Eu não quero falar sobre aquilo, ok? É, aquilo. O beijo, caramba! Eu tenho evitado o Minho e parece que, mais do que nunca, a gente se esbarra por aqui. Hoje mais cedo, quando acordamos lá nas barracas, os meninos se ofereceram para guardarem as coisas e nós três voltamos para casa. Eu estava saindo do banho (de cabeça baixa fitando meus pés e pensando na noite anterior) com minha toalha amarela de bichinhos enrolada no corpo e indo até o nosso quarto quando Minho apareceu na minha frente. Eu nem tinha visto ele se aproximar no corredor, e já ia esbarrar nele se o próprio não tivesse segurado meus ombros para eu não cair e ficar pelada (ou melhor, só de calcinha e sutiã) ali no meio do corredor (porque é óbvio, se eu caísse deixaria a toalha escorregar).

Eu levantei minha cabeça com as bochechas coradas para ele e ficamos nos olhando por alguns segundos antes de eu desviar e andar mais um pouco até o quarto. Maggy estava na porta nos espiando. Eu a metralhei com o olhar.

- Depois de tudo aquilo vocês não estão se falando? – ela perguntou depois de eu entrar e bater a porta com o pé.

- Sei lá. – respondi indo buscar uma roupa para vestir.

- Ah, qual é, Sun!

- Chega, Mag. – respondi séria.

Ela e Anna trocaram olhares e eu ouvi Ann suspirar alto. Vesti uma calça jeans (já disse o quanto gosto delas?) e uma regata preta em silêncio e elas voltaram a falar depois que me sentei na cama da Anna ao lado dela.

- Precisamos te falar uma coisa, Sunie. – Mag quem começou de novo.

- O quê? – coloquei as pernas para cima da cama.

- Hum... Sabe Sun, talvez seja melhor para você ficar mais longe do Minho mesmo.

- Hum? – tinha uma enorme interrogação no meio da minha testa. – Mas e vocês? O Key e o Taemin? Qual é, foram vocês quem me disseram que sentiram invejinha de mim e que queriam fazer o mesmo com “o de vocês”!

- Nós sabemos Sun. – foi a vez de Anna falar. – Mas nós não podemos mais fazer isso.

- Por quê? Anda, falem logo!

- Sun, a editora geral da revista nos ligou enquanto você estava no banho.

- E disse que uma semana talvez fosse o suficiente para nós... – Meg completou. – Por isso precisamos fazer um relatório e mandar por e-mail até as seis da tarde.

- Vocês querem dizer que...

- Nós, provavelmente, vamos ter que ir ainda essa semana, Sun. – Anna disse ao meu lado.

- Eu não quero ir. – choraminguei.

- Nós também não, Sunie. Mas é o trabalho. Nós passamos uma semana muito divertida aqui com eles, e isso se tornou uma fantasia da qual não queremos dizer adeus, mas que é preciso.

Eu respirei fundo. Não queria ir, mas sabia que era preciso antes que as coisas... bem, ficassem piores.

- Podemos fazer o relatório juntas? Não sei se vou conseguir escrever alguma coisa que preste sozinha...

- Tudo bem, Sunie. – Mag, que agora estava na minha frente, colocou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. – Fazemos juntas. – ela sorriu amigavelmente para mim.

Eram cinco da tarde quando terminamos os relatórios. Mag e Ann ficaram lá em cima no quarto para enviar os relatórios via e-mail. Eu desci até a cozinha e busquei alguma coisa para beliscar no armário branco. Fui até a sala com o pacote de chocolate Kit Kat e sentei no sofá com as pernas para cima enquanto comia uma barrinha. Deveriam saber que esse tipo de guloseima deveria ser proibida e não poderia ser deixada em qualquer lugar numa casa onde existe uma garota apaixonada. Ou... sei lá, não sei se estou mesmo apaixonada, ele só é bonito. Um coreano muito bonito.

Eu estava terminando a segunda barrinha de chocolate quando ele apareceu. Estava vindo lá de fora da casa. A última vez que o vi, foi no almoço, e eu evitei olhar para ele. Na verdade todas nós evitamos olhar muito para qualquer um deles, e parece que os cinco perceberam que o clima estava tenso.

Minho se sentou do outro lado do sofá, mais afastado, e eu coloquei minhas pernas para baixo engolindo o último pedaço da segunda barrinha de Kit Kat.

- Quer? – ofereci para não perder os modos, sem olhar para ele.

Ele quebrou uma barrinha e mordeu. Infelizmente meus olhos viram a sua boca carnudinha mordiscar o chocolate. Melhor eu não dizer que isso foi sexy.

Peguei mais um pedaço do chocolate também. Olá quilinhos a mais!

- Sunie? – ele chamou com a sua voz baixa, forte e hipnótica. Ai Deus.

- Hum?

- Quero... me desculpar. Por ontem. – ele tinha um rosto envergonhado muito fofo. Não teve como evitar observar uma coisa dessas.

Tive que me virar para ele nesse momento. E lá estava eu com uma barra de chocolate na boca olhando aquele rosto lindo novamente. Ele olhava para mim também.

- Por quê? Por eu ter ficado em cima de você e depois correr para fora da barraca?

- Eu te beijei.

- Nós nos beijamos. – corrigi. – Minho, esqueça. Eu estou tentando fazer isso e está sendo bem difícil. Porque daqui a alguns dias nós estamos indo embora! Isso tudo foi só por trabalho. E foi bom saber que existem caras legais e que morar com eles... ah, é uma fantasia.

- O quê?

Ops. Esqueci que nós prometemos não falar para eles que íamos embora.

- Hum, é. – abaixei mais a voz. – A editora ligou para as meninas hoje.

- Vocês vão embora? Para sempre?

- O quê? Hum, é. Para sempre, é... Acho. – mordi o último pedaço de chocolate.

- Não quero que você... hum, vocês– ele se corrigiu – vão embora.

- Não quero ir também. Mas nem sempre é como a gente quer, né? – suspirei.

Ele abriu a boca para falar quando Anna e Maggy apareceram na sala. Elas olharam para mim, desviaram para Minho e depois para mim de novo. Maggy me mando um olhar de “o que você tá fazendo?”.

- Hum... Sun, a gente já... enviou as coisas. – Anna disse.

- Uhum. – fiz eu me levantando.

Nós subimos para o quarto, e eu nem me despedi do Minho. Era desnecessário naquelas circunstâncias. Elas perguntaram se a gente tinha voltado a se falar de novo e se aconteceu mais alguma coisa e eu acabei tendo que dizer a elas que, sem querer, contei para o Minho que íamos embora. Uns vinte minutos depois o celular de Anna tocou, era a editora.

- Ela quer que a gente dê uma passada lá amanhã. – Anna falou nos olhando com os olhos meio arregalados.

- Você perguntou para ela se a gente ia embora. O que ela respondeu? – perguntei.

- “Falamos nisso amanhã”.

- Awh. – fiz eu me encolhendo.