Estava com a cabeça no colo de Julietta. Ela fazia carinho em minha cabeça e murmurava palavras de consolo, mas eu não queria ouvi-las. Não importava o que ela estava falando, nada traria meus pais de volta. Eles estavam mortos e não tinha como mudar isso.

O pior era que doía muito.

- Hey Kat... está tudo bem... Irá ficar tudo perfeitamente bem... Agora relaxe ok? – murmurava Julietta de tempos em tempos, depois de algumas palavras

Depois de alguns segundos, adormeci.

Acordei quando com o sol forte entrando em meu quarto. Espreguicei-me ainda deitada e me sentei na cama. Passei as mãos em punho sobre os olhos, esfregando-os. Abri os olhos vagarosamente avistando o meu quarto de paredes brancas com frases em preto escritas na parede.

- Somos uma família. Para sempre. – li baixinho.  Foi escrito ali devida as muitas briga de meus pais. Minha mãe pegou uma caneta e escreveu como uma lembrança que estaríamos sempre juntas. Mas não aconteceu. Ela estava morta e ninguém mudaria isso.

As grossas lágrimas começavam a escorrer pelo meu rosto pingando em minhas pernas. Passei o dorso da mão no rosto, secando-o. Levantei-me e fui até meu armário. Peguei uma roupa simples. Short jeans curto, uma blusa verde musgo longa e fina e uma lingerie bege. Fui até o banheiro e tomei um banho rápido de água gelada. Estava fazendo muito calor aqui em Sidney.

Sai do banho e me vesti. Olhei-me no espelho e me vi refletida. Uma imagem não muito bonita. Meus cabelos castanhos caiam completamente lisos – o que não me agradava - em minhas costas, minha pele oliva parecia mais clara, como se eu estive um tanto doente. Meus olhos castanhos estavam inchados de tanto que eu chorara e não tinham o brilho que tinham antes. Suspirei pesadamente enquanto passava a escova no meu cabelo.

Sai do banheiro e peguei o meu i-pod na bancada. Coloquei uma música qualquer para tocar e coloquei os fones no ouvido. Estava tocando I love the way you lie, Eminem . Era uma de minhas músicas favoritas.

Sai do meu quarto e desci as escadas calmamente na direção da cozinha. Sarafina estava lá fazendo um banquete para café da manhã. Ela não era muito jovem, mas aparentava ser. Tinha cabelos longos até a cintura de um tom leve de mel, olhos azuis e uma pele morena levemente dourada.

Ela sorriu para mim. Pude sentir a pena e tristeza dela por mim. E isso me deu enjôo. Odeio que tenham pena de mim.

Sorri para ela. Um sorriso mínimo. Peguei uma maçã e me sentei na mesa sem dizer nada. Peguei a jarra de suco e coloquei um pouco no copo. Era suco de laranja, o meu favorito. E o favorito de meu pai. Suspirei pesadamente levando o copo aos lábios.

Bebi o suco e comi a maçã com calma, em um silêncio total. Fiquei de pé e levei o copo a pia. Sarafina me olhou com a testa franzida

- Não vai comer Srta. Petrova? – perguntou ela colocando os ovos fritos em cima de um papel toalha para absorver o óleo.

- Vou correr um pouco. Termino assim que voltar. – falei sorrindo para ela.

Coloquei uma sandália rasteira dourada e sai de casa. O sol, mesmo que fosse de manhã, estava forte como todo verão. Me alonguei na entrada da casa e abri o portão, saindo do jardim. Comecei a correr pela calçada prestando atenção na música que tocava.

Depois de alguns minutos correndo, eu pingava de suor. O sol estava mais forte e as pessoas começavam a sair na rua. Sentei-me em um banco da praça e passei a mão na testa. Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto e minhas roupas, encharcadas. Abri a garrafa d’água, que comprei no café perto dali, e tomei os últimos goles.

Fiquei de pé e corri de volta para casa. Agora deveria ser umas sete horas da manhã então Julietta deveria estar acordando daqui a pouco. Cheguei em casa e tirei a sandália. Era horrível correr com sandálias, mas não queria que meus pés derretessem lá dentro.

- Sarafina? – chamei passando em frente a sala de estar. Ela estava sentada em uma poltrona lendo um jornal. Ela levantou os olhos para mim e colocou o jornal de novo na bancada. Ficou de pé e sorriu para mim

- Sim?

- Vou tomar um banho e já desço para comer. Caso Julietta apareça…

- Mando ela subir – ela sorrio para mim, vindo em minha direção – Você vai ficar bem garota. – disse ela colocando as mãos em meu rosto. Passei os braços em torno do pescoço dela, segurando as lágrimas. Não choraria. Não podia chorar.

- Obrigada… - murmurei – por estar conosco todos esses anos… Desde sempre… - minha voz estava meio embriagada

- Oh Katerina… - falou ela passando a mão em minha cabeça – Irá ficar tudo bem…

- Obrigada. – repeti me separando dela – Por tudo. – falei sorrindo

- Claro. Agora vá tomar banho que irei preparar waffles para você querida. Aqueles com canela – ela sorriu indo para cozinha.

Subi as escadas correndo até meu quarto e entrei no banheiro. Tomei outro banho de água fria lavando o cabelo com meu shampoo de cheiro de canela. Eu simplesmente amava canela. Sai do banho com o cabelo pingando. Possivelmente, eles ficariam ondulados ou com cachos longos.

Sai do banheiro com uma toalha enrolada no corpo e uma no cabelo para tirar o excesso de água. Peguei um short, de um tecido fino, esverdeado e uma blusa branca justa. Soltei meu cabelo e passei os dedos nele para desembaraçar o máximo possível.

Desci as escadas de dois em dois degraus e fui para a cozinha. Em cima da mesa havia um prato de waffles cheios de canela, ovos fritos com bacon, uma pequena jarra com suco de laranja, havia outro prato com biscoitos com gotas de chocolate e uma tigela com cereal. Também tinha uma cestinha com uns pães e croassaints. Sorri com aquela visão de tanta comida junta. Sentei-me e tirei um pedaço do waffle.

- Ah, Sarafina... – falei suspirando – se você continuar fazendo tanta comida assim, vou ficar enorme de gorda!

- Hora, você precisa comer tudo isso Srta. Petrova – falou ela sorrindo – Faz tanta ginástica, corrida e tudo mais que daqui a pouco vai ficar maaagra que nem um palito. – ela sorriu para a morena – E depois, o café é…

- A principal refeição do dia, eu sei. – completei revirando os olhos e tomando um pouco do suco.

Escutei a porta ser aberta e avistei um ser de cabelos ruivos entrar na cozinha, sorrindo. Ela se sentou ao meu lado e pegou um dos biscoitos e deu uma mordida sorrindo para mim. Deu-me um beijo na bochecha e sorrio para Sarafina. Acenou e pegou um copo e a jarra de suco se servindo.

- Bom dia Kat. – ela me cumprimentou e tomou um gole do suco – Ah, Sarafina… Fico muuito feliz de você ser a empregada da Kat… Você cozinha tãão bem…

- Julietta! A Sarafina não é empregada coisa nenhuma. É parte da família! – falei sorrindo para ela

- Ah, é. Isso ae, desculpa. – ela sorriu para Sarafina comendo outro biscoito

- O que está fazendo aqui? – perguntei apesar de não ser estranho. A gente sempre se encontrava na minha casa de manhã

- Hm – ela tomou um gole de suco – Meu tio quer que eu vá ficar com ele e com minha prima em Mystic Falls – ela sorriu para mim – E você iria junto. Você é emancipada não é? – afirmei com a cabeça – Então pronto! E depois, seria só um ano. Para você não ficar aqui sozinha já que Sarafina vai tirar umas férias em Londres com a família dela – Julietta sorriu para Sarafina.

- Julie eu…

- Hey, primeiro, não me chame de Julie! E segundo, você vai e acabou. Não vou te deixar sozinha! Não depois do que aconteceu – falou ela – e depois, eu quero que você vá. Por favor. Por mim, sua melhor amiga… - falou ela com um olhar pidão

- Vou pensar. – falei mordendo um croassaint.

Demorei um pouco para terminar meu café e depois, fui para o meu quarto com Julietta atrás de mim, cantarolando algo que não reconheci. Ela se jogou na minha cama sorrindo abertamente. Fui até o banheiro e escovei os dentes. Meu cabelo agora tinha cachos grandes e abertos.

Voltei para meu quarto e me joguei na cama ao lado da minha amiga.

- Digamos que eu vá… Seria por quanto tempo?

- O tempo que você quiser. Voltaria com você assim que você achasse que deveríamos ir embora. – ela sorriu para mim de forma acolhedora.

Era isso que eu mais gostava nela. Ela sempre se importava comigo, quase como se fossemos irmãs. Minha opinião nunca era descartada ou sem importância, meu bem estar era uma das coisas mais importantes, minha vontade era quase que uma lei e ela sempre procurava me entender e me fazer reparar o melhor para mim. Ela se importava comigo como mais ninguém nunca se importou. Talvez, melhor até do que minha mãe.

Abracei-a chorando. Ela passou a mão em meus cabelos, fazendo carinho

- Você sabe que é importante não sabe? Sabe que eu sempre vou estar aqui, importa o que acontecer… - falava ela passando a mão em meu cabelo.

Somos uma família. Para sempre. Li na parede e sentir o meu coração se apertar com a mentira daquelas palavras.

Com Julietta não seria assim. Estaríamos juntas. Para sempre.

Minhas malas estavam todas feitas e dento do táxi. Foi necessário muito esforço para as minhas malas e as malas de Julietta dessem dentro do porta-malas.

Abracei Sarafina mais uma vez, bem forte. Ela passa a mão em meu cabelo sorrindo

- Faça uma boa viagem minha querida. – ela beijou minha testa suavemente

- Obrigada. E você também. – sorri para ela – Mande um beijo para Andrômeda e para Paul. E diga à Stella que desejo um ótimo casamento para ela.

Ela sorriu abertamente. Andrômeda tinha cinco anos e Paul sete e eram os netos de Sarafina. Ela teve filhos cedo e seus filhos também. Stella era única que gostava de mim e iria se casar daqui a dois dias esperava um bebê. Eu duvidava que ela tivesse 20 anos.

- Ah, pode deixar que avisarei. Mantenha contato querida. Sabe meu número, qualquer coisa, é só ligar. – ela sorriu e me deu um beijo na bochecha. – Agora vá para não perder o vôo. – ela me abraçou rapidamente e deu mais um beijo no topo de minha cabeça.

Sorri para ela e lhe beijei a bochecha e corri para o carro. Coloquei meu óculo aviador de armação dourada da Ray.Ban e sorri para Julietta. Ela retribuiu o sorriso colocando o wayfer dela. Seria uma viagem longa. Uma viagem que tinha que me fazer esquecer a dor. Ao menos, um pouco.

Estávamos no aeroporto e o fuso horário me deixava louca. Era umas 13h em Sidney e umas 22h em Mystic Falls. Estava em um pique total enquanto as pessoas tinham uma expressão de sono no rosto.

Peguei minhas duas malas e Julietta as três dela na esteira e começou a procurar o tio dela superficialmente.

- Meu tio pediu que eu viesse porque a melhor amiga de minha prima morreu… Acho que o nome dela era Elena. Toda a cidade está arrasada. Todo mundo conhecia ela e agora – ela fez uma pausa dramática – ela se foi.

- Isso é ruim… - murmurei lembrando dos meus pais. Mortos em um incêndio horrível. Eles e mais umas 27 pessoas. Outras estavam gravemente feridas. O pequeno prédio aonde meu pai trabalha e minha mãe faz academia pegou fogo. Foi uma coisa estranha, surreal e chocante. Muitas pessoas estão em luto em toda a cidade.

- Vamos. – ela cutucou meu braço me arrastando até um homem de pele morena e uma ruiva de pele clara e cabelos ruivos. Ela e Julietta se pareciam um pouco. Quer dizer… A cara de anjo, os cabelos vermelhos, a pele clara… Mas Julietta parecia um pouco mais adulta que a garota baixinha de cabelos cacheados.

- Bonnie, minha amiga Katerina, Katerina, minha prima Bonnie. Esse é meu tio John (n/a: desculpem, eu não sei o nome do pai da Bonnie, então coloquei qualquer um ;s) – ela nos apresentou rapidamente enquanto abraçava a ruiva e depois o tio.

- Olá Katerina. Seja bem vinda. – Bonnie sorriu para mim me abraçando. Aquele sorriso não me parecia muito verdadeiro, mas ainda sim, sorri de volta.

- Espero que sinta-se sem casa. – falou John, sorrindo

- Ah, obrigada Sr. Bennett. – sorri para ele

- Me chame de John querida. – ele sorriu pegando uma das malas de Julietta e uma minha – Vamos? Devem estar com fome.

- Comida de avião é horrível. – falou Bonnie fazendo uma careta e eu ri levemente

É, não sei o que era, mas eu me senti melhor. Alguma coisa me dizia que tudo ficaria bem. E eu esperava que fosse verdade.