Quando seu dia é longo

E a noite - a noite é solitária,

Quando você tem certeza de que já teve o bastante desta vida,

Continue em frente

Não desista de si mesmo,

Pois todo mundo chora

E todo mundo se machuca, às vezes...

[...]

Pois todo mundo se machuca,

Consiga conforto em seus amigos.

Todo mundo se machuca...

Não se resigne, oh, não!

Não se resigne

Quando você sentir como se estivesse sozinho.

Não, não, não, você não está sozinho...

Everybody Hurts - R.E.M.

A noite, saímos para jantar: eu, Larissa, Samara, Felipa e uns amigos delas. Fomos a uma pizzaria, aquele mesmo carinha que a Larissa tinha ficado estava lá, ficou investindo altas cantadas nela, acho que seu estoque acabou durante o jantar, porque depois disso ele deu uma bufada e saiu de perto dela. E eu fiquei me controlando pra não cair na risada

- Bom, vamos pra boate agora?- sugeriu Samara enquanto pagava a conta

- Se não se importa, vou pra casa- disse

- Ah tudo bem então!- ela me disse – Vamos galera?- ela chamou

Todos a seguiram, menos Larissa que ficou parada ao meu lado

- Vai lá com eles! Ta esperando o que?- perguntei

- Vou voltar contigo oras, esperava o que?- ela me disse

- Eu esperava que você fosse se divertir. Aliais, não esperava não, porque você vai!- disse empurrando-a

- De verdade? Você vai ficar bem?- ela me perguntou

- Claro! Mas vou ficar com a consciência pesada se você ficar, porque eu SEI que esta louca pra ir junto. Vai logo

- Ta bom então- ela cedeu- Boa noite, e não suma!- me deu um beijo na bochecha

- Tudo bem, prometo não sumir- disse, quase jurando solenemente

Ela riu satisfeita

- Tchau- disse apressando o passo pra alcançar o povo

Eles foram pra um lado, e eu fui em direção a praia. Não que eu seja fã de praia, é que eu precisava ir lá, parecia que tinha algo me chamando pra lá.

Logo cheguei a praia. Tirei minha sapatilha e coloquei meus pés na areia fofa da praia. E fui andando mais próximo a agua, ainda quente do longo dia de sol. Sentei-me na areia e relaxei.

Até que uma menina passa por mim, um tanto mais nova que eu – uns dois anos talvez- estava chorando muito. E de repente me vi naquela mesma cena, ela ia em direção a agua. Me ocorreu que ela fosse se matar afogada, e percebi que eu não podia simplesmente assistir aquilo dessa forma. Levantei e corri até ela

- EI!- chamei segurando meu braço

Ela virou-se e pude ver seus olhos vermelhos, o rosto banhado em lagrimas e a maquiagem borrada

- Me solta!- pediu – Eu preciso acabar com isso de uma vez- disse baixo, senti a dor na sua voz

- Acabar com o que?- minha pergunta saiu sem querer

- Isso dói- ela levou a mão ao coração- Dói muito

- O que houve?- perguntei- Quem foi o idiota que fez isso?- perguntei

Ela desatou a chorar mais ainda. Eu a abracei.

- Acalme-se tudo bem? Eu vou te ajudar, espero- disse

Puxei- a até onde estava minha bolsa e sentamos ali. Ela só chorou, e eu entendia, por isso não aprecei as coisas.

- Isso é tão idiota, você vai achar ridículo- ela disse tentando enxugar as lagrimas

- Conte-me mesmo assim, por favor.- pedi

- Você já se apaixonou por alguém, que mora a centelhas de milhares de quilômetros de você?- ela perguntou, e sua pergunta me chocou, congelei olhando pra frente- E ela nem sequer sabe que você existe?

E eu entendi tudo

- Eu sou muito fã de uma banda chamada Tokio Hotel, não sei se você conhece. – ela disse, e eu já não conseguia responder. Diante do meu silencio ela continuou- É uma banda alemã, que já é famosa mundialmente, mas tem pouco reconhecimento nacional. Eles vieram pra ca, tem pouco mais de um mês. E eu fui ao show em São Paulo. Eles estavam tão lindos...- ela tagarelava sobre tudo aquilo que eu já sabia, já tinha visto e até presenciado. Meus olhos sem querer se encheram de lagrimas.

- Tudo bem contigo?- a garota me perguntou

- Ah, me desculpe. De verdade- eu disse saindo do meu devaneio- O que mesmo que você disse?- perguntei

- Estava falando da banda. Eu me apaixonei pelo guitarrista, Tom Kaulitz- ela falou, fazendo-me arrepiar

- A-ah minha nossa- soltei também sem querer

- O que?- ela perguntou preocupada

- É-é... eu conheço essa banda.- disse, e pensei se seria bom contar também que sou apaixonada pelo Tom assim como ela, só a única diferença é que ele me ama também e tudo mais. Mas percebi que era loucura falar isso.- Eles tem um som legal- disse apenas

- É verdade, são os melhores für immër!- ela disse rindo

- Eu sei falar alemão sabia?- disse enquanto pensava em algo razoável pra ajuda-la

- Jura?!- ele disse sem chorar já- Eu sei algumas coisas... onde você aprendeu?- perguntou-me

- Quando eu estava muito apaixonada, como você, por um cara que nem sabia de mim e que morava longe, eu busquei outras coisas pelas quais me apaixonar. Passatempos que me interessavam muito, como por exemplo aprender alemão.- menti, falar a verdade não ia ajuda-la em nada- O que eu estou querendo dizer é o seguinte: eu sei o que você sente, sei mesmo. Só que se matar não vai ser a solução, ele não merece que você se mate por causa dele. Você, tenho certeza, é uma garota maravilhosa! E, ainda é muito nova pra querer fazer isso não acha? Ta, me desculpe, é o sujo falando do mal lavado. Mas mesmo assim, você tem tanta coisa pra viver, aprender e fazer... não faça isso, por favor! Busque novos amores, hobbies, paixões, ocupações... e você vai ver que tudo isso vai passar mais rápido do que imagina.- pausa. Eu tinha que mentir. TINHA. Eu não podia deixar que ela fizesse aquilo, e se eu contasse a verdade, isso só ia piorar.

- E quem me garante que tudo vai mudar? Isso parece não sumir nunca!- ela disse

- Eu te garanto. Eu sou a prova viva de que é verdade- afirmei- Promete que vai tentar?- pedi

Ela me encarou, seria, como se duvidasse do que eu estou dizendo.

Estendi a mão.

- Promete ou não?- insisti

- Prometo- ela disse apertando minha mão

- E eu vou te acompanhar, ou melhor, tentar ok?- disse rindo

- Por mim tudo bem, me passa o numero do seu celular?- ela me pediu

- Claro, promete que vai me ligar sempre?- disse-

- Quantas promessas pra um dia...- ela reclamou revirando os olhos- Prometo

- Ótimo!- sorri satisfeita

Depois de trocarmos os telefones, a chamei pra tomar sorvete e ela aceitou

Conversamos mais um pouco, mas sem tocar nas palavras Tom Kaulitz, amor e promessas.

Ela era uma menina muito esperta e realmente linda. E sim, SE fosse maior de idade, teria uma chance imensa com Tom. E SIM, eu fiquei com uma pontinha de ciúmes. Quem não ficaria?!

Seu nome era Julia, tinha 15 anos e morava no Rio desde sempre. Era uma garota simpática, de cabelos curtos e ondulados cor de mel, seus olhos verdes contrastavam com sua pele bronzeada. Era bastante risonha.

Somente uma coisa me preocupava: por quanto tempo eu conseguiria sustentar a mentira que eu criei pra ela melhorar?! Será que ela entenderia e me perdoaria?!

- Quando voltar para São Paulo, vou te mandar um presente que tenho certeza que você vai amar!- anunciei. Tinha certeza de que Bill não se importaria de eu dar a ela os CDs autografados, claro que não aquele do Japão.

Depois do sorvete, despedimo-nos e cada uma foi pra sua devida casa.

--

Cheguei em casa, Larissa ainda não tinha voltado com a trupe.

Fiz minha higiene e fui me deitar.

Encontrar essa garota foi bom e ruim. Bom, pois eu pude salvar uma menina muito linda e fã de Tokio Hotel. Ruim pois tive que mentir pra ela, mas isso é o de menos.

Ela me fez pensar, em como será quando todos descobrirem que eu sou a namorada do Tom e em como reagiriam as fãs, que assim como Julia, era apaixonadas por Tom.

Em meio esses devaneios nada agradáveis, adormeci.