Sweet Letters. escrita por xxxkh-y


Capítulo 1
Reading and feeling.


Notas iniciais do capítulo

And K3

Espero que tenha passado seu aniversário bem, este é o meu presente pra você. É todo seu espero que goste, escrevi com muito amor. Você me deu carta branca e pff é difícil escrever quando as limitações são poucas; tive inúmeras idéias e escolhi essa com a ajuda de Renata hihi...
Hm não sei o que dizer então... Ótima leitura pra você, espero que realmente goste ;-; K333



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   -... É por isso que eu amo você Tora-senpai, por favor, aceite meus sentimentos e esta caixa de bombons. – O outro observava a situação, encostado em uma das árvores que tinha flocos de neve pesando em seus galhos, no grande pátio da escola.

   Os braços cruzados na altura do tórax e o olhar indiferente perante a cena que se repetia incontáveis vezes por mês. Sakamoto Takashi, ou Saga, esperava para que a ação ali terminasse.

   Seus cabelos castanhos, chicoteados pelo vento frio do inverno em seu auge, lhe davam um ar ainda mais encantador. O uniforme escolar preto e branco que trajava tinha um ar diferente dos demais, além de ter um brilho estonteante, ainda havia em seu pescoço um belo cachecol azul marinho, que dava um ar especial ao mais baixo.

   Seus olhos eram igualmente castanhos e possuíam um ar esnobe, embora fosse muito gentil; ao contrário do moreno.

   - Obrigado pela caixa de bombons kohai. – nem ao menos havia se dado o trabalho de lembrar o nome da menina de cabelos loiros oxigenados. Selou seus lábios nos dela, rapidamente, fazendo com que esta saísse correndo gramado a fora, de vergonha e felicidade.

   - Pobrezinha... – Takashi disse a si mesmo, baixo. Seria mais uma das muitas iludidas naquela escola.

   Shinji veio se aproximando de si, sentando abaixo da árvore onde Sakamoto estava encostado. O outro se manteve indiferente ainda assim, mantendo seus braços cruzados, e mãos escondidas do vento frio ali.

   - Hm... São de licor. – disse, abrindo a caixa e comendo um dos bombons, que pareciam estar deliciosos. Seus dedos longos se lambuzando do derivado do cacau que possuía um líquido mais quente por dentro.

   - Como você é mau Tora-senpai. – exclamou, imitando o tom de voz enjoado da garota que a pouco o outro beijara.

   - Vai se fuder, você fala como se não recebesse bombons também. – lambia seus dedos, olhando para cima a fim de ver a expressão que o outro mantinha.

   - Eu não dou falsas esperanças para ninguém. – disse, inclinando-se para lhe roubar um dos bombons; pareciam realmente deliciosos.

   - Porque é um idiota, se você dá esperanças, elas voltam com mais. – debateu pegando mais um dos confeitos de chocolate. Tinham um sabor afrodisíaco que fez Saga sorrir tímido, maravilhado com o sabor que lhe escorria garganta abaixo.

   - Hn. – engolia o último pedaço da maravilha que era a mistura entre os sabores. Pareciam até caseiros, tamanha eram as sensações boas que pareciam feitas meticulosamente. - Você sempre foi mais esnobe.

   - Faz um favor Saga, vá se fuder vá. – respondeu, levantando-se e encarando os orbes castanhos do outro. Saga não tirava sua indiferença de seu rosto de traços suaves, ao passo que Tora se irritava um pouco.

   Eram amigos de longa data, mas nunca pareciam se acostumar consigo mesmos. A companhia um do outro era muito necessária, ao passo que as brigas faziam parte dessa necessidade toda. Era na realidade, uma relação simples, sem frufrus, sem desrespeito. O que sempre precisavam.

   Querendo ou não, encontravam um no outro algo que os juntava, por mais que tendessem a se separar.

   - Chega de licor por hoje, Tora-kun seu irresponsável. – disse rindo enquanto tentava tomar a caixa das mãos do moreno.

   - Vá ao diabo que o carregue Saga, seu pé no saco! – berrou, também rindo enquanto levantava a caixa ao alto de suas cabeças. Takashi não era tão alto assim, para parar o moreno.

   - Caralho Tora, você não faz porra alguma e ainda é um dos últimos a sair da sala, hoje não é nosso dia de limpar não, sabia? – disse apressando o outro para que fossem embora, uma vez que as aulas daquele dia já haviam acabado.

   Encostado no batente da porta, agora estava Takashi; observando o belo moreno juntar suas coisas de forma tão lerda que lhe dava nos nervos. A mochila em um dos ombros pesava, enquanto o outro nem ao menos havia aberto a sua para colocar as coisas.

   - Eu já disse que você pode ir, eu preciso fazer algumas coisas ainda. – respondeu, ainda demorando em se organizar com suas coisas. Chegava a parecer proposital.

   - Eu não quero ir, o que você precisa faz—

   - Vai embora logo porra. – dando as costas para o outro, ouviu-o bufar e sair a passos pesados escadaria abaixo.

   Chegando ao térreo, dirigiu-se até o gramado, sentando-se embaixo da árvore. Restavam poucas pessoas na escola, e as que continuavam lá estavam de saída em direção ao portão principal ou limpando suas respectivas salas. Decidiu esperar Shinji um pouco, mas só um pouco.

   Os ventos gélidos bagunçavam os cabelos e as árvores, fazendo a pequena geada voar dos galhos pelos campos. Alguns pingos lhe atingiam, causando-lhe arrepios em sua pele alva. Olhava para cima, observando a antiga árvore que a muito existia ali. Sempre se encontrava com Shinji ali, e ela havia sido a razão na qual se tornaram amigos.

   - Com licença. – ouviu uma voz aveludada lhe dizer. Abaixou o rosto, encarando orbes escuros que possuíam certo brilho envergonhado. Os cabelos loiros, tão claros, eram repicados, e com o vento insistente, bagunçavam-se de forma encantadora.

   - Hm? – fez com a cabeça, como se esperasse o que vinha pela frente. Tinha um corpo bem esguio, que ficava bem vestido em suas vestes um tanto surradas. Pareciam estar rasgadas de propósito, como dando um ar despojado, o que o deixava ainda mais bonitinho.

   - Você é o Saga-senpai, não é? – sua voz fazendo presença novamente. Era bem baixinho, o que deixava Takashi com uma vontade de apertá-lo.

   Confirmou com a cabeça, vendo o pequeno bagunçar seus próprios cabelos, desconcertado. As bochechas que já estavam rosas pelo frio, ficaram ainda mais rosadas; fazendo Saga soltar um riso baixo.

   - Bem... Eu quero que fique com isso. – disse, esticando um envelope para o outro.

   Sakamoto sorriu, timidamente. Também recebia constantes declarações, embora o moreno recebesse mais. Ultimamente, não havia recebido muitas cartas ou bombons, não que se importasse com isso; embora gostasse de ler e comer o que lhe era dado.

   Não se importava, porque não gostava de iludir aos outros como o maior fazia; e porque seu coração parecia já ser acostumado com o cargo que possuía.

   - Agradeço pela carta, irei ler quando chegar a minha casa; mas eu sinto muito hm... Qual o seu nome?

   - Hiroto, Ogata Hiroto. – Saga sorriu-lhe em resposta, era um nome bonito.

   - Pois bem, Eu sinto muito Hiroto-kun; não sei se serei capaz de corresponder aos seus sentimentos. – era sempre franco com todos que lhe entregassem quaisquer coisas, achava tamanha canalhice fingir se importar, ou fingir querer algo; embora o loirinho lhe chamasse muito a atenção.

   - Não tem problema. – disse um tanto que determinado, como se já esperasse por aquela resposta. – Mas, por favor, só prometa que aceita e que lerá a carta, já é o suficiente.

       Sakamoto Takashi,

   Sinto por dizer isso, assim, tão de repente. Peço desculpas desde já por tudo o que direi aqui, não espero que responda aos meus sentimentos; só quero mesmo... Desabafar um pouco.

   Há tempos eu gostaria de lhe dizer o que sinto, ainda não sei se foi uma boa idéia e talvez eu me arrependa disso depois, mas de qualquer forma eu preciso tentar já que estou empenhado a tal, antes que eu me arrependa.

   Talvez você não saiba, mas eu o conheço tem um bom tempo. Não sei se você me conhece do jeito que eu esperaria que conhecesse. Esta minha expressão não é a que eu gostaria de mostrar para você agora.

   Não sei desde quando isso nasceu, mas se tornou amor tão de repente...

   Por hora é isso que tenho a dizer, espero que reflita sobre essas palavras... Espero ter coragem para continuar a lhe dizer tudo o que sinto, por mais que timidamente através dessas cartas. Sinto-me um pouco covarde por usufruir deste meio ao invés de lhe dizer pessoalmente... Por enquanto é apenas isso...

   Leu, releu e leu novamente. Incansáveis vezes as palavras martelavam em sua cabeça.

   Há tempos estava preso, e agora com aquela nova “oportunidade”, se sentia um pouco mais disposto a dar uma chance para alguma pessoa.

   Não é que as outras não fossem boas o suficiente, mas sentia-se bem com a presença de Hiroto; sentia-se à vontade, e até a forma com que ele o tratou soava diferente. Não era completamente acanhado ou sem pudor algum, o que lhe agradava dando um ar de naturalidade à relação que podiam vir a ter.

   Com certeza daria chance para o pequeno, também merecia ter a felicidade para si.

Alguns dias se passaram, e Takashi resolvera guardar para si o segredo sobre Hiroto. Não era como se não quisesse que Tora soubesse, ou como se tivesse medo que Shinji roubasse o menor de si. Só não queria contar; sabia que ouviria do outro, frases descrentes sobre “Saga estar se deixando fisgar”.

O maior também nem havia notado as diferenças no humor do outro, que cada vez mais, ficava melhor. Hiroto lhe entregava cartas todos os dias, ao término de cada dia letivo. As cartas eram sempre gentis e falam sobre os sentimentos do pequeno e algumas opiniões.

As recolhia do loiro quando Tora não estava presente, sempre alegando ter que ir à frente, mesmo que se encontrassem um pouco depois. Mantinha as cartas guardadas com muito carinho.

Não podia omitir que ficava muito feliz de recebê-las, e precisava admitir que Hiroto ganhava cada vez mais espaço em seus pensamentos. Após a última carta que recebera, havia decidido que o chamaria para sair, para quem sabe assim poder ‘ser fisgado’ de uma vez, como diria o tigre moreno.

A última carta, que lhe foi entregue na terça-feira, era o empurrão de que precisava. Era a declaração mais linda que já recebera, e queria agradecer o dono dela por isso. Durante todos os dias, até o presente momento, durante as últimas aulas de sábado; as palavras decoradas martelavam em sua cabeça.



   Takashi,

Sinto que já o infernizei o suficiente com pensamentos e sentimentos que dizem respeito a você. Espero de verdade, que eles tenham surtido algum efeito.

Não é nem um pouco fácil para eu dizer esse tipo de coisa, mesmo que não estejamos falando isso pessoalmente. Queria realmente poder lhe dizer tudo isso, olhando em seus olhos castanhos, mas sinto que para esse ponto sou bem covarde.

Na realidade, eu não queria ter que acabar aqui; gostaria de continuar a lhe mandar cartas todos os dias; mas os escritos não podem falar por mim para sempre, então decidi que devo pará-los antes que eu não consiga me desapegar destes.

Espero que tenha lido tudo com atenção, e que não tenha interpretado mal, nenhuma das coisas que lhe disse. Eu respeito seu espaço e privacidade, você tem toda a liberdade para pensar e agir como quiser a partir de agora. Não sei se você leu as cartas por mera obrigação, ou porque realmente lhe agradaram; torço para que seja pela segunda opção.

Não vou mais pressioná-lo, mandando cartas todos os fins de tarde. Você pode fazer o que quiser, eu vou entender, como disse desde o começo, não espero seus sentimentos de volta, por favor, não se sinta na obrigação de retribuí-los.

Por fim, quero dizer algo que eu nunca disse, em hipótese alguma, para alguém. Eu não sei desde quando isso... Mas eu agora, me vejo ainda mais apaixonado por você, mesmo que você não tenha respondido nada, não que você devesse fazê-lo.

Mais uma vez, desculpe-me por desejá-lo Sakamoto Takashi.


   Já sabia o que faria no término daquelas aulas.

Saiu o mais rápido que conseguiu de dentro de sua sala, dirigindo-se a árvore em que sempre ficava e onde sempre recebia as cartas. Mais uma vez havia deixado o moreno para trás, dando a desculpa de que precisava fazer uma coisa. Esses últimos tempos, sempre tinha ‘coisas’ a fazer.

Ficou esperando que o loirinho passasse por ali, para poder ir embora para sua casa. Não tardou para que visse cabelos loiros brilhantes, que denunciavam seu dono, levando Takashi a crer que só podia ser ele.

- HIROTO! – chamou, vendo-o arregalar os olhos; surpreso. O pequeno correu ao seu encontro, deixando seus amigos a lhe esperar no portão.

- Saga-senpai... – disse quando chegou mais perto, apoiando suas mãos nos joelhos enquanto respirava.

- Eu serei direto, está bem? – viu o outro afirmar com a cabeça, movendo suas madeixas claras. A expressão confusa e ansiosa estampada em sua face gentil. – Você quer sair comigo amanhã à noite?

- Sa-saga-senpai! – exclamou, arregalando ainda mais seus orbes. Parecia não acreditar no que havia lhe sido proposto, mas por fim, depois de fazer uma cara pensativa; olhou-o nos olhos respondendo: - Eu adoraria...



Haviam combinado às sete horas da noite, no parque de diversões. Saga não sabia por que de Hiroto insistir tanto para que se encontrassem lá, mesmo que tivesse dito que poderia passar na casa do mesmo. Ignorou o pequeno detalhe, terminando de se vestir.

Seria um ótimo encontro, ou pelo menos era o que desejava. Há muito não tinha um encontro descente, porque há muito não se interessara por alguém daquela forma. Não queria cobrar de Hiroto tudo o que lhe foi dito pelas cartas, mas poder passar uma noite com o escritor daquelas cartas lhe deixava ansioso.

Vestido com uma calça escura, e uma camiseta de listas verticais, vermelhas e pretas. Por cima, um casaquinho vermelho, no mesmo tom de sua camiseta, com os punhos dobrados, pretos. Takashi estava muito bem vestido, tinha um ar glamoroso embora o cabelo estivesse despenteado.

Não havia exagerado em seus trajes, não gostava de se mudar para agradar os outros, não que fosse desleixado, mas se encher de enfeites ou rococós não fazia o seu tipo. Já eram quase sete horas, e se segurava um pouco em casa, pois não queria chegar antes e ficar com cara de ansioso, embora estivesse.

Morava sozinho fazia dois anos, sua casa era muito organizada, até porque não passava muito tempo na mesma. Deu uma olhada por cima, para ver se havia algo desorganizado, a fim de passar o tempo. Guardou algumas coisas que se mantinham por cima, e se olhou no espelho.

Não era do tipo vaidoso, mas a situação pedia um pouco de atenção. Estava nervoso, inquieto e sabia disso, mesmo que tentasse se segurar ou disfarçar.



Chegara ao local combinado sete horas em ponto, e procurou o loiro ao redor, não o encontrando. O parque estava bem animado e cheio de casais; alguns ficavam andando por aí comendo algodão-doce enquanto outros se mantinham sentados em bancos.

O parque era um típico americano; o chão amadeirado ficava próximo a um rio, sendo que havia muitas pontes iluminadas pelas lâmpadas amarelas em suas arandelas. As atrações ali pareciam ser focadas em casais, como tudo naquele ambiente. Carrinho de bate-bate, roda-gigante, xícaras de chá que rodam, cabine fotográfica... Tudo o que os casais precisam para se distrair de uma semana difícil.

Ficou esperando o pequeno enquanto comia um algodão-doce azul claro que havia comprado. Adorava a sensação gostosa de ter o doce sumindo de sua boca de forma tão gentil e mágica; sentia-se um pouco que criança por gostar daquele tipo de coisa, embora não exista idade para doces.

Os minutos foram passando, e logo se tornaram horas. Hiroto não viria.

Embora o lugar fosse amplo para se procurar alguém, era aberto; o que facilitava a visualização do que quer que fosse. E o que queria visualizar não estava disponível.

Levantou-se, dando uma volta por entre os brinquedos. Sentia-se frustrado, sabia que não devia esperar nada do loiro, mas não comparecer ao encontro era a última coisa que imaginara, principalmente pelo outro nutrir sentimentos por si.

Justo quando havia abaixado sua guarda, a fim de desligar seu coração de outra pessoa, isso acontecia consigo. Não é que os outros não fossem bons o suficiente para substituir o que nutria, e sempre repetia isso para si mesmo; mas nunca fizera esforço algum para esquecer o outro e quando resolveu ‘mover alguns pauzinhos’ se decepcionava daquela forma?

Talvez seu destino fosse sempre permanecer encostado na árvore enquanto um moreno ficava deitado no gramado; com suas mãos, tampando os raios de sol que lhe vinham até o rosto de expressões felinas.

Andava em volta dos brinquedos, observando uma silhueta conhecida de costas, sentado em uma das xícaras gigantes. Arregalou os olhos perguntando-se o que fazia ali, aproximando-se para que pudessem conversar e fazer a noite valer o mínimo de alguma coisa.

- Shinji? – perguntou, quando se viu próximo o suficiente.

- Takashi? – imitou-o fingindo surpresa, embora não estivesse completamente indiferente.

- Vá à merda. O que você está fazendo aqui? – perguntou, parado em frente ao portãozinho da xícara.

Tora se levantou, saindo pelo portão enquanto Saga o seguia paralelamente.

- Você comprou aqui e não me contou? – o tigre disse entre alguns risos ao passo que Sakamoto revirava os olhos a tamanha a ignorância do outro.

Foram passeando sem rumo ou intenção por entre o parque. Saga achou que seria melhor se não insistisse no porquê de Tora estar li, uma vez que o outro poderia perguntar sobre si também; e não queria falar sobre Hiroto.

Não falavam nada, apenas andavam ao lado um do outro. Havia muitas pessoas por ali também, só que estas conversavam entre si. O local era movimentado como o esperado de um domingo à noite, mas entre os dois a situação era diferente.

Tora parecia infeliz com alguma coisa, suas piadas freqüentes não eram pronunciadas; Saga o conhecia bem para saber que algo estava incomodando o moreno. Enquanto a infelicidade parecia ter se instalado sobre o mais alto, Takashi estava triste, queria ver Hiroto, havia se arrumado para tal.

Reparando naquele minuto, Tora também estava arrumado, de sua forma, mas arrumado. Uma camiseta preta com alguns escritos, e uma calça igualmente preta de algum tecido pesado com vários zíperes. O coturno, que nunca tirava dos pés, estava desamarrado, com suas ponteiras soltas livremente.

Depararam-se com o fim da linha. As cercas com suas luzes amarelas fechavam-se naquele canto. Shinji avançou à frente, encostando-se na cerca e encarando Takashi com uma cara de poucos amigos.

- Perdeu alguma coisa? – perguntou, irritado. A noite não havia sido nem um terço do que esperava que ela fosse; não podia culpar Shinji, mas ele ali daquela forma não estava ajudando em nada.

- Escondendo alguma coisa? – a questão rebatida pelo moreno assustou Takashi, e pela forma como reagira, não havia como dizer que não estava escondendo nada. – Se fosse outra situação, talvez eu ficasse muito puto... Mas eu ando escondendo umas coisas também.

- Eu não posso cobrar nada. – disse, bufando pela confissão do outro. Gostaria de perguntar o que havia escondido de si, mas sabia que Tora não responderia ao menos que dissesse o que ele também queria ouvir.

- Sei sobre o Hiroto. – o vento bagunçava seus cabelos negros em direção ao seu rosto, uma vez que estava de costas para o mesmo. Saga só se assustava cada vez mais: sabia que não tinha como esconder de Tora para sempre, e o contaria sobre a noite que teria no outro dia; mas não esperava que o outro descobrisse.

- Eu não queria escond—

- Não minta, e nem se finja de inocente. Eu sei das cartas também.

- Ah vá pra puta que o pariu Tora! – berrou dando um soco para o ar, olhando pro céu com uma cara inconformada e voltando sua atenção para Tora. – Você faz o que da vida? Anda invadindo minha casa? Espionando-me depois da aula? Caçando as pessoas com quem eu saio?

- E você? Deu pra julgar as coisas antes de ouvir? Virou dono da razão? – disse arqueando as sobrancelhas enquanto mantinha um olhar misto de descrença e tédio.

- E o que é que você pode dizer agora? Não me diga que Hiroto é seu parente. – disse rindo irônico, debochando da cara do moreno; fazendo os olhos do outro brilharem de raiva.

- Você não sabe como foi difícil Takashi, se expressar nunca foi fácil, mas pff...

- Do que você está falando? – seus orbes arregalados não continham sua inquietação; denunciavam-no.

- Takashi, diga-me uma coisa. – Saga fez que sim com a cabeça, olhando nas íris negras do moreno. – Você gosta do Hiroto?

A pergunta parecia ansiosa, e Saga ainda mais. Engraçado era o fato que estava acontecendo ali; quando finalmente decidira se entregar a alguém, tentar mudar o que sentia por outra pessoa; essa outra pessoa parece perturbada a ponto de vir até você.

- Gosto. – respondeu veementemente, embora estivesse incerto por dentro.

- Você gosta dele ou das cartas dele? – questionou, vendo o outro arregalar os olhos; achando-se confuso.

- Ora, eu gosto dele pelas cartas, não conversamos muito, mas uma vez que gosto das cartas é a mesma coisa que gostar dele.

- Ou não.

- O que você quer dizer com isso?  - perguntou, cruzando os braços enquanto encarava o outro sem piscar.

- Sou eu quem escreve as cartas Takashi.

- Você? Você quer é me fazer rir não é Tora? – viu o moreno bufar, irritado. Odiava duvidar de Tora, mas era dele sobre quem estavam falando e aquilo com certeza era algo a se duvidar.

- Não me faça repetir as coisas que já escrevi Takashi. – o vento que bagunçava seus fios escuros era o mesmo que infernizava os olhos castanhos de Sakamoto; uma vez que estava de frente para o mesmo.

- Mas como assim? O que Hiroto tem a ver com isso então? – perguntou quando a ficha parecia cair um pouco, embora não aceitasse o fato por completo. Olhando agora, os escritos nas cartas pareciam se encaixar...

- Eu só pedi para que ele fizesse... Mandei na verdade. – disse, rindo um pouco e recebendo um olhar reprovador do outro.

- Mas Tor—

- Caralho Saga eu já disse, não vou repetir as coisas que escrevi; se não quiser acreditar o problema é todo seu. – encarava Takashi, enquanto colocava suas mãos nos bolsos de sua calça preta. Viu-o soltar um riso irônico e até histérico, surpreendendo-se.

- Você é muito engraçado Tora. Eu sempre gostei de você e você nunca deu a mínima pra mim e agora que eu vou tentar algo, você me aparece com isso.

- Você nunca me disse nada Takashi, se tivesse dito antes n—

- Se tivesse dito antes o que iria mudar? Você continuaria com suas canalhices e eu assistindo você, encostado naquela maldita árvore onde nos conhecemos. – gesticulava enquanto os sentimentos que reprimira e lutara tanto para controlar vinham à tona.

- E você acha que foi fácil dizer tudo o que eu disse? Mesmo que por meio de outra pessoa, você é meu amigo Saga; por mais que vivamos em pé de guerra, não é fácil ver você de outra forma, mas é assim que eu quero; se você ainda quiser.

- Você usou outra pessoa pra fazer o trabalho sujo por você Tora! – disse, revoltando-se enquanto se aproximava do moreno para lhe apontar o dedo em sua face.

- SE PÕE NO MEU LUGAR CARALHO! VOCÊ PARECE APAIXONADO POR ALGUÉM QUE NEM FAZ IDÉIA DE COMO É, NÃO CONSEGUE VER QUE O HIROTO POR QUEM VOCÊ SE APAIXONOU NA VERDADE CHAMA AMANO SHINJI! – gritou após se irritar com a insistência do outro, tirando suas mãos da calça e segurando o dedo que lhe era apontado. Não era nenhum gatinho para agüentar o que lhe era falado quieto; e Saga sabia disso.

Viu o outro bufar alto enquanto puxava com força a mão dos domínios do outro, levando suas mãos até o rosto. O moreno permaneceu no canto, encostado na cerca, enquanto o outro passava em frente de si com o rosto tampado.

- É você que não consegue ver Tora. – disse depois de um tempo; sua voz falhando devido ao nervosismo que vinha para si. – Eu continuo te amando.

O mais baixo se aproximou do moreno, colando seus lábios nos dele repentinamente. Sentia seu coração batendo descompassado, falhando batidas, acelerando outras. Os lábios que sempre observou; agora os tinham pra si.

Entreabriu os lábios, ansioso, tocando a boca do outro com a ponta de sua língua, como um aviso sutil; explorando seus lábios sem espera. A língua aveludada e experiente do outro se chocava com a sua, causando-lhes arrepios por conta do que sempre imaginou.

O moreno lhe segurava pela cintura; vorazmente, como se controlasse situação. Embora Saga odiasse ser controlado, não fez menção de reclamar, estava ali de qualquer forma.

Beijavam-se como se fosse uma brincadeira entre suas línguas, travando pequenas batalhas entre si; degustando do sabor um do outro. Sakamoto arranhava vez ou outra a nuca do mais alto, deixando-se levar pelo ritmo imposto ali entre eles.

Sentia necessidade de um ar límpido, embora não quisesse se separar do mais alto. Selou os lábios nos dele, calmamente, depositando uma mordida –certamente dolorida- no inferior. O maior deixou um protesto lhe escapar pelos lábios bem desenhados; fazendo Takashi rir divertido.

- Desculpe-me por desejá-lo Amano Shinji.


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Notas finais do capítulo

Enjoy it or not K3



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