Selena deitou a cabeça no meu ombro. Ela dormia profundamente, por isso não fiz nenhum movimento brusco. Olhei de relance para ela. A franja caía em seu olho esquerdo e isso a deixava mais bonita. E minha respiração ficava fraca quando Selena ficava mais bonita.

Ah, claro, primeiro as apresentações.

Meu nome é Demi. Tenho dezoito anos e embarquei numa viagem louca com minhas três amigas para lugar nenhum, partindo de nenhum lugar.

Eu sei que é estranho, mas o ensino médio havia terminado e nenhuma de nós tinha alguma coisa boa para fazer, a não ser ir para a faculdade — e não queríamos fazer isso. Então, dei a ideia de viajarmos, e só pensarmos na faculdade quando estivéssemos realmente prontas. Todo mundo acatou e lá estávamos nós, quatro garotas de dezoito e nossa motorista, de vinte, à procura de algo que sequer sabíamos o que era.

Estava de noite e, embora eu tivesse insistido para que Taylor procurasse um lugar para que pudéssemos descansar, ela continuou no volante, com uma xícara de café do seu lado que arranjara na última parada. Miley dormia feito um bebê no banco da frente e Mary continuava em sua jornada para derrotar o chefão do jogo do celular, com quem lutava havia um mês.

Não me esqueci que Selena dormia com a cabeça recostada em mim.

Como eu poderia esquecer? Eu conhecia Selena desde que tinha cinco anos de idade. Ela estava a tanto tempo na minha vida que eu não saberia dizer o que iria sentir se ela fosse embora.

E cá entre nós, eu não acho que ela realmente iria.

Selena se remexeu no banco, tentando encaixar o cinto de segurança e me abraçou. Pisquei atordoada. Eu já fui abraçada antes, sim, mas Selena apertou meu corpo junto ao dela de tal maneira que considerei a ideia dela ainda estar pensando na época que tinha um namorado.

Pelo retrovisor, Taylor sorria da minha expressão de pânico. Aquilo não era justo. Embora eu preferisse ficar no banco de trás do carro, era ela que dirigia. Ela tinha o poder nas mãos. E eu tinha a Selena nas mãos, ou melhor, abraçada em mim.

Mary xingou quando seu personagem perdeu. Se minha conta estivesse certa, era a décima vez que ela xingava em menos de duas horas. Ela estava viciada naquele jogo e a mãe dela, nos últimos meses, vivia dizendo que aquele jogo não a deixava estudar para nenhuma prova.

Uma das coisas que eu mais admirava em Mary era sua inteligência, que ela sempre ignorava. Ela tem facilidade para coisas que eu nunca em minha vida teria sequer a coragem de tentar. A área dela era química, biologia e qualquer outra matéria a mais na área de Exatas. Como eu preferia a área de Humanas, nós sempre brigávamos para ver que matéria era melhor: História ou Álgebra.

Mary olhou para a cena minha e de Selena e riu em silêncio. Havia um grande palpite de que ela e Taylor escondiam uma coisa de mim, pois as duas se entreolharam e deram mais risadas silenciosas.

Encostei a cabeça no encosto do banco, pensando. Eu nunca contara para ninguém que tinha uma pequena queda por Selena. Nunca é bom gostar da sua melhor amiga quando se é uma garota, porque, bom, pra começar, você é uma garota. Em segundo lugar, sua vida vira uma confusão e você não sabe se perde tempo observando-a ou conversando com ela. É horrível.

Uma placa anunciava a entrada de Alamogordo.

— Tay, pare em qualquer motel por aí — sussurrei.

Taylor bufou vencida.

— Tudo bem.

Mary me fitou pelo canto do olho com um sorriso. Selena ainda estava agarrada em mim como se eu fosse um salva-vidas. Confesso que parte de mim gostava daquilo, mas tinha a outra parte — a parte da razão — dizia que era errado.

Fazia uns três anos que eu gostava de Selena muito mais que uma amiga. Eu tinha plena certeza disso, pois passava horas dentro do meu quatro imaginando se aquilo era verdade ou não. E, toda vez que eu discutia comigo sobre isso, a parte da razão ganhava todos os duelos. Eu havia cansado dessas vitórias consecutivas. Eu queria amar Selena sem constrangimento.

O único problema é que as pessoas às vezes não entendem o que o amor de verdade. Digo, para mim, o amor acontece quando você consegue enxergar o interior da pessoa, você a ama pelo que ela realmente é, não o que ela é por fora. O amor, para mim, não tem sexo ou cor. É apenas amor.

Luzes começaram a aparecer ao longe e me animei. Eu não dormia numa cama há dias, pois Taylor insistia que conseguia dirigir à noite tão bem quanto dirigia de dia. Até agora, ela cumprira sua promessa, mas eu estava preocupada. Quanto tempo mais ela conseguiria?

Se está pensando que ficamos no carro durante toda a viagem sem destino, está enganado. Na verdade, só avançávamos à noite, pois durante o dia passávamos em todos os lugares que tinha a aparência de ser turístico. Como não temos tanto dinheiro assim, apenas tirávamos fotos, filmávamos e Mary tratava de colocar no notebook que ela levava na mochila.

Mesmo com tanta coisa bizarra, aquela viagem era a melhor da minha vida.