(gentil) Senhora escrita por MsWritter, V01D


Capítulo 1
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades


Notas iniciais do capítulo

Mari: É de extrema importância que todo escritor conheça um pouquinho de Camões!

Carol: E eu ainda não acredito que estou fazendo parte disso AHSUHASUASH

Mari: Coisas estranhas acontecem com pessoas boas, por que não aconteceriam com VOCÊ?



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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o Mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.

            Celas caminhou para dentro do corredor escuro, procurando por seu mestre. Já tinha eliminado todos os ghouls que encontrou pelo caminho e tinha que saber se o vampiro já estava eliminado. Precisava desesperadamente voltar para casa.

            Passou por uma porta semi-aberta e encontrou seu mestre sugando o sangue de um soldado que facilmente media 1,90 metro e tinha lá seus 130 quilos.

            – Mestre? – Ela chamou, perguntando-se o porquê de ele sugar o sangue de um humano em uma simples caçada a vampiros.

            – Um protótipo de freak policial. Não concluído ainda.

            Celas baixou os olhos ao ver o corpo ainda humano ser atirado no chão, como o simples bagaço de uma laranja.

            – Draculina, você nunca aprende, não é, policial? – A voz de Alucard cheia de desprezo pela atitude covarde de sua serva.

            – Mestre, eu... – Celas ensaiou um pedido de desculpas, mas um cheiro estranho invadiu suas narinas. Álcool?

            Começou a procurar a fonte do cheiro forte de bebida, e o encontrou vindo de duas fontes bem distintas mas com, digamos, laços de sangue. Vinha do sangue esparramado no chão e, de modo muito mais sutil, dos poros de Alucard.

            Celas arregalou tanto os olhos azuis que chamou a atenção de seu mestre. O vampiro a olhou, curioso:

            – O que foi, Policial?

            – Mestre... o sangue que bebemos pode nos afetar de alguma maneira?

            – Claro, nos deixa mais fortes.

            O tom de Alucard foi até grosseiro de tão óbvio. Mas não era aquela a pergunta de Celas. Ela reformulou o pensamento, e até ficou um pouco surpresa ao reparar que Alucard não os leu, permitindo que ela se expressasse verbalmente:

            – Digo, não devemos nos preocupar com doenças, ou drogas...

            –Não seja imbecil draculina! O que isso tem a ver com...

            Não terminou de falar porque seus joelhos deram uma leve fraquejada. Nada demais, mas foi MUITO estranho para o vampiro, que de repente, deu-se conta que estava completamente bêbado.

            Celas acabou sorrindo para si mesma, mas mudou drasticamente sua expressão ao perceber que um vampiro muito irritado lhe ordenava mentalmente para que se colocasse em seu lugar.

            Seguiram de volta para a mansão, com Celas sempre uns cinco passos atrás de seu mestre, muito irritado e contrariado com a situação. Bom, a noite só piorou.

            Chegaram relativamente rápido às masmorras, e o sangue se misturando com o sistema circulatório de Alucard só o deixou mais fora de si.

            Bom, ele tinha passado direto por Integra e Walter na entrada da mansão, deixando para Celas a ingrata função de se explicar para os dois. Ela simplesmente disse que “seu mestre não estava bem” o que no mínimo despertou olhares muito curiosos em ambos. Depois de muitas explicações, encontrou seu mestre trancado dentro do caixão, com uma vibração sinistra de “não se aproxime” circundando o objeto de madeira.

            Deu-se por satisfeita e rumou para seu próprio quarto, ou melhor, para seu próprio caixão. Mal tinha pegado no sono, a tampa de seu caixão se abriu abruptamente, e em um susto enorme, ela se levantou de seu lugar de “descanso”  para ver o olhar desfocado de seu mestre brilhar em um vermelho insano. E caramba, ele estava completamente desalinhado, era quase de dar pena.

            Repreendeu-se mentalmente pelo pensamento, esperando a devida punição, que não veio. Arregalou os olhos ao perceber que o vampiro a encarava com um olhar vago, tentando adivinhar o que se passava pela cabeça de sua serva. Espera ai? Por que ele apenas não lia seus pensamentos como sempre fez?

            Ao contrário disso, estava apenas ali,encarando-a, com olhos vagos e perdidamente vermelhos. Um minuto, dois, três, dez... Celas já não aguentava mais sustentar o olhar e explodiu, quase derrubando a mansão junto:

            – O QUE FOI MESTRE?

            – Por que eu te transformei mesmo, policial?

            Celas entrou em colapso nervoso, e desta vez a mansão chegou a ser derrubada:

            –COMO É QUE EU VOU SABER?

            Alucard balançou a cabeça, tentando recuperar seus ouvidos sensíveis do berro que a policial deu tão rente à sua cabeça.

            Celas percebeu que ele estava meio perdido e inconformado com a situação, então a certeza veio retumbante em sua mente. Seu mestre estava completa e idiotamente bêbado. Ainda...

            COMO É QUE O VAMPIRO MAIS PODEROSO DA EUROPA ESTAVA BÊBADO COM UM ÚNICO SER VIVENTE EM COMA ALCÓOLICO?

            Bom, o pensamento foi estranho, mas já que veio mesmo, deixa pra lá.

            – Policial, você gosta da perspectiva de poder viver para sempre? – Alucard se sentou no chão, ao lado do caixão, e começou a soltar as palavras da forma mais despreocupada e relaxada que Celas já viu. Estava quase...atraente?

            – Bem, eu acho que sim. – Ela respondeu...tentando se recuperar do último pensamento.

            Alucard começou a rir alto e cinicamente, quase como se tivesse ouvido uma declaração de guerra.

            – Nada nesse mundo é eterno.

            Celas sentiu uma veia saltar em sua testa, mas não havia nada que pudesse fazer naquela situação. Foi desperta de seus pensamentos quando reparou que seu mestre estava muito, mas muito quieto de repente. Deu um olhar travado e o encontrou brincando com as pontas dos próprios cabelos muito lisos e pretos. Era impressão sua ou estava procurando pontas duplas? Não Celas! Foco! Era só o que faltava... era até um raciocínio difícil de assimilar.

            – Ainda bem, a eternidade deve ser muito chata... – Ele recomeçou, soltando uma gorfada de ar para o teto, ar aliás, que Celas sabia que ele não precisava.

            – O que quer dizer com isso, mestre? – Ela também suspirou, ainda respirava por hábito. – Afinal, não vai viver para sempre?

            – Bom, para sempre é muito tempo. – Ele continuou. – E depois, nos poucos seiscentos anos que vivi pude perceber que até nós mesmos morremos e mudamos, de tempos em tempos...

            – Mestre... o que afinal de contas está querendo dizer? – Celas já estava um pouco desconfortável com a conversa, nem se importando muito com os “poucos seiscentos anos”.

            – Todos esses humanos... os mais nobres de espírito vieram atrás de mim, os mais pobres atrás de invenções bizarras dos humanos, tudo para alcançar a vida eterna... E os que acham que já a alcançaram vem atrás de mim, para provar que a minha vida não é eterna... vida...

            Alucard riu-se com suas próprias palavras. Celas já sentia sua cabeça dar voltinhas com aquele discurso absurdo.

            – Sabe policial... no fundo eu me divirto com a ignorância e a insistência deles. Afinal, não passou pela cabeça de ninguém que só dura para sempre algo que exista desde o princípio?

            – Algo que dure desde o princípio mestre? – Celas até estava se interessando, quando Alucard subitamente se levantou e começou a falar, com os braços abertos:

            – Sim draculina! Algo que tenha nascido exatamente da forma como é até hoje! Imutável! Imperecível e imortal! Eterno! Algo como...

            Sua voz morreu, ele baixou os braços e a cabeça, escondendo o rosto pálido por entre os cabelos muito lisos e negros.

            – Mestre? – Celas estava realmente começando a ficar preocupada.

            – Descanse policial. Teremos uma noite agitada amanhã.

            E sumiu, por entre as sombras, fundindo-se com o chão. Celas ficou claramente abalada, mas não se daria ao trabalho de sair dali para perseguir seu mestre bêbado pela mansão. Na pior das hipóteses, Integra meteria toda uma rodada de tiros de prata e mercúrio na cabeça de Alucard, e quem sabe o despertaria do transe alcoólico antes que ele voltasse a importunar seu sono outra vez.  Não que ela realmente se importasse, afinal seu sangue vassalo não conseguia resistir ao seu senhor, mas... ela precisava dormir.


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Notas finais do capítulo

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