"Por quê?" - Perguntou-se em sua mente. Os últimos tempos não haviam sido bons e o frasco de remédios que segurava em mãos ia aos poucos se distorcendo por conta das lágrimas acumuladas que transbordavam de seus olhos.

Amor, o sentimento incompreensível para o garoto de apenas quinze anos. Aqueles olhos azuis simplesmente cintilavam e o sorriso se tornava cada vez maior quando encontrava aquela pessoa. Então por que? Por que aquilo não poderia se realizar?

Considerava-se sozinho. Depois de tanto tempo tentando chamar a atenção da irmã e dos amigos, já havia desistido; Já não conseguia mais cantar, muito menos sorrir. Vivia comparando-se a uma mera poeira no enorme universo, apenas mais um ser vivo e inútil naquele mundo enorme e lotado. Apenas uma pessoa trazia seu sorriso infantil de volta à vida, apenas uma pessoa era capaz de criar um brilho intenso em seus olhos.

Por que era tão difícil ter que conviver com aquilo?

"Len... Sou mais velho e sei o que é melhor para você. Esqueça isso, certo? Você ainda é muito novo." - Aquelas palavras não saíam da cabeça de Len. Era tão doloroso se lembrar da expressão que Kaito fizera enquanto dizia as palavras, era tão doloroso se lembrar que havia sentido o coração se quebrar pela primeira vez verdadeiramente.

Nos últimos dias havia sido ignorado; Não só pela irmã, como pelas pessoas que deveria chamar de "amigos" e também pela pessoa que mais admirava, pela pessoa mais importante para si; Kaito.

Aquilo era realmente errado? Era realmente apenas "amor de irmão"?

Não conseguia entender como aquele sentimento verdadeiro poderia ser simplesmente tão ignorado, tão recusado. Seu coração doía ao pensar que Kaito era bem mais feliz ao lado de Miku e ao lado de Meiko, assim como dos outros colegas. Era muito doloroso pensar que não era necessário para a felicidade do maior.

Por isso, Len recorreu à única alternativa que pensou. Remédios; Todos os tipos.

"Não sentirei mais dor, não é?" - Pensou consigo mesmo enquanto as lágrimas iam caindo pelas bochechas. A visão turva incomodava, porém logo aquilo acabaria. O sorriso forçado e os olhos vermelhos, o frasco de remédios inteiramente vazio. O reflexo do espelho não mentia, realmente era seu fim.

"Dói. Dói muito. Eu não quero acordar." - Repetia em sua mente, sendo tomado pelas lágrimas. O loiro não era tão forte quanto aparentava.

O ambiente quase silencioso tornou-se barulhento quando a irmã bateu algumas vezes na porta.

- Len? Quero tomar um banho! Não demore. - Disse em um tom alto e então as batidas violentas cessaram.

O silêncio novamente tomava conta do local. A falta de preocupação das pessoas não o entristecia mais, só o fazia rir mais durante o choro incansável.

"Será que se eu gritar aquelas palavras, a minha voz vai atingir o coração dele?" - Perguntou a si mesmo enquanto continuava a analisar a própria imagem no espelho.

Ria de si mesmo. Era tão patético por chorar, por chorar por uma pessoa que nem ao menos precisava dele. Admiração ignorada, sentimentos invisíveis, pessoa superficial. Era essa a verdade? Era torturante para o pequeno.

Sem agüentar mais, concentrou a força em um dos punhos e atingiu o espelho. Uma combinação vermelha e cintilante se formou. E doía. Doía muito, doía muito. Mas a dor pouco lhe importava no momento, logo tudo iria se apagar.

Os pedaços do espelho refletiam um sangue vívido, o que fez o loiro rir mais durante o choro intenso. As lágrimas se misturavam com o sangue, pedaços pequenos de vidro já haviam entrado em sua mão. Fraco, repetiu o ato com a outra mão com o máximo de força possível, e logo o chão e o espelho foram cobertos por mais sangue.

Com o líquido em um tom vívido de vermelho, escreveu uma frase na parede.

"Teria sido melhor se eu nunca tivesse te amado desde o início."

Kaito não se importava, não iria se importar, nunca se importaria. Todo o esforço feito por Len para o sorriso do maior era simplesmente inútil; Os sorrisos eram todos falsos, não? Ah, não suportava mais pensar naquilo.

"Suicídio... Vou cometer suicídio." - Cantava para si mesmo e ria, enquanto deitava-se no chão do banheiro. Os pedaços do espelho perfuravam suas costas, suas pernas.

E aos poucos, tudo se apagou.

Os diversos remédios, a perda de sangue... Tudo ia tornando o corpo cada vez mais frio. Os olhos azuis cobertos pelas lágrimas se apagavam completamente. O sangue escorria já frio.

Não iria mais sofrer, não mais...