Teach Me How To Love escrita por HinaKaulitz


Capítulo 2
Capítulo 2: Encontros




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Há males que vem para bem. Foi isso que eu aprendera com a morte de minha mãe. Eu, Eduarda Bergantine, filha da melhor amiga de Engel, fora adotada por esta depois da guerra contra Aqua. Guerra a qual levou seu filho, Hero Holzbach à morte.

Ninguém soube ao certo o que aconteceu com Hero. Engel passou por uma fase de tremenda tristeza, que aos poucos, com o passar dos anos, sumiu. Eu acabei suprindo a falta de Hero.

Hoje, passado três anos do incidente, eu acabara de completar meus dezesseis anos. Ganhei a festa mais bonita que eu poderia querer. Confesso que mamãe me faz muitos mimos, mas eu sou muito agradecida a ela. Por muitas coisas, desde aquele fatídico dia.

Seria mais um dia monótono que eu passaria na biblioteca do palácio. Eu passei o dia lendo livros clássicos e estudando, depois descansaria. Aquela biblioteca era muito curiosa, não só por ser antiga, mas também por ter uma parte proibida. Engel proibiu-me de ir para a ala leste da biblioteca. Mas hoje eu estava a fim de quebrar aquela regra, afinal, eu acabei de completar meus 16 anos e não pode ter nada de tão assustador em uma biblioteca.

Aproveitando a distração do Soldier que me vigiava na biblioteca, vagueei até a ala leste. Parecia tudo normal. Olhei os livros, eram como os outros: clássicos. Em uma prateleira, encontrei um livro de capa preta. Aquele livro era diferente dos outros, era sobre rituais. Engel me esfolaria se eu lesse aquilo, mas qual o perigo? Ela não está aqui mesmo.

Peguei o livro e olhei sua capa, tinha um desenho esquisito dentro de um círculo. Pouco depois, o vão entre aquela prateleira e a da esquerda desce, liberando uma passagem. Eu olhei divertida para aquilo. Arrá! Então é isso que a mami Engel esconde? Ri internamente.

Coloquei o livro no lugar e entrei na passagem. Eu pisei em algum dispositivo que fechou a porta da mesma. O lugar estava escuro, tinha alguns lampiões, que se acenderam do nada. Segui por aquele caminho estreito chegando a uma câmara com várias escrituras, as quais eu não entendi nada. E entrei por esta câmara, achando mais câmaras e mais corredores. Aquele lugar era um labirinto. Cheguei numa câmara cuja parede fora quebrada e cujas paredes não tinham escritos. Aproximei-me da parede quebrada. Dava para ver a cidade de Aeris dali, era uma boa vista. Também dava para ver a montanha onde ficavam os presos mais perigosos de Aeris, agora abandonada.

Senti-me atraída para aquela montanha. Eu queria saber se ainda mantinham o famoso sacerdote Thor preso ali. Mami Engel nunca me disse nada a respeito. Desci uma colina íngreme e depois caminhei por uma floresta. Perto dali também tinha um riacho, que descia para Aeris.

Pouco depois cheguei à montanha. Ela era alta, mas não desanimei. Apesar de alta e irregular, ela tinha uns trechinhos que ajudavam bastante à subida. Antes do topo, tinha uma entrada atrás da queda d’água. Entrei no lugar, que estava silencioso. Logo comecei a ouvir correntes batendo.

Fiquei assustada, mas eu queria ver Thor, então continuei me aproximando. Cheguei ao final do corredor e não vi nada. Fiquei cabisbaixa e meio zangada. Mami estava certa, aquilo fora abandonado. Mas então onde eles ficavam presos, pensei olhando a parede que impedia minha passagem.

Um gemido se ouviu. Prendi minha respiração e, lentamente, virei meu rosto na direção do barulho. Havia uma cela no lado direito da parede, que era praticamente invisível pela escuridão. Para minha sorte, eu me lembrava de ter visto uma lanterna no começo do corredor. Voltei e peguei a lanterna, junto com uma caixinha de fósforos que usei para acender os lampiões presos nas paredes. Aos poucos fui enxergando as outras celas, que estavam vazias e me aproximando daquela onde eu escutara o gemido. Na última cela à direita da parede, após iluminar com a lanterna, pude ver alguém totalmente acorrentado e maltrapilho. A cela estava imunda, e aquele preso parecia que estava ali por dias, sem comer, beber, ou se vestir.

Ele estava de cabeça baixa, com os cabelos jogados e bagunçados ao redor do rosto. A cela não estava trancada, por incrível que pareça. Abri-a fazendo um barulho incômodo.

-Thor? – sussurrei.

O prisioneiro não se mexeu.

-Thor, é você? – perguntei me aproximando.

De súbito, e com uma rapidez impressionante, o prisioneiro levantou o rosto, me encarando com terríveis olhos vermelhos. A porta da cela bateu e me trancou ali. O medo tomou conta de mim. Aqueles olhos eram assustadores e me encaravam ferozmente. Obriguei minha respiração a se estabilizar, pois eu não sabia se ele era capaz de me machucar da mesma forma que fechou a cela.

Observei suas feições sujas. Seus lábios estavam costurados, ele tinha arranhões pelo corpo. Mas o rosto não era de Thor, era mais novo, muito mais novo. Fitei-o por mais uns minutos, tomando coragem.

-Quem é você? – perguntei por fim.

Ele fungou em resposta e apertou o olhar.

-Ah, desculpe – falei meio constrangida – Eu me esqueci disso – apontei para sua boca costurada.

Ele apertou ainda mais o olhar. Eu estiquei um pouco meus braços em direção a sua boca e dei um passo à frente. Ele fungou de novo.

-Calma. E-Eu não quero lhe machucar – disse nervosa.

Ele suavizou o olhar.

-Só quero saber quem é você, se você deixar, é claro – fui me aproximando. Ele não reagiu. Toquei-lhe os lábios e ele resmungou.

-Dói? – perguntei estupidamente. Ele revirou os olhos. – Tá, desculpa. Eu nunca fui costurada, se te serve de consolo – disse um pouco irritada.

Olhei ao redor. Tinha milhares de correntes prendendo aquele garoto. Tinham correntes presas nos dois extremos de agulhas que lhe transpassava a pele. A cena era desconfortável. Procurei algo que pudesse cortar os pontos. Olhei pelo chão imundo da cela e achei um pedaço de navalha. Peguei-a do chão, limpei em minha blusa e me aproximei do estranho.

-Não vou lhe machucar, só cortar a linha dos pontos. – falei gentil me aproximando do jovem. Ele não reclamou.

Cortei as linhas cuidadosamente para não lhe causar mais dor do que já sentia.

-Pronto. Está acabado. – fitei seus olhos novamente. Não estavam vermelhos, e sim num lindo tom de azul.

-Obrigado.

-Não há de que jovem... ãn... – me embolei com as palavras.

-Hero. – completou minha frase.

-Jovem Hero – falei que nem uma boba. Depois o olhei assustada – Hero? É você mesmo?

Ele trincou o maxilar.

-O que foi? Vai dizer que agora está com medo de mim? – falou grosseiro.

-Não, e por que eu teria? Você está vivo! – falei entusiasmada.

-É claro que estou você não está vendo?

-Estou, mas... Se você está vivo, por que todos dizem que você morreu? – encarei-o intrigada.

-Dizem o que? – seus olhos ficaram vermelhos.

-É que, eu não sei direito da história, mas você é o filho da Engel não é? O garoto que salvou Aeris libertando Aery e morrendo logo depois. – expliquei.

-Morrendo? Eu não morri coisa nenhuma! Eles me prenderam aqui. – falou revoltado.

-Eles quem?

-Os Soldiers! – cuspiu as palavras.

-Eles não fariam isso, você salvou Aeris! – retruquei.

-Ah é, então por que você acha que eu estou preso aqui?

Olhei mais uma vez seu estado, demorando um tempo para responder.

-Hero, a Engel ficou muito mal com o seu sumiço. Não sei quem te trouxe para cá, mas eu te achei e posso levá-lo de volta.

-Eu não quero voltar, e a Engel não se importa comigo! – enfatizou o ‘não’.

Fiquei bestificada com a resposta.

-Do que você está falando? É claro que ela se importa se não ela não teria ficado tão deprimida e...

-E não teria me mandado prender! – completou irritado.

-Mandado prender? – repeti incrédula.

-Claro! Foi ela quem aceitou que os Soldiers me prendessem depois que eu fui considerado potencialmente perigoso para Aeris.

-Isso não é possível!

-Vai discutir comigo, garota? – rosnou.

-Eduarda. – encarei seus olhos vermelhos.

-Que seja!

-Hero, ninguém sabe que você está vivo, assim como eu não sabia. Todos acham que você morreu.

-Óbvio, eles me querem fora do caminho.

-Escute, eu não entendo uma coisa. Por que a Engel te mandaria para cá?

Ele revirou os olhos antes de responder – Por que ela não quer que saibam que eu não morri.

-E por que ela faria isso? – intriguei-me.

-Por que ela e toda Aeris me considera um perigo.

-Não sei por que. – ele me olhou surpreso. Olhei-o com inocência. Eu falava a verdade – Para mim, você é o herói que salvou Aeris, e não um perigo.

Os olhos dele tornaram azuis.

-Mas para eles eu sou. – falou triste.

-Você pode me dizer por quê?

-Posso. Isso foi anos atrás, quando o sacerdote Thor armou para destruir Aeris. – ele me olhou esperando um sinal para prosseguir.

-Continue.

-Ele roubou Aqua e atacou a cidade. Os nossos guerreiros não deram conta, então Engel pediu ajuda a Stela. Mas também na adiantou.

-Estou sabendo disso.

-Até que parte você sabe?

-Eu sei que Engel e Stela foram para a linha de frente combater Thor. E um tempo depois você apareceu controlando Aery.

-E depois disso?

-Depois disso você perdeu o controle. Engel teve que lhe selar, você não resistiu ao ritual e morreu.

-Perdi o controle? – falou confuso.

-Sim. Não sei ao certo, parece que você se enfureceu com algo e se uniu a Aery.

-Pode me explicar?

-Pelo que dizem, seus olhos ficaram vermelhos que nem agora pouco e você foi absorvido pela Aery. Aery evoluiu para algo desconhecido e derrotou Aqua – ele acenou para eu prosseguir. – E depois você tentou destruir Aeris.

-Destruir?

-Sim. Foi por isso que Engel lhe selou. Para Aery te libertar e você voltar ao normal, como está agora, sob a forma humana.

Hero ficou um tempo pensativo.

-Deve ter sido isso. – pensou em voz alta.

-Isso o quê?

-Aery.

-Ah, sim. Aliás, como conseguiu invocar Aery?

-A biblioteca do palácio principal leva a uma série de câmaras, cheias de códigos. Na câmara principal tinha a relíquia de Aery.

-Relíquia? Está falando da estatueta sagrada?

-Sim, a estatueta com os códigos do ritual de libertação.

-E como você liberou? Aqueles códigos são dos nossos ancestrais!

-Você já esteve nas câmaras? – intrigou-se.

-Sim. Antes de vir para cá. Eu descobri uma passagem que dava para essas tais câmaras. Uma delas estava sem nada escrito na parede e com um buraco enorme.

-Essa é a câmara principal. Ali se encontrava a relíquia.

-E onde ela está?

-Sumiu quando invoquei.

-E o buraco na parede?

-Aery quem fez.

-Ah...

O silêncio dominou os próximos três minutos.

-Hero?

-Sim?

-Há quanto tempo você está assim? – apontei para ele todo.

-Não sei. Não tenho noção de tempo aqui.

-Comeu alguma coisa hoje? – ele riu com minha pergunta.

-Não como nada há muito tempo. – fiz uma careta.

-Ah! – dei um pulo ao me lembrar. Mexi no bolso da minha calça procurando uma barrinha de chocolate e depois a tirei. – Sorte sua, estou com uma barrinha de chocolate aqui.

O estomago de Hero gritou de fome.

-Pode ficar.  – estiquei o braço em sua direção. Hero olhou para as correntes. – Ah, desculpe. Eu me esqueci! – olhei ao redor da cela. – Onde estão as chaves?

-Não sei.

-Eu vou procurar nas outras celas depois – abri o chocolate e coloquei em sua boca. – Coma, você está fraco.

Hero comeu a barrinha inteira. Ele estava faminto. Como o prometido, fui procurar as chaves. Hero abriu o portão com o olhar. Achei em frente à cela um molho de chaves no canto da parede. Voltei à cela deixando o portão aberto. Desprendi as algemas e tirei as correntes. Por último tirei as agulhas.

-Você tem que dar um jeito nisso – falei retirando as agulhas.

-Eu sei – respondeu fazendo caretas.

-Tem que vir comigo para Aeris. Você precisa de curativos.

-Eu não posso voltar – resmungou.

-Prefere morrer aqui? – bronqueei. Hero se calou. –Além do mais, você precisa comer e trocar de roupa.

Hero ficou em silêncio.

-Obrigado. – falou de repente.

-Não há de quê. – respondi com um sorriso.

Terminei de tirar as agulhas e o ajudei a andar. Hero estava muito fraco. Quando passávamos pela porta, Hero tomou um choque e foi empurrado para dentro.

-HERO! – corri em seu socorro.

-Eles selaram isso aqui. – falou revoltado.

-Venha, levante, temos que ir.

-Não dá! Está selado! Eu não posso sair!

Pensei por um tempo.

-Já sei! Aery quebrou aquela parede, não é mesmo? Então você pode invocá-la para quebrar as paredes e atravessar as celas até chegar do lado de fora! – disse entusiasmada.

-Também não posso. Eu estou selado.

-Como assim?

-Não posso invocar Aery.

Fiz uma careta.

-E se eu contar que está aqui.

-Não! – falou ameaçador. – Escute, eu não quero que ninguém saiba que você sabe de mim, está me entendendo? Todo mundo tem que achar que eu morri, é o que a Engel quer que pensem, pode ser perigoso para você.

-Perigoso?

-A Engel pode te prender também. E este presídio pode deixar de ser abandonado.

-Então ele é mesmo abandonado? Mas você está aqui!

-Não entendeu? Eles me deixaram aqui para morrer de fome!

-Ah. Então ninguém vem aqui faz tempo?

-Ninguém.

-E você não pode sair?

-Também não.

-Tive outra ideia. Eu posso voltar aqui mais tarde quando Engel estiver dormindo, aí eu trago comida e faço os curativos.

-Quando Engel estiver dormindo?

-É. A Engel meio que me adotou – abaixei o rosto – Durante aquela guerra, minha mãe morreu. Por ser grande amiga da Engel, ela aceitou cuidar de mim. – expliquei triste.

-Ah.

-Então, eu posso voltar depois? – mudei de assunto.

-Pode.  – me virei para ir. – Mas Eduarda... – chamou.

-Pode me chamar de Duda.

-Certo. Duda, não conte para ninguém.

-Não contarei. Esse é o nosso segredo. – Falei deixando Hero ali, naquela cela imunda com a lanterna e uns lampiões que eu pegara do corredor. Eu teria que me lembrar de trazer produtos de limpeza também.

[fim do capítulo 2]


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Notas finais do capítulo

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O dedo não vai cair,e se cair eu costuro, prometo xD!

beijinhos,HinaKaulitz



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