atrás do óculos de armação antiga.

Parecia um artigo de antiquário.

Endireito-me na cadeira para escutá-la melhor.

-Temos um novo aluno hoje – começa ela limpando a garganta – Trata-se de um rapaz vindo da Romênia que espero que tratem-no com...

O ressoar da porta sendo batida e depois aberta faz com que a professora pare sua brilhante apresentação e que nós nos deparamos com a figura miúda e pomposa do diretor acompanhado de um rapaz que deveria ter o dobro de seu tamanho.

O cabelo castanho avermelhado era desgrenhado, caia até um pouco alem de sua nuca, olhos acinzentados tendo a íris em tom verde-claro, a pele bronzeada era o grande destaque no corpo atlético e de postura ereta com o rosto sereno.

Ele era alto e com músculos bem evidentes.

Até parecia que estava sendo expectadora de um daqueles filmes ou livros em que um novato lindo de matar chega na sua sala deixando as garotas atiçadas por ele e deixando em si uma certa sensação de desconforto ou fascínio.

Só que diferente do que acontece nessas áreas isso aqui é vida real.

Não sinto absolutamente nada pelo novato, nada misturado com nada.

As garotas sim piscam, começam a cochichar entre si, nada preocupante.

Além do que o rapaz parecia imerso na sua conversa com a professora que se esquecera do resto.

Um romeno em meio á canadenses...

Sei não.

Isso se ele for mesmo romeno, já que até onde me lembre romenos nem de longe são bronzeados.

Volto meu foco para algo outro ponto da sala enquanto a conversa do trio a nossa frente se estende por mais uns cinco minutos antes de com o sorriso da professora o novato sentar-se á duas cadeiras atrás de mim na fileira ao meu lado.

-Qual o nome do romeno? – pergunta uma certa garota que estava sentada ao fundo com certa excitação na voz.

A professora a recrimina por sua atitude inadequada.

-Pergunte-o – responde ela indicando-o com a mão.

-Vou fazer a pergunta que não fica presa por muito tempo nas línguas das garotas - começa ela querendo certamente impressioná-lo – Poderia nos dizer qual é o seu nome?

-Leon – a voz dele chega aos meus ouvidos sem provocar atração ou qualquer outra coisa - Sebastian Masters.

Há então pequenos assobios de surpresa antes de a professora chamar atenção de todos batendo palmas.

Desvio meus olhos da janela dando toda a atenção para aula sobre como a Inquisição teve inicio.

Necessariamente isso não importa a ninguém, importa?

Saber como aquela época de genocídio e psicose começou?

Paranóico é claro, mas isso é relevante.

Ainda é mais relevante escutar as garotas e boa parte dos garotos falando sobre o romeno.

Caiam na real.

O que ele tem de interessante?

Beleza?

Metade dos garotos do colégio tinham.

Mistério?

Um terço dos garotos possuíam isso.

Educação?

Quinze garotos devem ter também.          

Francamente perder tempo pensando nisso é totalmente insano.

Começo a copiar o apontamento que a professora escrevera no quadro. Por mais que não seja fã de escrever, às vezes se era necessário.

Ouço como todo o resto das pessoas o sinal tocando marcando o final da primeira aula.

Abaixo minha cabeça querendo tirar um cochilo enquanto o professor não chega quando sinto que alguém se aproximava de Leon.

E que comece a caçada.

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Notas finais do capítulo

Até o próximo cap.
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