Lust For Blood escrita por line_chan


Capítulo 3
Dê-me tudo o que de ti fizer parte




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    - Eu me recuso a pagar por isto.
    - Kei!
    - Detesto ser enganado. Vamos embora.
    - Mas, e se for verdade? Se seu pai verdadeiro for o Arashi? De qualquer forma você seria o herdeiro do trono...
    - De qualquer forma está morto!
    - Pior ainda. Queres descontar naquela moça?
    - Eu não a maltratei.
    - Mas faz pouco caso.
    A senhora interrompeu a discursão dos dois:
    - Ela nunca erra.
    - Sempre há uma primeira vez. Vamos, Mitsuki! - passou pelas persianas de bambu com tal verocidade que quase as derrubou.
     Antes que pudessem sair da sala, os forasteiros foram parados pela voz fraca da senhora que sentava-se à uma mesa posta.
    - Esta pobre moça amava a um rapaz. Ele possuia apreço por ela e lhe trazia rosas todos os dias. Infelismente os dois não podiam ficar juntos. Então, ele lhe fez uma promessa: "Quando todas as rosas vermelhas dadas à ela murchassem, ele pediria sua mão com uma rosa branca, significando a vitória do seu amor.
    Os viajantes prostraram-se a ouvir apenas por curiosidade.
    - Mas seu amor era falso e quando o momento de cumprir a promessa chegou, o rapaz trouxe à esta casa guardas imperiais que servem ao seu pai. Eles a levaram e fizeram seus testes na pobre Momiji[1] - fez uma pausa, servindo uma xícara de chá - Pouco tempo depois, ela foi trazida de volta com os olhos vermelhos de sangue. O moço disse-lhe que não tinha mais serventia para os seus propósitos e se foi.
    Enquanto a mulher contava-lhes a triste história da gueixa, esta estava sendo consolada por uma das mulheres da casa. Tentava convencê-la a aceitar uma penca de uvas que trazia consigo:
    - Toma uma única uva. Tens tratamento especial. Desfrute, querida Momiji! - dizia com a voz suave, a atraente gueixa de olhos cor de avelã.
    O herdeiro cogitava se não haveria sido rígido demais com a moça fragilizada.
    - Desculpe os meus modos - disse com a voz costumeira, grossa e firme, mas, que era honesta.
    - Tudo bem. A pequena Momiji perdeu a razão com aquela experiência - olhou com angústia a xícara que  tinha nas mãos - Se eu tivesse impedido...
    - Senhora... - Mitsuki tocou-se.
    - De qualquer maneira. Ela se mantém sob controle enquanto dissermos que seu amado irá voltar para buscá-la. Em sua visão da realidade, ela acredita que ele não teve nenhuma culpa e que ainda voltará para casar-se com ela.
    - Fazendo experiências com humanos... O que aquele maldito pretendia afinal?
    Um grito soou agudo em toda a casa.
    - Dê-me tudo o que de ti fizer parte - a gueixa de olhos vermelhos dizia enquanto suas unhas perfuravam a carne da outra, tal como um animal para com a presa.
    A dona da casa levantou-se imediatamente e chamou as outras. Os clientes se foram e a mulher continuava a gritar desesperada enquanto seus lábios já vermelhos maquiados, eram lavados com o escarlate do sangue que corria em seu corpo.
    Kei e Mitsuki foram até a sala, mesmo com os avisos prévios das outras mulheres.
    A gueixa avançara no pescoço da outra enquanto repetia:
    "Dê-me tudo o que de ti fizer parte"
    As mulheres tentavam fazer com que se separassem. Era inútil.
    - Ele não vai voltar! Olhe para si...
    Kei se aproximou rapidamente das duas.
    - Já chega.
    - Ela não pode ouví-la - a senhora falava.
    - Estes teus olhos foram amaldiçoados por culpa de teu amor impossível! - Provocava a outra, sentindo a voz abandonar a garganta sufocada.
    A outra cravou suas unhas uma última vez, fazendo com que o corpo em suas mãos desfalescesse. As pupilas dilatadas revelavam os olhos cor de avelã que não mais piscavam.
    - Kei! O chão! - Mitsuki apontava para as gotas de sangue que eram atraídas e entravam pelo corpo da "fonte".
    - A visita acabou - A dona da casa bateu palmas duas vezes como que dando uma ordem às moças do local.
    Momiji caiu de joelhos, trêmula, cobrindo o rosto com as mãos. Uma das gueixas segurou o corpo, ainda horrorizada. Correu a mão pelos olhos dela, fechando-os. As outras tentavam levar os visitantes até a porta da frente.
    - Mas... Ela está morta - Mitsuki dizia indignada.
    - O destino pode ser algo terrível, mas, de qualquer forma é inevitável e imutável - A mulher proferia com sua calma inabalável - A fonte não erra, Kei-sama.
    - Ela... Não disse nada sobre o meu futuro. Significa que ainda não está decidido.
    - Não exatamente. Todos têm seu destino traçado antes mesmo de nascerem.
    - Mas, então...
    - Aquela que foi amaldiçoada com os olhos que miram o futuro, não reconhece sua própria realidade. Não foi Momiji quem matou aquela jovem. Ela sequer sabe quem era.
    - Por isso você a perdoa...
    - Eu não possuo poder de advinhação, mas, Kei-sama... Serás um nobre e honrado rei. Que teu futuro seja guardado pelos deuses - reverenciou o homem à sua frente.
    - Obrigado. Agora vamos, Mitsuki! - caminhou rumo ao fim da cidade - Precisamos descobrir quem é novo rei e o que pretendem com essas experiências.
    - Por que não perguntou àquela gueixa.
    - Porque não confiava na validade das informações. Mas, já é tarde. Conseguiremos por outros meios!
    - Por que não voltamos e perguntamos a ela?
    - Mitsuki...
    - Sim?
    Kei colocou a mão sobre o ombro de sua seguidora e disse sereno:
    - O sol está se pondo. Descansemos por hoje - seguiu a caminhada enquanto Mitsuki ainda olhava para o prostíbulo.
    - Malditos vampiros... - sussurrou e então correu até seu mestre.
    Encontraram uma pousada próxima à floresta. Enquanto se hospedavam, os empregados tratavam de trancar todas as portas e janelas, desligando as luzes exteriores para não chamar a atenção dos vampiros.
    Diferentemente da aristocracia que habitava os reinos, os vampiros que vagavam pelas cidades ao escurecer eram seres animalescos: não possuiam inteligência, apenas seguiam seus instintos; e por esse motivo eram tão perigosos.
    - Esquecestes de escrever teu sobrenome, senhor - o atendente indicava com o dedo o espaço vazio no formulário.
    - Não tenho sobrenome.
    - Como assim não tens sobrenome?? - o homem indagava.
    - Er...Deixa comigo - Mitsuki afastou Kei e assumiu a palavra - Meu senhor... Tanto eu quanto o meu amigo aqui fomos abandonados pelos pais. Vivemos nas ruas desde a infância e ganhamos a vida em serviços pequenos. Não ficaremos por muito tempo; apenas esta noite para nos proteger dos vampiros.
    - Mesmo que seja por uma noite, não posso hospedar alguém que não tem identificação. Olhe esse cabelo tingido! As roupas esquisitas... Ele tem cara de arruaceiro! Como posso saber que não é algum foragido da justiça? - ele encarou o rapaz, invocado.
    -Tingido?!! - Kei enfureceu-se.
    - Nós pagamos bem - a mulher sorriu, colocando um saco cheio de moedas sobre o balcão.
    O atendente arregalou os olhos:
    - Quarto de casal ou para solteiros? - sorriu amistoso.
    Kei abriu a porta, deixou suas coisas em um canto e se jogou na cama. Assim que o dia amanhecesse, seguiriam para outra cidade em busca de mais informações, por isso precisava descansar. Mas, todos aqueles acontecimentos haviam lhe tirado o sono e também a paciência.
    Recusava-se a acreditar que Arashi era mesmo seu pai. Não podia ser verdade. Logo ele... filho de um vampiro?! Não podia ao menos encontrá-lo e arrancar dele a verdade junto com sua vingança... "O rei está morto".
    Lá fora os vampiros faziam suas vítimas; As estruturas das casas mais humildes não eram resistentes o bastante para detê-los. Eles arrancavam as portas e sugavam até a última gota de sangue daqueles que encontravam. Ao amanhecer, tudo estava manchado de vermelho.


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Notas finais do capítulo

[1]Momiji: Flor de acer vermelha.



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