" Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre, mesmo que não tenham nada em comum, somente compartilhar as mesmas recordações."

                                                         Vinicius de Moraes

                         O ultimo raio de sol

   Jake não poderia está falando sério. Será que ele faria isso? Continuar lutado por mim até mesmo depois que meu coração congelasse... Logo Jacob? Logo ele com todo seu nojo por vampiros?

   Deixava a casa dos Blacks transtornada. Andava lentamente até minha picape, ainda olhando para traz e lembrando das lagrimas nos olhos de Jake, do jeito com que se esforçava pra falar que me amava mesmo todo machucado, do jeito com que ele sofria a cada segundo em que eu falava que escolheria Edward, mas mesmo assim, não deixava transparecer esse sofrimento, para eu não ficar triste. Lembrei dos detalhes impercebíveis que somente ele via em mim, lembrei da forma incondicional com que ele fazia tudo pra me agradar e me ver bem, do modo como a minha felicidade era o suficiente pra ele.

   A chuva voltara a cair, eu ainda estava fora da picape... Toda aquela certeza de minha escolha se dissolvia junta com a as gotas geladas de chuva, e foi naquele exato segundo em que percebi que eu não queria um homem perfeito, eu não queria – e não precisava – morrer para ser feliz... E principalmente eu não queria ficar longe de Jacob, não queria sentir nojo de seu cheiro amadeirado. Era ele, Jacob Black, quem me fazia bem, era ele que eu amava sem nem uma necessidade sobrenatural, eu apreciava sua presença, seu calor, eu sentia o que ele sentia, e pensava o que ele pensava, e tudo livremente, sem nem um medo de ser ou não um par perfeito para um homem perfeito. Era Jacob quem me conquistara com a amizade e com suas perfeições e imperfeições. Ele sim dizia o que pensava, Jacob enfrentava seus medos e encarava seus fantasmas, Jacob sentia, seus olhos refletiam vida e seu sorriso felicidade, toda felicidade do mundo, sua pele quente e seu sangue pulsava nas veias, e seu coração batia, batia mortalmente. Jacob, acima de tudo, era humano e mesmo com seu lado feroz ele ainda sim era humano.

   Gargalhei ironicamente da minha capacidade de estragar tudo. Eu precisei deixar isso ir tão longe para perceber o que realmente queria? Por que agora, para Isabella Swan ser feliz o dobro de pessoas sofreria, por que fiz o grande amor da minha vida sofrer tanto tempo, duvidas acabavam comigo, mas pela primeira vez em muito tempo eu não estava me crucificando e me culpando, de alguma forma meu inconsciente gritava dizendo: “esta tudo bem, as pessoas erram, aconteceu que tinha que acontecer.” Pessoas normais erram, eu errava o tempo todo, mas eu conseguia esta feliz, lá no fundo estava muito feliz de saber que mesmo com todos os problemas enfrentados e com todos que eu teria de enfrentar, ficaria feliz com meu Jacob.

  Guardei a chave da picape de novo no bolso e corri de volta para a casa dos Blacks. A porta estava encostada e Billy não estava na sala. O clima daquela casa me tranquilizou, lá estava quente e eu estava congelando.

   Caminhei lentamente até o quarto de Jake, a porta entreaberta me deixava vê-lo, ele estava dormindo, uma expressão sonora... Entrei devagar no quarto, sem fazer barulho.

    O cansaço dele era percebível agora que ele dormia, as olheiras gigantes se formavam em baixo de seus olhos. Os traços de seu sorriso marcados. Ouvia sua respiração calma e continua. Lindo, estupidamente lindo, mesmo com o resto arranhado a beleza era intensa. Seus cheiro estava em todo parte como se anunciasse a presença de Jake.

     Levei minhas mãos a seus cabelos curtos, os acariciando levemente. Seus lábios, repuxados, quase impercebíveis, em um sorriso. Tinha que me perguntar... Porque eu levei tanto tempo pra entender?

     Jake se mexeu na cama, e abriu os olhos devagar, assim que me viu ele sorriu meio assustado.

– Bells? O que... – A voz dele falhava.

– Shiiii, não fale nada... – encostei meu dedo em seus lábios. – apenas durma, Ok?

– Bella... Você tem que ir, não pode mais ficar aqui, seu... Noivo deve esta esperando. – Ele se esforçou tanto para falar, pude ouvir a dor na voz.

– Edward não é mais meu noivo, Jake... – Um sorriso instantâneo surgiu nos lábios de Jake.

– Como? Não é mais? Do que esta falando Bella?

– Não vou me casar com Edward, Jacob... Não vou porque eu amo você. – Falei atropelando as palavras. Jacob me olhou surpreso, sua expressão se dividia em duvida e felicidade.

– Você deve ter batido a cabeça...

– Não Jake, eu não bati. Não to blefando, sei exatamente o que eu quero, e eu quero você. Talvez eu não tenha percebido antes, porque de verdade nunca me imaginei sem você, mas agora, agora eu sei... E eu não vou me casar. Eu vou ficar com você.

– Porque demorou tanto pra perceber isso, Bella? – Ele disse encarando meus olhos.

– Sabe que eu não sou boa em perceber coisas, mas eu percebi, não é? E estou aqui, agora, dizendo pra você que te amo, que não vou me casar com o seu maior inimigo. Você tem todo direito de ficar chateado, Jake, eu sei que errei, mas...

– Chateado? Como poderia está chateado, eu amo você, Bells, amo você mais do que tudo, mais do que qualquer coisa que possa imaginar... – Ele, com alguma dificuldade, se aproximou de mim e acariciou meus cabelos.  

– é, eu também. – sussurrei. Lentamente ele encostou seus lábios quentes nos meus, correspondi o beijo no mesmo segundo, os lábios quentes de Jake em contato com os meus frios me fizeram tremer, foi um beijo rápido, mas o melhor da minha vida.

– Esse... Era pra ser o nosso segundo beijo. – ele disse sorrindo.

– Não Jake, deveria ser o beijo de nossas vidas, e foi. – ele riu baixo...

– É... Você tem razão, Bells. – Eu me sentei na cama ao seu lado e ele apoiou a cabeça em meu colo. Meus dedos alisavam os cabelos de Jake de leve, e ele acariciava minha mão.  Fechei meus olhos por alguns segundos, sentindo aquele cheiro amadeirado e o calor que Jake transmitia. Logo a inconsciência me alcançou e assim como Jacob, eu adormeci profundamente.

  Não sei quanto tempo eu permaneci ali, só sei que acordei com o chamado cuidadoso de Jacob.

– Bella... Acorde. – Abri meus olhos devagar e a primeira coisa que vi foi o meu sol sorrindo pra mim e me aquecendo, fazendo abrir um sorriso como resposta.

– Jake, que horas são? – perguntei sem dar muita importância.

– Já é de manhã, Bells, seu pai já ligou umas quinhentas vezes. – Ah, meu pai...

– Charlie? O que disse a ele?

– Disse que quando você foi embora começou a chover, disse também que você tentou ligar mais não dava sinal. – Jake falou sereno.

– E ele?

– Disse que tudo bem... E que vampiro estava te procurando. – E só ali eu me lembrei... O que eu falaria pra Edward? Como falaria... ?

– Meu Deus... – sussurrei. – Edward...

– Tudo bem Bells... Ele não vai te fazer nada, não em quanto eu estiver perto.

– não é isso, Jake... Mas até ontem, me casaria com ele. Não é justo. – Jake me observou por um tempo, seu rosto despreocupado me fez sorri. Ele me fazia tão bem, me deixa tão feliz. Seus olhos negros brilhavam e a ruga de preocupação na testa era quase neutra.

  Comparando com ontem, Jake já estava bem melhor. Os cortes pareciam ter semanas e ele já ficava de pé, como ele mesmo dizia... Coisas de lobo.

– Quando acordei... Fiquei com medo que fosse um sonho. – sorri

– Será um eterno sonho Jacob. – Falei a ele, que se aproximou e beijou minha face com carinho.

– Eterno em quanto durar, Bells. Tem que se desapegar a eternidade. – ele tinha razão, a eternidade não importava mais. O tempo que eu passaria com Jake, e não só com ele. Com Charlie, Marie, os meninos lobos que eu tanto amava... Todo esse tempo com eles seria o meu tempo, nosso tempo, eu não desejava mais a eternidade. Não mais.

– Tenho que ir, Jake... Acho que já fiquei tempo demais... – não foi o suficiente pra mim – Charlie deve esta ficando irritando. – Disse me levantando da cama.

– Bells, eu até te levaria, já me e sinto bem melhor, mas, sabe como é... Meu pai me mandou ficar.

– Tudo bem Jake, descanse. Não quero ver meu namorado doente. – Jake olhou pra mim sorrindo e depois disse.

– É... E eu não quero minha namorada assassinada pelo pai. – Rimos. Ele andou até mim e me deu um beijo, esqueci meu nome por algum tempo.

– Deveria ser proibido um beijo tirar os sentidos de alguém. – falei fazendo bico.

– e deveria ser proibido você ficar tanto tempo longe de mim.

– Eu volto mais tarde, Ok? Você não vai nem sentir minha falta. – Eu sentiria a dele, cada segundo.

– Não conte muito com isso, mas tudo bem. Volte assim que puder, por que eu não posso sair de casa. – Soltei um beijo no ar e sai pela porta. A um bom tempo não me via tão contente.

   A chuva não abordava o lugar, mas tempo ainda estava nublado, e eu ainda parecia esta iluminada por um grande sol. A viagem de Lá Push de volta pra casa foi rápida, eu estava tão feliz que cantarolava baixo. Quando eu cheguei Charlie estava sentado na mesa da cozinha com cara de poucos amigos, na verdade com cara de amigo nenhum.

– Isabella Marie Swan! Onde a senhorita passou a noite? – Ele perguntou fechando o jornal que lia.

– Pai... Jake já não te explicou? Eu fui lá por que ele... – Não sabia como contar a Charlie, o que eu diria? “Um vampiro quebrou todos os ossos de Jake”, de jeito nem um! – Bem, Ele sofreu... Um acidente, com o carro, bateu... Ele quebrou alguns ossos... Ficou tarde e começou a chover, e dormi por lá. – menti fingindo uma surpresa muito grande.

– Billy comentou alguma coisa sobre quando eu liguei pra lá... Mas eu não imaginei que pudesse ser tão sério, ele vai ficar bem? – Eu entendia o carinho de Charlie com Jake, meu Jacob era tão adorável.

– Vai sim, pai, ele vai ficar bem, já está bem melhor... Desde ontem. Ta se recuperando bem.

– Fico feliz... Bells, esse menino se recupera rápido. – segurei o riso ao lembrar por que.

– é, pai...

– Bells, seu... Noivo – Charlie fazia o mesmo esforço que Jake fizera, porque será que só eu não percebi? – Esteve aqui, Disse a ele que estava em La push... Ele volta mais tarde.

– Tudo bem pai. – Disse subindo as escadas e indo para o meu quarto.

Quando abri a porta de meu quarto, Edward estava lá. De primeiro momento não soube o que fazer, foi quase impossível evitar o susto! Não sabia o que fazer ou o que dizer, só sabia que não ficaríamos juntos, não mais. Eu realmente gostava dele, e a beleza... Vampiresca dele me atraia... Mas era tão surreal, algo tão absurdo que já não fazia sentido algum. Eu não queria que ele sofresse de jeito nem um, eu, de certa forma, o amava e queria que ele fosse feliz, ele e toda Família Cullen, mesmo sabendo que do meu futuro, eles não participavam mais.

– Bells... – Ele disse se aproximando e me abraçando carinhosamente, o frio de sua pele me fez tremer. – Jacob ficou melhor? – A pergunta, apesar de singela, me soou estranha.

– é ele vai ficar bem.

– Poderia ter me ligado, eu iria te buscar... Alice ficou desesperada.  – Edward disse se afastando e sentando na cama.

– Edward... Não precisava se preocupar... Não precisa... – Minha voz baixa e rouca pareceu sumir.

–  Como, Bella? Eu tenho que me preocupar, você...

–  Não, Edward... Não tem. –  me aproximei dele e acariciei suas mãos frias. –  eu sinto muito, mesmo. – Edward enfrentou alguns segundos de dúvida, mas logo depois a certeza do que eu estava falando afogou seu rosto pálido.

– é ele, não é? Aquele cão sarnento.

– Não fale assim, Edward. – aumentei o tom de voz. – Não... Fale assim. – abaixei a cabeça.

– Você o ama, não é? Como pode fazer isso comigo, Bella? – Ele se levantou, e começou a andar pelo quarto. Sua expressão normalmente vazia estava raivosa, seus olhos, perderam a cor mel, e estavam quase vermelhos, as veias pulsavam e eu estava morrendo de medo. – Eu sei que eu tenho culpa, mas por que fez isso comigo Bella? Você disse que me amava. – ele gritou cerrando os punhos.

– Ed... Edward, Me, me desculpe. Não me machuque... Charlie está lá embaixo...

– Eu nunca te machucaria Bella. Você o escolheu, o que eu posso fazer? – A ironia e o ódio tomavam conta do rosto dele, de um jeito jamais visto por mim.

– Edward... – me aproximei dele, ainda temendo. – não fique assim. – ele olhou pra mim vazio.

– o que digo a Alice? –  uma das partes mais difíceis de tudo isso seria dizer adeus. Não só a Edward, mas a todo família, Alice, Jasper, a adorável Esme, Carlisle... Emmett. Todos eles.

– diga a verdade. – ele olhou pra mim e eu o abracei rapidamente. – Adeus, Edward...  E me perdoe. – Sem olhar para trás, ele pulou da janela e sumiu de minha visão. O choque foi grande. Nunca vira Edward daquele jeito... Com tanta raiva. Nunca imaginei que ele olharia daquela forma pra mim.

   Eu estava bem aliviada, é claro que preferiria nunca passar por aquele momento, mas dizer adeus a Edward não foi tão difícil, mesmo eu me sentindo culpada.

  Edward foi uma boa parte de minha vida, vivemos boas coisas juntos... E ele me apresentou a um novo mundo, e acho que graças a ele eu me aproximei tanto de Jacob.

   Bastou o nome soar em minha mente e um sorriso brotou em meus lábios. Jacob, Jacob, Jacob. Não me lembravam mais dos pensamentos culposos e tristes. Agora tudo ficaria bem, Jake estaria comigo e eu estaria com ele. E é claro, tudo que estava incluindo no pacote: Aturar Charlie por um bom e longo tempo, não diria adeus a ele, como algum dia pude pensar que diria adeus a meu pai, meu amado pai?

É claro, minha amável mãe também seria parte desse novo futuro, não poderia me esquecer dos meninos Quileuts. Uma risada me atingiu quando me lembrei de cada um deles. Meus amigos gigantes... E ainda todo o povo... Normal da escola. E eu seria mais que feliz  com todos aqueles humanos... Ou quase humanos, por que era exatamente aquilo que eu queria.

–  Bella querida, Desça que vamos a La Push.

– Claro Pai! – Abri um sorriso e desci as escadas, dali pra frente assim seria meu futuro.