Mais Um Matsuri escrita por Tsuki_no_Hika
Era mais um feriado chuvoso em Curitiba. Mais uma vez a única região “azulada” na previsão do tempo no jornal do dia anterior era o leste do Paraná.
Novamente tudo se repetia. Como era de costume, meus filhos e sobrinhos dormiam, ao menos em uma noite, na casa dos meus pais no feriado. E meu marido saia para jogar truco, vídeo game e beber com alguns amigos de ensino médio.
E eu em casa.
Acordei naquele 15 de novembro às 11 horas e não havia ninguém em casa. Bom. Sem problemas. Ainda de camisola e pantufão desci as escadas daquele sobrado onde morava, acendi um incenso qualquer e fui cozinhar. Resultado: arroz queimado com um bife “sola-de-sapato” com uma maravilhosa maionese e uma salada bem preparada (sim, sei cozinhar, mas longe do fogão ._____.´´).
Já era uma horas da tarde e eu ainda divagava olhando e “reolhando” fotos velhas e novas nas paredes. Nestas horas eu amava e odiava a nostalgia! A fim de me livrar, mesmo que momentaneamente, desse sentimento tipicamente romântico subi as escadas até o 3º andar – ali era uma zona!Divido em três cômodos: meu quarto e de meu marido, o escritório dele (entende-se: sala da bagunça generalizada) e “meu canto”.
Chamo de “meu canto” uma vez que não acho outra ou nome para melhor defini-lo. Nem quarto, nem escritório, ali tem um balcão/escrivaninha, um grande puff roxo e almofadas verdes de diversos tons espalhadas pelo chão.
As paredes eram 80% preenchidas com desenhos meus e de amigos, mais algumas frases bonitas que acho no meu caminho. Um laptop sobre a bancada e uma estante repleta de livros dos mais variados gêneros: estudos, trabalho, didáticos, ficções, minhas publicações, de gravuras, álbuns de fotos, mangás, etc.
Esse era o “meu canto”. Que, por sinal, era o único lugar em que podia fumar sem que me enchessem dentro daquela casa. Acendi meu Black e fui à janela, Ali gastava tempos de minha vida olhando o escasso movimento dos dias úteis e o nulo movimento dos domingos e feriados.
Mas, naquele 15 de novembro, a rua chuvosa não estava tão deserta assim.
Olhava a esquina esquerda e dali virou uma garota sob guarda-chuva. Ela andava sobre o meio fio, imitando uma equilibrista desastrada que ria de si mesmo quando dali caía.
Eu olhava atentamente aquela garota de cabelos presos em duas maria-chicas nos lados da cabeça, usava uma curta saia xadrez vermelha e preta. Uma camisa branca com uma gravata verde e colete amarelo, mais um casacão preto que completava aquela criança feliz.
Ela vinha andando até passar bem em frente de minha casa, assim consegui ver o guarda-chuva de cima. Era do Soul Eater. Todos os personagens ali estava: Blair, Death the Kid, Liz, Patty, Stein-sensei, Tsubaki, Black Star, Sid-sensei, Papa, Shinigami-sama, Soul..... Mas uma personagem não estava presente. Sim, a Maka.
Com certeza aquela otaku estava se dirigindo a um matsuri qualquer. E aquela cena aleatória lembrou-me de meu tempo de matsuri e “otakisse” suprema... E eu que achava, naquela época, que nunca acabaria... mas o tempo me obrigou a parar. Os estudos, trabalho, família, casa, filhos, conta.
Agora, fumando aquele cigarro mentolado, eu me tocava e notava como aquilo me faz falta!
A chuva continuava e a cosplayer já havia virado na esquina seguinte.
Aquilo me irritou. Me irritou porque eu notei, mais precisamente, como fui abandonando meu passado pelos sonhos incertos e utópicos. Eu notei que deixei minha parte criança de lado, fui cobrindo-a mecanicamente na ânsia de amadurecer.
Me irritei! Joguei o cigarro pela metade janela afora para apagar nas poças de água ainda em formação e crescente. Corri até meu quarto e revirei o meu lado do armário. Ainda estava ali três sacolas cheias de coisas de otaku, desde orelhas de gatos até aquela capa do Edward do Full Metal Alchemist.
Saudades.
Olhei o horário: eram duas e meia. Fui até o laptop e via Google pesquise onde estava acontecendo o evento. Achei! Era em alguma casa de festas recém inaugurada da qual nunca ouvira falar.
Sem problemas.
Fiz uma trança mal-feita, me despi e envolvi meus pequenos seios com faixas e ataduras para ficar “tábua”. Coloque a calça de couro os coturnos e regata preta, as luvas brancas, o relógio ganho em algum natal da minha adolescência (quando meu marido ainda meu namorado e comprávamos presentes em cada mês no “dia de aniversário de namoro”).
Vesti a capa vermelha, pequei meu celular, chave, carteira e guarda-chuva. Peguei o carro e sai dirigindo para o lugar mais nostálgico que poderia ir.
Sabia que o matsuri não seria igual aos antigos, mas... já era alguma coisa. ^^
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!