Acima do Dever escrita por Flavia Souza


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Ate chegar onde tava, nao tera mais notas e nem avisos.
beijos e desculpe ter deletado.



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"Passamos a amar não quando encontramos uma pessoa perfeita, mas quando aprendemos a ver perfeitamente uma pessoa imperfeita."

Edward deixou o carro alugado no estacionamento do Hotel Shore Breakers e caminhou os cinco quarteirões até a casa de Bella. Naquela cidadezinha praieira, as ruas eram estreitas e sem muito espaço para automóveis. Além disso, era bom poder andar livremente, sem olhar por sobre o ombro. Após tantas missões perigosas em todas as partes do mundo, sem­pre apreciava em dobro o prazer de uma caminhada simples à tarde.

Nem uma buzina o incomodou, pois preferia os sons cotidianos aos de projéteis zunindo por sobre sua cabeça. Mas não era hora de pensar no trabalho. Durante um mês inteiro, só se dedicaria a Bella.

Ansiara demais pelo reencontro para estragar tudo agora.

Uma brisa gelada percorreu a rua estreita trazendo o cheiro do mar. Edward sentiu-se empurrado, embora não precisasse de encorajamento.

Raio registrara-se no hotel, deixara a bolsa de mão na cama e saíra, direto para a casa de Bella. Não precisava realmente do quarto de hotel, claro. Podia ter ficado na base. Mas, quando estava de folga, gostava de se distanciar completamente do ambiente de trabalho. Ti­nha muitos salários guardados e, após dezoito meses de vida árdua em locais bastante desconfortáveis, imaginava que merecesse algum privilégio... Como aquela enorme banheira em sua suíte.

Sorridente, apressou-se um pouco. Mal podia esperar para con­duzir Bella àquela banheira e acionar o aquecimento... Da água, bem como de Bella... E fazer algumas pequenas experiências sob os jatos de hidromassagem.

Excitado instantaneamente, Edward meneou a cabeça. Era melhor se concentrar, ou não conseguiria caminhar direito. No entanto, quanto mais se aproximava da casa de Bella, mais difícil era pensar em qualquer outra coisa que não ela. Queria tocá-la, sentir a carícia de seu hálito no rosto.

As imagens o excitavam naturalmente.

Risadas invadiram seus pensamentos quando um grupo de crian­ças passou em skates e patinetes. As vozes pairaram no ar, teste­munho da inocência. Raios, Edward nem se lembrava de ter sido tão jovem. De ter aquela liberdade. Tirou a mão do bolso e massageou o maxilar.

Saíra de seu último lar adotivo direto para o Corpo de Fuzileiros Navais e nunca olhara para trás. Não parecia fazer sentido recordar o passado. Não fora divertido vivê-lo, assim, por que desperdiçar tempo lembrando-se dele?

Edward olhou por sobre o ombro para se certificar de que não vinha ninguém e atravessou a via estreita, passando por dois carros estacionados. As casas tinham sido construídas lado a lado em lotes estreitos, com jardins minúsculos. Mas imaginava que morar a me­nos de um quarteirão da praia compensava. A maioria das residên­cias tinha pelo menos cinqüenta anos, embora algumas parecessem recém-reformadas, apresentando dois, até três pavimentos. Havia crianças e cachorros por toda parte no cenário típico de filmes dos anos cinqüenta, algo que Edward, estranhamente, sempre evitava.

─ É ótimo quando um homem se sente mais confortável no campo de batalha do que numa vizinhança tranqüila.   Comentou consigo mesmo, inconformado.

Não obstante, rever Bella compensava tudo. Se ela estivesse em casa. Se ela ainda estivesse interessada. Se ela aceitasse revê-lo.

─ Quanta incerteza.     Lamentou, diante da casa. A casa de Bella.

Parecia um chalé de conto de fadas em miniatura, porém com­pleta, com torre circular. Bella contara que a avó lhe deixara a casa, mas Edward não conseguia imaginar mais ninguém morando lá. Combinava com Bella, do pequeno jardim bem cuidado até as te­lhas cinzentas.

E, agora que estava ali, não desperdiçaria nem mais um minuto admirando a construção.

Abriu a tranca do portão na cerca de madeira amarela, reconhecendo o rangido familiar. Na garagem, notou uma caminhonete azul. Seria de alguma visita, ou ela comprara um carro novo? Raios. Talvez não devesse ter deixado recado na secretária eletrônica, avisando que estava chegando. Devia ter ligado de novo e conversado com ela. Talvez Bella nem quisesse revê-lo.

Mas era tarde demais. Se ela estivesse ocupada, iria embora. Pelo que se lembrava, Bella não tinha dificuldade em ser franca, de modo que, se não o quisesse mais, diria. Só que ele esperara e sonhara tempo demais para voltar para o hotel sem sequer vê-la. E se ela estivesse de namorado novo? Bem, enfrentaria o problema quando e se este se apresentasse.

Determinado, subiu à varanda e pegou a aldrava em forma de cabeça de dragão na porta de carvalho maciça. Bateu-a duas vezes e então recuou.

Quando a porta se abriu, Edward apagou o sorriso. Esperara ver uma baixinha de cabelos chocolates, mas no lugar dela surgiu um fuzileiro naval de cabelos castanho-escuro e expressão hostil.

─ Você é Edward Cullen?

Edward também estreitou o olhar. Infelizmente, o reencontro não acontecia da forma prevista. Esticou o pescoço tentando espiar a sala, para olhar para além do homem, dentro da casa, mas o camarada ocupava todo o vão da porta.

─ Quem é você?

O fuzileiro enrijeceu-se.

─ Eu faço as perguntas por aqui. Você é Edward Cullen?

─ Sou eu mesmo, mas qual é o...

O homenzarrão foi tão rápido que Edward não teve tempo de reagir. Quando percebeu, já levara um soco e sentia a cabeça girar. A seguir, sentiu um gosto metálico, de sangue, na boca. Em meio à dor latejante, seus ouvidos zuniam.

Maldição havia anos, ninguém o pegava assim desprevenido. E, dos sopapos que levara, sempre soubera o motivo, no mínimo.

─ Eu estava à sua espera.   Informou o sujeito, preparando-se para desferir outro golpe.

Mas Edward recuperou-se rápido e se defendeu. Abaixando-se, escapou do murro e partiu para o contra-ataque, atingindo o oponente no abdome.

─ Quem é você, afinal?

Sem se dignar responder, o sujeito fechou o braço em torno do pescoço de Edward, derrubando ambos no chão.

Edward rolou para o lado e permaneceu agachado, preparado para atacar ou se defender. Tinha treinamento, afinal. Mas geralmente gostava de saber com quem estava lutando e por quê.

De qualquer forma, não lhe parecia certo trocar socos com um colega fuzileiro. Mas não tinha escolha, diante do homem furioso como um touro.

─ Fuzileiro ou não, vai se arrepender de ter nascido.   Rosnou o adversário, levantando-se.

Atracaram-se e trocaram uma série de golpes altos e baixos, indo parar no gramado do jardim. Edward ignorava as dores, conforme aprendera, e revidava ganhando vantagem. Ao aplicar um bom soco no rosto do oponente, sentiu a satisfação subir pelo braço.

─ Já chega?

─ Ainda nem comecei.   Respondeu o agressor.

Vagamente, Edward ouvia pássaros gorjeando e um cortador de gra­ma ao longe. Irreal, pensou. Aquilo não devia estar acontecendo. Não fora ali como guerreiro, mas como amante.

─ Quem é você e onde está Bella?

─ Bella não é da sua conta!

Edward deu outro soco no queixo do homem, que retribuiu à altura.

Fizeram pausa, avaliando-se beligerantes. Foi quando Edward viu a oportunidade de encerrar aquela pequena batalha. Voou para cima do adversário de um jeito que encheria de orgulho seu trei­nador de futebol americano no ensino médio. Quando o homem caiu de costas, agarrou-o pela camisa do uniforme, aplicou um soco e preparou-se para desferir mais um, segurando o punho cerrado a centímetros do nariz dele.

─ Muito bem...   Avisou, ofegante.    ─ Vai me contar por que estamos brigando ou não?

─ O fato de você nem saber o motivo já basta para continuar brigando!    Vociferou o camarada, agarrando-o pelo pescoço.

─ Está maluco?    Uma voz feminina familiar chamou a aten­ção de ambos.

Edward virou o rosto para ver Bella.

O oponente aproveitou sua distração e lhe aplicou outro soco sonoro no queixo. Edward viu estrelas.

─ Pare com isso, Jacob!    Bella desceu os degraus da varanda. No gramado, olhou de cima para os dois homens estatelados.  ─ Pare de bater nele. Eu avisei... Nada de briga!

Edward massageou o queixo algumas vezes e passou a língua pela boca para saber se havia dentes soltos. Felizmente, pareciam todos firmes. Então, voltou-se ameaçador para o oponente.

─ Devo-lhe uma.

─ Quando quiser    Rebateu o outro, ofegante.

O que estava acontecendo ali, afinal? Por que um camarada fuzileiro naval queria quebrar sua cara, sendo que nunca tinham se visto antes?

─ Eu não acredito.     Resmungou Bella, olhando para os dois lados na rua, obviamente receosa de que os vizinhos se aglomerassem.

Edward sentia-se quebrado, mas mesmo assim excitou-se ao rever a amada. Ela não podia estar mais linda.

Bella usava saia verde-claro que lhe alcançava os tornozelos e delineava as pernas, o tecido agitado pelo vento frio. A blusa ama­rela de mangas compridas justas lhe destacava os seios perfeitos. Quase morreu de desejo de tocar naqueles volumes macios. Os longos cachos ruivos flutuavam numa dança selvagem em torno dela, os olhos Chocolate faiscantes. Bella estava muito zangada com o acon­tecido. Mas mesmo assim continuava linda.

─ Oi, Bella.   Saudou ele, só então recebendo o impacto da fúria dela.

─ Oi, Bella?   Repetiu ela.   ─ É só o que tem a dizer, depois de destruir meu jardim na companhia desse troglodita?

─ Vá lá para dentro, Bella!     Ordenou o troglodita.   ─ Isto é entre mim e ele.

Ela o chutou no quadril, arrancando um uivo de dor.

─ Jacob, pare de agir como um pai puritano em filme de bangue-bangue.

─ Mas eu...

─ Eu disse que queria conversar com Edward sozinha.

─ Quem é você, afinal?    Interrompeu Edward, cada vez mais confuso.

─ Jacob Swan, irmão mais velho de Bella.

Irmão. Edward aliviou-se, embora não pudessem chamar aquela tro­ca de sopapos de apresentação. Nunca imaginara se atracar com o irmão da amada ao procurá-la, após um ano e meio. Por outro lado, gostava de saber que não se tratava de um novo namorado.

Edward levantou-se e observou Jacob fazer o mesmo. Havia tensão no ar, e Edward sentia a ansiedade do outro em continuar a briga. Paciência, pensou, dando um passo na direção dele. Foi quando Bella se colocou entre eles, empurrando-os pelo tórax.

─ Parece um caso de superdose de testosterona. Comportem-se, ou expulso os dois daqui!    Advertiu ela, irada.

─ Eu não arredo o pé daqui.    Rosnou Jacob, espumando.

─ Nem eu.    Afirmou Edward.    ─ Acabo de chegar. 

─ E.    Replicou Jacob, desdenhoso.   ─ Mas já esteve aqui antes, não?

─ O que quer dizer com isso?

─ Seu cretino, se você...

─ Jacob...    Só com um olhar ameaçador, Bella o fez se calar. ─- Então.    Dando-lhe as costas, sorriu para Edward.   ─ É bom ver você.

O irmão emitiu novo som de desdém.

─ Pegou um resfriado?    Provocou Edward, mas imediatamente o esqueceu.

Diante de Bella, precisou tocar em seus cabelos, soltos e mara­vilhosos ao vento. Tinha de comprovar se continuavam tão macios e sedosos quanto antes. Continuavam.

─ É bom ver você também.     Sussurrou. Um sorriso dela com­pensava todos os hematomas e costelas quebradas que ganhara naquela briga. Como sentira a falta dela.

─ Não vai nos apresentar, mana?   Indagou outra voz masculina. Edward olhou para a varanda. Alinhados, formando uma parede de músculos, três homens idênticos olhavam-no de braços cruzados e cenho franzido, como se quisessem arrancar o couro de alguém.

Especificamente, adivinhou Edward, o seu couro. O que estava acon­tecendo ali?

─ Mais irmãos?    Murmurou Edward, mais para si mesmo do que para Bella.

─ Sim, esses são trigêmeos. Tenho quatro irmãos mais velhos.   Ela suspirou e soprou os cachinhos da testa.   ─ Sorte minha.

É, pensou Edward, alternando o olhar entre os trigêmeos e Jacob, ainda desafiador no gramado. Também começava a se sentir um felizardo.

Bella apontou para cada um deles.

─ Edward, estes são Paul,  Embry e Sam.

Os trigêmeos aprofundaram a carranca. Interessante, pensou Edward, desejando estar com Emmert, Jasper e Seth a seu lado. Encontra­va-se em fabulosa desvantagem numérica.

─ Eles também são fuzileiros navais?

─ Não, apenas Jacob. Sam é policial, Paul é empreiteiro e Embry é...   Bella fez pausa e fitou o ultimo irmão.    ─ Como diria? Espião?

Pela primeira vez, Edward viu uma fissura na parede de músculos, quando Embry sorriu para a irmã.

─ FBI, Bella. Polícia federal.    Ela deu de ombros.

─ Que seja. Então, rapazes, por que não somem enquanto eu converso com Edward?

Jacob lançou mais um rosnado a Edward e foi se juntar aos irmãos. Os quatro entraram na casa.

Sem dúvida, pensou Edward, para preparar-lhe uma tocaia. Céus, o que fizera para deixar aqueles quatro homens tão zangados? Bo­las, estivera fora do país no último ano e meio!

─ Eu tentei evitar.   Desculpou-se Bella.   ─ Mas, quando des­cobriram que você estava voltando, decidiram tirar a forra.

─ Não me importo com eles.   Afirmou Edward.   ─ Vim aqui ver você. Faz muito tempo, Bella...

Ela sorriu.

─ É. Faz muito tempo.

─ Você está linda.   Adulou ele, sem acreditar que, pela pri­meira vez em dezoito meses, podia tocar o rosto amado. Céus, era tão bom. Sua pele continuava macia, morna, lisa. Bastava um leve contato para ele sentir o sangue ferver. Não fosse o pelotão de irmãos de tocaia, demonstraria o quanto estava contente em reve­la. Mas, em nome da prudência, esperaria um momento mais ade­quado, quanto estivessem mesmo a sós.

Bella suspirou insegura, tão perturbada quanto ele. O rubor nas faces contrastava com os olhos chocolates obscuros, exatamente como ele se lembrava.

Mas havia algo mais. Algo... diferente nela. Parecia mais roliça. Mais macia. Céus, a verdade pura e simples era que estava deli­ciosa. E ele era um homem faminto.

─ O que foi?     Indagou ela, curiosa.

─ O que quer dizer?

─ Você me olha de um jeito... estranho.

─ Só estou tentando descobrir o que está diferente em você.

─ Diferente?

─ Não algo ruim, querida.      Tranqüilizou Edward, aproximando-a.   Apenas... Diferente.

Bella pousou as mãos no tórax musculoso. Uma leve brisa do oceano soprou, embaraçando-lhe os cabelos. Edward sentiu o calor das mãos dela atravessando os ossos e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se realmente vivo.

O aroma dela o inebriava como álcool. Sonhara tantas noites com aquele momento, quando a teria nos braços novamente, sen­tiria seu hálito doce contra a pele. Tomando-lhe o rosto, afagou a pele macia com os polegares e recordou cada traço, cada detalhe. Bella estava ainda mais linda do que se lembrava.

Ela ergueu as mãos e segurou as dele.

─ Edward, desculpe Jacob. Ele só...

Edward sorriu. Com ela ali a seu lado, não se importava com a cambada de irmãos malcriados.

─ Que Jacob?     Brincou, inclinando o rosto para colher o beijo que ansiara por tanto tempo.

Bella pôs-se na ponta dos pés para receber a homenagem e retribuir.

A princípio suave, como se recordasse o sabor, Edward logo cedeu ao desejo que pulsava dentro dele. Com a língua, instigou-a a entre abriu os lábios e explorou-lhe a boca, ao mesmo tempo que afa­gava as costas, aproximando-a mais e mais de seu corpo.

Bella mergulhava no prazer de ter de volta seu amor. São e salvo. O toque mágico dele lhe despertava o corpo, convencendo-a de que não era só imaginação. Após tanto tempo de separação, chegara a temer que o que sentira nos braços de Edward não fora real. Mas agora ele estava ali, e mais uma vez seu corpo respondia ardente.

Um sonoro riso infantil quebrou o encanto, e Bella desvencilhou-se relutante. Afinal, depois da briga e do beijo, já tinham dado bastante show aos vizinhos para um dia.

Além disso, precisava esclarecer uns fatos...

─ Edward...

─ Sim?     Ele lhe acarinhou o pescoço, detendo o polegar sobre a artéria pulsante.

─ Vamos entrar?     Convidou ela, pegando-lhe a mão. Ele reteve o fôlego.

─ E aquela tropa? Tenho permissão para me defender?    Bella riu.

─ Não se preocupe com eles. Lido com meus irmãos há anos. Como diz o ditado: cachorro que ladra não morde.

Edward massageou o queixo.

─ Querida, se isso é ladrar, não quero nem ver a mordida.

─ Ora    Desdenhou ela.    ─ Quer dizer que um fuzileiro naval de elite não pode com três civis e um sargento de artilharia?

Edward suspirou.

─ Se isso é um desafio, querida, considere aceito.


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