A Little Piece Of Heaven escrita por MayonakaTV


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fic de Teru x Kamijo. :3



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Na falta de vozes humanas, o som da estrada era uma sinfonia deveras infernal.

A viagem parecia interminável.

O que ele menos queria era estar no banco de trás daquele carro, a caminho daquele lugar...

O céu estava cinza.

Com as costas da mão, o loiro limpou o vidro embaçado pelo frio. Os portões do cemitério de Versailles estavam logo à frente.

Estavam os quatro de pé no cemitério, em belos trajes negros, cada qual com sua rosa branca nas mãos. O lenço de Jasmine You já estava ensopado e manchado pela maquiagem que se desfazia no correr das lágrimas; seu choro e seus lamentos ecoavam por todo o local. Yuki e Hizaki mantinham suas cabeças baixas, chorando em silêncio. Mas nenhum deles estava tão descoordenado quanto Yuuji Kamijo.

Estavam diante de uma lápide de mármore branco, onde erguia-se a foto que nenhum deles gostaria que estivesse ali. O rostinho infantil tinha deixado de correr pelas ruas para ficar eternizado naquela foto. A angústia pesava, não conseguiam acreditar que os reluzentes olhos azuis, tentando se sobressair por baixo da franja bicolor, jazeriam fechados para todo o sempre. O sorriso vivo numa fileira branca de perfeição extrema estava confinado dentro de um caixão.

Abaixo do retrato, o nome entalhado com graça na pedra fria:

TERU.

Jamais pensaram que ocorreria tal fatalidade. Talvez não houvesse no mundo um laço tão forte quanto o que unia aquele quinteto; algo inseparável e indestrutível que força nenhuma seria capaz de abalar. E agora, frente ao túmulo do pequeno guitarrista, é que viam o quanto o destino pode ser cruel.

Aos olhos de Kamijo, a visão era outra.

Era ele quem acompanhava o menor quando aconteceu o acidente. Ele devia ter sido mais atento, devia ter insistido mais para que o menino não corresse na frente. Devia ter sido mais firme quando lhe disse para sempre prestar atenção aos dois lados antes de atravessar. Devia ter sido mais rápido quando o garotinho disparou pela rua e o sinal abriu de repente. Devia ter se sacrificado, entrando na frente do carro que o acertou em cheio. Devia ter partido ao invés dele, que ainda tinha tanta coisa pra viver...!

Se Teru estava morto, a culpa era sua.

Há uma semana, sua vida passara do vinho para o vinagre. O céu de Versailles acordava sempre naquele tenebroso tom de cinza - na verdade, o mundo adquirira aquela cor desde que Teru se fora. Amava a todos daquele quinteto, mas o que sentia pelo baixinho de olhos azuis era fora do padrão, muito além do que ele julgava entender por amor. Teru era sua música, sua alegria, sua preocupação, sua vida.

Já estava acostumado a acordar com o menor pulando em sua cama, lhe dando "bom-dia" com uma disposição invejável. A vê-lo correndo de um lado para o outro, sumindo com as coisas de Jasmine e Hizaki ou tentando convencer Yuki a mudar de penteado. Era ele o mais eufórico antes de cada show. O que mais demorava a dormir, também impedindo o sono alheio com suas piadas sem sentido. Toda família precisa ter um crianção. Na família Versailles, com certeza era Teru.

Os cabelos, ora negros, ora branco, balançando ao vento, lembravam as nuvens dos dias de inverno. Os olhos brilhando diante da guitarra que o acompanhava a todos os cantos, num azul vivo que podia ser todos em um só, eram a imensa tela pairando acima das cabeças de todos.

Não, ele não era um anjo.

Teru era um pedaço do céu. E agora, tinha voltado para lá.

Sem Teru, Kamijo nada mais era do que um homem comum.

Começou a chover uma chuva cinza, fria e insuportável.

O pranto de Jasmine You tornou-se maior enquanto as rosas de todos eram deixadas aos pés da foto.

Precisavam ir embora, antes que a dor ficasse maior do que já era.

Kamijo parecia não sentir a água que caía do céu. Ficou ali, ajoelhado e imóvel, imerso em sua própria tristeza até sentir no ombro a mão de Hizaki.

- Você vem?

- Daqui a pouco - respondeu-lhe em voz baixa, deslizando os dedos pela moldura prateada.

Hizaki nada tinha a dizer. A morte de Teru abalara a todos, era fato, mas nenhum sofrimento poderia ser maior que o de Kamijo. Tomou o caminho de volta ao carro, ajudando Yuki a amparar o inconsolável Jasmine You.

De ouvidos atentos, Kamijo esperou pelo afastamento dos amigos. Começava a ficar encharcado pela chuva que aumentava gradativamente. Os cabelos pingavam água, e as lágrimas se misturavam aos pingos gelados que lhe beijavam a face. Fechou os olhos, pesaroso.

"Isso não é chuva."

Suspirou por um momento, hesitante do que estava prestes a fazer.

"Não, isso definitivamente não é chuva."

Abriu os olhos, com o coração batendo mais depressa. Curvou-se para beijar a foto e logo se levantou, colocando a mão no interior do sobretudo. Dali, tirou um revólver de grosso calibre, cujo cano foi colocado no lado esquero de seu peito.

Ao longe, Hizaki voltava para buscá-lo. Era doloroso ver que o amigo permanecia na chuva, ainda encarando a lápide.

- Kamijo...

Então, ouviu-se o barulho, e Kamijo foi ao chão, para desespero do loiro de vestido.

- KAMIJO!

Ele havia puxado o gatilho.

As rosas brancas estavam salpicadas em vermelho. Aos pés da lápide formava-se uma poça de sangue, provinda do corpo estirado frente à ela. Desesperado, Hizaki correu ao encontro do suicida, caindo de joelhos a seu lado. Tomou-lhe o corpo nos braços, depositando-lhe a cabeça no colo. Ele ainda respirava.

- Seu idiota! Idiota! O que você fez?

Kamijo oscilava entre o fio da vida e da morte. A dor no peito era intensa, ele não duraria muito tempo.

Os olhos abertos depararam-se com o céu cinzento lá em cima.

Enquanto Hizaki, sem saber o que fazer, chorava segurando-lhe o corpo, Kamijo pensava. Pensava nas tardes felizes que tivera. Pensava naquele céu acima dele, que de uma hora para outra simplesmente perdera a cor. Pensava em rosas, pensava em Teru.

"Isso não é chuva."

E assim, pensante, transformou suas últimas forças num sorriso. Seu último sorriso, antes de finalmente deixar a vida para encontrar-se com seu amado.

"É você, não é, Teru?"


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Notas finais do capítulo

A repetição do "estavam" no início dos parágrafos foi proposital. Achei bonitinho. ♥ (modernista -qq)

Ah, uma hora vocês me perdoam. ;;