When The Moon Light Meets The Sun Light escrita por Between the moon and the sun


Capítulo 6
Provocando a minha querida mãe




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Alex’s POV

Eu e Alice voltamos ao acampamento e todos nos olhavam de um jeito estranho, o que me deixou meio envergonhado, eu não estava acostumado com tantos olhares em cima de mim.

-Alice! – Chamou uma garota do chalé de Deméter. Alice sorriu pra ela.

-Ah! Espera um pouco, já estou indo. – Então ela olhou pra mim. –Eu tenho que ir agora. – Ela disse e deu um beijo na minha bochecha. –Tchau. – Ela sorriu pra mim uma última vez e foi em direção a filha de Deméter.

Aquele beijo no rosto me deixou MUITO sem graça. Eu sei que as filhas de Apolo e as filhas de Afrodite sempre fazem isso, mas mesmo assim, aquilo me deixou sem reação. E algumas pessoas ainda me olhavam. Eu fui andando de cabeça baixa até o chalé de Hermes, pra fingir que não estavam me olhando, mas os olhares pesavam em meus ombros, mesmo que eu não visse quem eram os donos dos olhos curiosos que estavam ficando pra trás de mim aos poucos. Quando eu entrei lá pra guardar o meu livro, Daniel, um dos filhos de Hermes, me olhou com um sorriso malicioso no rosto. Ele era o mais próximo de um amigo que eu tinha no chalé de Hermes.

-Conta logo.

-Contar o que?

-O seu lance com a filha de Apolo.

-Mas a gente não tem nada, seu doido.

-Ah é? Qual é, todo mundo já reparou.

-Reparou no que?

-Que vocês estão meio juntinhos hoje.

-Então quer dizer que um menino e uma menina não podem mais conversar?

-Não no meio da floresta sozinhos, ainda mais quando a menina em questão é a Alice.

-Mas como...

-Eu tenho minhas fontes. – Esses filhos de Hermes... Adoram uma fofoca. Parecem um bando de tricoteiras às vezes.

-Eu já disse, nós não temos nada.

-Ah claro que não. – Disse ele rindo com sarcasmo. Eu rolei os olhos e guardei meu livro, coisa que eu duvidava que filhos de Hermes roubassem. Pra quê eles leriam? Eles não ligam muito pra isso. Depois de guardar o livro, eu saí do chalé.

O resto da tarde eu passei treinando esgrima e fui ao treino de canoagem também, o dia passou bem rápido hoje. Eu não fiz quase nada. Quando a noite chegou e era hora do jantar, todos os campistas foram para as suas respectivas mesas e eu fui pra mesa do chalé de Hermes, me sentando um pouco afastado da maioria das pessoas na mesa. Eles conversavam, riam, pregavam peças e roubavam coisas um dos outros como sempre e eu estava comendo entediado.

-Alex! Chega mais, mano! – Falou um dos garotos do grupo dos mais... “Populares” do acampamento. O nome dele era Bruno, ele era o líder do chalé de Hermes. Ele nunca falou comigo, nem sabia que ele sabia meu nome. Ele tinha sorte com as garotas, era alto, loiro, dos olhos azuis e todo sorridente, as garotas amavam ele. Eu olhei pra ele confuso.

-Hã... – Eu não queria me aproximar, eles deviam estar tramando algo... Alguma peça ou algo do tipo.

-Não vamos arrancar pedaços de você. Vem logo. – Ele disse rindo e eu fui devagar me sentar em uma cadeira mais próxima das cadeiras que meus companheiros de chalé ocupavam, ainda achando muito suspeito essa história de me chamarem sem querer nada. Eles são filhos de Hermes, eles sempre estão planejando algo.

Peguei meu prato de novo e continuei comendo devagar.

-Então, como foi sua tarde hoje? – Perguntou Bruno, se dirigindo a mim.

-Normal.

-Ah claro... – Ele riu e continuou conversando com os outros. As garotas do chalé de Hermes eram poucas e elas se sentavam do outro lado da mesa, conversando e rindo sobre sabe-se lá o que.

De tempos em tempos, Bruno tentava me incluir no assunto deles e eu estava me divertindo, nunca achei que eles falariam comigo como se eu fosse um deles. Eu sabia que eles queriam algo de mim, mesmo sem saber o que, mas gostava de estar ali e poder conversar com eles como se eu realmente fosse um deles. Por um momento, cheguei a esquecer de quem era a minha mãe. Por um momento me senti como um filho de Hermes, despreocupado, brincalhão, risonho. E o que eu nunca pensei que sentiria eu estava sentindo aquela noite. Eu me sentia... Aceito. Eu sempre me sentia uma pedra no sapato deles, só mais alguém pra ocupar espaço no chalé, alguém que eles não queriam ali. Eles nunca falariam isso pra mim se fosse verdade, eles aceitavam a todos, gostavam de todos, não ligavam pra quem era o pai ou mãe da pessoa, mas não quer dizer que eu me sentia parte daquele chalé. Naquela noite no jantar, eu era só mais um menino normal, conversando com aqueles caras que não eram mais do que companheiros do chalé.

-Alex é sua vez de nos contar algo.– Disse um dos filhos de Hermes, rindo. Eu olhei pra ele e estávamos todos rindo, os garotos estavam contando fatos engraçados da vida deles, que não eram poucos.

-Mas contar o que? Eu não tenho histórias engraçadas.

-Qual é! Nunca pregou peças em alguém?

-Ah... Eu não sei... – Eu parei de rir sobre a história que tinha acabado de ouvir e agora todos prestavam atenção em mim, curiosos e sorrindo. A minha vida não tinha sido bem o que se chamaria de... Engraçada. Não tinha nada sobre mim que valesse a pena parar pra ouvir. Minha vida era bem monótona.

-Tudo bem, mas você nos deve uma história. – Disse o garoto ainda rindo e começando a falar sobre uma peça que tinha pregado na irmã mortal dele no aniversário de 15 anos da garota.

Eu continuei ouvindo todas as histórias e rindo. Apesar de ser o único que não comentava as histórias e nem falava muito, o simples fato de eu estar rindo era um milagre. Acho que eu nunca ri tanto.

-Gente, eu sei que tudo está muito bom, mas temos que ir pra fogueira. Não podemos esquecer de tostar a nossa comida pros deuses. – Disse Bruno, rindo como sempre.

Eu estava acabando de comer e olhei pro meu prato, quase vazio, respirei fundo. Todos jogavam uma parte da comida – na verdade a melhor parte – na fogueira, pro pai ou pra mãe olimpiana em geral. Ou apenas jogavam pra algum deus, pra agradecer por algo ou pra pedir algo. Eu tinha muito que pedir, mas eu nunca tinha tentado. Eu tinha a certeza de que a minha mãe nunca me ouviria. Eu não tinha o que agradecer também. Eu não era o tipo de pessoa que reclama pela falta de sorte com a família, o que não que dizer que eu não sentia muita vontade de ser reconhecido pela minha mãe, de mostrar que eu não era apenas um erro. Eu ia me levantar e sair de fininho pra não ir pra fogueira com eles, mas não teve jeito.

-Alex, vem com a gente! – Disse Daniel, sorrindo.

-Não, eu estou meio... Cansado.

-Vem, depois você dorme, é só alguns minutos.

Depois de algumas desculpas que eu tentei dar pra evitar a ida à fogueira, acabei sem desculpa nenhuma e tive que ir com eles. Quando chegou a minha vez, olhei pra fogueira e pro meu prato de comida. No prato, só tinha um pedaço de bife que eu não tinha comido ainda. Não devia ser a melhor parte de tudo que eu tinha comido, mas eu não estava planejando fazer oferenda nenhuma. Eu joguei o pedaço de carne no fogo e fiquei pensando por um momento o que eu deveria pedir. Ou melhor, a quem. Hã... Eu não pediria nada a minha mãe. Eu era orgulhoso demais e medroso demais pra fazer isso. Então decidi fazer a oferenda a Apolo. Mas porque raios Apolo me veio à cabeça?

Então eu percebi que tinha a resposta pra essa pergunta no momento em que eu a formulei na minha mente.

Apolo, espero que aceite a oferenda. Obrigado por... Obrigado pela Alice.

Então eu saí da frente da fogueira e olhei pra mesa onde os campistas do chalé de Apolo sentavam. Eu vi Alice rindo e falando algo pra um de seus irmãos. Então ela olhou pra mim e acenou com a mão direita, sorrindo. Eu acenei de volta, meio envergonhado e fui pro chalé de Hermes, me deitar.

Quando me deitei àquela noite, pensei em tudo o que tinha acontecido. Eu agradeci a Apolo pela simples existência da Alice. Quer dizer, ela era meio inconveniente quando tentava descobrir quem era o meu parente olimpiano e eu queria a afastar às vezes, mas eu descobri o porquê não a afastei. Era legal sentir que alguém como ela queria saber mais sobre mim e eu sabia que era só por causa dela que meus companheiros de chalé sabiam meu nome e estavam conversando comigo. Até que não era tão ruim ficar ao lado dela. Eu ri quando pensei nisso. Quem diria... Eu me dou bem com uma filha de Apolo. Isso porque a minha mãe vive brigando com ele. Pois é, acho que meu tio é bem mais legal do que a minha mãe pensa que ele é. Outra coisa que eu descobri foi que aquela oferenda também fora dedicada a Apolo por outra razão, com a qual eu me sentia muito bem. Minha mãe não gostaria nem um pouco de saber que a minha oferenda não foi pra ela, isso era meio que uma mini vingança por ela ter negado a minha existência por todos esses anos. Talvez assim, eu teria a atenção dela de alguma forma. Olhei pela janela, vendo o céu noturno pela última vez antes de pegar no sono.


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