Acima do Dever escrita por Flavia Souza


Capítulo 7
Capítulo 7




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"Faça tudo sempre com dedicação e amor, tendo em mente que você não deve nunca provar nada para ninguém."

─ Emily está chorando.   Avisou Bella, cutucando Edward na cama.

─ O quê?   Ele despertou instantaneamente e sentou-se. Olhou ao redor e levou um segundo para reconhecer o quarto de Bella e recordar o que fazia ali. Oh, sim, seu plano dera certo. Passara a noite na casa dela, pronto para tomar conta de Emily no dia seguinte.

E o dia seguinte já chegara.

O bebê choramingou no quarto ao lado, e Edward sorriu para si mesmo.

─ Vá.   Empurrou bella. ─ Relacione-se com sua filha.

Ele lançou as pernas para fora da cama, levantou-se e vestiu a calça jeans. Admirou Bella deitada com o rosto contra o travesseiro, os cachos vermelhos achocolatados esparramados sobre os lençóis verde-claro pare­cendo fogo num riacho.

Tinha de apreciar aquela vista, saboreando o simples prazer de acordar ao lado dela. Raios. Era bom demais. E lhe parecia certo. Seu plano funcionara perfeitamente. Ele, Bella e Emily haviam passado juntos toda a tarde de domingo, quando ele e a filha co­meçaram a se conhecer. Felizmente, Emily era um bebê alegre, com uma personalidade expansiva herdada mais da mãe do que dele. Olhava-o como se fosse apenas mais uma conquista, esperan­do que ele a adorasse, como todos os outros.

E, naturalmente, ele a adorava. Orgulhava-se dela. Emily era a criança mais inteligente que já vira. Claro, nunca convivera muito com crianças para fazer uma boa comparação, mas qualquer um podia ver como ela era esperta, rápida e linda demais. Os olhos refletiam seu coraçãozinho e, cada vez que ela o fitava, Edward sen­tia-se mais apaixonado pela filhinha. Sentia um aperto no coração ante os sorrisos e um aperto ainda mais forte quando ela chorava.

Era realmente espantoso. Edward nunca experimentara um amor tão irrestrito antes. Não acharia possível se alguém tivesse lhe contado. Mas imaginava que as pessoas estivessem certas. Nunca se sabia o que era o amor até se ter um filho.

Do berço, a flor delicada deu um grito de protesto alto o bas­tante para fazer Bella abrir um olho. Sem mexer um músculo, indagou:

─ Você vai até lá ou não?

─ Pode apostar, meu bem. Estou a caminho.    Antes de sair, porém, apoiou o joelho no colchão e a beijou na cabeça.

─ Eu me viraria e lhe daria um beijo de verdade, mas não quero me mexer.     Murmurou ela, as palavras abafadas pelo travesseiro.

─ Depois.       Edward sabia que era ele o motivo de ela estar tão exausta naquela manhã. Afinal, fazia dezoito meses que tinham tido sua última sessão de sexo. Sorriu consigo mesmo ao recordar as estripulias da noite anterior.

─ Está bem.     Bella fechou o olho novamente.

Edward deixou o quarto e fechou a porta antes de dirigir-se ao berço.

Tudo o que uma criança podia querer encontrava-se espalhado no chão ou nas estantes das paredes. Lá fora, o dia começava a raiar, mas o tom acinzentado se perdia no quarto devido à pequena lâmpada noturna acesa. Edward a desligou e avaliou a expressão zan­gada da filha.

─ Bom dia, filhotinha.      Entoou, feliz ao ver o cenho franzido se transformar num sorriso hesitante. Ora, se não se sentia melhor do que recebendo uma medalha das mãos de um general.

Emily agarrou-se às grades do berço e agitou as perninhas fre­neticamente, tentando escalar a barreira. Edward poupou-a do traba­lho. Ao pegá-la no colo, franziu o cenho ao sentir a fralda molhada.

─ Uma coisa de cada vez, mocinha. Vamos trocar essa fralda. Ela riu e balbuciou enquanto o pai lhe trocava a fralda e colocava um pijaminha novo. O macacãozinho tinha espaço para os pés, mas como encaixá-los lá, se ela não parava de se mexer?

Finalmente, conseguiu, e Emily estava mais pronta do que nun­ca. Levou-a para a cozinha. Com a filha bem apoiada contra o peito, Edward acreditava que o resto do dia transcorreria sem incidentes.

─ Por que ele não atende ao telefone?     Resmungou Bella, olhando feio para o telefone como se a culpa fosse do equipamento.

─ Talvez ele esteja ocupado, querida.     Sugeriu irmã Ângela.

─ Quanto tempo se leva para atender ao telefone e dizer "não posso falar agora?"    Céus, telefonara uma hora e meia antes e estava tudo bem. Onde ele poderia estar? Por que levaria Emily a algum lugar? E como suportaria ficar mais uma hora na escola sem saber como os dois se saíam em casa?

─ Aparentemente, mais tempo do que ele dispõe.   Provocou a freira, divertida com o nervosismo da professora.  ─ Quer realmen­te que o pai de Emily faça parte da vida dela, não quer?

─ Sim, mas...

─ E confia em Edward, não?

Bella suspirou.

─ Claro que sim, irmã, só que...

─ Só que você não quer partilhar sua filha?

Bella sentiu uma onda de culpa. Seria isso? Estava com ciúme do afeto de Emily? Não, protestou. Recusava-se a acreditar nisso. O que sentia era uma preocupação real e honesta. A filha estava sozinha com o pai pela primeira vez, e ele não atendia ao bendito telefone!

─ Irmã Ângela, Edward nunca tomou conta de um bebê antes e...

Lançou um olhar gélido ao telefone.

─ Ele é adulto, Bella. Saberá o que fazer.

─ Sabe, podia me deixar falar antes de derrubar minha teoria.    Resmungou Bella, desconsolada.

─ Não faz sentido perder tempo, faz?    Irmã Ângela olhou para o relógio na parede da secretaria da escola. ─ Agora, a menos que queira incomodar seu namorado mais uma vez, sugiro que volte para a sua classe. O recreio está quase no fim.

─ Incomodar?    Questionou Bella, dirigindo-se à porta.

A diretora adotou a expressão paciente pela qual era famosa e completou:

─ Ele vai ficar com Emily por quatro horas hoje, querida. O que pode dar errado em tão pouco tempo?

─ O que mais pode dar errado?   Resmungou Edward, enxugando o suco de laranja que escorria da mesa para o chão. Nunca vira uma criança espalhar tanto um suco.

─ Copos à prova de tombamento. Sei ─ zombou, atirando o utensílio plástico na pia. Não via tanto líquido desde que estivera no exterior socorrendo flagelados numa região que sofrera enchente.

Olhou para a filha e imaginou como ela conseguia. Raios, as mulheres deviam ter algum dom de que os homens careciam. Após meio período carregando-a para lá e para cá, sentia-se como se tivesse caminhado dez quilômetros com uma mochila cheia nas costas. Estava exausto. E não tinha de se preocupar com as roupas para lavar. Já trocara o bebê três vezes nas últimas duas horas.

Mas isso não era nem a metade da aventura. Emily já enfiara um pedaço de bolacha no videocassete, rasgara a fatura do cartão de crédito da mãe e mastigara a seção de esportes do jornal.

E não era nem meio-dia!

Além disso, o telefone não parava de tocar, como se ele tivesse tempo para atender. Talvez não tivesse talento para cuidar de crianças, considerou saudoso de estar num pântano com meia dúzia de inimigos no seu encalço.

Então, olhou para Emily e suas dúvidas se esvaíram naquele sorriso. Agitando as perninhas no vão da cadeirinha alta, ela bal­buciou feliz e atirou as rodelas de banana pela cozinha como disquinhos voadores. Uma rodela atingiu-o na testa, e ela riu. Edward suspirou e imaginou quando perderia o controle.

Há primeira hora fora uma maravilha. Mas, dali para a frente, a situação degringolará. Raios, talvez não tivesse sido uma boa idéia. Nunca se sentira tão inútil na vida. Em qualquer difícil mis­são, seria o homem a se apresentar e partir para o desafio. Mas, aparentemente, distrair um bebê estava um pouco além de sua capacidade.

─ Grupo de elite, hein?   Veio uma voz grave da porta dos fundos.

Edward reprimiu o gemido e endireitou-se. Diante de Jacob Swan, imaginou o que fizera para merecer tanto desgosto.

─ Está zombando?

Jacob entrou na cozinha, tirou o boné de treinador e pousou-o num lugar relativamente limpo do balcão.

─ Pensei que vocês, do grupo de elite, fossem os maiorais.   Jacob deteve-se e olhou ao redor. Ergueu o sobrolho, assobiou e meneou a cabeça.    ─ Cara, devia pensar em chamar apoio aéreo. Está em desvantagem.

Embora o próprio Edward pensasse assim pouco antes, ouvir aquele camarada verbalizar o fato era difícil.

─ Imagino que possa fazer melhor.

─ Ora, um macaco cego com os dois braços amarrados às costas poderia fazer melhor.   Desdenhou Jacob, cruzando os braços.

─ Então, é super qualificado, é?    Edward pegou a filha no colo. Ela riu e passou as duas mãozinhas lambuzadas de banana no rosto dele. Ele se voltou para o instrutor dos fuzileiros que se achava tão seguro de si. ─ Vamos ver o que um instrutor de treina­mento consegue fazer?

─ Sem problema.   Jacob estendeu os braços para pegar a sobrinha. Tarde demais, notou as manchas de banana decorando a camisa do uniforme.

Edward sorriu. Já se sentia melhor.

Bella estacionou na garagem, notou o carro de Jacob na frente da casa e apressou-se. Edward e Jacob? Sozinhos? Só com Emily como juíza?

─ Grande erro, Bella.     Murmurou consigo mesma, enquanto destrancava a porta da frente. ─ Nunca devia ter concordado com isso. Só estava procurando encrenca...     Paralisou-se ao abrir a porta.

Atônita, entrou na sala que parecia ter sofrido a passagem de um furacão. Brinquedos, fraldas, potes com comida para bebê es­tavam largados pelo chão. No meio do cômodo, com a cabeça apoia­da na barriga de um urso de pelúcia, estava Jacob, uniformizado, dormindo sonoramente, ainda segurando um brinquedinho de Emily.

Outro ronco suave chamou-lhe a atenção. No sofá, deitado sobre as almofadas, Edward parecia abatido, com Emily adormecida junto ao peito. Ele a mantinha segura nos braços, e ela chupava o pole­gar, visivelmente contente por estar com o pai.

Sorrindo consigo mesma, Bella apoiou-se no batente e contem­plou a cena. A filha e o homem que ela... o quê? Amava?

Sentiu um aperto no coração e suspirou. Oh. Podia lidar com luxúria. Mas com o amor? Amor era algo com que realmente não contava.

A semana seguinte passou voando, com os três entrando numa rotina confortável e ao mesmo tempo assustadora para Bella. Parte dela adorava a aparente normalidade daquilo tudo. Ter Edward ali para ajudá-la a cuidar de Emily. Saber que a filha e Edward formavam elos que durariam pela vida toda. Mas, por outro lado...

Começava a depender de Edward, e isso ela não queria. De vez em quando, percebia um brilho no olhar dele, certa de que pensava no pedido de casamento que lhe fizera. Não haviam tocado mais no assunto, pelo que ela se sentia grata. Entretanto, cedo ou tarde, ele insistiria. Edward iria querer acertar aquela questão entre eles antes de partir, dali a três semanas.

E ele não era o tipo de homem que aceitava "não" como resposta sem uma boa batalha.

─ Não existe solução fácil para isso.   Reclamou, em voz alta, enquanto dobrava mais uma camiseta lavada de Emily.

Do andador, o bebê balbuciou algo que Bella interpretou como apoio. Então, Emily ficou na ponta dos pés, agitou os bracinhos e avançou meia polegada no chão carpetado.

─ Vai andar logo, logo, não vai?     Bella abandonou a pilha de roupas, sentou-se no sofá e observou a filha. ─ Então, irá para a escola, terá seu primeiro encontro e, antes que eu perceba, estará se casando e deixando sua velha mãe para trás.

Emily inclinou-se para a frente e agarrou uma argola de plástico cor-de-rosa presa ao andador.

─ É.    Continuou Bella.    ─ Seu pai vai levá-la ao altar e, quando a cerimônia se encerrar, ele seguirá seu caminho, e eu, o meu.    Imaginativa, já assistia à cena. Emily, linda de branco, Edward, ainda bonito, e ela mesma, sozinha.

─ Ora, por que "sozinha" de repente parece um termo tão... solitário?     Indagou Bella, e Emily continuou babando, desinte­ressada da conversa.   ─ Nunca quis me casar, sabe. Não é que eu não queira me casar com o seu pai. Simplesmente, não quero outro homem na minha vida.

Emily babou um pouco.

─ Seus tios sempre foram tão autoritários... Quem precisa disso de mais um homem?

Bella franziu o cenho, dobrou uma camiseta amarrotada e alisou os vincos.

─ Claro, Edward não é realmente o tipo autoritário, é?     Ponderou, lembrando-se de que ele não a criticara nem uma vez por deixar a filha na creche, o que seus irmãos de­saprovavam. Após aquele primeiro dia, ele não se adaptara bem? E não fizera o jantar duas vezes na semana anterior?

Edward estava acostumado a fazer tudo por si mesmo. Não era do tipo que se sentava na poltrona e gritava: "Traga uma cerveja!". Sorriu com a idéia. Edward não se assemelhava a nenhum homem que conhecera, e talvez isso a preocupasse. Por causa dele, começava a repensar sua teoria do "nunca se casar". E não tinha certeza de que era isso o que queria.

─ Em primeiro lugar... você tem de descobrir o que quer.     Enunciou Seth, com voz arrastada, entornando sua garrafa de cerveja. 

                     

─ Isso é fácil.   Declarou Edward. ─ Eu quero Bella e Emily. Não passei a última hora lhe dizendo exatamente isso?

Seth, Emmert e Jasper refestelavam-se no sofá, cadeira e chão da suíte de hotel. Edward olhou para cada um deles e sorriu. Quatro ho­mens sem nada em comum, mas que se haviam tornado mais do que amigos naqueles últimos anos. Tornaram-se uma família.

Seth, um de seis irmãos, vinha de uma cidadezinha do Texas.

Jasper era de família rica de Boston.

Emmert nascera filho único de um general.

E Edward... raios, a única família que já tivera estava ali, naquela sala.

Os três entreolharam-se antes de encarar Edward.

Jasper se ma­nifestou:

─ Tudo bem. O que você precisa fazer é pensar em Bella como se fosse qualquer outro alvo.

─ Alvo?

─ Isso mesmo.    Reforçou Seth. ─ Avalie a situação, planeje o assalto, e então invada na calada da noite.

─ Aproxime-se do inimigo... Bella, até tê-la exatamente onde a quer ─ acrescentou Emmert.

Claro, pensou Edward. Tratava-se de aproveitar o ponto forte. E ele tinha muita prática nesse negócio. Afinal, tentar convencer Bella a se casar com ele seria tão perigoso quanto se infiltrar em terri­tório inimigo.

─ Tem três semanas, Edward.    Observou Jasper, com sua fala arrastada.   ─ Dê tudo de si, cara.

─ Iahuuu!   Bradou Emmert.

Seth ergueu a garrafa de cerveja e Edward pegou o telefone.

O telefone tocou, interrompendo seus pensamentos. Bella aten­deu como uma náufraga agarrando-se a um colete salva-vida.

─ Alô?

─ Oi.

Mesmo que não tivesse reconhecido a voz, a reação do corpo à voz grave lhe indicaria que se tratava de Edward. Céus. Ele a afetava mesmo através da linha telefônica?

─ Bella,    Dizia ele, e ela reprimiu a ação dos hormônios o bastante para se concentrar.  ─ Acha que um dos seus irmãos po­deria ficar com Emily esta noite?

─ Acho que sim. Por quê?

─ Estava pensando em sairmos.

Ela sentiu o calor invadir o corpo e agarrou o telefone com força.

─ Um encontro?

─ Sim.   Confirmou Edward, a voz suave e íntima. ─ Um encontro.

─ É...      Bella hesitava, por algum motivo desconhecido, mesmo sabendo tão bem quanto ele que queria aceitar.   ─ Está bem. A que horas?

─ Às sete.

─ Estarei pronta.

Edward desligou o telefone e pegou a cerveja. Ergueu a garrafa para que os amigos o imitassem antes de declarar:

─ Alvo escolhido.


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