Serial Crime escrita por Najayra


Capítulo 7
Cp 5 - Conquistando aos poucos




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Os dias continuaram tenebrosos. Dois dias depois do crime de história, duas meninas foram encontradas mortas no banheiro. Haviam sido enforcadas e no espelho foi escrito, com o batom de uma das meninas, o seguinte: “Uma vírgula pode matar – Não quero morrer. Não, quero morrer”.

Melinda, Edgar, Clara e Gabriel se encontravam presos no refeitório principal, junto com todos os outros alunos. O crime aconteceu durante a madrugada, mas tinha sido descoberto somente pela manhã enquanto todos caminhavam até a sala de aula.

- Elas foram enforcadas com o quê? – perguntou Melinda.

- Ambas usavam aqueles colares de “Best Friend”. – respondeu Clara.

- Como sabe disso? – Edgar parecia desconfiado.

- Perguntei ao professor de geografia. A propósito, onde está Kamilla?

- Também não sei, vou procurar por ela. – respondeu Gabriel.

Gabriel saiu para procurar por sua amiga no espaço limitado do refeitório e da cozinha.

- Acho que a Kah está enlouquecendo... – Edgar se pronunciou.

- Por que diz isso, amor?

- Outro dia, ela estava encarando um vidro de remédios na enfermaria. Eu me machuquei com uns equipamentos e ela foi comigo até lá.

- Que tipo de medicamento? – Clara se interessou.

- Anti-depressivos. Bom... Eu acho que era isso. Só sei que era tarja preta.

- Ela deve estar realmente em choque com tudo isso que está acontecendo. – disse Melinda.

Enquanto os amigos conversavam no refeitório, Gabriel estava na cozinha. Adentrando um pouco mais o recinto ele avistou Kamilla, como ela olhava concentrada para a bancada, ele parou, a uns três metros de distância, e ficou observando suas atitudes. Kamilla fitava compenetrada a faca de carne. Ela estendeu uma das mãos devagar e tentou pegá-la. Sua mão se fechou lenta e hesitantemente em torno do cabo e ela a trouxe para perto de si. Gabriel podia ver os olhos verdes da ruiva refletidos na lâmina enquanto ela aproximava a faca cada vez mais. Gabriel começou a se aproximar preocupado, e quando a faca se virou ligeiramente na direção no pescoço dela, Gabriel avançou contra a amiga. Ele pegou em seu pulso e o segurou contra a bancada. Kamilla não olhava para ele, aliás, nem sequer moveu um fio de cabelo. Permanecia com uma expressão gélida. Ele a fez soltar a faca.

- Você enlouqueceu?! – ele estava agitado.

Kamilla tenebrosamente virou os olhos na direção dele.

- Com tudo o que tem acontecido, você ainda não?

- Não é por isso que vou me matar!

- E por que eu iria fazer isso? – sua voz era baixa e sem vida.

- Era exatamente o que estava fazendo!

- Mas não fiz nada, fiz?

- Porque EU não deixei!

- Se deixasse, não seria eu a louca...

- Kamilla!! Acorda! – ele a segurou pelos braços, virando-a para si e a sacudiu.

A ruiva o fitava como se estivesse em transe, com a mesma expressão morta de antes. Gabriel sabia que precisava fazer algo, mas não tinha idéias o suficiente. Tentou sacudi-la, gritava e a beliscava de vez em quando, mas ela não reagia. Quando acabou todo seu arsenal, ele decidiu apelar para o que jamais pensou fazer. Laçou a ruiva pela cintura e, com a outra mão em sua nuca, a beijou. Ele percebeu a reação imediata, ela havia se espantado, mas, para a surpresa dele, ela não o evitou. Ela o retribuiu, suas mãos repousavam sobre o peito dele enquanto uma delas fazia menção de percorrer o caminho até seus cabelos, e foi o que fez. Quando cessaram o beijo e se olharam, tudo parecia ter voltado ao normal.

- Idiota. – disse Gabriel.

- Babaca. – retrucou Kamilla.

- Suicida.

- Estuprador.

- Estuprador?! – Gabriel se assustou.

- Se eu permanecesse em outro mundo, a sua próxima tentativa de me “acordar” seria isso, não é? – Gabriel corou e desviou o olhar.

- Cale a boca, Kamilla...

- Quem cala consente.

Gabriel percebeu que eles permaneciam abraçados e não iria soltá-la, a menos que ela reclamasse. Ele passou a mão entre os cabelos dela e a puxou contra seu peito, abraçando-a ainda mais.

- Por que, hein? – ele se referia ao acontecido com a faca.

- Não sei bem. Deve ser efeito do remédio. – ela se encolhia contra o corpo dele.

- Que remédio?! – ele parecia gritar.

- Calmante.

- Tarja preta?!

- Sim.

- Você é louca? – ela se afastou e o encarou.

- Quantas vezes você me perguntou isso hoje?

- Você sabe que é perigoso!! Ou, pelo menos, pensei que soubesse... Isso vicia!

- Ahn.... Eh... Né... – ele deu um suspiro pesado.

- Quanto tempo?

- Dois meses. – ele deu um tapa na própria testa.

- Sua viciada!

- Seu intrometido!

- Por quê?!

- Insônia.

- Que ridículo!!!

- Olha quem fala...

- Você vai parar com isso.

- Mas...

- É uma ordem, não é um conselho. – Gabriel a interrompeu.

Kamilla levantou uma sobrancelha e fez menção de questionar, mas Gabriel a puxou pelo pulso antes que ela pudesse dizer algo. Ele a arrastou até os outros. As aulas iriam começar naquele momento, então seguiram direto para a sala. Tudo correu bem durante a aula, tirando o fato de que o diretor resolveu dar um baile em plena Idade das Trevas. Depois das aulas e das atividades vespertinas, todos seguiram para seus dormitórios.

Durante a madrugada, Kamilla estava com insônia, ela revirava na cama e olhava para o frasco de remédio sobre o criado mudo. Havia dito que pararia de tomar, mas... Ela se levantou, pegou o frasco e seguiu até a cozinha. Colocou o frasco sobre a bancada e foi procurar um copo nos armários do outro lado. Após achar o copo e se virar para a bancada, o frasco havia desaparecido. Ao invés de deixar o copo cair no chão e se espatifar, suas mãos travaram ao redor dele. Kamilla ficou apavorada, foi caminhando para trás quando bateu em alguém que imediatamente lhe tapou a boca. Com o coração a mil, ela sentiu a tal pessoa sussurrar em sua orelha.

- Era isso o que estava procurando? – o vidro de remédio foi colocado em frente ao seu rosto, e quando Kamilla reconheceu a voz de Gabriel ela relaxou e mordeu a mão dele.

- Aie!! Cadela!

- Caramba, você me deu um susto! Desgraçado, vou te assombrar a noite... Agora me devolva isso. – ela estendeu a mão, mas ele não entregou o remédio – Não é um conselho... É uma ordem.

Gabriel caminhou até a pia, abriu o frasco e o virou. Todas as pílulas foram ralo abaixo, uma a uma. Kamilla olhava a cena cobrindo a boca com as mãos, que começavam a tremer só de pensar na abstinência. Gabriel deixou o vidro sobre a bancada, foi até ela e fechou suas mãos sobre as dela.

- Você está com insônia, não é? Engraçado... Eu também.

Kamilla deu um sorriso melancólico de desistência. Ele a levou até uma parede, onde eles sentaram lado a lado e se recostaram. Gabriel pegou com sua mão direita a mão esquerda de Kamilla, que já não tremia mais.

- Por que você começou a tomar esse remédio?

- Depois que minha mãe morreu, há dois meses atrás.

- Eu sinto muito...

- Não. Não sinta. Ela me aterrorizava em forma de pesadelos. De início, comecei a tomar o remédio para evitar os sonhos, mas quando decidi parar, já não conseguia mais dormir. Lembra de quando eu desmaiei na aula de educação física?

- Lembro. Mas... Aquilo não era só uma desculpa?

- Não. Eu não dormi por três dias seguidos, só sabia tremer e suar frio. Depois de um tempo desmaiei, você me levou até a enfermaria e a médica me recomendou voltar a tomar o calmante, antes que eu tivesse um treco. E você acabou de jogar minha salvação fora!!!

- Você não precisa disso.

- Como é, doutor?

- Sempre que tiver insônia, pode ligar para mim.

- De madrugada?

- Sempre que precisar.

- E falará comigo até que eu durma?

- Sim.

- Tá bom... – ela duvidava.

- Falo sério!

Kamilla sorriu singelamente e debruçou a cabeça no ombro de Gabriel.

- Obrigada.

Eles conversaram por mais algum tempo. Falavam das notas, da tão odiada aula de educação física, das piadas de Edgar e Clara... Com mais alguns (vários) minutos, Kamilla tinha a respiração tranqüila e dormia deliciosamente recostada ao ombro de Gabriel. Ele sorriu e tirou a mecha de cabelo ruivo do rosto dela, passando para trás da orelha. Ele hesitou um pouco, mas acabou lhe dando um beijo de boa noite, um singelo toque de lábios. Gabriel a pegou no colo com cuidado e a carregou pelo corredor até o quarto das meninas, deitou a bela ruiva e a cobriu, esperou mais um ou dois minutos para garantir que não iria acordar e foi embora. Ao entrar no quarto, Gabriel acabou acordando Edgar que, ainda sonolento, murmurou:

- Gabriel? Hum... Onde você estava?

- Ahn.... Banheiro. Agora volte a dormir.

- Aham. – Edgar concordou na hora e adormeceu.

Gabriel caminhou até sua cama e se deitou, fechou os olhos se sentindo vitorioso por ter feito tantas conquistas com sua ruiva.


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