Ela Está à Sua Espreita escrita por Thorny Rose


Capítulo 1
Último suspiro




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Às vezes eu sinto que estou sendo observado. Mas não é por algo que seja humano. Talvez eu esteja ficando louco aqui, nessa droga de quarto de hospital. Mas é assim mesmo que minha vida é...aliás, o final dela.

Tenho uma doença rara, e terminal. Em breve eu morrerei, eu sei disso. Já perdi todas as esperanças. Lá vem a enfermeira de novo...

-Bom dia, senhor Elísios! É hora de tomar o remédio! – a enfermeira diz.

-Não sei pra quê eu tomo essa merda. Não faz efeito! – ele responde.

-Oh, senhor! É para você não sentir dor! –a enfermeira, enquanto oferecia um copo d’água e o comprimido.

Elísios então, toma a água, e o comprimido. Faz uma cara de nojo.

-Me dêem morfina então! Eu não sei por que não morro logo! – diz, autoritário.

-Senhor Elísios, vou lhe dar um conselho de amiga! Não deseje tanto a sua morte! Aqui no hospital, ela é a que mais nos ronda! –a enfermeira, se retirando.

Elísios começa a rir. E diz, consigo:

-Morte nos ronda...hahaha, era só o que me faltava! Que ela venha! Já deve estar atrasada...

Continua rindo, enquanto o remédio traz o sono. E assim, ele acaba dormindo.

Nossa...que lugar é esse? Onde estou?

Elísios não via nada. Apenas uma escuridão terrível. Começou a caminhar pelo que conseguia enxergar. Apertava os olhos em busca de alguma luz, em vão. Quando finalmente conseguiu enxergar, viu um imenso jardim, cercado por paredes. Um labirinto.

Mas o que é isso? Será que devo seguir por ele?

-Bem-vindo, Elísios! – uma voz gutural responde.

QUÊ? QUEM É VOCÊ? QUEM ESTÁ AÍ?

-Ora, ora! Você sabe quem. Eu sou aquela que você tanto invoca! Seja bem-vindo ao meu labirinto! – a voz responde.

Elísios começa a se assustar. Será que estava sonhando? Será que aquilo estava acontecendo? Ou...era a sua imaginação?

Por que você não se mostra? Hein?

Aquele foi o maior erro do homem. Ele teria a visão mais grotesca de toda a sua vida.

-Hum, se esse é o seu desejo...-a voz diz.

Então, um feixe de luz ilumina parte do jardim. Agora, era possível ver como ele era. Não havia verde. Tudo era negro. As plantas estavam mortas. Enormes teias de aranha eram visíveis, e um cheiro de carniça invadia as suas narinas e causava náuseas. Elísios se ajoelha, não conseguia manter o equilíbrio, pois suas pernas estavam moles.

Olhou mais para o local, e via crânios espalhados pelo chão, além de esqueletos pendurados, como se tivessem sido enforcados.

Mas aquilo não era o pior.

-Muito bem...agora que já viu o meu mundo de pesadelos...verá meu rosto. – a voz responde.

Naquele momento, o coração de Elísios parecia saltar de sua boca. A gargalhada daquele ‘ser” ecoava por todos os cantos, deixando-o louco.

De repente, veio o silêncio.

Não consigo mais ouvir nada! Onde você está?

Elísios sente uma brisa gelada passar pelo seu corpo. Vê um vulto negro parado à sua frente.

O suor escorria pelo seu rosto, enquanto o grito morria em sua garganta. O vulto se aproxima...e retira o capuz que cobria seu rosto.

ARGH!

-Eu sou a Morte. – o vulto diz.

Seu rosto era horrível. Metade esqueleto, metade carne podre. Larvas saíam do buraco ocular da parte óssea, enquanto pedaços de pele caíam aos pés de Elísios.

Por que está fazendo isso comigo? Sequer me levar, LEVE-ME!

-Você é muito divertido. Não tenho vontade de levá-lo assim tão depressa. Sua alma é de um suicida. E sabe que lugar é esse? – a Morte dizia, calmamente.

...

-Todos aqueles que me chamam quando sua hora ainda não chegou, são trazidos pra cá. E aqueles que tiram as suas próprias vidas também...Você não tirou o que não era de seu direito, mas desejava que eu aparecesse a qualquer momento. Pois assim, seu desejo foi realizado. – Morte.

Mas o que você pretende comigo? O que eu farei aqui?

-Ainda não compreendeu...eu quero jogar um pequeno jogo com você. Façamos um trato: se você atravessar esse labirinto, e chegar até o final dele, vivo...eu deixo você em paz. Se não conseguir...ficará aqui para sempre. – a Morte.

Passar por esse labirinto? Mas está tudo escuro!

-Tome essa vela. Faça dela a sua luz. Mas tome muito cuidado...eles são atraídos por ela. –a Morte.

Eles? Eles quem?

-Você saberá. Boa sorte...-e o vulto some por entre a escuridão.

Que Deus me ajude!

Elísios então, começa a caminhar pelo labirinto. Não estava tão difícil assim, pelo menos ele estava conseguindo enxergar o caminho. Ele achava que estava sozinho...

De repente, Elísios escuta um barulho. Parecia que algo se arrastava atrás dele.

Eu não vou olhar, eu não vou olhar! Não é nada! Não é nada!

O homem repetia isso tentando se acalmar. Mas o barulho parecia estar bem a seus pés. Sem outra opção, ele direciona a luz da vela para baixo.

A criatura que estava ali,definitivamente não era humana.

AAAAAAAAAH!

Elísios entra em choque! A criatura rastejava, se pendurando em suas roupas, espalhando o mau cheiro e sangue por ela. A criatura não possuía olhos, nem pernas. Era um torso deformado.

O homem não deu tempo para a criatura terminar de escalar em seu corpo. Saiu correndo o mais rápido que pôde. Ao se afastar, ouviu o grito mais agonizante de sua vida. Era o da criatura, que havia perdido sua presa.

-Eles se alimentam de carne humana, Elísios. Enquanto eu me alimentarei da sua alma. –a voz gutural ecoava.

VOCÊ ESTÁ BRINCANDO COMIGO, NÃO ESTÁ?Não vai me levar dessa forma! É preciso mais que um simples cadáver para me assustar!

-Eu sinto tremor em suas palavras, sinto o suor escorrendo junto com a sua saliva...tem certeza do que está falando? – a voz.

TENHO! Eu não vou desistir, e nem vou deixar que você me leve! NUNCA!

O homem correu, o máximo que pôde, até suas pernas cansarem. Parou para tomar fôlego.

Eu tenho certeza que isso é um sonho! Só pode ser!

Queria muito acreditar naquele pensamento, mas logo sentiu uma brisa gelada assoprando contra o seu corpo. Sentia medo, muito medo. O que mais poderia acontecer ali? Que outras criaturas o aguardavam?

Agora não havia mais luz. A vela havia sido perdida em meio à correria. Elísios respirou fundo, e continuou a andar pela escuridão do labirinto. Deixava-se levar por seus outros sentidos, já que não conseguia enxergar nada.

Elísios estava descalço, andando sobre folhas secas e... mas o que era aquilo? Sentia seus pés... afundarem?

Areia movediça?Oh, não!

-Não é areia movediça, Elísios... é algo bem mais viscoso... – a Morte, amedrontando o pobre homem.

Quando Elísios se deu conta, pegou um punhado daquela substância. Ao aproximá-la das suas narinas, sentiu nojo. Era sangue... e fresco!

E aquela imensa poça de sangue foi o sugando. O homem tentava se livrar, mas parecia que algo o puxava mais e mais.

Foi quando sentiu mãos, muitas delas! Todas agarravam o seu corpo: pés, mãos, pernas e braços. Algumas tentavam afogar a sua cabeça, mas Elísios mantinha-se firme. Debatia-se como podia, tentando se livrar daquilo.

AAAAH! Deixem-me em paz! Meu Deus, o que é isso? Como escapo daqui?

-Não há escapatória. Terá seu corpo sugado pelo buraco até que vire mais um deles. – a Morte.

Mas o que são eles?

-São almas. Almas perdidas e famintas. São aqueles que precisam das almas de outros para continuar eternos. Eu os chamo de sanguessugas. – a Morte respondia.

Elísios estava perdido. Até que uniu forças. Não sabia de onde havia tirado. Empurrou seu corpo para fora daquele pântano macabro, apoiando suas mãos fora dele. Respirou fundo, e conseguiu sair dali.

Ao sair, jogou seu corpo de encontro a uma árvore. Sentou-se ali, ofegante. Estava sem forças agora.

A Morte não lhe respondia mais. Um silêncio mortal invadia o ambiente.

Silêncio... quanto silêncio... consigo ver... minha vida agora. Tudo que passei, toda a amargura, jogada naquele leito de hospital. Sozinho. Eu vou morrer, sem ao menos ter deixado um filho.

As reflexões de Elísios, foram interrompidas pelo barulho de algo se mexendo. Um barulho pesado, como se muitas pessoas viessem em sua direção. Mas... ele sabia que não eram pessoas.

Antes de Elísios se levantar, sentiu seu corpo sendo agarrado por várias cobras. E as cobras saíram...da árvore?

-Muito bem... essa é a árvore devoradora de almas. – a Morte.

Um feixe de luz ilumina a árvore, e Elísios pôde ver que as cobras possuíam apenas um olho, vermelho como o ódio. Pôde ver também, que, conforme as cobras o mordiam, as folhas da árvore ficavam mais e mais vermelhas. Viu rostos brotarem no caule negro, que chamavam pelo seu nome.

-Façam de novo! Até que os sinais cardíacos voltem! – ordenava o médico.

Os enfermeiros tentavam reanimar Elísios, mas já era tarde demais.

ENFERMEIROS? MÉDICOS? ME AJUDEM! EU QUERO VIVER!

Mas nada adiantava. Os sinais vitais de Elísios não voltaram.

A enfermeira que medicava o homem, saiu da sala, retirando sua máscara.

-Pobre Elísios... pelo menos não tem parentes próximos para dar essa notícia.

O médico sai da sala, e pede que os enfermeiros cubram o corpo. Elísios estava morto.

-Devemos enterra-lo como, doutor? – o enfermeiro diz.

-Não precisa enterra-lo. A universidade de Medicina precisa de corpos para os alunos estudarem. Já que Elísios não tinha parentes, pode doá-lo para lá.

-Como quiser, doutor. –o enfermeiro.

-Vou até a diretoria assinar os papéis. – o médico.

Quando o enfermeiro volta à sala, vê algo estranho, que o choca:

-Mas o que...

Elísios tinha várias marcas no corpo, como se fossem várias picadas de cobra, e muito sangue escorria dele. Seus trajes de hospital, estavam muito sujos, e um mau cheiro terrível invadia a sala.

O enfermeiro sai correndo, pedindo ajuda. Porém, quando todos entram na sala, o corpo estava normal, como haviam deixado.

-Deve ter sido traumático para você, Fernando, já que foi sua primeira emergência. É normal ter visões depois disso. – o médico.

-Mas...não foi uma visão! Eu vi! – Fernando.

-É melhor descansar um pouco, tudo bem? – o médico.

O destino pode ser muito ingrato com quem desperdiça todas as esperanças em coisas fúteis, e não na vontade de viver.

E você, valoriza a sua vida agora?


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