BEIJO NO ESCURO


Gerard finalmente chegou ao teatro. Seus olhos verdes corriam pelos bancos, procurando um lugar. Ele queria um isolado. Era isolado na escola, e não se importava. Ele prefria mesmo que fosse assim. Depois de encontrar todos de sua classe, que etavam animados, conversavam, brincavam, riam, Gerard achou o lugar perfeito. Era num canto, bem sozinho, esquecido, apagado. Era como ele queria estar.
Sentou-se e tomou cuidado para que não fosse notado. Ele odiava aquelas pessoas, tão futéis e egoístas. Com elas por perto, ele era sempre triste. Mas aquela noite ele estava especialmente triste. Havia discutido com o irmão, pouco antes de ir ao teatro. E agora se arrependia, ele sabia, sabia que o irmão era o único verdadeiro amigo que sempre tivera. E era com ele que as discussões aconteciam. Não, Mikey não merecia. " Você é um idiota, Gerard."

Tentou parar de pensar nisso, ou dali uns minutos lágrimas estariam escorrendo de seus olhos. Ele não podia chorar, não exposto dessa maneira. Mas sentiu que precisava. Sentiu uma vontade imensa de chorar. Lembrou - se que dali a poucos minutos as luzes se apagariam. Essa era a solução. Assim que elas se apagassem, ele poderia chorar. E choraria, choraria até estar nadando em suas próprias lágrimas.

Não demorou muito, e o esperado chegou. A luzes começaram a se apagar, fileira por fileira. Sentiu a emoção chegar, junto com os gritos das pessoas que ali também estavam. Sentiu o peito se abrir, os olhos pediam, suplicavam. " Por favor, deixem que as lágrimas corram..." Ia começar a desabafar, quando sentiu a presença de alguém. Foi tudo muito rápido. O vulto agarrou-lhe a gravata, puxou - a para si. Foi aí que o beijo aconteceu. Foi doce e salgado, suave e deseperado. Lento e apressado. Submisso, desesperado, deseperado. Numa surpresa tão grande, Gerard ficou sem reação. Não retribuiu, mas também não rejeitou. Apenas deixou-se beijar. O beijo acabou, e ele podia sentir o afastamento do estranho ser. As luzes de palco se acenderam, deixando tudo um pouco mais claro. Gerard olhou ao redor, mas ninguém estava fora do lugar, ninguém olhava pra ele.

Sua mente estava atordoada. Pensava em Mikey, em saudade, em choro, em beijo, no beijo. Percebeu que a peça iria começar, e resolveu limpar sua mente. Sabia que isso não seria possivel por muito tempo, mas decidiu que seria somente durante a apresentação. Precisava prestar atenção na peça. Dom Casmurro, De Machado de Assis, tema da prova de literatura do dia seguinte. Depois, ele podia até chorar...

"Quando você me beija,
assim, no escuro,
Sinto minha alma
inquetar."

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Espero que tenham gostado!

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