Ameaça escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 1
Capítulo 1




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          Kaoru se levantou lentamente da cama, esfregando os olhos. Suspirando, espreguiçou-se enquanto caminhava para a cozinha. Passando pela sala, ele notou a luz do abajur ao lado da poltrona acesa, além de vários papéis espalhados pelo chão e uma garrafa de cerveja vazia.
          Colocando dois dedos da mão direita sobre os lábios, Kaoru estranhou o estado da sua sala. Não se lembrava de ter feito tudo aquilo, muito menos de ter dormido na cama. Olhando para o próprio corpo, viu que estava vestido com as roupas do dia anterior. Bom, deveria estar com tanto sono que não se lembrava de ter ido para a cama.
          Recolhendo os papéis soltos e a garrafa, corrigiu-se mentalmente: deveria estar com muito sono e bêbado. Ou pelo menos ligeiramente alto.
          Arrumou os papéis cuidadosamente sobre a mesa onde estava o abajur, que foi imediatamente desligado pelo guitarrista. Entrou na cozinha, abrindo a geladeira em busca de comida. Que aliás, não estava em lugar nenhum.
          - Novidade... - Kaoru murmurou sarcasticamente. Ele vinha se esquecendo de abastecer a casa com uma freqüência assustadora. Era quase normal ele simplesmente esquecer de coisas triviais, ou não se lembrar do que tinha feito durante a noite ou em um determinado período da tarde, por exemplo. Embora uma voz na sua cabeça dissesse que ele deveria ver um médico, outra voz argumentava que a banda demandava quase todo o seu tempo.

          Depois de um banho rápido, Kaoru foi para o estúdio mais uma vez sem tomar café da manhã, coisa que apenas contribuía para piorar seu humor. Que com certeza não iria ficar melhor se Die estivesse inspirado para irritá-lo.
          Sem surpresa alguma, o homem de cabelo roxo escuro desceu do carro no estacionamento, constatando que ninguém havia chegado ainda. Como sempre, o primeiro a trabalhar.
          Fazia apenas alguns minutos que Kaoru estava sentado à uma mesa dentro do estúdio quando Die irrompeu pela porta.
          - Ohayou, ridaa-sama!
          Kaoru apoiou a face nas mãos. Era um dos dias em que Die estava inspirado.
          - Ohayou, Daisuke.
          O guitarrista sorriu abertamente e puxou uma cadeira, sentando-se ao lado de Kaoru. Revirou os bolsos, de onde tirou um cigarro.
          - Não acenda.
          - Pode parar. Não comece a imitar o Shinya. Ele ainda nem chegou.
          Kaoru olhou torto para o homem ao seu lado. Pelo visto, o fato de tê-lo chamado de Daisuke não tinha feito Die perceber que ele não estava em um bom dia.
          - Nós vamos começar logo, Die. Não precisa acender agora.
          - Kaoru, você sabe tão bem como eu o quão horrível é não fumar quando se tem vontade.
          Kaoru suspirou com raiva e voltou aos papéis das novas músicas que estava trabalhando.
          - Auto-controle, Die. Auto-controle.
          - Ahhh... Essa é a razão pela qual você parece imune ao Toshiya? Auto-controle? Quando na verdade você está morrendo de vontad...
          - Ando Daisuke. - Kaoru virou-se perigosamente para Die. Não precisou dizer mais nada para fazer entender a mensagem que queria: me deixe em paz.
          Die suspirou e acendeu o cigarro, ignorando os protestos feitos por Kaoru. Apoiando a cabeça no encosto da cadeira, ficou olhando para o teto, com aparência de total descaso pelo mundo.
          - Sabe Kaoru... Você deveria ser menos responsável.
          - Você deveria ser menos relaxado.
          - Ó todo-poderoso líder! Você consegue ser estressante quando quer. - Die levantou-se da cadeira com um solavanco, que fez Kaoru torcer os lábios em um sorriso carregado de ironia. Ele? Estressante? Certo.
          - Obrigado, Die.
          - Disponha. Eu só quero que você viva, sabe? - Die continuou conversando, sem perceber que Kaoru estava a ponto de matá-lo.
          - Alguém precisa cuidar do futuro da banda.
          - Geez, Kaoru! Banda, banda, banda! Você e o Yoshiki deviam dar as mãos e ir passear! Quem sabe assim não melhoram as coisas?
          O olhar gélido de Kaoru na direção de Die foi o suficiente para que o guitarrista de cabelos flamejantes se abaixasse e escapasse de um cinzeiro voador. Kaoru tinha uma mira espantosa.
          - Ando Daisuke! Você vai perder seu emprego se continuar assim!
          Nesse exato momento, Shinya e Toshiya surgiram na porta, ambos com caras engraçadas e aparentemente sem entender nada da situação.
          - Anou... Kaoru?
          O referido guitarrista se virou na direção da porta, ainda com raiva, encontrando Toshiya e Shinya parados. Suspirando exasperadamante, pousou de volta na mesa o segundo cinzeiro que teria voado para cima de Die, não fosse a interrupção de Shinya. Toshiya o olhava de uma forma preocupada.
          Kaoru se sentou na cadeira que ocupava antes, enquanto o baixista e baterista entraram. Toshiya pendurou seu casaco rapidamente e pegou um copo de água para o guitarrista, sentando-se ao lado dele. Shinya olhou para Die, que não conseguia conter um sorriso e para Kaoru.
          - Die vai perder o emprego?
          - Vai.
          - Não.
          Kaoru e Die responderam ao mesmo tempo coisas diferentes e o guitarrista de cabelos vermelhos começou a rir descontroladamente, saindo do cômodo para ir ao banheiro, sinalizando alguma coisa para Shinya.
          - O quê aconteceu aqui? - Toshiya perguntou.
          - Nada. Die está insuportável hoje.
          Shinya arregalou os olhos, depois de ver os gestos de Die.
          - A promessa!
          - Promessa? - Toshiya perguntou, enquanto apoiava o braço direito na mesa e descansava sua cabeça em cima do mesmo - Que promessa?
          - Die tinha me prometido que conseguiria fazer Kaoru sair do sério em menos de cinco minutos, ontem.
          - Como se precisasse de uma promessa.
          Todos olharam para a porta, onde Kyo estava. Fechando a porta atrás de si e tirando os óculos, Kyo deu de ombros e se dirigiu para o seu lugar usual na mesa. Cumprimentou os presentes com um leve aceno de cabeça.
          - Bom... Já que o Kyo está aqui... Alguém chame o Die. - Kaoru falou quase sem mexer a boca - E rápido.
          Shinya aproveitou que estava de pé e saiu correndo até o banheiro onde o outro guitarrista havia entrado. Toshiya apenas levantou e tirou o copo de água da mesa, trazendo uma jarra inteira e mais cinco copos para a mesa. Kaoru não conteve um pequeno sorriso ante o gesto gentil do baixista.
          - Ah, Kaoru. Trouxe os papéis. - Kyo passou algumas folhas rabiscadas para Kaoru, que as pegou e olhou com interesse. Nesse meio tempo, Shinya voltou com Die, sendo que o guitarrista exibia um sorriso que estava irritando o homem de cabelo roxo.

          Os dois se sentaram, e começaram a discutir o arranjo a ser feito para a próxima música. Kyo havia escrito a letra e Kaoru encarregou Shinya e Die para ajudá-lo, enquanto ele e Toshiya preocupavam mais com a música.
          Baixista e guitarrista saíram da mesa e foram para o cômodo em anexo. O silêncio era maior, e ocasionalmente eles ouviam alguma insistência de Shinya para que Die ou Kyo apagassem um cigarro.
          - Não sei se foi uma boa idéia deixá-los lá. - Kaoru ponderou, enquanto escrevia algumas notas no papel à sua frente.
          - Kaoru, deixe estar. Você não precisa se preocupar com eles... - Toshiya murmurou, enquanto tocava as notas escritas por Kaoru em um violão. Parou, tocando de novo a sequência - Ficou estranho.
          - Ficou sim... - Kaoru apoiou o queixo na própria mão fechada, enquanto pensava no arranjo. - Mas não fique igual ao Die, por favor.
          - O que ele disse? - Toshiya sorriu, curioso. Kaoru rescreveu o trecho e posicionou as mãos de Toshiya no violão, tocando com ele a primeira parte, para depois o baixista fazer tudo sozinho. Os dois balançaram a cabeça, aprovando silenciosamente.
          - Para eu dar as mãos para o Yoshiki e ir passear no parque... Ou alguma coisa assim. - explicou o guitarrista, enquanto prosseguia no arranjo. Ouviu Toshiya rir baixinho do seu lado.
          - Gomen ne, sei que não deveria rir, mas... Kaoru, seu ponto fraco é o Yoshiki. Você fica muito diferente quando o assunto é ele, e se o Die queria irritá-lo, pegou a parte certa. - Toshiya continuou rindo, e esticou-se para pegar um copo de cerveja que estava ao lado do sofá.
          Kaoru forçou um sorriso. Isso porque ele não tinha mencionado a parte em que Die tinha usado o baixista para irritá-lo.
          Quando Toshiya ia se manifestar a respeito das novas notas, ouviram batidas na porta. Kaoru respondeu.
          - Haitte kure.
          Um homem do prédio entrou, com bolos de cartas diferentes nas mãos. Os dois homens se entreolharam: correio.

          - Aqui estão... As de vocês. - o homem entregou uma pilha grande para Toshiya, e uma ligeiramente menor para Kaoru. Depois voltou à sacola de onde provavelmente tinha tirado as cartas, entregando um pacote para Kaoru.
          - Já entreguei as cartas dos outros... Acho que algumas cartas suas podem estar misturadas com as dele, Niikura-san... - apontou para os dois - Porque ontem à noite o rapaz que estava separando as cartas derrubou tudo. Bom, era só isso.
          O homem se retirou, deixando os dois em silêncio momentâneo, quebrado pelo barulho que vinha do cômodo vizinho. Vidro quebrando.
          - Alguma fã deve ter chamado o Kyo de kawaii... - Toshiya murmurou, enquanto já abria a terceira carta.
          Kaoru concordou inconscientemente com a cabeça, colocando as cartas de lado e pegando o pacote. Era um pacote comum, ordinário, mas enquanto rodava o embrulho nas suas mãos, descobriu que não havia remetente nenhum.
          - Estranho, não tem endereço para resposta.
          - Não? - Toshiya ergueu o rosto da sua pilha, ligeiramente vermelho no rosto. Kaoru sorriu ao ver o baixista corado.
          - Oh, alguém se empolgou nas cartas, Totchi?
          - Iie! Não é isso, é que...
          Kaoru riu.
          - Tudo bem, tudo bem. Não vou perguntar. Achei que estivesse acostumado com esse tipo de coisa.
          Toshiya baixou a cabeça, murmurando.
          - Os fãs sempre inovam. - suspirando, voltou a sua atenção para o guitarrista, que ainda tinha um sorriso estranho nos lábios - O que estava dizendo?
          Kaoru piscou, saindo de uma espécie de transe. Em seguida, mostrou o pacote para Toshiya.
          - Sem remetente.
          - Okashii...
          - De fato.
          Os dois homens ficaram observando o pacote durante um tempo, até que Kaoru decidiu abri-lo. Estava curioso para saber quem poderia ter entregado aquele pacote, já que pelo correio não havia vindo. Estranho... Que fã não gostaria de ter uma oportunidade de ter sua carta lida e respondida pelo seu ídolo?
          Arrancou o barbante que fechava a caixa, e abriu-a. Encontrou apenas uma folha de papel dobrada, no fundo. Franzindo as sobrancelhas, Kaoru retirou o papel e o desdobrou para ler.
          O guitarrista descobriu apenas duas frases, escritas com uma máquina de escrever.

"A cada segundo que vivemos, nos aproximamos mais da morte.
Quanto tempo falta para a sua, Kaoru?"

          Os olhos de Kaoru se arregalaram, e ele deixou cair a caixa depois de olhar para a mesma durante alguns segundos. Toshiya estranhou o comportamento do amigo, colocando as cartas de lado e pegando a que Kaoru tinha lido. Passando rapidamente os olhos pelo texto, ele jogou a carta na mesa, espantado. Olhou para o guitarrista, e viu que ele estava encostado no sofá, com os olhos fechados.
          - Kaoru? Não ligue, foi só uma brincadeira... Brincadeira de mal gosto, mas não foi nada sério. - Toshiya sacudiu o outro homem de leve, afastando mechas de cabelo da frente do rosto de Kaoru para poder vê-lo melhor - Vamos, não ligue.
          Kaoru inspirou profundamente e abriu os olhos, olhando para a caixa que estava no chão. Em seguida, voltou-se lentamente para Toshiya, encarando o baixista.
          - Não acabou. Olhe... Olhe a caixa.
          Franzindo a testa, Toshiya usou uma mão para pegar a caixa que estava caída, enquando a outra segurava a mão esquerda de Kaoru, com gentileza mas ainda sim de forma forte.
          Virando a caixa no seu colo, Toshiya quase gritou.
          Antes de sentir uma forte dor de cabeça e perder a consciência, Kaoru viu o espanto no rosto de Toshiya e ouviu seus gritos, chamando o resto da banda. E também viu as letras grosseiras, pintadas com tinta vermelha no fundo da caixa, que diziam:

"Menos do que você imagina."

Continua...


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Notas finais do capítulo

A ameaça deste capítulo foi inspirada por uma frase do videogame Chrono Cross, que no original era: "So being alive means you're creeping closer to death with every second."



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