Era domingo. Maggy e Anna tinham feito a entrevista com os meninos, e no sábado eu aproveitei o sol do fim de tarde para fazer a seção de fotos ao ar livre, como eu gosto mais. Fotos no pôr-do-sol, com grama e um fundo mais natural é a minha marca registrada. E fica irônico quando eu assino “Sunsetty” nelas.

Mudando de assunto, nós já tínhamos almoçado há quase três horas. Depois disso, os garotos foram dormir. As meninas tentaram assistir televisão, mas já viu, domingo, TV, é igual a NadaQueInteresse, então elas acabaram dormindo nos sofás. Eu raramente durmo à tarde, e desta vez não foi diferente, eu só fiquei rodando e rodando a casa procurando algo para fazer. Nem na internet tinha algo bom! Nenhum e-mail nem recado no meu perfil do Twitter.

Quando eu fico entediada rodando a casa, sempre acabo parando na cozinha. E para lá minhas pernas me levavam. Abri a geladeira e procurei por algo que prendesse minha atenção. Eu só vi leite, ovos, manteiga, legumes, frutas... Espera. Leite, ovos e manteiga? Legumes? Cenoura...? Puxei aquelas coisas para fora da geladeira e as deixei no balcão enquanto procurava o resto dos ingredientes no armário. Estava tudo lá! Comecei a fazer o bolo de cenoura com cobertura de chocolate e em menos de meia hora já estava pronto! Pensei que com todo o barulho da batedeira e das panelas acordaria alguém, mas voltei na sala e ninguém tinha acordado ainda, e os meninos ainda estavam na varanda de olhos bem fechados.

Voltei para a cozinha e busquei mais algumas coisas. Disse que adoro organizar reuniõezinhas informais? Desta vez seria um lanche no jardim. Sim, um piquenique com direito à bolo de cenoura, suco, cookies de baunilha com gotas de chocolate, marshmallows (nunca faltam na dispensa, graças à Maggy) e salgadinhos que achei na dispensa e frutas. Escolhi maçã, banana e laranja. Enquanto todos ainda dormiam, busquei uma toalha grande pela casa. Não foi uma xadrez que achei, mas era grande e azul, então serviu. Levei a toalha para fora, junto com as guloseimas e frutas numa cestinha. Eu estava estendendo a toalha no chão quando quase caí de lado com o susto. Nem tinha visto Minho se aproximar, ele estava rindo da minha tentativa de estender a toalha no chão, mas o vento só a fazia embolar. E eu estava ficando frustrada. Como alguém não consegue nem estender uma toalha? Argh!

- Você está contra o vento. – ele ria.

Ele falou de um jeito que pareceu o meu pai, e aquilo me deu medo. Tudo bem, exagero, meu pai não teria aquele tom de voz que me fazia arrepiar.

- Hum? – levantei a cabeça para ele. – De onde você saiu?

Ele riu de novo.

- Aqui. – Minho virou meu corpo, puxou meus ombros para trás, eu dei alguns passos e ele me soltou. – Agora você pode estender. – ele acenou para a grama. – O vento está a seu favor.

Meu pai diria aquilo. Com certeza.

- Eu sabia.

Ele acenou com a cabeça.

- O que tá fazendo, aliás? – ele perguntou sorrindo ao ver que eu consegui estender a toalha sem ela embolar.

- Hum, piquenique. – coloquei as mãos na cintura soltando um suspiro. – Pode acordar os garotos? Eu fiz bolo e peguei algumas coisas... Achei que pudessem gostar de algo assim já que hoje o dia está tedioso...

- Vou chamá-los. – ele sorriu de novo e deu as costas indo até a casa.

Eu fui para a cozinha buscar o bolo, copos de plástico e os sucos. Tentei trazer tudo de vez, mas por sorte não deixei tudo desmoronar no chão. Se eu tivesse braços maiores...

Passei pela varanda onde Minho tentava acordar os quatro, pedi para que ele levasse eles para onde eu tinha organizado as coisas e fui para a sala chamar as meninas.

- Ann. – chamei a mais velha cutucando ela. – Anna! – ela só se remexeu. – Anna, fogo!

- O quê? – ela pulou do sofá.

Eu ri dela enquanto ela puxava Maggy da cama. Uau, funciona!

- Calma. – tentei parar de rir. – Queria acordar vocês. Eu preparei um piquenique!

- Piquenique? – Maggy coçou os olhos.

- Aham. Minho já acordou os meninos, vamos!

- Só você e Minho estavam acordados? – Anna me lançou um olhar curioso.

- Não. N-não. Ele acordou faz pouco tempo. Ah, deixem de ser chatas, vamos!

Todo mundo tinha gostado do meu bolo! Confesso que bolo de cenoura e chocolate não é meu favorito, mas é o mais rápido de preparar.

Nós estávamos conversando, rindo e nos divertindo. Jong cantou um pouquinho depois de eu pedir encarecidamente para ele soltar a voz. Eu estava tentando descascar uma laranja com a faca e achei que já fazia alguns minutos e eu nem tinha chegado ao meio. Senti o olhar de Key ao meu lado apontado para minha laranja. Na verdade eu nunca soube descascar uma laranja com perfeição, mas minha mãe sempre disse “se você não tentar, não vai conseguir nunca”, mas normalmente meu pai cedia à minha expressão manhosa pedindo para ele descascar para mim. Levantei a cabeça para desistir de descascar e vejo que todo mundo estava olhando para mim em silêncio. Ruborizei na hora e abaixei a cabeça de novo. Eu ia largar a laranja mal-descascada pela metade quando uma mão a puxou da minha e começou a descascar corretamente. Me senti mais envergonhada por ter sido o Minho – que estava do lado do Key, ou seja, ele se esticou até mim (e não que fosse um problema para ele). Era a segunda vez que ele me ajudava no dia e eu estava parecendo patética, burra e lerda.

Ele me devolveu a laranja descascada e cortada ao meio com um sorriso simpático. Puxei a laranja da mão dele, mas antes que ele voltasse seu braço para seu lugar, eu o puxei e coloquei uma parte da laranja na mão dele.

- Não quero tudo. – coloquei a minha metade da laranja nos lábios.

Minho olhou para a metade da laranja na mão dele, olhou para mim e depois viu que todo mundo ainda estava em silêncio observando. Ele desviou sua atenção para a toalha no chão e colocou sua laranja na boca.

Eu ainda estava com as bochechas quentes, então evitei levantar a cabeça. Maggy – que estava sentada do lado de Minho e viu nosso desconforto – limpou a garganta para falar.

- Hum, o que a gente vai fazer depois de comer tanto?

- Temos a necessidade de gastar todos essas calorias adquiridas. – Anna continuou tentando quebrar o gelo.

- Tipo, com exercício? – Taemin perguntou.

- É, com exercício. – Maggy deu uma mordida na banana.

Jonhyun levantou do seu lugar do lado de Anna e correu até a área de serviço. Voltou com uma bola nas mãos.

- Vamos jogar! – ele estava animado.

- Futebol? – Minho levantou do seu lugar. Ele terminava a laranja. Que, aliás, estava ótima.

- As meninas podem não gostar. – Taemin também levantou.

Key, Maggy, Anna, Onew e eu nos levantamos também e eu lembrei de um jogo que eu normalmente gostava de jogar com meus colegas na escola e que me fazia suar e ofegar rápido. E por incrível que pareça, eu não era a primeira a ser queimada. Não, nem a segunda.

- Que tal queimada? – opinei.

- Queimada? – Onew franziu o cenho.

- O que é? – Jong perguntou.

Eu expliquei as regras básicas da queimada e o objetivo do jogo. Todo mundo gostou da idéia e aceitou jogar.

- Habilidade, força e mira, eh? - Key repetiu minhas palavras. – Tá no papo, baby.

- Quem tiver no grupo do Minho tem que ter um jogador a menos! – Jonghyun rebateu. – É injustiça! Minho vale por dois!

- Tá Jong! – eu ri. – Fique ali. – apontei mais para frente. – Você e Minho vão ser os capitães e podem escolher os jogadores. Tirem par ou ímpar para sabermos quem escolhe primeiro.

Jonghyun ganhou no par-ou-ímpar e olhou para nós que estávamos sentados na grama esperando sermos escolhidos.

- Hum. – ele pensou olhando para cada um. – Onew!

Onew se levantou e correu para trás de Jong.

- Escolho... Key. – Minho anunciou.

- Maggy. – Jonghyun escolheu.

- Ahh, mané! – Maggy levantou e bagunçou os cabelos de Taemin enquanto ia para trás de Jong. – Fui escolhida antes do Tae!

Taemin fez uma cara emburrada. Minho riu e chamou ele. O mais novo mostrou a língua para Mag enquanto ia para o grupo de Minho.

Sobramos eu e Anna. Nós nos entreolhamos com uma cara de “sempre as últimas”.

- Anna. – Jong chamou ela.

Tudo bem, eu tinha esperanças de ser chamada pelo Jong antes da Ann. E como eu também iria para o grupo dele porque o do Minho ficaria com jogadores a menos por motivos já ditos, fiz um bico e cruzei os braços enquanto continuava sentada frustrada por sempre ser a última opção nos jogos.

- Ninguém me chama... – continuei com o bico.

O pessoal riu e Jonghyun veio até mim. Ele me puxou para cima pelo braço.

- Você é do meu grupo. Ou quer ir para o do Minho? Para compensar... ser a última. – na verdade, senti que ele queria dizer outra coisa. – Podemos ficar com o mesmo números de jogadores, tudo bem. – Jong sorriu. Ele poderia me adotar, né?

Eu olhei de Jong para Minho, depois para Jonhyun de volta. Um sorrisinho vingativo se formou no meu rosto. Certo, não me escolheu antes, Choi Minho, não escolheu a garota que você beijou, então vai sofrer as conseqüências. No jogo.

Ah, ok, vá lá que eu sou terrível em esportes, mas posso dizer depois que tentei. Pelo menos...

- Vou compensar no jogo, oppa. – eu sorri inflando as bochechas. – Quero ficar no seu time. Vamos?

Eu passei por Minho olhando para ele (para não dizer olhando para cima) com um daqueles sorrisos meia-boca que já falam uma frase inteira por si só. Minho parecia meio surpreso por eu não ter entrado no time dele. Mas agora, nós tínhamos dois times com um jogador que odeiam perder em cada um. Porque, sim, Minho odeia perder. Ele fica séculos com a cara emburrada! E eu também, confesso. Mas me recupero com mais facilidade que Minho.

Nós tentamos fazer um campo na grama e dividi-lo. Os capitães ficaram atrás da linha de fundo, eu dividi o campo com Onew, Anna e Maggy. Na nossa frente tinha apenas Key e Taemin. Jong estava na linha atrás do campo dos garotos e Minho atrás da linha de fundo do nosso campo. E lembrar que eu perdia mais fácil no jogo quando não me explicavam as regras e eu não fazia idéia quem era do meu grupo, só ficava lá correndo para não ser pega pela bola...

Key e Taemin começaram com a bola e tentaram nos queimar traçando a bola do campo deles para Minho atrás de nós. Quando Onew conseguiu agarrar a bola, achamos que seria fácil queimar logo eles. São só dois contra três! Mas os dois eram mais ágeis do que a gente pensou. Do que eu pensei, pelo menos. Não sei, mas sobre a agilidade deles, Maggy e Anna já deveriam ter experimentando ou... opa! A bola de Taemin passou zunindo do lado da minha cabeça. Muito obrigada reflexos lentos!

Não sei quanto tempo passou, mas conseguiram atingir Maggy na coxa e ela trocou de lugar com Jong. Um pouco depois Key (coincidência, hum?) foi atingido pela bola de Onew e tomou o lugar de Minho. Agora a brincadeira começava.

Eu estava arfando feito louca com a boca aberta quando consegui segurar a bola que veio de Taemin. Mirei a bola em Minho, mas ele só desviou para a esquerda e pegou a bola na mão. Muito bem, a próxima vai com mais força.

Acho que Minho percebeu que ele estava no meu alvo, porque ele sorriu e jogou a bola na minha direção que veio rápida como um jato e por sorte o meu tamanho me ajudou nessa hora. Me agachei e a bola passou quase raspando as costas da minha camiseta.

- Você quer abrir um buraco na minha barriga com uma dessa? – gritei para Minho arfando.

Ele riu com humor.

Anna tentou jogar a bola para queimar o adversário, mas não foi muito melhor do que eu. No outro lado do campo, Taemin agarrou a bola de Ann sem esforço.

Ficamos assim por mais um tempo e o jogo tinha começado a ficar chato. Pelo menos foi o que Key lá da base dele gritou. Quando recuperei o pouco do meu fôlego, pedi a bola para Onew e dei impulso para a bola ir com mais força em direção de Minho. Mais precisamente para a perna dele. A bola foi bem fraquinha na verdade, e ele só fez puxar a perna para trás. Ele caiu sentado no chão segurando o tornozelo da perna que tinha sido erguida.

A bola tinha ido para não sei onde, então não me preocupei. Na verdade achei que o jogo tinha parado por um minuto, me aproximei do campo dele sem cruzar a linha do meio. Minho estava parecendo mais um embrulho no chão e fazia um barulho que eu não sabia se era riso, choro de cachorro ou gemido de dor.

- Minho? – chamei preocupada. – Tudo bem?

- Torci meu tornozelo. – a voz dele continuou estranha e ele não levantou o rosto.

Eu abri a boca para falar quando ele me assustou se levantando e puxando a bola (que tinha parado atrás dele de tão fraca que tinha sido jogada). Eu tente correr, mas foi inútil, porque ele me acertou nas costas. Tudo bem, não foi nas costas. Foi na... Isso, na almofadinha natural que temos para sentar, nádegas se chamam. Okay! Foi na bunda, poxa!

Eu me virei para ele colocando minhas mãos na minha bunda porque, sério, tinha doído. E o algodão do meu short rosa não era dos mais grossos, o que só ajudou a doer mais com o impacto da bolada nas minhas nádegas.

- MINHO! URRH! – eu gritei e corri para fora do campo sentando na grama.  – Você me paga, Choi Minho!

Todos riam. Inclusive Minho.

- Desculpe! – ele gritou de volta. – Desculpe, Sunie! Eu não queria atingir... er. Desculpe!

- Sun! Não vai se juntar a Maggy? – Jong perguntou.

- Não! – minha voz ainda estava uma mistura de frustração, vergonha e irritação. – Minha bunda está dormente de mais para eu continuar a jogar. Agradeça ao ladrão do jogo!

- Sun! – Minho gritou de volta para mim sem parar de rir. – Você que confiou de mais no inimigo!

Eu bufei um xingamento e deitei as costas na grama com os joelhos dobrados.