Amor na Escuridão escrita por Marcela


Capítulo 1
Capítulo 1




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     Dez de julho de dois mil e nove. O vento fez com que Bernardo colocasse suas mãos despidas nos bolsos de seu casaco e tremesse de frio. Nuvens saíam de sua boca a cada expiração. Estava perto do seu destino, mas as passadas curtas e lentas não iriam fazê-lo chegar mais rápido. Porém, ele não tinha pressa. Chegando lá já estava bom demais.

     Virou a esquina e avistou as luzes da casa acesas. Revirou os olhos enquanto apressava seu caminhar automaticamente. Seu estômago o lembrou que já não comia fazia mais de meio dia. Não havia tomado nem um copo se quer de água. Por isso seus lábios estavam secos.

     Bernardo sabia que precisava desfazer a burrada que havia cometido, que precisava acertar seus erros, embora não tivesse chegado a concluir o que, por um momento, ele quis.

     Possuía a razão de tudo em um de seus bolsos. Precisava devolvê-la para seu amigo Paulo. Mas não sabia se Paulo a aceitaria de volta. Precisava tentar. Apertou os passos e o pacote em seu bolso parecia ficar cada vez mais pesado. Passou a língua nos lábios com o intuito de deixá-los hidratados. Fracassou, pois logo estavam secos de novo.

     Foi nesse momento que ele ouviu um barulho estranho. Um estrondo em alto e em bom tom.

     Começou a correr sem pensar duas vezes. Não conseguia imaginar de onde era que tinha vindo aquele som. Bernardo já tinha ouvido aquilo uma vez, só não se lembrava aonde e quando foi.

     Seus pés alcançaram logo a escada da varanda da casa de Paulo. Subiu os degraus sem pensar duas vezes e então abriu a porta.

     Por um curto momento não pode acreditar em seus olhos. Teve que piscar algumas vezes para fazer seu cérebro processar a imagem e cada detalhe dela. Viu duas pessoas e sangue, muito sangue. Uma dessas pessoas estava em pé e a outra no chão. Conseguiu reconhecer apenas uma delas. A do chão.

     Bernardo viu Paulo imóvel, com os olhos fechados e com uma mancha no peito que escorria e enodoava o tapete. Viu o assassino de seu melhor amigo olhar para ele com os olhos arregalados e a respiração acelerada.

     Depois não conseguiu ver mais nada.

     Naquela noite ouvira, não apenas um tiro, mas dois. Um acertou Paulo. O outro fez com que ele sentisse a pele esquentar e fez com que seu casaco cinza ficasse manchado de vermelho na altura do ombro.

***

     O sol de outubro bateu na janela do carro e fez com que Alice colocasse as mãos na testa em formato de concha para conseguir enxergar. Ela pegou a mochila e deu um beijo rápido em sua mãe antes de sair e entrar na escola. Abriu a porta sem pensar e de uma forma bruta e rápida. Acertou em cheio a barriga de alguém que passava ali naquele exato segundo.

     — Ai meu Deus! Desculpe-me! — gritou quando o garoto cambaleou para trás tentando recuperar o fôlego. — Te machuquei?

     Olhando para ela inconformado, ele respondeu ironicamente: — Não, imagina. Da próxima vez olhe bem antes de abrir a porta, sua anta.

     — Oh, espere um pouco. Do que você me chamou?

     Alice começou a fungar de raiva. Não se conformava com a atitude daquele menino. Ela tinha sido tão gentil ao pedir perdão pela porta e ele a tratara com tanta estupidez.

     — De anta. Quer que eu soletre? A – N – T – A. — ele respondeu com desdém enquanto caminhava para dentro do colégio.

     — Ei! Você não pode fazer isso! — Alice agarrou sou braço, virando-o para ela.

     — Tem razão. O pobre animal pode se sentir ofendido.

     E então ela deixou ele ir pra sua aula. Ficou vegetando no meio da calçada com a boca aberta.

***

     — Ele é alto, bem alto. Tem os cabelos escuros e olhos pretos. Dá até medo de encarar.

     — E como ele chama? — Mariana perguntou mordendo a ponta do lápis.

     — Sei lá. Nem perguntei, né? — Alice respondeu ainda inconformada — Ele é muito estúpido e frio.

     — Acho que você devia ir falar com ele.

     — E ser chamada de anta de novo? Não, muito obrigada. Prefiro ficar na minha.

     Mariana resmungou alguma coisa que Alice não se deu ao trabalho de tentar entender. Copiou o que o professor de história explicava e suspirou voltando ao assunto com sua amiga.

     — Eu não me lembro de o ter visto no colégio antes. Será que ele é novo?

     — Acho que não é possível. Eu saberia se algum aluno entrasse no colégio no final do ano.

     — É... — soltou outro suspiro.

     Mariana ajeitou os cabelos ruivos e curtos atrás da orelha quando o sinal bateu avisando que era hora do intervalo. As duas correram para fora a fim de tentar procurar o tal do garoto. Alice o avistou na arquibancada do ginásio enquanto ocorria um jogo de futsal feminino. Ele estava sentado com uma postura tensa e não prestava atenção ao jogo.

     — É aquele ali. — a dona dos cabelos longos mostrou o alvo apontando o dedo indicador.

     Sua amiga procurou por alguns segundos até seu olhar se encontrar com o garoto que Alice queria que ela visse.

     — Esse é o nosso cara? — soltou um risinho nada surpreso — Eu o conheço. Pudera ser tão frio assim; dizem que ele estava na cena do crime.

     — Cena do crime? Que crime? — Alice perguntou espantada.

     — Ano passado o melhor amigo dele morreu. Rolaram boatos de que ele havia o matado. Se não me engano não pegaram o culpado, então ele ainda é um suspeito. — Mariana respondeu como se já tivesse contado aquela história um milhão de vezes.

     — E ele não foi interrogado nem nada? — a morena estava boquiaberta.

     — Não. E a audiência ainda não foi marcada também. Não entendo por quê essas coisas demoram tanto para acontecer. Já faz mais de um ano.

     Alice ajeitou a postura e respirou fundo. — E a família do menino?

     — Ficaram muito chocados, né? Não sei como você não ficou sabendo dessa história. Foi o maior bafafá. — a ruiva revirou os olhos — É por isso que todo mundo evita essa cara.

     — E como ele se chama? — Alice indicou com a cabeça o moreno da arquibancada.

     — Bernardo.

     Alice encarou o garoto com cuidado. Pareciam imãs, pois ele também olhou para ela, fazendo-a tremer. Esta rolou os olhos para o chão e depois olhou para Mariana.

     — Nosso cara ta olhando pra cá. Acho que ele reconheceu você.

     — Melhor a gente sair daqui, Mari. — a dona dos olhos verdes puxou a amiga para longe dali. — Não quero ser alvo desse garoto.

     — Parece que você já é. — Mariana sussurrou — Ele está vindo pra cá.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse primeiro capítulo. Essa história não será longa. Como disse lá em cima, será uma short fic. Pretendo escrever uns 3 capítulos. Talvez passe desse limite. Talvez não. Nunca se sabe hahaha.
Se você chegou até aqui, comente. Por favor! :D